quarta-feira, 25 de novembro de 2009

de quando em vez... o amor...


“o amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
o amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço* [...]”


do que eu nem sei que sou, agora.
do que nem sempre sei... se sou... ou era...
de ontem, e hoje, e saudades e mais,

...sejam os ventos essas levas de esperança
sejam as flores essas memórias minhas
o que vem de tempos e antiguidades...

feito sombra na parede o teu retrato
feito seta em meus olhos o teu brilho
há quantas vidas essas vidas se habitam?

de caminhos tortos o caminho
do que é fogo e ar vaidade nossa
do que é vida e vida – vida adentro

em quantas paredes outras nosso desenho?
em quantas esfinges tantas nossas perguntas?
em quantos olhos antigos nossos olhos?

do que hoje sou, nem sei
só sei que sou, contigo
de vento e flor – sorriso meu.


“O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte*”

(* Dos três Mal Amados, Cordel do Fogo Encantado)

2 comentários:

Andréa Amaral disse...

Me fez lembrar alguns sonetos shakespearianos. Maravilha de poema. Parabéns.

Eduardo Trindade disse...

Lindo e tocante como sempre, ou talvez ainda mais: pois de tempos em tempos consegues te superar...
O curioso é que este poema evoca vários outros; colocaste um na epígrafe, a Andréa falou de Shakespeare, e eu lembrei foi de alguns versos dos Engenheiros do Hawaii.
Se me permite, faço uma única ressalva: as palavras Dos Três Mal Amados, embora declamadas pelo Lirinha, não são do Cordel. São do (soberbo) João Cabral de Melo Neto.
Abraços!