quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ti Ti Ti e Rita Lee





VOCÊ ODEIA NOVELA?
---



Banda Metrô





(abertura original de 1985)

Não é absurdo afirmar que o dito “ame ou odeie” define com perfeição o que é o gênero “novela” em relação ao gosto de cada um. Pessoalmente sou amante de todos os tipos de narrativa, sem distinção, pois em toda e qualquer forma através da qual se pode contar uma história há pelo menos três obras de grande qualidade artística e um artista genial. No universo da teledramaturgia brasileira não é diferente, pois nele há pelo menos um gênio, Cassiano Gabus Mendes; e dezenas de produtos que marcaram gerações; e entre este acervo de produtos de arte está a novela Ti Ti Ti.





http://www.youtube.com/watch?v=6YltsNbCUqo&feature=related

Demônios da Garoa e Benito de Paula
(tema de Ariclenes)




Ti Ti Ti marcou minha infância profundamente. Trata-se de um dos enredos mais originais e divertidos do qual eu já tive conhecimento. E unido a tudo isso a realização prodigiosa garantiu o sucesso arrebatador. Considero Ariclenes um dos mais bem-sucedidos anti-heróis já construídos, a ponto de nos fazer torcer a cada segundo pelo sucesso de seu golpe. Ariclenes Martins supera em realização e propriedade narrativa qualquer Macunaíma da literatura. Há como esquecer o incrível sucesso dos batons Boka Loka, criação de Victor Valentín (nome espetacular), que segundo a lábia genial do estilista canastrão tinha a capacidade de deixar qualquer mulher irresistível? E não é que os batons passaram a vender realmente, saindo da novela para o mercado, e com grande êxito nas vendas! A geração dos anos 80 não se esquece.




É muito comum nos debates em sala de aula (na escola ou na universidade), em família ou mesmo na conversa entre amigos flagrarmos pontos de vista academicistas em relação à arte. (putzgrila!) Eis a visão a respeito do artista como um homem quase divino, dono de uma inteligência espacial, imponente. Aí lá vem a visão da arte como “A Obra de Arte”, “A Obra-Prima”, coisa séria, burocrática, notarial, para entendidos de barba e cenho fechado, criação de vulto, sublime, inatingível ao pensamento e à compreensão. Claro, uma criação artística pode ser sublime, mas quem disse que existe alguma produção no mundo que surge espontaneamente como “obra de arte”? E o curioso é que a maioria dessas opiniões vem de pessoas que nada tem a ver com o ciclo fechado e impotente dos intelectuais. Gente que aniquila Harry Potter, mas que nunca tiveram o prazer de mentir dizendo “Eu entendo James Joyce” porque nem sabem de quem se trata.




Há pessoas que sacralizam tanto a arte que não a aceitam como produto. Então ela é o quê?! Um livro é escrito com que finalidade? Ser virgem e puro por mil anos, para ficar na última estante de uma biblioteca impecavelmente asseada, mas limpa de leitura? Uma canção é escrita e gravada para quê? Ah, já sei, ser arquivada num CD que será orgulhosamente exposto numa loja como um manequim de butique. Ora, e Dostoievsky escreveu O Jogador pensando em quê, mais nos elogios da crítica ou no dinheiro que seu produto lhe poderia render? Aliás, Livro Sagrado que nasceu de uma reles e divertida aposta.






Voltando à teledramaturgia, e à música, imprescindível em qualquer uma das novelas da TV, a canção de abertura da novela homônima Ti Ti Ti, composta por Rita Lee e Roberto de Carvalho (e lançada em 1981) foi gravada pela banda Metrô, em 1985, versão da abertura original, que no contexto funciona bem melhor que a atual, produzida para o remake da novela. Embora seja Rita Lee reassumindo sua própria canção, a música soa meio apática, bem mais lenta, baixa, sem os efeitos bacanas de teclado do grupo Metrô, ou seja, ainda calcada no andamento vagaroso e ausência de impacto da gravação de 1981. Em suma, não é empolgante como a versão do conjunto oitentista. Para quem não assistiu à novela original, talvez seja mais difícil entender as diferenças no arranjo. Pois então tentem ouvir quase no final da abertura de 1985 o Uuuuu! Ti ti ti! Uuuuu! Ti Ti Ti! E reparem, no detalhe, como faz uma grande diferença esse vocal. Sem falar na batida muito mais forte e mais acelerada. Talvez o maior erro desse remake tenha sido não manter a versão de 1985, face à agilidade e ao peso que a banda Metrô imprime.




http://www.youtube.com/watch?v=J5-VsF9y354&feature=related

(abertura 2010, com a música de 85)


(abertura 2010, com a música na versão atual)

No youtube encontrei alguns comentários a favor da gravação da Rita Lee, e usando como justificativa o dinamismo. Ora, juro que não entendi em que sentido, pois se estiverem se referindo à energia, explosão, vitalidade, fica claro que Rita Lee deixou a desejar nesse aspecto, de tão contido e comportado é o seu arranjo, que em nada combina com a abertura (clássica), a qual difere da primeira versão quando por exemplo não apresenta os lápis, que simbolizam os rivais, rabiscando um o croqui do outro, mas se enfrentando à parte, sobre uma folha em branco. A despeito do youtube, devo registrar que em outras redes sociais há muitas manifestações de preferência à gravação de 1985, da banda Metrô.



