sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Certa noite, certo sonho...

Certa noite, Ricardo teve um sonho que o chamou a atenção, acordou intrigado e com a cabeça a mil por hora. Ele havia sonhado que tinha voltado no tempo, voltado aos seus queridos anos oitenta, período de sua infância, e de tantas experiências que hoje em dia ele vê como foram importantes.

No sonho Ricardo podia passar por lugares que já havia andado na infância, revia seus amigos com suas feições infantis e mesmo no sonho imaginava que já não tinham mais aqueles semblantes. Em seu sonho, ele tinha o poder de escolher onde queria ir e resolveu embarcar naquela viagem fantástica, resolveu voltar à escola em que estudou. Quando se viu lá dentro daquele colégio apertado de classe média baixa, no bairro das Laranjeiras, pôde perceber que estava invisível. Ele podia ver toda aquela criançada correndo, no auge da década de oitenta, calçando seus kichutes e quem podia calçava seus “All Stars”. Ricardo sempre quis ter um de cano alto preto, mas ficou no sempre quis... Mas, voltando, a correria das crianças era contagiante. Ricardo naquela sua presença imaterial sentia vontade também de correr, de voltar aos seus oito ou dez anos, se livrar de toda carga emocional e de todas limitações que o adulto tem e ser novamente criança. Correr, pular, fazer “artes”, se esconder da inspetora. Quis se juntar àquela turma que só existia agora nas profundezas das suas lembranças, mas que fazia ele se sentir tão bem.

Num certo momento, Ricardo começou a se procurar pelo colégio, via muitos colegas, professores, pessoas que nem se lembrava mais, porém não conseguia se encontrar. Procurou pelas salas de aula, achou a sua turma de terceira série, seu grupinho, sua paquera, sua professora, todos estavam lá, menos ele. Procurava, procurava e nada. Já estava ficando angustiado com aquela situação, pois deveria estar lá, todos estavam e ele queria se ver criança novamente, na verdade ele queria ser criança novamente. Resolveu então sair dali, se convenceu que naquele dia tinha faltado a aula e foi aproveitar mais seu sonho. O interessante é que ele tinha a consciência que era um sonho, por isso também queria aproveitar para visitar as pessoas de sua família que já se foram. Sua avó, tão querida... Em muitos momentos difíceis na vida de adulto, quis poder ouvir seus conselhos novamente, ir para sua casa lanchar, chorar, levar “esculhambação” (como ela dizia) para ver se criava juízo, mas não podia, o sonho não chegava a ser tão real, podia rever as situações como se fosse um filme, mas não podia vivenciá-las novamente. Essa parte da história já estava escrita e não tinha como alterar mais, ele só tinha o direito de ver, não sei por que, mas seu cérebro ou uma força maior que tem o domínio do que acontece, quis lhe mostrar algo, mas o que? Pensava e percorria aquelas paisagens gravadas na sua cabeça, passeava pela vila que a avó morava e que tanto brincava. Naquele lugar que foi crescendo, chegando à adolescência. Foi ali que deu seu primeiro beijo brincando de salada mista, pediu ao colega que apertasse seus olhos quando fosse à hora da menina mais bonita. E assim aconteceu, e que felicidade! Ricardo se lembra como se fosse hoje, já saiu de lá apaixonado, fazendo planos de casamento e tudo, só voltou a si quando viu a mesma menina beijando mais dois amigos seus.

Ricardo envolvido em seu sonho, podia sentir como é bom ser criança e poder sonhar sem preocupações, apenas sonhar, querer, imaginar, sem compromissos ou conseqüências pessimistas que o mundo adulto já apresenta sem dó nem piedade. Naquele momento ele entendeu o porquê de tudo aquilo, porque estava vendo e revendo todas aquelas situações. Começou, mesmo ainda sonhando a pensar na sua vida de adulto, no seu jeito de ser e de tratar as pessoas; pode rever situações que poderia ter agido melhor, com mais calma e mais cuidado, pôde ver que em muitas vezes por questões pessoais de amargura ou insatisfação com a própria vida, deixou de estender a mão a quem precisava de uma palavra, de um ombro amigo, ou mesmo de um pouco de paciência para ouvir. Ricardo pensava e sentia vontade de voltar realmente no tempo e se portar de uma maneira melhor em todas aquelas situações que ele via, mas sabia que não tinha como, que já estava escrito. Sentia que o possível é a mudança, é o daqui pra frente e se comprometia a buscar fazer diferente, fazer melhor.

Naquele sonho, naquela viagem fantástica nosso personagem viu e aprendeu que é possível ser um adulto com um coração jovem, com alma de criança. Viu que é preciso lutar para não perdermos a alegria de viver, é preciso ter sabedoria para aprendermos a lidar com os problemas do cotidiano sem que os problemas afetem nosso jeito de ser e nosso jeito de viver e conviver com as pessoas.

Vamos prestar atenção na música “Força Estranha” de Caetano Veloso, que o Rei Roberto canta tão bem e nos fala esta "pérola": “O Tempo não para, no entanto ele nunca envelhece”... Mostrando com simplicidade que os problemas sempre vão existir, resolvemos uns, outros vem para que assim nós possamos nos desenvolver cada vez mais, entendendo que a vida é um ciclo e tendo mais força para vencer as dificuldades. Mas sempre buscando vencer com fé, com dignidade e com tranqüilidade, para sempre estarmos transmitindo paz para as pessoas que estão ao nosso redor.

Felicidades!


6 comentários:

Lohan disse...

João e suas mensagens de fé e de esperança. Muito bom!
Acho que todos, um dia, já desejaram voltar no tempo, nem que fosse um minuto atrás. Para mudar uma situação, para modificar a si próprio, para evitar uma catástrofe, enfim... Mas, enquanto paramos para pensar em como voltar no tempo, nos esquecemos de agir corretamente dentro do nosso tempo, o presente. E daí... Erra-se de novo. E depois deseja-se voltar novamente... E o tempo passa, não envelhece, e nós ficamos, parados no tempo... Pois, como já disse Mário Quintana, ''o tempo não pára. Só a saudade fazem as coisas pararem no tempo''. Salve Mário, salve João, salve o tempo.

Camila disse...

Viajei no seu texto meio "efeito borboleta"... Todo mundo tem ótimas recordações da infância, e os anos 80 então, foram um marco na vida de muitos. Adoro as músicas dos anos 80 e 90, marcaram minha infância e adolescencia. Essa da salada mista é clássica, kkkk!!! Mas, acho que o que passou, passou. O hoje é o momento, a chance é agora. Temos que fazer o melhor hoje, para ter o que lembrar daqui a 20 anos.
P.S.: Gostei também das imagens oníricas do texto! Beijão!!!

Andréa Amaral disse...

Um dos meus seriados preferidos, isso nos anos 70, era o "Túnel do tempo". Este é um tema sempre almejado por qualquer artista, de qualquer área:literária, musical, visual...além dos sonhos, é claro. Sonhar é muito bom.Te capacita a "viajar" no tempo, e em qualquer lugar e de qualquer jeito. Muito boa escolha.Quem não quer voltar aos tempo de infância de vez em quando? E a mensagem positiva sempre é bem vinda.Grande John.

Ernesto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ernesto disse...

Legal, muito bem escrito, gostei.

Unknown disse...

João muito bom o seu texto.
As lembranças que trazemos,constitui a história de cada um.
Mas as saudades,costumo dizer que essas,são eternas...