quinta-feira, 12 de julho de 2012

Comentários e Notas da 3º Etapa - Homenagem a Clarice Lispector e a Cecília Meireles


APRESENTAÇÃO:



Jurados Oficiais: Afonso Henriques, Paulo Fodra, Tânia Tiburzio e Ronaldo Cagiano



Jurados Convidados: Antônio Carlos Secchin, Alfredo Fressia e Flávia Trocoli.



Texto especial para os poetas de: Marina Colasanti.





NOTA: O jurado Roldan-Roldan, por motivos pessoais, precisou deixar a banca do II Concurso de Poesia Autores S/A. Ficam aqui os nossos sinceros agradecimentos pela sua participação, até aqui. Já o jurado Homero precisou se ausentar novamente.





HOMENAGEM DA SEMANA: AFONSO HENRIQUES GUIMARAENS NETO



Mineiro de BH, Afonso Henriques de Guimaraens Neto tem inscrita no sangue a palavra poética. Formado em Direito, Afonso é neto do grande poeta simbolista Alphonsus de Guimaraens, o “Solitário de Mariana”, autor de “Ismália”, entre outras obras importantes. Não menos relevante, Afonso é também filho de um homem dedicado às letras: Alphonsus de Guimaraens Filho, prêmio Jabuti de Poesia pelo livro “Nó”, em 1985. Hoje, jurado do II Concurso de Poesia Autores S/A, Afonso Henriques Neto também concorre na final do Prêmio Portugal Telecom de Poesia, com seu livro “Uma cerveja no dilúvio” (Ed. 7Letras) ao lado de outro jurado do certame, Ronaldo Cagiano, bem como Manoel de Barros e Affonso Romano de Sant’anna.






(Capa do livro de Afonso)


“Transmite a visão de uma sociedade, um mundo e um cosmo que naufragam ou se desfazem”

(Claudio Willer, em relação à mais recente obra de Afonso, “Uma cerveja no dilúvio”)



Afonso Henriques Neto já publicou doze livros. Participou intensamente do movimento “Poesia Marginal” nos idos dos anos 70. Abaixo, seguem dois de seus poemas que compõem o livro “Uma cerveja no dilúvio”:



DOIS POEMAS DO LIVRO “UMA CERVEJA NO DILÚVIO” (Rio de Janeiro: 7Letras, 2011), DE AFONSO HENRIQUES NETO.




DESCONHECIDO




Tudo o que está preso há de um dia se livrar.

O poema é sempre mais livre que o próprio ar.

Vejam as vozes de madeira encarceradas

em manequins sombrios nos fundos de um depósito

ou mesmo nas feéricas vitrinas onde a treva manietada

cospe iodo.

Vejam como essas vozes de madeira se esforçam

para se safar

para caminhar nos passos de qualquer passante

que lá se vai adiante sem nada

nada notar.

Vejam a enfermeira arrancando da cama lençóis de lodo

depois que levaram o corpo para o último banho

e o quarto se trancou em escamas obsessivas.

Vejam o esforço da aurora para romper esses muros mofados

os olhos trancafiados na sombra até o fim dos abismos.

Vejam que a própria manhã e seus inflamados

leopardos

arrasta uma corrente de repetida exaustão

por essas chamas e esses ruídos de língua nova ou de latim

de asfixiada saudade

fúria de ouro a sangrar sem idade.

Tudo o que está preso há de um dia se livrar.

O poema é sonho mais livre que o próprio sonhar.




“Não basta o domínio técnico, uma certa postura formalista, para se fazer um bom poeta. O melhor, talvez, seja juntar as duas coisas: visceralidade e consciência técnica. Mas uma coisa é certa: se você quiser mesmo saber o que é grande literatura, siga os passos do Ezra Pound e procure Homero, Safo, Propércio, Catulo, Dante, Shakespeare, Camões, Fernando Pessoa; no Brasil, Gregório de Matos, Gonçalves Dias, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Alphonsus de Guimaraens, Cruz e Sousa e os modernos”.


(Afonso Henriques, em entrevista concedida a Floriano Martins).




A LUA VOAVA




a lua voava nua

na madrugada vermelha



mas onde estaria aquela

que de tão bela ofuscara

do sol a dança amarela?



no quarto ora deserto

um distante acordeom

depunha a melancolia

numa poça de néon



(quando os risos eram sol

no embebedado novelo

ouro a suar no lençol

tanto mel em desmazelo)



pois onde estaria aquela

alma de primavera

que no tempo se perdera

vaga sombra na janela?



gritar gritar que ela venha

com seu corpo de centelha



a lua voava nua

na madrugada vermelha




Perguntado sobre o que seria poesia, em sua opinião, Afonso Henriques respondeu:



“Esta indagação aparentemente simples já deu ensejo à escrita de múltiplos livros por parte de grandes autores, entre eles o extraordinário poeta mexicano Octavio Paz que tanto meditou sobre o fenômeno poético. Portanto, responder em poucas palavras é apenas um exercício de simplificação absoluta. De todo modo, recordo, de pronto, uma definição de meu pai, o poeta Alphonsus de Guimaraens Filho, que disse certa vez que “a poesia é o dia reinventado”. Gosto do verbo “reinventar” para tratar da poesia, pois conduz a um espaço misterioso que está ainda além do mero “inventar” ou “criar” uma expressão nova que dê conta dos nossos mais profundos sentimentos ou preocupações. Para falarmos do dia, por exemplo, temos que utilizar a linguagem metafórica, e assim “inventamos” ou “representamos” o dia por meio de figuras de linguagem. Isso já pertence à esfera da construção poética, mas quando “reinventamos” o dia damos um passo ainda mais largo, no sentido de perceber que a poesia será tudo quanto permanece profundamente oculto para muito além da superfície do que chamamos realidade. Por isso costumo dizer que a poesia ironiza nossos próprios poemas, que não passam de pobres carcaças de palavras a lutarem, quase sempre sem sucesso, para transmitir algum perfume mais forte do mistério poético. E, para encerrar nossa simplificação, lembremos sempre de Novalis: “quanto mais poético, mais verdadeiro” (pois aqui retornamos às indagações primeiras: o que é poesia? o que é verdade?)”.


Obrigado, Afonso, pela sua generosa e nobre contribuição para com o nosso concurso.