Curiosidade sobre a trilha sonora de Ti Ti Ti 2010: a versão de True Colors, canção referência aos anos 80, tem a voz da atriz e cantora brasileira Alessandra Maestrini. A música é tema de um personagem gay, muito adequada por sinal, já que Cindy Lauper se uniu em 2007 a outros artistas pelo fim da homofobia.



E quanto à nossa gloriosa Rita Lee, nenhuma crítica comprometerá sua carreira brilhante e sua centena de sucessos e canções inesquecíveis.




Camillo
Landoni



XII.

5 comentários:

Lohan Lage Pignone disse...

Sr. Camillo Landoni! Tenho a honra de hoje ser o first page, conforme dizem em comunidades do orkut, rs!

Cara, que texto genial o seu. Foi o texto que mais me encantou até agora, dos seus. Nossa, como você soube aliar bem os quesitos:
-narrativas;
-obra-de-arte;
-arte como produto;
-trilha sonora.

Adorei mesmo. E assino embaixo!
Ainda não vi/ouvi a versão original de abertura, mas confesso que não curti essa não! Achei monótona demais, de fato, para o ritmo acelerado da trama. Parece que a Rita Lee está dopada com valerianas, algo do tipo!

Não tive a oportunidade de assistir mais que 3 capítulos desta novela ainda! Tristeza! Porém tenho vontade de assistí-la em seu original. Será que a encontro na íntegra no youtube???

São novelas como esta que deveriam ser reprisadas no Vale a Pena ver de Novo. Essas são as narrativas que essa juventude precisa conhecer! Que influências terão os futuros autores de folhetim? Manoel Carlos, Sílvio de Abreu, Maria Adelaide Amaral? Não tiro o mérito deles, são bons autores, indubitavelmente. No entanto, para um país que já teve Gabus Mendes, Janete Clair e Dias Gomes... Cá pra nós, melhoremos essa safra de autores.

Sempre gostei de novelas, mas novelas boas! Esses folhetins estúpidos, que só servem pra encher linguiça em horário nobre, eu me recuso a assistir. Se é para afundar o público em novelas, que as façam decentemente!
A propósito, temas recorrentes como adultério e incesto já deram, não é verdade? Toda novela tem que ter isso. Ninguém merece. Criatividade now!

Camillo, adorei mesmo! Até a next!! :)

(Deixo uma sugestão: fale mais de trilhas sonoras de folhetins! Abraços).

Fabia disse...

Nossa, concordo com a questão da interpretação do grupo Metrô!!!
Muito melhor, mas eu sou suspeita porque n gosto nada de Rita Lee nem entendo todo o auê em torno dela.
Post sensacional, q blog de qualidade, difícil encontrar isso na net ultimamente.

Anônimo disse...

O post mais inspirador sobre novelas que eu já li. Os fâs de Ti ti ti agradecem!

Jaciara, São Paulo

Andréa Amaral disse...

Camillo, você deu show de conhecimento jornalístico nest post. Faço minhas as palavras do Lohan...só elogios. Você é um crítico e colunista genial!
Quanto ao tema "folhetins", eu sou suspeitíssima para dizer algo, pois desde que me entendo por gente,sempre fui vidrada na tela da tv. Sou noveleira assumida, embora elas tenham virado mesmo um produto de marketing de moda e rostos bonitos.
As bons enredos como Tititi estão sendo regravados por conta disso. É difícil se prender a alguma novela hoje em dia. Muita apelação, péssimas atuações, cenários repetidíssimos (não aguento mais ver aquela varanda de vidro que já foi estufa de rosas, sala de fisioterapia, etc
Mas não há dúvida, na minha opinião que uma trilha sonora faz toda a diferença nas tramas. Muitas vezes nos atentamos aos personagens ditos secundários por conta da música tema escolhida para eles.
O grande trunfo de Manoel Carlos vem daí. A novela "Laços de família" ilustra bem isso! Tanto a trilha nacional quanto a internacional são maravilhosas. Eu escuto até hoje.
Mas voltando ao "Tititi", esta novela marcou mesmo! Um enredo genial e o primeiro Vitor Valentim (Otávio Augusto) ficou engraçadíssimo na pele do ator. O mesmo não se passa com Murilo Benício, falando o portunhol com um ovo na boca.
ititi"

ços de Família

Janete disse...

Show de post sobre essa novela ótima!