quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Jabor e a mosca - O oscar é nosso

E o Oscar vai para...

Em algumas cenas do longo climax em Titanic não se ouve a trilha sonora, nenhuma nota, nenhum arpejo, nada de música, só os ruídos (fantásticos por sinal) de gritos e coisas desabando, o que me levou a concluir que o silêncio musical combina com naufrágios.    

Amigos leitores,

Estou entre a cruz e a caldeirinha, como diria minha trisavó cozinheira, doceira e confeiteira diante do bolo solado, bem na hora em que o cliente chega para cobrar a torta. É nessas horas em que o tal "Plano B" deve entrar em ação. Mas qual é o MEU?  Estou pensando. Não sei como minha "trisa" se saiu com o bolo, mas preciso saber como me sairei com o Oscar. Isso mesmo leitores, acredito que já tive a oportunidade de lhes dizer neste mesmo superblog a respeito de como durante toda minha vida acompanhei a premiação americana. Era incrível me reencontrar com tantas homenagens a tantos gênios de áreas diversas, que se reúnem para produzir um único filme. Uma recente foi para o Ennio Morricone e foi incrível. Só não foi mais incrível do que o fato da própria Academia nunca ter lhe dado antes um Oscar, ou seja, por nenhuma de suas trilhas. Mas quando perdemos as esperanças eis que chega o momento da redenção e "voilà" o compositor ganha um único troféu por toda sua obra. Morricone é italiano, então seria melhor um "Eccolo!", ele ganhou o homem pelado! Até Chaplin já havia passado por isso. Enfim, assistir à grandes artistas numa noite de gala, celebrando a arte (traduzindo: a indústria) do cinema sempre me motivava a dormir às duas da manhã, ainda que eu tivesse de acordar às seis para ir à escola. Anos depois à faculdade. Não obstante às críticas que possam ser feitas, desde 1928, o Oscar recompensa com louvor o trabalho de grandes profissionais (artistas e homens de negócios) numa reverência luxuosa à arte e ao entretenimento. Acalmem-se, estou pensando. Espero não estar estragando tudo desde já. Mas estou pensando. Talvez o "não obstante" tenha sido insuficiente para impor o respeito de que preciso. Só mais um instante, ainda estou pensando. 


Me recordo da edição do Oscar em que Titanic foi consagrado como E o Vento Levou dos mares. E levou quase tudo, incluindo o jornalista e cronista Arnaldo Jabor que por causa de suas opiniões naufragou na tarefa de comentar as edições seguintes, ad eternum. Eu poderia ter escrito "opiniões polêmicas", mas não, foram apenas opiniões. Na época, assistindo ao Oscar e gravando a transmissão em VHS, eu mesmo me revoltei com as trombas d'água de Arnaldo. "Euzinho" ainda estava envolvido emocionalmente com o naufrágio, o do navio. Mas depois, assistindo outras vezes à fita com os comentários arnaldinos, mudei de opinião e parei de criticar o crítico, reconhecendo o lado até hilariante de suas falas. Primeiro entendi que Jabor não desmereceu a película titânica. Por exemplo, no prêmio para figurino Jabor tinha um critério que privilegiava a imaginação em detrimento da reprodução. Me refiro ao filme Kundum, que concorreu nesta categoria com Titanic, e perdeu. Kundum é um filme de Martin Scorcese, que contou com o extraordinário figurinista Dante Ferreti, o mesmo que criou os figurinos para As Aventuras do Barão de Munchausen. Para quem viu este filme não preciso dizer mais nada.  Mas preciso repetir: Kundum perdeu em figurino e direção de arte para Titanic, e daí Mr. Arnald deu sua opinião: "O figurino (a direção de arte também) de Titanic é muito bom, mas não é como em Kundum, neste há imaginação, criatividade, em Titanic é apenas cópia, uma reprodução".  Foi mais ou menos isso que Mr. Arnald disse naquela ocasião. Me marcou a série de vezes em que a palavra Kundum foi repetida. Kundum, Kundum-Kundum. "...E Titanic levou Kundum e Jabor." E todos os prêmios que o vento, quer dizer, que o navio levava, "Arnaldo e seus Bluckets" como uma lasca de iceberg discordava da Academia. Até aí, nada demais, porque eu também discordei. Depois, claro. 