Entrevista com Antônio Carlos Secchin

Antônio Carlos Secchin nasceu no Rio de Janeiro. É professor titular de Literatura Brasileira da Faculdade de Letras da UFRJ e Doutor em Letras pela mesma Universidade. Poeta com seis livros publicados, destacando-se Todos os ventos (poesia reunida, 2002), que obteve os prêmios da Fundação Biblioteca Nacional, da Academia Brasileira de Letras e do PEN Clube para melhor livro do gênero publicado no país em 2002. Ensaísta, autor de João Cabral; a poesia do menos, ganhador de três prêmios nacionais, dentre eles o Sílvio Romero, atribuído pela ABL em 1987. Organizou várias seletas e obras completas de poetas brasileiros, (Castro Alves, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar). Em 2010, publicou Memórias de um leitor de poesia. Atualmente é um dos curadores da reedição da poesia de Carlos Drummond de Andrade, publicada pela Cia.das Letras. Proferiu mais de quatrocentas palestras em vários estados do país e no exterior. Foi Professor convidado das Universidades de Barcelona, Bordeaux, Califórnia, Lisboa, Mérida, México, Los Angeles, Nápoles, Paris (Sorbonne), Rennes e Roma. Autor de centenas de textos (poemas, contos, ensaios) publicados nos principais periódicos literários brasileiros e internacionais. Sobre sua obra escreveram favoravelmente ensaístas como Benedito Nunes, José Guilherme Merquior, Eduardo Portella, Alfredo Bosi, Antônio Houaiss, Sergio Paulo Rouanet e José Paulo Paes, entre outros. Eleito em junho de 2004, tornou-se à época o mais jovem membro da Academia Brasileira de Letras.


Lohan: Grande garimpador de obras raras, você encontrou o primeiro livro de Cecília Meireles,“Espectros”, o qual havia sido renegado pelas editoras, certo? Como se deu esse processo, da pesquisa até a descoberta desta obra tão relevante na história da literatura brasileira?

Secchin: Quando fui convidado para organizar a edição de centenário (2001) de Cecília, julguei que um grande diferencial seria o resgate da primeira obra da autora, desaparecida há décadas. Montei uma rede nacional e internacional de colaboradores. E dei sorte, localizando um exemplar, a tempo de incluir “Espectros” na edição.

Lohan: Pra finalizar, lhe farei uma pergunta calcada numa frase dita por você na entrevista concedida a Luís Antônio Cajazeira. Achei essa provocação bastante válida para aqueles que aspiram ingressar no mundo (real) da literatura: “o artista maior abre mil portas, mas as deixa trancadas quando vai embora”. Dirijo esta pergunta relacionando aos poetas desta competição: como abrir as portas, caro Secchin? E, melhor: como trancá-las para a eternidade?

Secchin: Cada um tem de trazer a própria chave: a chave alheia também abre, mas é enganosa, porque só abre portas que já estavam abertas, e, assim, não oferecem o risco da tentativa, do erro e da descoberta.


Entrevista com Alfredo Fressia



Alfredo Fressia nasceu em Montevideo (Uruguai) em 1948. Professor de Literatura, se desempenha também como periodista cultural. É tradutor de poesia brasileira para o espanhol e é Editor da revista mexicana de poesia “La Outra”. Tem realizado conferências, seminários, cursos na Universidade de São Paulo, Univ. Autónoma de México, Marshall, WV, Ohio State University, Fundación para as Letras Mexicanas. Tem participado de festivais de poesia no Uruguai, Brasil, México, República Dominicana, Colômbia, Chile, Nicarágua, Argentina, entre outros. Sua obra tem sido premiada e traduzida em várias línguas. No Brasil, acha-se com facilidade a antologia bilíngue “Canto desalojado”, na Lumme Editor, São Paulo, 2010.

Lohan: Olá, Alfredo! É com grande prazer que te recebemos no Autores S/A. Percebe-se em seus textos, Alfredo, uma ironia latente, que dá o tom a essência marginal da sua escrita. Sem ironia há poesia, caro Alfredo? E, quanto ao teor marginal, teria sido (também) influência de alguns fatos ocorridos em sua vida, como, por exemplo, sua vinda necessária para o Brasil, há 33 anos, uma vez que em Montevidéu a Ditadura o impedia até mesmo de trabalhar?

Alfredo: Olá, obrigado, Lohan. Sim, claro que há poesia para além da ironia, o contrário é que pode se discutir. Inclusive a ironia é perigosa, eu diria, porque comparte a própria base do discurso poético (um significante, vários significados). Eu a incorporo às vezes, mas faço com cautela (que é a alquimia dos poetas). Você fala em teor marginal, eu falaria de periferia, é ali onde situaria minha poesia. Sim, deve ser efeito da minha vida, daqueles terríveis anos ´70 na América Latina, é provável. Eu desconfio das hegemonias poéticas. A poesia gosta das beiras e das beiradas, ela é marginal aos centros, gosta de olhar para eles a partir da periferia. Eu sei que as grandes edições em lugares hegemônicos (Barcelona, México, Buenos Aires, no caso da poesia em espanhol) são importantes, eu vi meus poemas atingirem um público muito grande só quando foram publicados ali. Mas cuidado, eles tinham sido feitos durante anos e anos em condições “periféricas”, obra de um exilado, e editados em livrinhos quase artesanais.

Lohan: Alfredo, agora farei algumas perguntas dentro de uma única pergunta. Você também é tradutor. Já traduziu Ferreira Gullar, Drummond, Ana Cristina Cesar, Cecília Meireles, entre outros. Conte-nos um pouco sobre o processo de tradução de um poema. Berthold Zilly, tradutor alemão que atualmente encara a tarefa de verter para o seu idioma “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, diz que “todo tradutor é melancólico”. O que acha dessa assertiva de Zilly? As famosas licenças poéticas, bem como as singularidades de cada autor e/ou cultura seriam os principais entraves no ato da tradução? E quanto à sua experiência de leitura e tradução de Cecília Meireles, uma das nossas homenageadas da rodada: por que escolheu traduzi-la? Qual traço da obra de Cecília mais te impressionou?

Alfredo: Todo tradutor é melancólico? Só se for por constatar desde o começo que a batalha está perdida. Lidamos com obras feitas de língua, que só existem nessa língua, e fracassaremos sempre na tentativa de passá-las para outro público. Mas cada pequeno triunfo é uma alegria. Eu tenho inveja dos tradutores de prosa. Eles não têm de lidar com os dispositivos dessa máquina chamada poema, o nível fônico, a retórica sempre mutante e sempre criadora de significado. Eles ficam no recadinho denotativo, uma molezinha, né. A Cecília? Sim, tenho muita admiração por ela. Minha geração não gostava dela, achavam-na uma espécie de simbolista tardia, de modernista que não chegava aos pés dos outros, homens (percebo que podia ser um desdém de gênero também). Eu sempre gostei dela, gosto desse lado inspirado, sem pudor, do seu domínio dos metros portugueses também, e gosto até da prosa (falo das memórias de viagens, foi onde descobri esse amor dela por Montevidéu que me resulta tocante).

