quinta-feira, 23 de julho de 2009

George Orwell e sua fábula sobre a ganância e a corrupção.


O escritor nascido Eric Arthur Blair, que adotou o pseudônimo de George Orwell aos dezenove anos após renegar sua origem inglesa, sua fortuna e seu próprio nome, é mais reconhecido no Brasil pelo seu romance "1984", lançado em 1949, que faz uma previsão futurista e pessimista da humanidade pós guerra, vivendo subjugada pelo imperialismo que domina todos os passos do cidadão através de uma teletela a qual denominou Big brother, termo que deu origem ao nome e a idéia dos reality shows que se tornaram uma febre mundial. O Oxford Dictionary credita a ele também, a expressão guerra fria, que marcou a segunda metade do século.


Nascido na Índia subjugada pela Inglaterra em 25 de junho de 1903, teve uma educação aristocrática na famosa Academia de Eton, que o formou para fazer parte da polícia imperial britânica onde permaneceu por cinco anos, os quais lhe deram a oportunidade de viajar para diversos lugares, o que fez com que aumentasse o seu descontentamento com sociedade da qual fazia parte.
Abandonou seu posto, voltou para a Europa, trocou de nome e de vida radicalmente. Tornou-se operário de fábrica em Paris e depois tornou-se professor primário, em Londres.

Sua rebeldia intelectual e sua vivência proletária foram âncoras para que desse vazão a sua veia literária de uma maneira sempre coerente com sua postura ideológica voltada para a denúncia da miséria dos trabalhadores explorados, sobre corrupção e poder. Era inimigo do Fascismo, do Imperialismo e da desonestidade daqueles que se apoiavam no Comunismo, mas praticavam atitudes incoerentes com o que pregavam.

Defendia a nacionalização da "terra, das minas, das estradas de ferro, dos bancos e das principais indústrias". Foi para a frente de batalha na Guerra Civil Espanhola, morou em Marrocos, e em 1943 tornou-se editor literário de um jornal de alta circulação, Tribune, em Londres, quando começa a escrever uma fábula exibindo o totalitarismo e a face da burguesia na Rússia. Já beirando o final da guerra, Animal Farm foi recusado por vários editores britânicos que ficaram com medo de criticar o seu aliado . Mesmo assim, foi lançado em 17 de agosto de 1945.

Embora "1984" seja o seu livro mais famoso, o reconhecimento mundial como escritor deve-se a Animal Farm (traduzido no Brasil como "A revolução dos bichos"), escolhido pela revista Time como um dos cem melhores romances de língua inglesa e que consta na 31ª posição no ranking dos melhores romances do século XX da renomada Modern Library List. Não é pouca coisa, para quem foi considerado por alguns colegas de profissão, não como um autor literário, mas como um escritor de cartilhas políticas e panfletárias.

O autor morreu de tuberculose em 1950, com 47 anos incompletos. Sua fidelidade e engajamento aos seus ideais, seu conhecimento histórico e seu futurismo quanto a condição do homem em sociedade em face ao sistema representado não só pela política, mas por instituições como a religião, são motivos mais do que suficientes para que seja lido.

Animal Farm foi adaptado para várias versões entre cartoons, filmes e até música. Sua influência se extendeu ao rock progressivo do grupo Pink Floyd no seu décimo álbum "Animals" - maravilhoso por sinal; um dos melhores cartoons é justamente o primeiro, realizado em 1954 por Louis de Rochemont, uma produção já realizada à cores. Em relação aos filmes, há uma produção interessante realizada em 1984, mas o trailler apresentado aqui, faz parte de uma filmagem inglesa de 1999, feita para tv e dirigida por John Stephenson, que adaptou esta versão para que a narrativa fosse feita pela cadela da fazenda, que assume o papel principal, o que não ocorre no original.

O enredo começa com um velho porco (Major), que tem como sonho a vontade de que todos os animais sejam governados por si próprios sem a submissão e a exploração dos homens. Ele reúne os animais três dias antes de sua morte para lhes apresentar alguns mandamentos de uma nova era. Além dos mandamentos, ele lhes ensina uma espécie de hino que resume sua filosofia, exaltando a igualdade entre eles e os tempos prósperos que virão.Os animais se encantam com esta possibilidade, e para completar, o seu dono, um álcoolatra individado, não lhes dá comida, o que serve de estopim para o início da revolução, até que os animais expulsem os humanos de lá e mudem o nome da fazenda para Fazenda dos animais.

