sábado, 12 de dezembro de 2009

Ainda

A janela cheia de gotinhas da chuva me faz lembrar.
Eu não quero lembrar.
Eu preciso escrever e esquecer.
Não posso mais me prender no que nunca fomos.
A janela me faz lembrar aquela noite que você disse que sempre sentiu minha falta,
Que a novidade de estarmos juntos te surpreendia;
Eu vi que você não conseguiu esconder seu sorriso e surpresa.
Tocava Jason Mraz e a chuva manchava as janelas do carro.
Você disse “Olha a chuva.... as manchinhas... é tão lindo...”
Foi o beijo mais doce e inesperado. Foi recheado de alegria.
Se eu fechar os olhos agora consigo sentir seu perfume.
Se eu olhar para a janela quase consigo te ver,
Me olhando com seus olhos castanhos e aquele olhar que procura detalhes,
Que busca o tempo todo maneiras de descobrir mais,
De saber sempre mais.
Qualquer detalhe trivial desse mês de Dezembro me lembra tudo,
Qualquer menção à coisa nenhuma me lembra você.
Não preciso de desculpas,
Porque na verdade
Ainda dói não te ter.

3 comentários:

Sidarta disse...

Nenhum sentimento é besteira.

Principalmente quando transformado em arte.

Besteira é quando a gente deixa passar, quando a gente perde a oportunidade de realizar algo que está querendo brotar...

Neste sentido, penso que tenho sido besta ultimamente. Li há pouco a notícia de que ontem de madrugada choveu granizo lá na minha região, o sul do Ceará... Aqui em Fortaleza, neste momento, a noite não está fria lá fora. Mas faz frio aqui dentro, no meu peito. Como são frias as noites dos solitários... Como é frio esse começo de dezembro, pré-Natal... Eu, que há tempos venho querendo renascer, que há tempos venho trabalhando nesse parto infinito... Eu, que não tenho mais ninguém, que não tenho mais amigos, parteiro de mim mesmo... Eu, que não recordo se me anestesiei dessas dores ou se me acostumei (ou me acomodei) com elas. Eu, que quero voltar a enxergar, tenho me acostumado à escuridão...

"Ainda dói não te ter", ainda dói não te ver... Meu rosto... De que me vale um espelho no mais puro breu?

Ó, Crise sem fim, dize-me pelo menos quem é esta a visitar-me todas as noites, com seus cabelos dourados, a enxugar meus prantos?

Sem sono. Estou sem sono. O mundo lá fora está cheio de enfeites.

Minha cortina está aberta. Minha janela está aberta. Vozes, só ouço as dos carros passando.

Agora eu entendo.

Tem horas que eu só preciso de mim.

Eduardo Trindade disse...

Minha cara,
Estou encantado pela tua presteza em desenhar sentimentos. Aos poucos, a imagem vai se formando e emerge do poema. Como se pudéssemos ler teu coração nas gotinhas que escorrem pela janela. Como se a chuva traçasse, em teu lugar, as palavras que mal tens coragem de sussurrar.
Mas sussurras e gritas, porque tua poesia tem uma força que não é de se desprezar.
Parabéns.

Andréa Amaral disse...

Em princípio pensei se tratar de um texto da Camila, pois assim como ela, vc é naturalíssima em expressar sentimentos íntimos sobre a dor causada por sofrer de amor.
A necessidade de escrever parece ser comum nos momentos de lembranças e angústia. Gostei muito.