Lohan: Caro Alfredo: Clarice Lispector também é uma das nossas homenageadas da rodada. Se você fosse escrever um poema sobre Clarice, em que particularidade você se ateria, condizente à escritora? Já traduziu algum texto da autora?

Alfredo: Já, traduzi o conto “O Ovo e a Galinha”, por enquanto foi só isso. Já escrevi também sobre ela, mas foi uma crônica a partir de certo diálogo que existiu entre ela e o Tom Jobim. Falava ali mais da mulher que da escritora. Se fosse escrever um poema acho que faria a mesma coisa, ficaria com o ser humano que ela foi, aquele cachorro dela lá no Leme, onde morava, essa língua presa, esse cigarro sempre na mão, sim, talvez essa mão queimada que ela tinha fosse um bom disparador para esse poema hipotético.

Lohan: Pra finalizar, Alfredo, diga-nos: com base em toda sua experiência literária e crítica, o que um poema deve ter/ser para ser considerado, na sua concepção, um poema excelente? Deve sobressair a técnica ou a subjetividade do poeta? Como a loquacidade do poeta pode influir na qualidade da obra?

Alfredo: Deve ter um mistério, sem o qual não há poema. Mas olha, Lohan, não há fórmulas, a poesia é lábil como sua matéria, as palavras. Não existe esse negócio de ser um “arbiter elegantiae”, de aplicar regras e decidir o que é e o que não é poesia. Eu gosto da ideia do Kant quando diz que a poesia não deve nem obedecer a regras impostas nem ser livre de toda regra, e ele acrescenta: cada obra, cada poema deve gerar suas próprias regras e estruturar-se sobre elas. Ele estava preocupado com as Artes Poéticas, que precedem a obra e impõem suas regrinhas (colocar isto, evitar aquilo, etc), e nós afinal também. Não há um “plano piloto” de construção do poema, há o poema, na sua solidão, e por seus frutos o conhecerás... Não é não, caro Lohan?

Entrevista com Marina Colasanti




 
Marina Colasanti nasceu em 1937, em Asmara, capital da Eritréia. Residiu em Trípoli, mudou-se para a Itália, e em 48 transferiu-se para o Brasil. De formação artista plástica, ingressou no Jornal do Brasil, dando início à sua carreira de jornalista. Desenvolveu atividades em televisão, editando e apresentando programas culturais. Foi publicitária. Traduziu importantes autores da literatura universal. Seu primeiro livro data de 1968. Hoje são mais de 50, de poesia, contos, crônicas, livros para crianças e jovens, ensaios. Através da literatura retomou sua atividade de artista plástica, tornando-se sua própria ilustradora. É detentora de 6 prêmios Jabuti, do Grande Prêmio da Critica da APCA, do Melhor Livro do Ano da Câmara Brasileira do Livro, do prêmio da Biblioteca Nacional para poesia, de dois prêmios latino-americanos. Foi terceiro prêmio no Portugal Telecom. Depois de muitas vezes premiada, tornou-se hors concours da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infanto- Juvenil). Traduzida em várias línguas, sua obra é tema de numerosas teses universitárias. Casada com Affonso Romano de Sant’Anna, tem duas filhas.

Lohan: Olá, Marina! É um prazer imenso recebê-la em nossos “aposentos virtuais”, aqui no Autores S/A. Nesta etapa do II Concurso de Poesia Autores S/A, decidimos homenagear duas grandes escritoras brasileiras: Cecília Meireles e Clarice Lispector. Marina, é sabido que você foi amiga de Clarice. Como vocês se conheceram? Conte um pouco para nós como era essa relação entre vocês duas.

Marina: Conheci Clarice indo à casa dela, levada por um meu amigo, o jornalista Yllen Kerr, que ia visitá-la. Mais tarde, quando ela foi convidada por Alberto Dines, então editor do Jornal do Brasil, para colaborar no Caderno B, onde eu era sub editora, passei a cuidar das colaborações dela, me tornei a ponte entre ela e a editoria. Quando casei com Affonso ( Romano de Sant’Anna), a relação se ampliou, porque eles tinham uma relação profissional.

Lohan: Marina, você disse, em uma mesa redonda da FLIP do ano de 2005, que “as pessoas reverenciavam Clarice Lispector, todavia, não a amparavam”. Clarice se queixava dessa situação, demonstrando ser uma pessoa carente? A seu modo de ver, como Clarice lidava com a fama inexorável e com a subsequente pressão que lhe imputavam por ser um nome célebre e não se envolver diretamente contra as mazelas sociais e opressões que existiam no Brasil?

Marina: Clarice não precisava se queixar abertamente, alardear seus sentimentos. Ela os escrevia. Ela não foi vítima da“fama inexorável”, porque a grande popularidade de Clarice, inclusive o reconhecimento internacional, só aconteceram depois da sua morte. Quando viva, ela era, sobretudo, reconhecida no ambiente literário, que não chega a ser esmagador.

Lohan: Você já abordou temáticas de cunho feminista em suas obras. Vale salientar, aqui, que Clarice Lispector também mergulhava na aura feminina angustiada, vide Laura em “A imitação da rosa” e Ana, no conto “Amor”, como exemplos clássicos. O que te motiva a ter esse posicionamento em favor das causas femininas? Você acredita que o papel da mulher como escritora, hoje, está consolidado no cenário literário brasileiro?

Marina: O feminismo foi uma atividade política clara, uma revolução social das mais importantes. Clarice não era feminista. Escrever sobre a mulher, debruçar-se sobre os sentimentos femininos, ainda que com extrema sensibilidade, não constitui feminismo. O ponto focal de Clarice nunca foi a política, e sim o cerne do ser humano. Quanto a mim, fui, durante 18 anos, editora de comportamento de uma revista feminina de grande tiragem. Isso me levou a estudar e pesquisar intensamente a condição da mulher, para dar solidez ao que escrevia. Sem dúvida, a literatura brasileira já não pode prescindir das mulheres.

Lohan: Sem mais delongas, Marina, o que um poeta tem de ter/ser, na sua concepção, para ser bem sucedido nesta área literária? O que seria imprescindível na feitura de um poema: algum detalhe técnico, alguma expressão de caráter subjetivo, alguma contextualização...? Deixe seu nobre conselho a todos os poetas, por favor.

