quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Hobbit - uma canção

"Tudo o que Bilbo viu naquela manhã, (...) foi um velho com um cajado. Usava um chapéu azul, alto e pontudo, uma capa cinzenta comprida, um cachecol prateado sobre o qual sua longa barba branca caía até abaixo da cintura,..." 

"Estou procurando alguém para participar de uma aventura."

"Sinto muito! [disse Bilbo] Eu não quero aventuras, muito obrigado. Hoje não."

                                                                                   Fonte:  O Hobbit,  p. 4-6.



Ilustração de John Howe, 
um dos artistas que serviram como fonte para a produção cinematográfica.  

A julgar pelas opiniões dos fãs da obra de J.R.R. Tolkien, baseadas no trailer lançado na web dia 21 de dezembro de 2011, O Hobbit - Uma Jornada Inesperada, não decepcionará o público e será um enorme sucesso. Há alguns anos as primeiras notícias informavam que Guilherme del Toro seria o diretor da adaptação, mas Peter Jackson é quem tomou as rédeas dos “antigos e novos” eventos na Terra-Média. Aquele permaneceu dividindo o roteiro com Jackson e Fran Walsh, além de  Phillipa Boyens. Não custa lembrar que em 2013 teremos a continuação da aventura de Bilbo Bolseiro (B. Baggins), Gandalf e os treze anões da Companhia de Thorin Escudo de Carvalho, este, o anão líder da corajosa empreitada. 



Os anões e o líder Thorin Escudo de Carvalho, no centro

Publicada em dezembro de 1937 a narrativa conta como um pequeno grupo de anões rumou para o sul da Terra-Média junto com um mago e um hobbit a fim de retomarem Eredor, o reino dos ancestrais de Thorin, livrando a Montanha Solitária do domínio de Smaug, um impiedoso dragão vermelho conhecido por sua crueldade e por ser indestrutível. A aventura de O Hobbit acontece 60 anos antes de Bilbo literalmente desaparecer na sua própria festa de aniversário deixando para seu sobrinho, Frodo Bolseiro, o Um anel, o poderoso artefato que desencadeou a Guerra narrada em O Senhor dos Anéis.


Ilustração de Greg e Tim Hildebrandt

Amigos leitores, é muito cedo para entrar em detalhes sobre a música do filme O Hobbit - Uma Jornada Inesperada, mas pelo pouco que se ouve no trailer está mais do que na hora de tecer os primeiros comentários. Diferente do post da semana passada, o panorama para este é inteiramente positivo. Basta começar citando um trecho do livro O Hobbit em que o narrador descreve logo no primeiro capítulo uma cena no mínimo poderosamente bela, mas antes, vou contextualizá-los:

Gandalf e os treze anões já haviam se acomodado na toca de Bilbo, o que evidentemente não agradou nada ao jovem Bolseiro. É noite, véspera do início da viagem, perigosa jornada da qual não há garantia de retorno para nenhum deles, anão ou hobbit. Unindo as trágicas lembranças do dia em que o dragão vermelho incinerou vivo um grande número de anões, lhes tomou todo o tesouro e o reino no fundo da montanha, às esperanças de vitória contra Smaug, Thorin e os demais anões cantam, e o canto dos anões é tocante porque transmite o desejo de trazer de volta o brilho das riquezas do passado, esquecidas há muito tempo:

   "A escuridão entrava na sala pela pequena janela que se abria na encosta da Colina; a luz do fogo tremia – era abril – e, ainda assim continuavam tocando, enquanto a sombra da barba de Gandalf se agitava contra a parede.
    A escuridão encheu toda a sala, o fogo se extinguiu, as sombras se perderam, e ainda assim continuaram tocando. E, de repente, primeiro um, e depois outro, começaram a cantar enquanto tocavam, o canto grave dos anões das profundezas de seus antigos lares; e este é como um fragmento de sua canção, se é que pode ser como uma de suas canções sem a sua música".

fonte: O Hobbit, p.13.


As quatro últimas estrofes da canção dos anões:


    “Zumbiram pinheiros sobre a montanha,
    Uivaram os ventos em noites azuis.
    O fogo vermelho queimava parelho,
    As árvores-tochas e fachos de luz.

    Tocaram os sinos chovendo no vale,
    Erguiam-se pálidos rostos ansiosos;
    Irado o dragão feroz se insurgira
    Arrasando casas e torres formosas.

    Sob a luz da lua fumavam montanhas;
    Os anões ouviram a marcha final.
    Fugiram do abrigo achando o inimigo
    E sob seus pés a morte ao luar.

    Para além das montanhas nebulosas, frias,
    Adentrando cavernas, calabouços perdidos,
    Devemos partir antes de o sol surgir
    Buscando tesouros há muito esquecidos."

fonte: O Hobbit, p. 13-14


Smaug, em ilustração de John Howe 


Um trecho destes versos, musicados, está no trailer. Assistam:


"Enquanto eles cantavam, o hobbit sentiu agitar-se dentro de si o amor por coisas belas feitas por mãos, com habilidade e com mágica,..."


fonte: O Hobbit, p.15.


Ilustração: Hildebrandt


É com a mágica de tempos antigos que Peter Jackson e sua equipe parecem trabalhar nessa produção. Mesmo sendo um trecho curto, nota-se uma reverência (criativa) em tudo, sobretudo na música composta por Howard Shore para os versos cantados pelos anões, reverência pela obra do professor de anglo-saxão, filólogo e escitor britânico J.R.R. Tolkien. Quando lembramos destas palavas do narrador de O Hobbit: "se é que pode ser uma de suas canções sem a sua música", voltamos também ao problema dos limites da prosa, uma vez que não é possível ouvirmos a música que o narrador nos sugere com os versos, infelizmente o único recurso de que dispõe. Porém, o cinema, num gesto raro ou talvez único responde à obra literária: "Sr. Narrador, agora temos a melodia, temos os cantores, portanto, temos uma das muitas canções dos anões". Ou seja, será oferecida no cinema e pelo cinema a música que sempre faltou no livro.

Por enquanto não é possível saber se a canção é só o que aparece no trailer ou se é mais longa, contudo deveria ser longa porque há muito tempo não se ouve uma melodia com essa qualidade composta para o cinema, cuja grandeza artística fala por si mesma. Quanto ao Oscar do ano que vem, não espero que a "canção dos anões" seja indicada, pois não a imagino num arranjo "comercial". Por tudo o que a lindíssima melodia e o canto irretocável que se ouve no trailer sugerem, há muito que está na hora do Oscar resgatar seus tesouros perdidos, assim como nós os nossos corações, afinal, ir em busca de poder e grandes somas de riqueza deveria ser muito mais do que dividir moedas de ouro entre os sócios de uma Companhia de ladrões. E isso O Hobbit nos ensina.

   



                  

4 comentários:

Roberta Toledo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roberta Toledo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roberta Toledo disse...

Adoroesse livro, deve ser lindo o filme!

Bjos
O blogger está horrível, não consigo postar comentários, não aparece

Landoni Cartoon disse...

Roberta, nas mãos de Peter Jackson vamos sim ter um grande filme! E notou que trilha sonora está vindo por aí? abraços.