Meus estimadíssimos leitores, nem sei mais se ainda tenho salvação, talvez eu seja forçado a fazer minhas malas e dizer adeus ao blog, mas tenho, eu preciso (desculpem) concordar com Jabor, o cangaceiro. Não posso mentir, nunca concordei com tantos prêmios para Titanic e tão poucos para As Good as it Gets (Melhor é Impossível) este sim, o melhor filme do ano! O melhor roteiro do ano! Um dos melhores de todos os tempos! Que filme genial, enternecedor, inteligente, gostoso de assistir. Por outro lado não é que eu não goste de Titanic, eu gosto. Mas a verdade é uma só: Melhor é Impossível apesar do sucesso não deu tanto lucro para os produtores quanto a reprodução do cruzeiro náufrago de 1912. Os bilhões explicam tudo.   

Agora devo explicar o que estou fazendo aqui falando sobre cinema, filme, filme, cinema - até falei alguma coisa sobre música, eu sei. É, meus posts são sobre música, não me esqueci. Amigos, me entendam, continuo tentando encontrar uma saída, mas acho que vou mesmo me jogar na caldeirinha. Não consigo pensar como sairei desta sem ser sincero nas minhas opiniões. Bem, não era sobre isto meu post de hoje, mas... 

Aqui estou eu, apertando meus olhos e detonando a bomba. Seja o que o leitor quiser: 

Saíram as indicações ao Oscar deste ano. E sem falsa modéstia, minha audiência está cada vez menos digna deste prêmio. Duas canções! Um mísero par de canções. Onde estão as outras três? Por pior que fosse a maior parte das músicas sempre havia uma a guardar, uma apresentação, ou algo marcante. Mas o Oscar está cada vez mais sem graça, como se isso fosse possível, muitos filmes concorrendo para um só ganhar, quase sempre o pior e com quase música nenhuma na disputa. E o que dizer do Almodovar fora?          

Além disso, acho engraçado o fato de sempre considerarem os "Oscars" de Canção!!! Trilha Sonora!!! Figurino!!! Direção de arte!!! como prêmios "menores", sem muita importância. Será que a vaidade dos atores, dos roteiristas e a falta de tempo dos jornalistas, sempre esquartejando os fatos com "edições elétricas" são tão grandes a ponto de considerarem o fato de que sem roupa, música ou cenário os esforços respectivamente dramáticos e narrativos dos atores e roteiristas seriam inúteis. O que seria de Judy Garland se ela em O Mágico de Oz dançasse sobre os tijolos amarelos nua em pelo, tal qual o Leão, o Homem de Lata e o Espantalho? Dançando nus e sem música. Nem teríamos Somewhere Over the Rainbow para compensar o quão ridículo seria? Época em que havia compositores de canções. Mais ridículo é o ego de atores e roteiristas que acham seu trabalho mais importante. O que seria do cinema mudo sem a música? Prova que nunca foi tão mudo o cinema, a música já estava lá. O que seria de Guerra nas Estrelas, do cinemão sem John Williams (mais duas indicações para ele este ano, pelo menos isso!), sem Elmer Bernstein, sem Bernard Herrman,  o que seria do emocionante Coração Valente e dos brados de Mel "Wallace" Gibson sem a trilha fabulosa de James Horner? Os especialistas dizem que trilhas-sonoras não devem ser notadas durante a projeção de um filme, que devem ser bem sutis; ora, se não são para serem ouvidas, então por que compô-las e editá-la para o cinema? Entendo que não devam ser escandalosas, rebeldes em relação às cenas, porém, se fizerem um pouco de barulho para dar aquela emoção, por que não? Depende do filme, do gênero, e claro, do compositor. Eu sei que Jabor the Hutt descordaria de mim, mas ele não está entre meus leitores mesmo, a não ser que... Melhor continuarmos. O que seria da Pantera Cor-de-Rosa sem Henry Mancini, o que seria da minha infância sem Henry Mancini?!!! Todos os grandes músicos de todas as épocas iriam reverenciar Mancini depois deste tema sensacional, o da Pantera, que é dos melhores e mais inspirados da história da música. 

