segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Dicas da vez: peça Flutuações e filme Quero ser John Malkovich

          A arte dos títeres sempre me fascinou. Imaginem só, para uma pessoa com sérios problemas de coordenação motora - o que me causou alguns pequenos desastres na infância e adolescência- o quão é fascinante observar pessoas que manipulam com perfeição bonecos inanimados e os transformam em seres com anima, expressão e vivacidade!

Pinoccio, o "boneco dos bonecos", amo esse italianinho^^

 

          O primeiro títere que vi foi em um circo. Lá pelos anos 80 em uma excursão de escola. Circo sempre foi pra mim um lugar mágico, quase de transmutação e expurgo de sensações e concepções. Mas pretendo falar do circo em um outro post... Bem, o fato é que havia um teatro de marionetes nesse circo. Lembro-me que que muitas crianças conversavam, inconvenientes, enquanto eu encarnava, casmurra, uma espécie de menina-censora, de tantos "psius" que fazia, na tentativa de entender a história dos bonequinhos.
Wim Wenders presta uma BE L Í S S I M A homenagem ao circo no seu filme Asas do Desejo

 

          Só recentemente, mea culpa, assisti ao filme Quero ser John Malkovich e absolutamente amei o enredo, os diálogos, tudo e... Advinhem, o protagonista do filme, vivido por John Cusak, é tum títere! Todas as cenas com os bonecos são IMPRESSIONANTES. A narrativa nas mini-histórias dentro do filme dançam de maneira perfeita com a música nas cenas e os bonecos... Bem, há momentos em que somos capazes de esquecer que não se tratam de seres de carne e osso. Algumas cenas lembram coreografias de Pina Bausch ou de Martha Graham e a cena inicial poderia até ser "recortada" do filme, é um curta perfeito.

 

Flutuações
          Na mesma semana, semana passada, aliás, em Paraty, conferi o teatro de bonecos. Coincidência cabalística, para usar a nomenclatura da última crônica da nossa Beatriz Manier, e muito conveniente! Um teatro de bonecos dentro de um paraíso tropical de praias, noitadas, drinks, baladas. Me preocupou o número de pessoas que assistiriam.
          Sim, sempre me preocupo com isso numa espécie de solidariedade aflita de quem é neta de dono de circo, palhaço e domador de leões. Wells, tá bom, meu vô foi dono de circo, com direito à tias-avós contorcionistas e trapezistas, entretanto domador de leões é por minha conta. É uma imagem linda essa do meu vô, que era meio parecido com Drummond, só que com olhos azuis muito tristes, domando leões com um fraque preto de corte perfeito. Wells, again, eu duvidava que, além de nós, Angelo, Fabiana, uma amiga nossa e eu, alguém fosse deixar a night caiçara e ir ao teatro. E, vocês devem concordar, nada mais triste que teatro, circo ou parque vazios.

Teatro lotado.

Eu feliz.

Expectativa: como será essa peça? Sobre o que fala? Como são os personagens?

O título, Flutuações, pairava solto no mar borbotoante da minha imaginação estilo Fantástico mundo de Bobby.


          A peça começa, antes olho o resumé e me deparo com uma série de músicas que amo, compondo a trilha sonora do espetáculo, entre as (lindas!) músicas, Pixinguinha e Cole Porter. A apresentação engloba bonecos, atores e manipuladores e o método de manusear os bonecos, desenvolvido pelo próprio grupo, é eficaz, pois os movimentos dos bonecos é naturalíssimo, e, ao mesmo tempo, delicado, suave, quase poético.


          Não pretendo estragar a surpresa contando o que ocorre na peça, tampouco desvendarei o delicioso mistério que o título do espetáculo pode provocar a quem for assistir à obra, mas é necessário dizer que quem vir contemplará uma peça de delicada beleza, com uma narrativa deliciosamente não-linear, cuja sensualidade surpreendentemente elegante faz lembrar a dos contos nipônicos medievais ou nossos contos populares, contemporâneos ou não, Wells, a final de contas, a volúpia é tão universal quanto atemporal.

Bem, queridos leitores autorizados SA, minhas dicas da vez são essas:

Filme (DVD, fita (!), Blue Ray, emulinha (Oooo), Netflix etc:

Quero ser John Malkovich

Peça:

Flutuações

quartas - sábados, às 21h.

 Informações e bilheteria
Rua Dona Geralda, 327
Centro Histórico Paraty - RJ
(24) 3371 1575

com o grupo Contadores de Histórias

Espero que tenham gostado, bom filme e boa peça^^















6 comentários:

Landoni Cartoon disse...

Se eu fosse a personificação do Autores SA, estaria nas nuvens, pois deve ser um imenso alívio voltar a respirar depois de dias sem fôlego. Agora com os novos posts acredito que o blog possa caminhar outra vez.

Quanto ao seu post, está aí, numa propícia conexão com a da Rayanna, volto a citar a Sutileza e o Carinho como o painel que deveria predominar neste mundo.

Seu post, Thaty, transmite estes valores. Realmente parece que por um fio ainda não se extiguiram, daí seu ceticismo revelado pela surpresa de saber que a platéia estava apinhada de gente, assistindo a um espetáculo de fantoches.

Esse é o melhor e único espetáculo de maipulação que deveria existir, o da fantasia, através do qual driblamos a dura realidade, mas sem sermos os palhaços.

Vi Quero ser John Malkovich duas vezes, e vi no cinema! É dos mesmos roteiristas, ou quase isso, de "Brilho Eterno de uma mente sem lembranças." outro genial roteiro.

Me lembro quando vi o início do filme, o títere! como minha cara ficou. É realmente uma realização cinematográfica de excelência.

Pena eu não poder assitir à peça, mas...

Lindo post!

E viva o Pinocchio!!!

Abraços
Landoni

Analine Sousa disse...

Se este post é apenas uma dica, caramba, Imagina quando você escrever um conto! Dica de extrema qualidade e criatividade.
Você esteve aqui em Paraty, na minha cidade preferida... O teatro de bonecos é lindo mesmo, como você. Adorei seu mini-perfil.
Professora, sexy, glam e bem-humorada, porque o mundo precisa de mais gente assim.

Landoni Cartoon disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Landoni Cartoon disse...

Ahhhh, e preciso dizer: Cole Porter e Pixinguinha?????

De novo, Cole Porter e Pixinguinha??????

Por Deus, por Zeus, por Odin e Tupã, nem dá pra medir tamanha grandeza musical! Mas dá pra medir o quanto miseravelmente o senso comum e o mundo dos negócios se curvam às "parcolândias", ou então, às "miserolândias".

Cole Porter e Pixinguinha????????

Esculacho.

Unknown disse...

Landoni,

obrigada pelas suas palavras, my dear! Claro que vc também gosta de Pinoccio, vc é professor de italiano e de literatura italiana, ora bolas!
Achei que vc não is comentar da trilha, nem deu pra te contar na brasserie, porque era muita coisa pra dar f5!!!!
Como assim não dá pra ver essa peça? Ela vai até março ou abril, leva a Ananda, ela vai adorar!!!

Nat Medeiros disse...

Minha professora linda de comunicação e linguagens!
Amei as dicas Taty, vc me inspira.
Ah comprei o livro q vc me falou. Vou começar a ler amamanhã!