sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Inconsciência Negra

“Não entendo um Dia Nacional da Consciência Negra. Creio que seria mais correto “Dia do Repúdio à Escravidão”, ou “Dia de Afirmação do Exercício da Liberdade”. Por que, se não, seria necessário também um Dia da Consciência Branca, da Consciência Nissei, e tantos outros diante dos inúmeros grupos étnicos que formam o país. Não podemos copiar os Estados Unidos, que são uma sociedade toda segmentada [...] Afinal, o Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, não reproduzia uma estrutura africana e não era refúgio apenas para negros fugindo da escravidão. Era território que abrigava também mestiços, índios e brancos que buscavam a liberdade de viver e trabalhar por conta própria fora de uma estrutura colonial, em que trabalhador não tinha direitos”.


(Trecho da crônica do professor e economista Carlos Lessa, publicada no Jornal “O Dia” do dia 20/11/2009; página 14).


Hoje pela manhã, ao terminar de ler esta opinião tão bem escrita pelo professor Carlos Lessa, me senti regozijado. Suas palavras traduziram meus pensamentos, minhas idéias a respeito do dia de hoje. Dia o qual reverencio apenas por uma razão: por ser feriado, e por propiciar um descanso merecido a muitos trabalhadores que suam para sustentar suas famílias; trabalhadores brancos, pretos, amarelos, e vermelhos pelo sol que arde diariamente em suas faces.


Existe racismo no Brasil? Óbvio que existe! O Dia Nacional da Consciência Negra é a maior comprovação de que existe sim, o racismo no nosso país. Antes fosse um dia dedicado a Zumbi, como há um dia dedicado a Tiradentes, entre outros mártires da nossa história. Mas não. Hoje é um dia generalizado a um grupo étnico. Os brancos, os nisseis, os indígenas... Esses grupos étnicos não são componentes da humanidade? Por que privilegiar apenas um?


Hoje é o Dia da Consciência Negra. Vejam bem, o dia da CONSCIÊNCIA. Teriam os negros consciência da discriminação que exercem sobre eles próprios ao defenderem uma data como esta, ou o estabelecimento de cotas?


Agir por compensação é como agir por piedade. A pena é um dos piores sentimentos que existe. É um sentimento que designa inferioridade, submissão da parte considerada “vítima”. Compensação por atrocidades cometidas há mais de um século... Os judeus sofreram nas mãos dos nazistas momentos traumatizantes, além do pior genocídio que a História mundial testemunhou até hoje. Existe o Dia da Consciência judaica?


É triste saber que naquele tempo, eram os negros quem sofriam várias formas de discriminação. E, muito triste também, saber que hoje, em pleno século XXI, são os demais grupos étnicos que sofrem pelo racismo perante esses benefícios concedidos aos negros.


Pra completar, termino com outra reportagem, a qual também fora publicada hoje no jornal O Dia. Na novela “Viver a vida”, de Manoel Carlos, uma cena aparentemente comum causou polêmica. Uma mulher negra, a protagonista da história, é esbofeteada, de joelhos, por uma mulher branca. Eis a imagem:



O movimento negro protestou contra essa cena, alegando que “fora exibida num momento errado, devido a proximidade do Dia Nacional da Consciência Negra”. Agora me respondam: Existe algum tipo de preconceito racial nesta cena? Ou novela deixou de ser ficção? Só para lembrar, em capítulos anteriores, foi a personagem Helena, vivida pela atriz Tais Araújo, quem esbofeteou uma personagem branca. Se não me falha a memória, não houve qualquer tipo de burburinho a respeito disso. Absolutamente normal...

Enfim, na minha modesta opinião, o movimento negro do Brasil cria muitos alardes em torno de acontecimentos irrelevantes, e digo mais: se “armam” de um passado distante para conquistarem seus espaços no presente. Prezemos por nossas competências, nossa capacidade. Esqueçamos o que passou. Quem vive de passado não é o branco, nem o preto, nem o amarelo, nem mesmo o azul do céu que a cada dia se renova com suas nuvens. Quem vive de passado é o museu, e olhe lá.


Feliz Dia da Inconsciência Negra.










4 comentários:

Andréa Amaral disse...

Lohan, você explanou com maestria o que sintetizei no meu comentário ao texto do João e o que postei tbm no Indagações Virtuais.
Aliás, hoje à tarde, bem depois do meus comentário e postagem, ouvi no rádio sobre a cena da novela. Será possível que os ditos historiadores, psicólogos, sociólogos, não têm mais o que fazer de útil com suas profissões? Faça-me o favor! A bofetada não é por ela ser negra, mas por ter causado revolta e ódio na mãe da personagem que sofreu o acidente.
Apenas coincidiu de Taís ser negra. Tudo é motivo para vitimização. Manole Carlos deveria ter calculado que a cena seria próxima a tal data para evitar esta polêmica. Esse foi outro comentário idiota que ouvi.
O Brasil tá virando um país povoado por uma nova raça: a dos palhaços. Arrebentou, colega.

Eduardo Trindade disse...

Meu caro, também partilho desta opinião.
Por que consciência negra e não consciência branca, amarela, vermelha, verde? Por que não, de uma vez por todas, consciência social, pura e simplesmente?
Abraços...

Ivelise Zanim disse...

Lohan!!!!Concordo plenamente com seus argumentos.....Por`Que nào termos um dia da consciencia sobre o preconceito????Somos todos sem excessào preconceituosos com alguem, ou alguma coisa....Precisamos nos despir de sse nosso örgulho"velado"e sim aceitar a nossa missigenaçào...porque se nào fossem os negros, amarelos,vermelhos...seriamos somente um bando de tupiniquins..... abs!!!

Simone Prado disse...

Lohan, meu amigo! Que belo texto, abordagem, tudo!! Estamos quites nessa questão. Vejo as cotas para os negros com um sentido escuso de inferioridade, como se não conseguissem superar tais obstáculos. E , essa dita conciência, nada mais é ,para mim, do que uma forma de propagação do preconceito e não o contrário... Afinal de contas, somos todos iguais.
Outra coisa, a abordagem de Carlos Lessa foi perfeita,concordo 110% com ele. Tirando tudo isso, e como vc mesmo disse, o bom de tudo é o feriado e o descanso.
É por aí , amigo.
Um mega Abração.