quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Hipermúsica



*Mortais autores, 

*Hiperleitores inclusos
na saudação extra-acadêmica.


É cada vez mais presente no pensamento filosófico contemporâneo o conceito de Hipermodernidade, criado pelo pensador francês Gilles Lipovetsky. Se existe uma palavra-chave para compreender esta ideia tão engenhosa, porém tão evidente entre nós, citadinos e contemporâneos,  eu diria que é "exagero", o que nos remete a Eric Hobsbawn e sua visão sobre o século XX, este, historicamente nauseante por tantos altos e baixos. A centúria na qual principiamos a viajar não será reconhecida como desvinculada à imediatamente anterior, no sentido de que a atualidade é fermentada com as mesmas substâncias do "tio excesso" de décadas atrás. As diferenças entre o século XX e os primeiros anos do XXI não estão na receita do bolo, mas no tempo de cozimento. O fermento não para de agir e o bolo recheado de paradoxos cresce.


Não é de hoje que convivemos com uma constelação de "hiperes". Vamos ao hipermercado "linkando" os hipertextos a fim de hipertextualizar as hiperdicas das compras da semana, pagas pelo hipercard (hiperlegal!). hipersexo, hiper-homem, hipertensão, hipermetropia, hipérbole, hipertireoidismo, hiper-realismo, hiperônimos, HIPERMÚSICA.

Hipercultivo
Cena do filme O Dorminhoco (Sleeper, 1973),
escrito e dirigido por Woody Allen. 

É tanto "hippi hippi hurra" que a potencialidade humana parece ter chegado ao patamar dos deuses do Olimpo. Talvez sim, a começar pelos pais que comem seus próprios filhos. Tudo hoje é exagerado - diria que já atingimos o nível do "hiperexcesso" - na utilização dos computadores pessoais, na ingestão de lixos alimentício-industrais, nas informações via web ou nas bancas de jornais, no comportamento sexual, na mentira deslavada das elites corruptas, na burocracia massacrante, na relação entre professores de pré-vestibulares e seu público discente, aqueles mais parecidos com as focídeas criaturas dos parques de Orlando à espera do peixe lançado pelo treinador. Entre o exagero carismático e o excesso de apatia, está o entusiasmo perdido, aquele que não agride as inteligências.    

Hipersexo
Outra cena de O dorminhoco (Sleeper, 1973)

Em plena ressaca do hiperfestival de Rock realizado na terra do Samba N' Roll, ainda é marcante a lembrança dos excessos em meio a advertências de moderação; exemplo, a imagem de Claudia Leitte fazendo o sinal de silêncio para o público. Ela esperando moderação pós-exagero. Paradoxo hipermoderno. Bandas modestas se apresentando no palco principal, ao passo que grupos de expressão tocaram em palcos alternativos, hiperdesprezados pela Super TV brasileira. Hiperlinguagem: Claudia Leitte e sua arrogância em não admitir que errou ao exagerar nos apelos ao público para que dançassem, segundo informações gerais, sendo que ela estava num festival, o que pressupõe a presença de admiradores de outras bandas. Hiperlíngua: "roqueiros nazistas"; e quem garante que as modestas vaias foram obra de roqueiros? Repito: faça um festival de Axé e inclua um nome de peso do Metal, e vamos ver quem é nazista. Já ouvi dizerem que foram fãs do Metallica os autores da apupada modesta; ora, todos sabem que não poderia ser, uma vez que a banda norte-americana se apresentou em dia diferente. Sorte da Claudia. Ou seja, excesso de palavras, do "diz-se que disse qualquer coisa", porém, parte de um discurso estratégico e já antigo, que visa atingir a música internacional, grande vilã dos artistas e empresários que investem em artistas nacionais, e querem a todo custo evitar concorrências perigosas para os seus negócios. Existem muitas bandas, sobretudo as de Heavy Metal, que são capazes de lotar todos os "shows" de uma turnê pelo mundo todo e até estádios sem qualquer apoio das mídias, a não ser especializadas. Quem por aqui vai desejar um monstro destes por perto?  


Uma vez que estou próximo de me hiperexceder no tema, prontamente enuncio que minha definição atualizada de Rock in Rio é: excesso de público para um espetáculo de modestíssima qualidade musical, com algumas exceções, organizado por hiperburocratas à espera do lucro de bandas sucateadas, de ferro-velho. Deu certo.  


Semana que vem: 
O antídoto contra o veneno do exagero hipermoderno. 
Em forma de menina...

Aguardem.


Enquanto isso...




Hyper Music
** Videoclipe **


http://www.youtube.com/watch?v=tjm3NyQ6DYw&ob=av2e


Banda: Muse / Canção: Hyper Music / 
Álbum: Origin of Symmetry (2001)



                                                       

5 comentários:

Roberta Toledo disse...

Post hiper-reflexivo, hiperbem escrito, hiperconveniente com a realidade!

Landoni Cartoon disse...

Obrigado,querida leitora, por dedicar um espaço do seu tempo para ler e comentar. Continue conosco!

E fico muito agradecido pelos elogios. Quanto à reflexão, é preciso compreender que não podemos continuar assistindo a tudo passivamente como cobaias ou meros alfaces. Lembrando a canção do Metallica, não devemos nos ajoelhar aos Mestres (Eles) dos Fantoches(nós?).

Abs!

Hayanne Silva disse...

Gostei!

Hiperverdade!

Bj. Hayanne

Unknown disse...

Bem, primeiro estou leeeeerda pra comentar qualquer coisa..."Óia" só, demorar uma semana pra comentar, ai, ai...

Como dizer "Concordo com o que vc disse no post" é deveras coió, digo: é isso aí e o conceito de hipermodernidade nunca esteve tão in, em uma época onde tudo é meio retrô, meio pseudo-futurista, meio qq coisa.

HIPER máximo!

Landoni Cartoon disse...

Hayanne, gostei da sua presença!

Espero que volte!

Thaty, o importante é que vc leu e comentou, e ainda peguei suas palavras por aqui! É, e na música temos muita coisa meia-boca lotando shows por aí.