domingo, 1 de abril de 2012

Ana Lúcia Pires (Anna Lisboa)

Ana Lúcia Pires (Anna Lisboa) nasceu e foi criada na V. Madalena/SP. Em uma época de ouro, frequentando o Sujinho, bar-reduto de intelectuais, músicos, cineastas, escritores, eventuais prostitutas da Rua Augusta e duendes, para desgosto de seu severo pai Alentejano, bebeu a sua 1ª dose de álcool literário, aos 13 anos. Era 1983 e, certa noite de inverno, um desses seus “mestres” parou na sua frente com algumas folhas sujas na mão e disse: “- Aqui está você. Quer ler? É forte”. Golpe baixo! A curiosidade abriu suas mãos e apertou com força trechos de ”Navalha na Carne”, de Plínio Marcos. Iniciava-se seu caminho de perdição. Uma frustração? Ter começado a acreditar em si 30 anos depois. Um dia, resolveu tirar suas dores da gaveta e, em dois anos, tem algumas poesias premiadas em antologias. Seu 1º livro de contos? Está pronto. Finaliza externando sua vontade de que o Brasil possa, um dia, comer poesia sem contraceptivos: Amém”.


Pseudônimo: Anna Lisboa

Título: Ela do beco

Anônima e solteira
Parecia assegurar-se de um romance
Nadava sem roupa
Sem seios sugados
O tempo passava bordado
Preferia os fuxicos coloridos
Criados pelos dialetos de overloque
Nem mais, nem menos linda
Apenas mulher, aliás, infinda
Detestava claridade
Barulho
Sorvete de lucidez com pistache
A lucidez lhe atacava o fígado
Mas adorava a novela das 08h59min
Pena ter perdido seu último capítulo
Ela do beco
Eu dela
Sem saída.



Título: Gênesis





Av. Paulista, 23h54: Acabou para mim o gemer da vizinha

Acabou carnaval, o feijão com farinha

E o clitóris da virgem tentou se matar. Há Deus?



McDonald's, 23h55: Vomitei na saída a mentira da faca

A minhoca indagou: “– É bovina essa vaca?”

Sex Shop, 23h56: Vou roubar espartilho, me amarrar com fitilho

Tabacaria, 23h57: Teu charuto tragar e soltar mais um filho – precisava rimar!

Igreja, 23h58: Quanta merda de gente! Isadora contente! Quanta merda no dente!

Isadora o altar?



Autores S/A, 23h59: Um poeta não morre se alguém publicar. Há Deus? Enviar.

São Pedro, 00h00: – Anna, as respostas tu pedes ao Pai Cria Dor. Descerás ao inferno queimado de horror. Podes já te arrumar e também perguntar! Aqui está o Senhor.



Anna, 00h00: – Nesse inferno citado haverá camiseta? E seu Nelson Rodrigues, é de fato o capeta? Mas, espere! Há mesmo um Deus? Ah, Deus... Fudeu! Esqueci a caneta!!

Diabo, 66h66: – Bem-vinda, poeta de anca discreta! Catarse e fogo, seguir linha reta.



(Jurei me salvar; calei. Quando um seio fala, o outro abaixa a orelha. Adeus).






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