Mesmo com toda sua importância, a música, no Oscar, está cada vez menos prestigiada. Aliás, não só no Oscar considerando as aberrações que ouvimos por aí. E não é incrível que exatamente agora o Brasil esteja concorrendo e com certeza irá ganhar! Entre a música que escolheram dos Muppets, Man or Muppet (Bret Mckenzie) e a do filme de animação Rio, mesmo que eu não esteja nada entusiasmado com nenhuma das duas, mesmo assim a do Sergio Mendes e Carlinhos Brown é muito melhor. Mas não se enganem, leitores, não é por ser "melhor" que a canção hollywoodiana com bateria de escola de samba vai levar o Oscar. Vai levar porque vai e ponto final. Quem apostaria na canção fraquíssima dos Muppets? Jim Henson precisa voltar logo à Terra para ter compositores dignos de seus personagens. Se todos os melhores já não estiverem com ele.

Amigos leitores, finalmente o Brasil levará o Oscar e será este ano. Isto não quer dizer que será justo. Muitas canções ficaram de fora da disputa. Eu estava indo tão bem, por que desistir agora e jogar por terra todo meu esforço de ficar calado. Continuando, eu tenho muito carinho pelos dois filmes que estão concorrendo a melhor canção. Sim, gosto muito dos Muppets, sempre fui fã desses bonecos, e adoro ararinhas-azuis. Ora, é uma explicação razoável; enfim, já estou entrando na caldeirinha. A canção Real in Rio tem uma boa melodia, mas tudo cai por terra quando entra o refrão, mediano, principlamente no verso "All by it self (it self)", aí é que fica ruim de vez. As vozes cantando "it self" não soam nada boas. A sonoridade é muito ruim, de uma feiura e debilidade que nada tem a ver com o resto. Já na segunda parte o canto melhora, e as notas soam um pouco melhor. Muitos dos que perceberem vão dizer que é só um detalhe, sim, só que para os meus ouvidos não é só um reles detalhe, pois o refrão na primeira metade da música soa como uma mosca dentro de uma sopa quentinha. Imaginem que a sopa é boa, e estamos com fome, mas tem aquela mosca ali, defunta, boiando no caldo. Peça outra sopa ou então vá jogando o inseto para as beiradas do prato. Eu peço outra. Não consigo pular no 'player' uma nota fraca e mal posta que seja só para ouvir o restante de uma música, ainda que seja boa. Não tolero moscas na minha sopa.   

Mas apesar das moscas e dos jabores da vida, o Oscar é nosso.  


Grande abraço, leitores, e até semana que vem com o post que estava reservado para esta semana.  
Claro, se não me cozinharem na caldeirinha.


 



2 comentários:

Lohan disse...

Caro Camillo, adorei o seu post! Adoro tudo que remete a filmes, Oscar, anyway!

Olha, eu gosto muito do Titanic. Dificilmente alguém partilha de outra opinião quanto a esse filme, né? Mas o 'Melhor é Impossível', mata a pau. Aquela cena da Helen Hunt, quando desabafa com a mãe - quando 'dá por si', digamos assim - é visceral, incrível. Como ela se ocupava para sanar seus problemas interiores, etc.

Quanto às canções desse ano, eu conhecia apenas a dos Smurfs, que assisti, mas não vi 'Rio'. Acho que o Brasil devia ter concorrido e vencido com 'Cidade de Deus'. Agora... Tá complicado pra gente chegar lá, embora o cinema brasileiro esteja crescendo a cada ano.

Enquanto isso, o cinema argentino continua bailando, ensinando. Assisti o 'Medianeras' essa semana e fiquei simplesmente encantado. Simples, criativo e fascinante. E devia estar concorrendo ao MELHOR ESTRANGEIRO neste OSCAR!! Aliás, a trilha sonora deste filme também é super bacana. Por falar em trilha, adoro o Enio Morricone. Esse é hors!

Abração, Camillo!

Landoni Cartoon disse...

É sim, Lohan, de todos que eu conheço só um amigo não torce o nariz para Titanic. Nem me fala, todas as cenas do filme são perfeitas. Até o título "Melhor é impossível" é perfeito! ^^

Discordo de você, para mim o Brasil deveria ter ganhado com a Fernanda Montenegro.

Vou ouvir a trilha desse filme argentino, grande dica!

Ennio Morricone é sensacional!

Abraços!
Landoni