domingo, 1 de abril de 2012

Francisco Ferreira (João Saramica)

Francisco Ferreira (João Saramica) nasceu e criou-se, até os 8 anos, em Santo Antônio do Norte (Tapera), “a norte dos sonhos, além da curva do imaginário”. Sua mãe o alfabetizou aos 5 anos de idade, e, desde então, fez da palavra escrita a sua amante e matéria-prima para construir seus sonhos. Não se lembra do primeiro livro que leu, mas os leu aos milhares. Tem o Ensino Médio e é “doutor honoris causa” na universidade da vida. Segundo João, frustrações e alegrias se têm todos os dias, tanto como poeta, quanto como ser humano, mas crê que o que conta é absorvê-las e melhorar a cada dia. Crê que só teremos um país de leitores, como propagam os governos, no dia em que os poderes constituídos investirem nos escritores, com programas de incentivo à produção e divulgação de nossas obras. Pela sua experiência em 2 concursos com esta mesma configuração, no fim , vencer é apenas um detalhe; participar é que é a grande conquista!”


Pseudônimo: João Saramica
Título: Cotidiano

Um político passa em carro alegórico
a súcia aplaude. Uns poucos impetuosos
vaiam. Coisas da oposição!
O centroavante perde o gol e o grito
transformado em murmúrio, morre.
Alguns praguejam à vontade, de boca-suja.
São tempos de seca, vacas magras devoram
a ilusão gorda e rica.
Faraó decreta o racionamento, alegria fragmentada,
em torrões é servida em migalhas.
Um burro rola na relva espaventando fantasmas
de arreios e chibatas e esporas...
O automóvel para na esquina e a menina indecisa
tropeça no passeio. A malta gargalha
e ri com toda a boca e dentes...
Pairam os arranha-céus sobre calçadas e marquises
espionando pedestres minúsculos que olvidam o céu
nem para previsão do tempo.
A cidade se excita nervosa, geme em cada esquina
e praças. Estala, dilata, contrai. Será que arrebenta?
O besouro, embalde tenta desvirginar vidraças,
as flores se perdem no asfalto, e mortas se despetalam...
É a vida que flui!

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