Marina: Ser bom poeta não significa automaticamente ser bem sucedido na área literária. Há sucessos que não correspondem à estatura do poeta, e vice versa. Ao sucesso está ligado , sim, à qualidade, mas depende também de circunstâncias, gerações, grupos, e, grandemente, política literária. Não tenho nenhum detalhe técnico para oferecer, nem é o meu papel. Que os aspirantes a poetas leiam “Cartas a um jovem poeta”, do Rilke, “O ABC da literatura”, do Pound, e “A sedução da palavra”, de Affonso Romano de Sant’Anna.
Entrevista com Flavia Trocoli



Flávia Trocoli é professora adjunta do Departamento de Ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É Pós-Doutora pelo Departamento de Linguística do IEL/UNICAMP (2004-2007). Possui Licenciatura em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (1997), mestrado em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (2000) e doutorado em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (2004). Recebeu Bolsa FAPESP no Mestrado, no Doutorado e no Pós-doutorado. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria Literária, Literatura Brasileira, Literatura Comparada e Literatura e Psicanálise. É membro-fundador do Centro de Pesquisas Outrarte: estudos entre arte e psicanálise, no IEL/UNICAMP.

Lohan: Você já elaborou algumas pesquisas acerca da escritora Clarice Lispector, uma das homenageadas desta rodada no concurso de poesia. Conte-nos sobre suas pesquisas sobre Clarice, o que te motivou a estudá-la, a relação que você encontra entre ela e Kafka e, por fim, o que mais te encanta na obra desta autora.

Flávia: O meu primeiro estudo sobre Clarice Lispector teve como ponto de partida a aproximação rápida, empreendida por muitos críticos, entre a obra clariciana e a obra de Lucio Cardoso, e que vincula esses autores ao chamado romance de análise psicológica. Uma leitura mais atenta de obras dos dois autores me permitiu ver que para além da aproximação havia diferenças irredutíveis entre os textos, principalmente no que dizia respeito ao modo de pensar e de estar na linguagem dos narradores. Em Clarice, embora existam momentos de análise psicológica, o eixo problemático desloca-se da psicologia para as questões em torno da potência da linguagem para dar forma ao choque do encontro com o outro e com a própria linguagem. Foram justamente as questões em torno da linguagem e da representação artística que me levaram a um segundo momento da minha pesquisa, aquele que apontou diferenças também significativas entre as obras de Clarice Lispector e Virginia Woolf.  Também em relação a Kafka, acho que minha leitura pensa o campo da diferença, a mais notável é que, se os narradores e os personagens claricianos se definem, antes de mais nada, pela angústia, os personagens kafkianos, paralisados pela vivência obsessiva do mundo burocratizado, não se angustiam, o que é a causa do horror, horror e angústia que ficam sempre do lado do leitor de Kafka. O que ainda me encanta em Clarice Lispector é a forma encontrada para formular impasses, como é o caso do impasse-Macabéa, irredutível a resolução e que, por isso mesmo, nos força a pensar e repensar, a trabalhar incansavelmente.

Lohan: Flávia, se você fosse escrever um poema sobre Clarice, em que você se ateria da vida e/ou obra da autora? E o que você tem a dizer sobre as diversas manifestações ''clariceanas'' que circulam pelas redes sociais (Orkut, Facebook, Twitter, etc.). Até que ponto isso é favorável a imagem de Clarice nos dias de hoje? Não estaria havendo uma grande boom de pseudo-intelectuais causando a banalização da obra clariciana?

Flávia: Não tenho desejo e nem talento para escrever poemas. É evidente que há uma banalização da obra de Clarice Lispector. Há leitores que transformam o complexo dizer clariciano em uma mensagem apaziguadora, reduzem-no a um significado conveniente e esquecem que uma obra de arte é, antes de mais nada, um problema formal. Por outro lado, há os leitores sérios de Clarice, aqueles que se dispostos a trabalhar, a ler e a reler os textos, a esmiuçar e a dialogar com sua fortuna crítica, a teorizar. Esses últimos me interessam.
DISPOSIÇÃO DOS JURADOS:

A jurada Flávia Trocoli tem trabalhos especializados em Clarice Lispector, logo, decidimos colocá-la para avaliar apenas os poemas referentes à Homenagem à Clarice Lispector. Como contraponto, a jurada Tânia Tiburzio analisou somente os poemas concernentes à Homenagem à Cecília Meireles. Já os jurados Antônio Carlos Secchin, Alfredo Fressia, Afonso Guimaraens, Ronaldo Cagiano e Paulo Fodra analisaram todos os poemas. Lembrando que, independente das notas individuais, da dupla vencedora sairão os dois primeiros colocados; da dupla que ficar em segundo lugar, sairão o terceiro e o quarto lugares; e, assim sucessivamente. Boa leitura dos comentários!

COMENTÁRIOS E NOTAS DA 3º ETAPA – HOMENAGEM A CECÍLIA MEIRELES E A CLARICE LISPECTOR

Pseudônimo: Barolo
Título: Tinta

Antônio Carlos Secchin:
NOTA: 9,3
COMENTÁRIO: Correto, mas sem maior inventividade.

Alfredo Fressia:
NOTA: 9.8
COMENTÁRIO: Preenche os critérios de originalidade, dispositivos retóricos, boa intertextualidade. Longa introdução para o que poderia ser um belíssimo poema minimalista, quase um haikai.

Afonso Henriques:
NOTA: 9.7
COMENTÁRIO: Ficou bem construído e em termos de intertextualidade — que no caso importa muito — também me pareceu bastante interessante.

Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9.4
COMENTÁRIO: Um bom diálogo com o poema ceciliano, do autor (e do homem) tentando se reconhecer no espelho e na própria poesia.


Paulo Fodra:
NOTA: 10,0
COMENTÁRIO: Poema-escultura muito bem desenvolvido e amarrado. É bastante complexo aliar intertextualidade, ritmo crescente e ainda proporcionar uma forte imagem residual. O poeta consegue achar espaço para a voz do seu eu-lírico mesmo dialogando com um poema tão denso e fechado em si mesmo.

Tânia Tiburzio:
NOTA: 10,0
COMENTÁRIO: Lindo, sensível, objetivo. Adorei.


Pseudônimo: Per-Verso
Título: Uma quase canção para Cecília

Antônio Carlos Secchin:
NOTA: 9,1
COMENTÁRIO: Muito preso ao poema original (“Motivo”)

Alfredo Fressia:
NOTA: 9.7
COMENTÁRIO: Criatividade, intertextualidade. Talvez o poema ganhasse se o poeta “podasse” (lembrar que “escrever é riscar”). Belo trabalho de sonoridades.

Afonso Henriques:
NOTA: 9.6
COMENTÁRIO: Uma boa tentativa de diálogo com a poetisa maior. O poema necessita de algum polimento (é sempre aquela história: muitas vezes não dá tempo para que ele permaneça um pouco na gaveta e depois seja retomado para sofrer o que chamo de necessário “polimento”). Um exemplo: deve-se evitar o encadeamento “que – que” em “A tinta que quero”.


Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9.5
COMENTÁRIO: O autor constrói um poema à moda ceciliana, homenageando-a por meio do paralelismo.

Paulo Fodra:
NOTA: 9,7
COMENTÁRIO: Poema correto e muito bem escrito, mas que não chega a empolgar na abordagem do tema. O ponto alto é o verso “A tinta que quero poema se desvencilha”, que tem o efeito diluído pela autocomiseração clichê do verso seguinte.

Tânia Tiburzio:
NOTA: 9,9
COMENTÁRIO: Muito bom, gosto do som do poema e das referências aos poemas da Cecília.


Pseudônimo: Gaspar
Título: Confidências à Romanceira

Antônio Carlos Secchin:
NOTA: 9,0
COMENTÁRIO: Teto distante do universo de Cecília.

Alfredo Fressia:
NOTA: 9.8
COMENTÁRIO: Belo trabalho, de muita inteligência. É mais um poema que ganharia em força expressiva se fosse reduzido, concentrado, adensado.

Afonso Henriques:
NOTA: 9.6
COMENTÁRIO: Falta um “sopro” mais lírico ao poema, já que existe evidente busca de uma intertextualidade (e Cecília é, antes de tudo, uma lírica da mais alta qualidade). Algumas soluções não são boas, como “no vórtice adequado / isolada pelo umbigo / a alma tonta”. O trecho que começa com “hoje se canta o vazio” já é bem melhor.

Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9.7
COMENTÁRIO: Uma boa leitura da obra ceciliana, mas com recursos criativos próprios, sem se valer de glosas ou recomposições paralelísticas.

Paulo Fodra:
NOTA: 9,8
COMENTÁRIO: Poema extenso, porém cheio de fôlego. É construído sob um argumento linear, que ajuda a dar coesão aos versos. Existem passagens primorosas, sustentadas por jogos de palavras como “o som domesticado / rivaliza com os pulsos” e a última estrofe como um todo. Ainda assim, acredito que uma boa revisão/polimento no texto potencializaria ainda mais o seu efeito.

Tânia Tiburzio:
NOTA: 9,6
COMENTÁRIO: Bonito, mas muito longo. O poeta poderia ter sido mais sucinto.

Pseudônimo: Anna Lisboa
Título: Cecília nº5


Antônio Carlos Secchin:
NOTA: 9,0
COMENTÁRIO: O recurso da fragmentação das palavras é utilizado em excesso, diluindo o efeito.

Alfredo Fressia:
Nota: 9.6
Comentário: Nota-se a escrita de um poeta, há imagens belas (era difícil reunir tantas menções da obra de Cecília, da poesia para crianças a Mar Absoluto!) Bela a estrofe de “Tiradentes da goela/Mostra os dentes da favela/Campânulas acrobáticas”

Afonso Henriques:
NOTA: 9.6
COMENTÁRIO: O poema abre na direção do lirismo, que é o forte de Cecília. Contudo, este caminho lírico não acontece: o poema se torna por demais confuso, atirando em todas as direções, com alguns versos bons (“Noite de seda apura o caminho”) e outros inteiramente dispensáveis (“Doze noturnos de Holanda, uma Cecília de Chico”: além do verso não ser bom, que faz o Chico Buarque aqui, além da possível brincadeira com a menstruação?). Aliás, misturar a alta poesia de Cecília com música popular será sempre algo bastante problemático. O ponto mais positivo é notar — tendo em vista os trabalhos anteriores — que existe a procura de se manter maneira muito própria de construir o poema, com esse amálgama de variadas dicções (o que provoca então esse “atirar em todas as direções”, como disse no início: no caso de um diálogo com Cecília talvez seja bastante necessário pensar em adequar a forma ao conteúdo que se quer apresentar e que aqui está confuso); o aspecto formal do poema deve muitas vezes obedecer, em primeiríssimo lugar, a esse movimento: se o assunto é discorrer em torno da poética de Cecília Meireles, que elementos semânticos eleger?).

Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9.5
COMENTÁRIO: Bem realizado por meio de uma composição e um jogo de palavras e imagens bem criativos, apropriando-se de temas e títulos dos livros cecilianos.

Paulo Fodra:
NOTA: 10,0
COMENTÁRIO: Completamente à vontade no tema, a autora nos brinda com engenhosos jogos de palavras cuja beleza nos empurra, de verso em verso, do título até o final. Vejo aqui, novamente, o vigor que me chamou atenção em outras etapas do certame. Uma escultura de palavras muito bem apurada e prazerosa de ler.

Tânia Tiburzio:
Nota: 9,5
Comentário: Achei o poema muito confuso, além de longo. O leitor se perde rapidamente.



Pseudônimo: Alice Lobo
Título: estudo de cecília

Antônio Carlos Secchin:
NOTA: 9,6
COMENTÁRIO: Belo desenvolvimento de imagens caras à poesia de Cecília.

Alfredo Fressia:
NOTA: 9.9
COMENTÁRIO: Trata-se de um poema sem aparências retóricas (vãs), rimas delicadas, quase aliterações, toma o tema do mar e consegue o diálogo com a poeta com originalidade.

Afonso Henriques:
NOTA: 9.7
COMENTÁRIO: Em que pese ser um poema que ainda necessita de uma arquitetura um pouco mais consistente, mais elaborada, se nota boa tentativa de diálogo com a linguagem de Cecília Meireles, com alguns versos bons: “o sonho violento trouxe a onda / — o teu azul que sempre escapa”.

Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9.4
COMENTÁRIO: Com o mínimo de recursos a autora fez uma breve reflexão sobre vinda e sonho, essa mitologia presente na obra de Cecília.

Paulo Fodra:
NOTA: 10,0
COMENTÁRIO: Lindo poema alinhavado com versos marcantes como “O sonho que naufragou / pelos teus dedos”, “sonho violento trouxe a onda” e “arpejo que brota do susto – do sonho partido”. Bem estruturado, com bom ritmo e conjunto.

Tânia Tiburzio:
NOTA: 9,8
COMENTÁRIO: Poema sensível, muito bonito. O som do poema é agradável (dá vontade de ler em voz alta).



Pseudônimo: Manoel Helder
Título: Cantata a Duo para Cecília e Pássaro

Antônio Carlos Secchin:
NOTA: 9,5
COMENTÁRIO: Texto bem construído, apesar de alguns trechos prosaicos (dois primeiros versos da penúltima estrofe).

Alfredo Fressia:
NOTA: 9.6
COMENTÁRIO: Belo poema. Gostei da aparição do Carpeaux (com sua taxidermia crítica). Lembrar que Cecília foi uma poeta sofisticada e culta, situada no oposto de qualquer naïveté.

