domingo, 20 de setembro de 2009

Língua


Nem o português lírico de Camões,
Nem o irônico de Machado.
O alemão filosófico de Nietzsche,
não me agrada como no passado.
Nem o francês poético de Baudelaire,
É capaz de me comover.


Do inglês apaixonado de Shakespeare,
Nem um verso ando a querer.
E o italiano divino de Alighieri,
Não me encanta mais.
Dispenso até o grego de Homero
Com licença! Não os quero!
Tento jogar minhas tranças
Do topo desta Torre de Babel.
Os livros, outrora devorados,
Agora meros pesos de papel.
O vazio que me habita,
Só tua presença é capaz de preencher.
Não há léxico que comporte
As reticências em meu ser...
Não me servem tais idiomas,
Se não consigo me fazer entender.
Essas línguas não me interessam,
Quero tua língua aprender.
Que me perdoem as mentes brilhantes.
Não é desprezo, nem desdém.
Só um apelo atônito,
Afônico de alguém
Que quer outro idioma provar,
Idioma este: teu paladar.
Salgado
Doce
Azedo
Amargo.
Papila,
Saliva,
Palato.


6 comentários:

k@ disse...

Lindo Camila, parabéns!
As vezes por mais que se tente ocupar o espaço que o outro nos deixou é impossivel, porque se sentimos tanto a falta assim é porque ainda está presente em nós, mesmo que na distancia, mas talvez, somente na distancia é que nos damos conta do espaço do outro em nosso território, que nem mesmo o melhor livro consegue nos fazer esquecer e preencher os vazios!

Parabéns!

Paulo Fodra disse...

Fantástico, Mila! Acho incrível como você flui naturalmente entre a poesia e a prosa sem perder a identidade! Beijos...

Andréa Amaral disse...

La langue d'oc é a única língua que não queremos perder, deixar de provar e a que nunca deixa de nos enternecer. Continue amando com ou sem línguas literárias.Continue buscando a língua da satisfação erótica e carnal, aquela que fará calar a sua alma. Beijo.

Lohan disse...

Eita, so!
Esse poema eu já conhecia da Caixa de Pandora, e fico muito satisfeito em ve-lo brilhar por aqui, no Autores. Língua é um poema perfeitamente construído, a meu ver. Curto, de efeito impactante, excitante, inspirador... Dá vontade de ter essa língua grudada no céu da boca. Maravilhoso, Camila!
Bjão, de língua, rs.

Eduardo Trindade disse...

"Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria"...
Muito bonito, Camila, viajei nas tuas palavras!

PS: Um comentário - eu prefiro o leiaute antigo do blogue...

Juliana Künzel disse...

Brilhante!!!