Com a morte de Major outros porcos levam sua idéia adiante: Bola de Neve e Napoleão. Enquanto o primeiro tem idéias de como torná-los mais independentes e se defenderem de possíveis ataques de humanos que querem ter a fazenda de volta, o segundo inicia uma lavagem cerebral junto aos outros animais mais ingênuos para tornar Bola de Neve um traidor, expulsá-lo e assim impor suas leis que serão modificadas à medida que o poder vai lhe subindo a cabeça e ele torna-se cada vez mais parecido com os homens, a ponto de vestir-se como um ditador, explorar o trabalho dos seus companheiro e passar a caminhar com duas patas.Os mandamentos criados por Major serão mudados junto com seu comportamento autoritário.

Os sete mandamentos:
1- Qualquer coisa que ande sobre 2 pernas é inimigo.
2- Qualquer coisa que ande sobre 4 pernas, ou tenha asas é amigo.
3- Nenhum animal usará roupas.
4- Nenhum animal dormirá em camas.
5- Nenhum animal beberá álcool.
6- Nenhum animal matará outro animal.
7- Todos os animais são iguais.

No final perceberemos que a situação dos animais era melhor com os humanos do que com o seu semelhante, que por conhecê-los melhor, sabe exatamente como fazer para explorá-los ao máximo.Aliás, sua abordagem continua tão contemporânea que eu particularmente adoraria assistir uma versão brasileira desta obra.Basta olhar para o Distrito Federal (entre outros representantes de nossas instituições, incluindo a "educação") que veremos quantos animais de quatro patas ficaram de pé rapidamente sugando a boa vontade e a capacidade intelectual do nosso povo - primeiro (sempre), a "pregação" igualitária ,sindical e supostamente intelectual, e depois, avião digno de marajá indiano e suas comitivas e funcionários que tiram férias 365 dias do ano com o dinheiro do povo ou aqueles com menos sorte, que fingem que trabalham e coçam "pulgas" o dia inteiro.. Só faltou incluir os terroristas, que canso de dizer, não se explodem e levam os outros sem razão...é que naquela época o sujeito ainda não tinha se rebelado de verdade. Vale à pena ler o livro e assistir o filme ou o desenho. Como estudantes de Letras, como futuros professores e como escritores, é nossa missão e dever nos atualizar e pesquisar constantemente para enriquecer o nosso conteúdo e disseminar o nosso conhecimento de maneira que a educação e a cultura sejam motivo de alegria e curiosidade para o nosso público formado pelos mais diferentes tipos de pessoas. Afinal, a reciclagem de idéias e a incorporação de novos conhecimentos é muito importante.

6 comentários:

Camilíssima Furtado disse...

Realmente, este foi um autor à frente de seu tempo. João já tinha me falado dele e eu ainda não tive a oportunidade de ler seu livro, mas sua postagem já me deu uma ótima noção do estilo adotado por ele. Embora este seja um outro livro, parece igualmente interessante.

Lohan disse...

Show de bola, Andrea, eu adoro esses seus textos que dizem respeito à filmes ou livros, vc manda muito bem. Curioso, até mesmo o nome do porco, Napoleão, faz sentido. As atitudes dele, de rebeldia, autoritarismo, ditador, aplicar o golpe (como de fato ocorreu, na Rev. Francesa, o Golpe do 18 Brumário). Hoje, pessoas incumbidas com a educação devem ampliar a área de ensino com textos como este, por exemplo. Filmes, livros, desenhos, que mostram com mais clareza aos estudantes alguns acontecimentos ''obscuros'', que, infelizemente, ocorrem sob os nossos narizes. Parabéns, Andrea!

Sim! Podemos pensar! disse...

Fantástico este texto,eu já li 1984 e é o livro que mais gostei até hoje e vou ler este também assim que puder,como vc bem disse, Orwell mostra em seus textos escritos na década de 40 o nosso mundo de hoje,impressionante,no mínimo um visionário.
Abraços!!!

Andréa Amaral disse...

Obrigada pelos comentários.Melhor que isso, é saber que consegui despertar a vontade de todos de conhecer a obra deste grande autor visionário, como bem disse o João.

piedadevieira disse...

Sempre quis ler esse livro,depois de seus comentários vou tomar a iniciativa. Beijos.

Giancarlo Kind Schmid disse...

Acabei de ler o seu texto sobre "George Orwell e sua fábula Animal Farm" e fiquei bastante intrigado com o enredo (nada mais acertado, pois o ser humano pertence à classe animal). Aliás, o texto está muito bem escrito, parabéns! Me soou como uma grande metáfora moderna. Obrigado por nos brindar com o artigo.
Abraços!