terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Despedir-se dos nossos desejos



E eu não havia me dado conta, que o simples fato de ter substituído as minhas sessões de análise por um teclado e um desabafo, poderiam causar um efeito tão maior e mais digno que pequenas lamúrias repletas de rimas e estrofes dignas de serem musicadas...
Sou uma mulher de quase 30 anos, que vive no limite da razão, da busca profissional, abandonando os sonhos, de príncipes, castelos, filhos, vestidos brancos, jardins... Propaganda de Doriana e a certeza de que no final do dia, sua casa será perfumada, seus filhos terão 4 anos para sempre e sua calça jeans de 1997, modelo skinny Saint troppez, está até meio larguinha.. Ah, a vida que sonhamos ter....
Quem já chegou até aqui, como eu, sabe o quanto é doloroso, ver que com quase 30, não atingimos nem metade dos nossos planos, tão bem traçados, tão óbvios... Com 20 anos, é tão fácil ter a certeza de que o sucesso profissional é inevitável, que morar com nossos pais aos 25 é cafona, e que nosso amor está bem ali na frente, pronto para te salvar, para dar sentido a sua vontade de procriar, de querer cerca branca e porta azul, quintal...
Mas a vida vem vindo, e acabamos descobrindo tardiamente que aquela não era a carreira que almejamos , esquecemos que queríamos distancia dos nossos pais, e aos 29, nos damos conta que precisamos tanto deles quanto eles da gente...
E aquele cara que parecia ser o homem da casa de porta azul? Então, não te completa, não te salva, não te dá febre, e os filhos que você vagamente sonha em ter, nunca partirão dele...
Eu ainda acredito naqueles sonhos pretenciosissímos de sofrer uma alavancada na carreira, nada que muito trabalho e estudo não resolvam, afinal, essas coisas dependem única e exclusivamente do nosso esforço...
Mas contos de fadas? Enterro a cada dia, um por um todos os mitos que fui crendo ao longo da vida... Sepulto meu “infinito particular” constantemente...
Porque será que nós, mulheres de 30, tão esclarecidas, estão sendo quase que compelidas a deixar para trás tantos desejos e passam a viver como se não ligassem para o que fomos paridas para viver em prol?
As relações se tornaram tão praticas, rápidas, superficiais....

Só em sonho, mulheres de quase 30, com um gosto infelizmente mais apurado que as de 20, são agraciadas nos dias de hoje com algo que ainda valha a pena não deletar...

Hoje acordei meio cética, peço desculpas ao leitor, e uma ajuda, uma opinião.. Ando tão desacreditada da afeição, no respeito, que até sonhei que Chico Buarque me compunha uma canção....
Carência transloucada, preciso correr para a farmácia mais próxima e pedir mais uma caixinha de setralina de 75 mg, ou uma luz no fim do tunel?

Campos de girassóis, nada cala mais uma inquietude do que um campo de girassol.

4 comentários:

Dani Santos disse...

a vida. prática vida. vida neo, pós moderna? novos tempos, gestos, gostos, incertezas... era das incertezas. dos instáveis, do descartável? tantas mudanças... mas quem sabe, sonhos ainda se façam, e os pés na grama inventem novos caminhos, como diz Gullar... afinal "tem algo mais auto-destrutivo do que continuar sem fé alguma?" (Caio F.)

Abraços, abraços, Juliana... e que a poesia se faça em nossos olhos.

Juliana Künzel disse...

Rsrsrs... a poesia não salva, mas torna menos amarga, não é? rsrsrsrs...

Sidarta disse...

Juliana,

Dos primeiros Autores com quem contracenei aqui neste blog, talvez você seja a pessoa com quem menos dialoguei.

E parece que hoje, quando resolvi ler postagem por postagem, hoje enfim encontrei uma forte sintonia com muito do que você escreveu.

Parece que todos temos muito em comum neste blog (apesar das diferenças político-ideológicas).

Todos estamos buscando um sentido para nossas vidas, creio, ou procurando ressignificá-las. E para quem está perto dos 30 (para mais ou para menos), mais ainda. Meu antigo terapeuta me disse que é normal (mas ele fundamenta isso na astrologia).

Sobre carências e remédios, bem... Você pergunta se existe luz no fim do túnel. Uma vez, me questionando sobre o assunto, me imaginei caindo num poço. Sabe quando o sofrimento parece um poço sem fim, quando você acha que está no fundo do poço e no dia seguinte consegue afundar mais ainda?

Pois bem. Às vezes tento transformar minha dor em poesia, e transportei a ideia da luz no fim do túnel para a luz no fim do poço. Então a queda pode ser menos dolorosa se imaginarmos que ela nos leva inexoravelmente em direção à luz (ou a um "campo de girassol").

Gosto quando leio a expressão "e caindo em si...", que poderia bem ser "caindo sobre si mesmo". Será que poderíamos dizer que esta é uma queda do mundo, uma saída do mundo e uma entrada em nós mesmos?

Não sei com relação a você, mas tem sido assim que me senti nos últimos anos.

Penso na farmácia como um galho preso na parede do meio do poço. Se você se segurar nele, terá uma sensação de segurança. Mas não o fará sair do poço. A queda só tem fim quando se enxerga a luz.

No fim do túnel ou no fim do poço, sempre tem luz quando conseguimos olhar melhor para nós mesmos.

Me solidarizo com a sua dor.

Juliana Künzel disse...

Sidarta,
Obrigada pelo comentario e pela sua solidariedade, mas devo dizer que o fato de tomarmos consciencia da finitude de determinados sonhos, dadas as circunstancias impostas pela sociedade moderna, não nos levam ao fundo do poço, mas sim para bem longe dele... O lamento de ver um desejo se esvaindo é natural e inerente a qlqr criatura, sem que isso signifique que esta possa encontrar-se " no fundo do poço".

Confesso que rondo o poço, caminho, passeio perto dele, olho, vejo o q tem dentro, mas nunca entrei... Prefiro os girassóis...
Rsrsrsrs... E colega, nós sabemos mais do q ninguém, o poeta é fingidor e as vezes a dor q finge, é bem maior q deveras sente...
Escrever ajuda a sanidade, mas não escrevo para a minha analista, (já tive alta, rsrs), escrevo para quem aprecia a minha pretenção de escrever...rsrsrsrs...
Beijos, e um 2010 repleto de girassóis p\ vc!