segunda-feira, 30 de maio de 2011

Paracauam

Condição na competição:
Eliminado.
Venceu:
1 Campo Platônico
Data de Nascimento:
18/07/1963
Cidade:

Trofa, Portugal
Profissão:
Professor de História da Arte e Artes Plásticas
Partido Político:
Não possui.
Gosto literário:

Chico Buarque, Moacyr Scliar, Caio Fernando Abreu, Florbela Espanca, Mário Quintana, João Cabral de Melo Neto
O que significa vencer este concurso?

Para Paracauam, participar do concurso significa ampliar a visibilidade de sua escrita. Vencê-lo seria a realização da vontade de ter sua poesia divulgada e publicada em meios não virtuais.
O que o tempo representa para Paracauam?
A palavra TEMPO, representa para mim... Tudo aquilo que o homem busca descobrir sobre si mesmo, tudo aquilo que o faz descobrir que quanto mais sabe mais precisa saber!
Poema n°1 (pré seleção): Íthaca

Chegou o tempo das cerejeiras
perfumes brancos
e os céus imaculados
sem satélites artificiais
e possibilidades reduzidas
de precipitação
máscaras que caem...
personagens descaracterizadas
um grama de tempo
no bordo da vela que apaga
palco vazio cena aberta
frutos vermelhos que beijam
o arco do céu da boca
flores descortinadas e vento
verde a arreganhar narinas
os cruzados retornam
muitos anos depois
com saudades dos cheiros
das cerejeiras
e das colunas dos claustros
só Ulisses não volta
só, Penélope espera
só faz e desfaz
as noites que se fazem dias
Penélope definha esperanças
alimentada de eminências
de retorno
do caos do retorno
todos os corpos atraídos
pelo canto da sereia
têm tendência
a retornar à inércia
aceleração constante
retorno à origem
trabalho nulo
cruzadas
via crucis delenda Cartago
contagem recessiva
marcha lenta
um império inteiro
no bolso da gabardina
e a comissão de frente
evolui
apresenta seus enredos
e os dedos do prestidigitador
enregelados
engelhados
tortos como as garras das
Hárpias
o som das liras
violinos e berimbaus
corpo seco teso e torto
corpo belo corpo morto
procissão de carpideiras
stabat mater dolorosa
aríetes
catapultas
panóplia
generais directores de bateria
Faraó de Mestre-sala
Astronauta Porta-bandeira
escola de samba Mandarim
apnéia paranóica
mulheres-girafa árvores-garrafa
bandeiras despregadas
as fronteiras invadidas
catedrais submersas
e cerejeiras em flor
enchem o céu com nuvens
de pétalas brancas
os frutos estalam
vermelhos
como o canto dos monges
a urdir tapeçarias eternas
para contar da ausência
dos heróis...

Poema nº 2 (Top 17 - O Velho e o Tempo): Promontório
Ao tempo pouco
Se lhe importam
As rugas
Que o velho tem
O tempo tão mais
Velho que o mais
Velho dos homens
E de novo pensa
O velho em seus
Momentos contados
E conta histórias
De um tempo
Passado a limpo
Louça lavada
No rio que passa
Que apenas passa
Tão-somente uma vez
No mesmo lugar
Lugar que é
Suporto no tempo
Ficar – não – passar
O velho
Simplesmente
Acaricia as marcas
Que o tempo
Lhe escavou
Na pele
Como ventania
Insistente que rasga
A face da rocha
Resistente
O velho é uma
Falésia a olhar
O mar
Que bate a seus
Pés
O velho é uma
Rocha que se
Faz areia
Nas praias do tempo.

Poema nº 3 (Top 15 - Haicais): Cupido

Aportas em mim,
Asas de primavera,
E deixas penas.

Poema nº 4 (Top 13 - Crítica Social): Momento Crítico

Eu me penso e
Não sou imenso,
Sou hipertenso e
Me despertenço.

Não sei de mim:
Desconheço-me como
Imagem de um outro
Ou grupo de outros.

A mão, humana, fere.
A cabeça, humana, esquece.
Respeito mútuo
Que arrefece…

A mão humana toca,
Viola, indecente,
A carne intangível
Dos corpos inocentes.

As filas indigentes
Apodrecem nas fronteiras
Do fundamentalismo.
O pressuposto risca
Quem toma o leme e arrisca…

Sei-me indivíduo
Enquanto colectivo,
Deixo um sorriso
No ar e vou
Sumindo aos poucos.

A mão humana bate
Na face que
Se lhe oferece,
Julga e condena
E bate na outra,
Face, também!

Despertenço-me;
Como quem perde
A carteira e deseja
Que ninguém,
Jamais, a encontre.

Poema nº 5 (Top 11 - O Sertão): Aroeira
Árido e solitário
O sertão assustador
Fere como fogo
Respira o seco do rio
Preso em sua concha
Em espirais eternas

Baixios que se encontram,
Sedentos e grávidos,
À espera de dar vida
A esta terra ardente.

Terra plana de horizontes
De mandacarus que abraçam
Os tórridos raios de sol.

Eu português que sou
Só sei do grande sertão,
As veredas que li noutros.

Não sou poeta-Pessoa
Não posso andar a fingir
Uma qualquer dor
Que não me doa.

Sigo o passo seco,
Ossada exposta,
Que verga ao sol,
Arco de luz,
A rasgar areias.

Deixo-me ser tão seco
Quanto os olhos
De quem aguarda
O pranto-benção das chuvas.

Meu corpo seco
Não traz as plumas
Da Baleia de Graciliano
Nem do cão de João Cabral.

Poema nº6 (Top 9 - Poema baseado em imagem): Sísifo

Cena I

Subiste
e não sabes
porquê…
Vieste devagar,
aproximaste-te.
Deste-me
a sensação
de um segundo
parto…
parto reverso
e eterno,
tão perto
com tal calma.
Fomos gémeos,
fetos, no útero
a que chamamos
mundo.

Cena II

Difícil manter
intermédio
de dois pontos…
Justapor
futuro e passado,
amalgamar…
Virar costas e
esquecer.
Olhar para trás
sem saudade,
apenas puro
casual desejo
de lembrar.

Cena III

O que espera
no fim da estrada,
não é o tudo,
não é o nada,
é o recomeço
da jornada.

Poema nº 7 (Top 7 - Poema em homenagem ao autor favorito): Rebanho
 
Tantas gentes
A coabitar
Uma só cabeça.
Um desassossego nas
Paredes da Tabacaria.
Um fingir que é dor.
Tantas letras
Na essência musical
Dos (teus) versos inúteis…

Porque quem ama
Nunca sabe o que ama
E eu te amo Pessoa,
Venero teus Reis
E teus Campos.
Quem fostes vós
Neste mundo aberto?
A destilar belas flores
E tosquiar o Carneiro
Na Brasileira de Lisboa…
De quem fostes voz
Para um deus Caieiro?

Deixo as asas dos
Quatro anjos
Tapar-me os olhos
E não me preocupo
Em saber qual és,
Fernando, que
Soares aos ouvidos.


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