Afonso Henriques:
NOTA: 9.7
COMENTÁRIO: O poema ainda necessita de um melhor polimento. Penso que se poderiam cortar algumas passagens na busca de se alcançar maior concisão, maior força lírica. Há uma passagem muito boa (“Cantara pássaro e cântaro / e sombra de pássaro e canto em cascata, / filho da garganta de um pássaro azul”), ao lado de outras que são mais fracas (quando se fala de Carpeaux o poema se torna obscuro para o leitor). De todo modo, em termos de diálogo com Cecília já temos alguns bons resultados.

Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9,5
COMENTÁRIO: Apesar do tom elegíaco, que muitas vezes pode comprometer a criatividade, o autor fez uma homenagem sem derramamentos.

Paulo Fodra:
NOTA: 9,9
COMENTÁRIO: O poema flutua graciosamente entre o simbolismo e o surrealismo, criando imagens sólidas pelo percurso. A penúltima estrofe é fantástica com o pássaro-cecília empalhado voando. Por outro lado, o texto demanda várias leituras para a apreensão de todas as suas nuances.

Tânia Tiburzio:
NOTA: 9,7
COMENTÁRIO: Poemas longos me cansam, mas este foi uma exceção. Muito boa a maneira como o tema foi abordado.


POEMAS EM HOMENAGEM A CLARICE LISPECTOR

Pseudônimo: G.D
Título: Chaya – Poema Iídiche.

Antônio Carlos Secchin:
NOTA: 9,0
COMENTÁRIO: O preciosismo de certos versos não colabora para um bom resultado.


Alfredo Fressia:
NOTA: 9.8
COMENTÁRIO: Muito bom, de fato a cabala pode guiar uma leitura da Clarice, e essa sensualidade “orgiástica” também é Clarice.

Afonso Henriques:
NOTA: 9.7
COMENTÁRIO: O poema está bem estruturado e o poeta mantém o seu modo muito próprio de expressão, ou seja, utilização de referências literárias/filosóficas distribuídas quase sempre de forma adequada. Já o diálogo com a Clarice não se mostra com a mesma transparência.

Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9,6
COMENTÁRIO: O poema tenta penetrar o insondável e o mistério não só da obra, mas da personalidade de Clarice. Interessante o trânsito com as origens judias e o diálogo/jogo de palavras com outros autores.

Paulo Fodra:
NOTA: 9,6
COMENTÁRIO: Esse poema críptico carece de uma chave de interpretação pela qual possamos apreciá-lo como um todo. Um fio condutor que nos mantenha firmes no  percurso dentro do universo louco que o poeta compôs com suas imagens. Sem esse “guia”, nos perdemos nos espaços mortos entre versos, despistados pelas muitas “firulas” desnecessárias ao desenvolvimento do texto. Ei! Alguém viu a saída?

Flávia Trocoli:
NOTA: 9,5
COMENTÁRIO: O poema resiste a um significado imediato. Os movimentos e as quebras remetem a movimentos específicos da obra de Clarice Lispector, como a vertigem e a labilidade.



Pseudônimo: João Saramica
Título: Os Cinco Trabalhos de Clarice

Antônio Carlos Secchin:
NOTA: 9,1
COMENTÁRIO: Tendência a certo prosaísmo.

Alfredo Fressia:
NOTA: 9.6
COMENTÁRIO: Belas imagens, bom poema cerebral, meditado.

Afonso Henriques:
NOTA: 9.6
COMENTÁRIO: Há uma boa tentativa de diálogo com Clarice. O poema, contudo, às vezes deixa o leitor confuso (“Desnudando de zonas de sombras” ou “Desnudando-se de zonas de sombras”?: ou ainda, simplesmente, “Desnudando zonas de sombras”?). O melhor momento diz “Fotografados das inovadoras janelas / Dos olhos de um tigre...” E atenção: atualmente já se escreve “autorretratos”. 

Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9,6
COMENTÁRIO: Um poema que percorre a realidade da criação lispectoriana, na tentativa de entender a mulher por trás da escritora que continua como uma esfinge, “uma vasta metáfora do real”.

Paulo Fodra:
NOTA: 9,8
COMENTÁRIO: Poema/manifesto/elegia cheio de referências e reverências. Se por um lado o recuso da barra compõe imagens interessantes, por outro, chega a cansar pela repetição (aparentemente aleatória), diluindo o brilho dos versos mais belos.

Flávia Trocoli:
NOTA: 9,1
COMENTÁRIO: Há uma certa previsibilidade na descrição da autora, como, por exemplo em: “Fora mãe/escritora/amante do mundo.” Permanece nas referências já construídas em torno da autora.


Pseudônimo: Jaean Jacques
Título: Clarice: Feminino Adjetivo

Antônio Carlos Secchin:
NOTA: 9,4
COMENTÁRIO: Imagens simples e bem empregadas.

Alfredo Fressia:
NOTA: 9.6
COMENTÁRIO: Poema de um verdadeiro amante da Clarice, belo poema dominado pela admiração devotada (que de fato Clarice merece).

Afonso Henriques:
NOTA: 9.7
COMENTÁRIO: O diálogo com Clarice se dá com bastante delicadeza e beleza. O poema flui com bom ritmo. Gostei bastante de “Pequena deusa, ínfimo de Deus, / Abismo íntimo!” O tom “feminino” do poema me agrada.

Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9,5
COMENTÁRIO: Poema bem construído, busca a definição da autora pela homenagem do poema.

Paulo Fodra:
NOTA: 9,9
COMENTÁRIO: Outro poema em forma de elegia, conduzido com mão de ferro. A linearidade do percurso é tão marcada que o poema funcionaria perfeitamente em formato de prosa, sem perder brilho algum. Resultou em uma bonita homenagem, pavimentada por imagens vibrantes do substantivo-clarice.

Flávia Trocoli
NOTA: 9,0
COMENTÁRIO: Há um excesso de adjetivos que tornam o tom sentimental e previsível.




Pseudônimo: Lune
Título: Ainda grita

Antônio Carlos Secchin:
NOTA: 9,6
COMENTÁRIO: Poema expressivo devido à originalidade das imagens.

Alfredo Fressia:
NOTA: 9.9
COMENTÁRIO: Para mim resulta um poema belo e convincente. Contrariamente ao que costuma acontecer, este poema poderia ser estendido e virar uma peça dramática. Muito bom.

Afonso Henriques:
NOTA: 9.7
COMENTÁRIO: O poema se sustenta bem, mas penso que se deva repensar o final (“mas não me é / não grita como eu.”: este final é mais fraco do que momentos do porte de “hóstia de ázimo regurgitada em palavra / na boca dos que nunca me constrangem / a anima inquieta”). Um final forte fará crescer o poema, que é um bom diálogo com Clarice.

Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9,4
COMENTÁRIO: O poema começa em tom de súplica, no entanto ganha fôlego quando o autor projeta sua inquietação e busca resposta para sua incompletude, como fez Clarice em toda sua obra.

Paulo Fodra:
NOTA: 9,7
COMENTÁRIO: Poema quase psicografado, encharcado em metafísica. Terminou muito bem, mas começou devagar, divagando. Suprimindo-se os versos sobre o abraço de Deus (15-18), por exemplo, o poema ganharia muito em ritmo e tensão.

Flávia Trocoli
NOTA: 9,4
COMENTÁRIO: O poema não se oferece inteiro a uma primeira leitura, é interessante relê-lo e descobrir outras referências.



Pseudônimo: Dersu Uzala
Título: in memorium

Antônio Carlos Secchin:
NOTA: 9,4
COMENTÁRIO: Inteligente diálogo intertextual. Necessário corrigir o título (para “In Memoriam”).

Alfredo Fressia:
NOTA: 9.8
COMENTÁRIO: Belo poema, denso, carregado de sentidos e leituras. Boa.

Afonso Henriques:
NOTA: 9.6
COMENTÁRIO: Em que pese algumas imagens interessantes, o poema não se sustenta muito bem na medida em que tem sua força maior na mera enumeração de alguns temas/livros de Clarice, o que prejudica um diálogo mais profundo com a autora homenageada.

Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9,7
COMENTÁRIO: À maneira de Drummond ou Gullar, o autor aqui faz uma crônica de um necrológio, ressaltando o sentimento da perda que as palavras não conseguem dizer diante da “fúria eterna” da morte.

Paulo Fodra:
NOTA: 10,0
COMENTÁRIO: Outra elegia. Dessa vez, bastante biográfica. Muito bem construída, crescente, tensa e impregnada de imagens fortes. Obteve belo efeito.

Flávia Trocoli
NOTA: 9,0
COMENTÁRIO: Há uma certa previsibilidade semântica na escolha das imagens para remeter à morte de Clarice Lispector.


Pseudônimo: Nonada F.C.
Título: Epifania

Antônio Carlos Sechhin:
NOTA: 9,2
COMENTÁRIO: Utilização excessiva de títulos da autora.

Alfredo Fressia:
NOTA: 9.6
COMENTÁRIO: As imagens podem não estar à altura do sentimento de adesão, digamos, pela Clarice. Mas o poema resiste, talvez guiado pela intertextualidade-cumplicidade com Clarice.

Afonso Henriques:
NOTA: 9.6
COMENTÁRIO: O poema precisa ser ainda melhor trabalhado. O diálogo com Clarice subsiste com mais evidência apenas na citação de dois livros dela. “Letras de sangue em um cubo de gelo” é a melhor imagem. O poema necessita de outros apoios desse porte. Exemplo de trecho a ser repensado: “lê-lo seria matar a vontade / a seu fim no rosto o resto do riso ruivo / seria estéril.” (em que pese a consciente aliteração presente, o trecho não traduz um sentido forte).

Ronaldo Cagiano:
NOTA: 9,8
COMENTÁRIO: Utilizando-se dos títulos clariceanos, o autor reverbera sua epifania, sem se perder no elogio vazio ou na apologia desnecessária.

Paulo Fodra:
NOTA: 9,6
COMENTÁRIO: Interessante notar a relação entre a primeira estrofe do poema “Epifania”, de Nonada F.C. e a última desse aqui. Nesse texto, o autor parece querer contar uma história paralela à da própria Clarice, de alguém marcado pela poesia dela. No entanto, podemos entrever muito pouco dessa história, ficando impossível apreender o todo ou sequer intuí-lo de maneira coerente. Se a intenção não foi essa, então o autor não conseguiu demonstrá-la com clareza. Nada contra lacunas e significados ocultos, mas se ao se optar por estes recursos, seria prudente deixar a intenção do poema bem clara. E vice-versa.

Flávia Trocoli
NOTA: 9,0
COMENTÁRIO: “a vida escorria pelos olhos/como letras de sangue em um cubo de gelo.” Essa imagem inicial tem uma carga dramática excessiva quase impedindo o leitor de percorrer o restante do poema, e contrasta com as outras imagens previsíveis.



Texto escrito por Marina Colasanti, dirigido especialmente paraa todos os 12 poetas finalistas do II Concurso de Poesia Autores S/A. Marina disse ter adorado os poemas. Abaixo, o seu texto:

Duas vozes no coral

Ternura me toma ao ler os 12 poemas criados em homenagem a Cecília Meireles e Clarice Lispector. É um concurso, eu sei, os poemas obedecem a uma exigência de percurso, são, como os obstáculos que os cavalos têm que superar nas pistas de hipismo, um desafio a vencer. Mas prefiro pensar que mesmo sem concurso algum, sem exigência outra que não fosse o do seu próprio querer, os concorrentes teriam se debruçado apaixonadamente sobre os textos dessas duas escritoras grandiosas.
Cecília não cheguei a conhecer. Conheci Clarice, e lhe quis bem. Mas ambas li e tornei a ler, ciente de que nenhuma leitura esgotava a necessidade de voltar àqueles textos. Agora os reencontro, como um fio tecido entre os versos desses 12 poetas, um toque ali, um eco acolá, um pensamento, palavras. E a voz das duas canta em silêncio na dúzia desse coral.
É mais do que uma homenagem a Clarice e Cecília. É um atestado de filiação, não a elas apenas, mas ao passado literário. Nenhum papel é virgem, nenhuma tela de computador é branca diante do autor que começa a escrever. Por trás da brancura ainda intocada acumulam-se as escritas, estendem-se intermináveis os poemas, os textos, as narrativas que nos formaram. Tudo é palimpsesto.
Que o melhor ganhe o concurso. Sem que os 12 deixem de ser vencedores.

AS DUPLAS VENCEDORAS:

Barolo e Flávio Machado (Dersu Uzala): 58,2 + 57,5 = 115, 7 / Média: 57, 85

Lune e Wender Montenegro (Manoel Helder): 57,7 + 57,9 = 115,6 / Média: 57,80

Letícia Simões (Alice Lobo) e Francisco Ferreira (João Saramica): 58,4 + 56,8 = 115,2 / Média: 57,60

Marco Antonio Tozzato (Per-Verso) e Geovani Doratiotto (G.D): 57,5 + 57,2 = 114,7 / Média: 57,35

Ana Lúcia Pires (Anna Lisboa) e Thiago Luz (Jean Jacques): 57,2 + 57,1 = 114,3 / Média: 57,15 (um dos integrantes recebeu uma nota 10).

