sábado, 12 de junho de 2010

Dia dos enganados

Hoje eu não quero falar de amor.

Tudo ia tão bem,

Que me fez sujar as mãos no cimento

Da ilusão.

Hoje, falar de amor? Não.

Hoje é o dia dos enganados.

Eu quase comprei aquele colar,

Mesmo sem ter a quem presentear.

Cheguei a pegar o telefone, e discar aquele número,

De colorido, e de cor. Desliguei a tempo.

A tempo de erguer o palácio da minha ilusão,

Mais uma vez.

Hoje eu não chorei, mas queria ter chorado,

Queria ter sentido a dor,

Mas nada sinto.

Minto.

Sinto um vazio. A falta de um número ímpar,

Para que exista o par.

Sinto a ausência de quem nunca se fez presente,

Hoje eu segurava sua mão,

Dividia consigo um prato de macarrão

Tal qual a dama e o vagabundo, você já assistiu?




Foi um sonho bom.

Hoje me aventurei, roubando uma rosa,

No jardim vizinho.

Por um momento, senti minha atitude tão justificada!

O espinho me feriu, e dei por mim.

Hoje comecei a escrever um poema de amor...

A ponta do lápis se partiu, e dei por mim.

Decidi: não. Hoje não quero falar de amor.

Quem sabe no próximo ano,

Quem sabe na próxima vida.

Não quero mais criar ilusões.

Quero ser matéria-prima sem ambição,

Sem ser potencialmente um ato qualquer.

Se houver uma mão delicada que venha talhar-me a alma,

Se houver uma língua assídua que venha dar o acabamento,

Será apenas obra do acaso.

Sou pedra solta na praia distante.

Viverei acatando meu destino.

Minhas mãos estão atadas. Eu fiz o que devia ter feito.

Foi sem jeito, mas é o meu jeito.

Agora, lá no fundo do peito,

Arde o calor da lareira cuja lenha você cortou,

Recolheu,

E alimentou o este fogo.

A lareira, hoje, se apagou.

Cinzas... Cinzas... Cinzas...

Cinza é a cor da pedra,

Que sou na praia distante.

 

4 comentários:

Andréa Amaral disse...

Sem palavras... você conseguiu dar voz a tristeza , ao abatimento e a desilusão que se alojam no peito quando nos sentimos vazios de afeto, de carinho, de colo, de calor. Mas faz parte. O amor é como jogar na loteria. Alguns têm sorte, outros não.
Nesses momentos temos que nos lembrar que devemos nos amar para que chegue um dia em possamos amar ao outro e nos deixarmos ser amados também.
E aí, tá tomando mingau de aveia?
Espero que não. Cremogema é melhor sim, Lohan, vai por mim. Um beijo de namorada literária.

Armando disse...

"Querido amigo Lohan! Vc expoe com talento e beleza tua arte,o sentimento, a dor, o amor... talvez façam parte da mesma essência aqui na Terra. Disse um grande mestre "A dificuldade existe é prá ser vencida!"... e acho que vem daí a chave para a superação. A própria coragem de apresentar-se nu diante da dor já é um degrau.. A ilusão quando é descoberta é maravilhosa... pois nos conduz para um caminho melhor.. da realidade que ilumina, dói.. mas fortalece-nos para a vida.. com o tempo.. E lembro que das cinzas (até dos vulcões) nascem plantas raras, belas e medicinais... Existe uma máxima que sempre abrange com sabedoria todos os momentos da vida.. sejam bons ou não bons... e este pensamente magnífico (que já me auxiliou um tanto de vezes) é ISTO TAMBÉM PASSARÁ, disse Og Mandino.
O dia seguinte sempre será bem melhor... E ISTO ACONTECE.
bj no coração meu irmão!

Camila disse...

Nossa, Lohan... ADOREI esse poema!!! Tão sincero, tão sensível e tão lindo!!! Legal falar sobre o lado B do dia dos namorados.
Beijão!!!

Rayanna Ornelas disse...

A melancolia também é parte do amor (e do desanmor também).
É importante sempre lembrar desse lado B aí que a Camila citou, afinal... se não passarmos pela dor, como saberemos se chegamos à plenitude?