sábado, 6 de novembro de 2010

Minha flor, meu ninguém


Às vezes eu a via como se ela fosse uma flor, surdamente louca para desabrochar. A honra, para ela, talvez fosse uma pílula, que, ingerida diariamente, a livrava de uma doença da qual ela necessitava ser acometida para que adquirisse imunidade, resistência.



Seus atos pareciam não condizer com seu espírito. Por vezes, falhavam. E nesse vão, eu espreitava um olhar infante, aquele sedento por novas descobertas bastando um sorrateiro espiar através da fresta da porta.


Ela talvez não notasse. Eu não me importava com isso. Ansiava dela o odor de sua verdadeira essência. Dizem que os gambás utilizam seu mau cheiro como defesa.


Quem a devoraria? Quem lhe apontaria o cano de uma espingarda por ela simplesmente, ou não tão simples assim, ser o que de fato era?


Eu. Decerto seria o primeiro. Caçador que necessita alimentar seus interesses. Matar o outro para conseguir suportar o peso da própria vida.


O amor é a eterna caça: o jogo, o embate entre o caçador e o bicho. A razão e o instinto. A fome e o acuo. A mera distração e o ataque repentino. O receio e o pavor.


O caçador estará sempre munido de seus cartuchos, suas gaiolas, seus aprendizados de escoteiro, suas lâminas – aquelas que, ao refletirem um singular raio solar, cega o próprio caçador quanto a todas as trilhas que existem à sua volta O bicho, geralmente, é domesticado, é aprisionado, e se resigna em tal realidade; quando não morre sufocado pelo próprio medo.


O podar da planta é um dos atos mais cruéis contra a natureza. A natureza única daquela planta.


Eu não queria. Eu não queria ter que dividi-la com as abelhas, com os beija-flores. Eu não queria que ela, minha flor, desabrochasse.


Porém, lentamente, seu néctar represado me envenenava. Eu sentia o doloroso efeito colateral daquela química, o pharmakon da mulher. A química que aquela pílula continha. A pílula da honra.


Teu beijo inoculava uma saliva maldita em minha boca. O teu gozo me castrava. O teu olhar vazio ecoava minha covardia. O que me mataria mais depressa?


Abaixei a guarda. Fosse o que fosse.


Ela então me sorriu, e me disse:


-Já não sou mais sua. Agora, te amo.

6 comentários:

Anônimo disse...

AMIGO VIRTUAL ESCRITOR QRDO!!!
Qta honra em poder ver voce CRESCER como escritor....Ja consigo visualizar um Lohan mais maduro....HOMEM....c/ um linguajar próprio de sua jovem maturidade.....LINDO!!!!...Á essência".... fALOU TUDO..... Continue nesse caminho q vc bem escolheu....voce possui o DOM de escrever e tocar nossa essência....Abçs!!!! Ivelise

Lohan Lage Pignone disse...

Ivelise, minha amiga virtual querida! Muito obrigado mesmo pelo seu comentário, pelas suas palavras. Sei que são verdadeiras. Tocar a essência do outro, talvez seja essa a tarefa do poeta...rs.

Beijão!

Aparecida Stellet disse...

Querido Lohan!
Muito profundo e sentimental! Adorei! Continue assim e terans um futuro brilhante! Sucesso! Que Deus lhe abençõe!
Um Grande Abraço da Amiga Cida!

Aparecida Stellet disse...

Querido Lohan!
Muito profundo e sentimental! Adorei! Continue assim e terás um futuro brilhante! Sucesso! Que Deus lhe abençõe!
Um Grande Abraço da Amiga Cida!

Simone Prado Ribeiro disse...

Belíssimo texto!!!

Lohan Lage Pignone disse...

Obrigado, Aparecida! Continue aparecendo por aqui, minha amiga.

Si, obrigado!! Andavas mesmo sumida do blog!

Beijão!