Henrique César Cabral (Gaspar) e Hernany Tafuri (Nonada F.C.): 57,5 + 56,8 = 114,3 / Média: 57,15 (nenhum integrante recebeu nota 10).

LOGO:

1º Barolo

2º Flávio Machado (Dersu Uzala)

3º Wender Montenegro (Manoel Helder)

4º Lune

5º  Letícia Simões (Alice Lobo)

6º Francisco Ferreira (João Saramica)

7º Marco Antonio Tozzato (Per-Verso)

8º Geovani Doratiotto (G.D)

9º Ana Lúcia Pires (Anna Lisboa)

10º Thiago Luz (Jean Jacques)

11º Henrique César Cabral (Gaspar)

12º Hernany Tafuri (Nonada F.C.)

Obs: a dupla vencedora (Barolo e Dersu Uzala) levará como prêmio dois livros: Onde estivestes de noite (Clarice Lispector) e Romanceiro da Inconfidência (Cecília Meireles).

PONTO BÔNUS DO PÚBLICO:

O ponto bônus da rodada foi para o poeta MARCO ANTONIO TOZZATO (Per-Verso), pelo poema: “Uma quase canção para Cecília”, que obteve 16 votos.
O poeta receberá 1 ponto de bônus no Ranking Oficial.

PONTOS BÔNUS DO JÚRI:
Para o jurado Antônio Carlos Secchin, o poema que mais o impressionou positivamente na HOMENAGEM A CECÍLIA MEIRELES foi:
“estudo de cecilia”, de LETÍCIA SIMÕES (ALICE LOBO).

Para o jurado Alfredo Fressia, o poema que mais o impressionou positivamente na HOMENAGEM A CLARICE LISPECTOR foi:
“Ainda grita”, de LUNE.

LUNE E LETÍCIA SIMÕES RECEBERÃO, CADA UMA, (0,5) PONTOS NO RANKING OFICIAL. PARABÉNS!

&&&

E então, poetas? O que acharam dos resultados finais desta rodada? Comentem! A disputa está acirrada!

Parabéns a todos os poetas pela belíssima homenagem!

Abraços, e até a próxima!

AUTORES S/A


16 comentários:

Anna Lisboa disse...

Obrigada a todos os jurados, comentarios muito valiosos. Se me permitem um esclarecimento, o Chico em minha Cecilia foi inspirado aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=1eGWCgDCAkk

Anônimo disse...

um dez pela primeira vez e uma nota baixa como sempre, acho que não agrado mesmo a totalidade, um erro de português novamente, e a alegria pela parceira Barolo, que escrveu um belo poema.

abraços

Cinthia Kriemler disse...

Alfredo Fressia fez cócegas na minha alma. Agradeço pela escolha do meu texto e pela leitura do que realmente estava lá! Gostei da semana e das notas. Flávio, agradar à totalidade não existe mesmo. Também tenho o meu jurado calcanhar de Aquiles, pode ter certeza! Temos, todos, ainda muito chão. E apesar de já ter percebido uma tendência que se repete em dois deles (o que talvez provocasse uma vontade de ceder ao estilo deles), ainda prefiro seguir do jeito que sou mesmo. O rodízio de alguns jurados, a cada semana, impede as favas contadas e mantém todos igualados em possibilidades. O concurso está muito legal!

Cinthia Kriemler disse...

Parceiro Wenderr, valeu muito a semana!

Wender Montenegro disse...

Muito bom o concurso, Lohan! Cinthia, parceira, valeu mesmo! Parabéns pelo poema e pelo ponto extra! Flavio, não sei se é uma questão de calcanhar rs... mas o melhor do concurso é essa divergência de opiniões dos jurados (por exemplo, o Afonso e o Secchin não gostaram do Carpeaux, já o Fressia gostou! hehe). Agradeço pelas palavras de todos eles!

Uma palavrinha a Anna: gostei muito do seu poema! vc é poeta grande, e sabe disso! ;)

Boa sorte a todos na hora de revelar a nudez!

Abraços
Wender

Anna Lisboa disse...

Wender, obrigada por aqui tb! Sucesso na proxima poesia! Mais uma Fortaleza de inspiracoes pra vc. (Semana passada desejei isso e deu muito certo rs!).

Ana Beatriz Manier disse...

Nossa, que surpresa boa! Por mim e por Flavio, que lapidamos e lapidamos nossos poemas. Agradeço os votos e os comentários e parabenizo a todos.
Ana (Barolo)

Anônimo disse...

Lohan Lage e organizadores, podem me dar direito de resposta? Serei extensa, mas educada, evidentemente. Sou amiga de Anna Lisboa há muito tempo. Certa vez, tive o prazer de ouvir uma composição (letra, voz e música), chamada “Toda Vez”, e desde então, me curvo ao que escreve com prazer devoto. Há algumas semanas, tenho vontade de comentar aqui, neste espaço que vejo como democrático, mas evitava por receio de parecer algo combinado. Porém, depois de ontem, resolvi fazê-lo. Tive medo também de minhas considerações públicas a prejudicarem, todavia, diante de algumas bordoadas deploráveis e paupérrimas de argumentos que a mesma tem levado, não creio que consiga prejudicá-la ainda mais. Anna trouxe um dos maiores gênios e poetas de alma feminina do mundo para sua poesia! Não satisfeita, com maestria rara, criou um intertexto: “Doze Noturnos de H-o-l-a-n-d-a, uma Cecília de C-h-i-c-o, que, aliás, como a própria postou acima, é autor de uma jóia musical chamada C-e-c-í-l-i-a. “Menstruação Buarque de Holanda”. Creio que nem o mais pobre dos poetas faria tal analogia com Cecília, “senhora” da poesia! Por outro lado, senhor jurado, se quis fazer um trocadilho citando menstruação como única forma cabível no contexto, lamento, foi de péssimo gosto. Minha nota para sua composição é zero e para sua falta de pesquisa -1. Copio e colo um trecho de vossa análise: “Doze noturnos de Holanda, uma Cecília de Chico”: além do verso não ser bom, que faz o Chico Buarque aqui, além da possível brincadeira com a menstruação? Aliás, misturar a alta poesia de Cecília com música popular será sempre algo bastante problemático”. Nesse trecho, senhor jurado, senti um pouco de vergonha alheia e um pouco de vergonha própria. Resumindo seu comentário, o senhor não deu para Anna nota real 9.6, a nota real que leio acima do que comentou é -10. É a primeira vez que discordo com tanta tristeza e choque do que o senhor escreve.

...continua...

Anônimo disse...

Não menos curiosas são as palavras da jurada Tânia. O que seria preciso para que ela deixasse de achar as poesias da Anna “confusas”? Não há nada aqui mais previsível que seus comentários, toda semana praticamente iguais. Até onde vai o entendimento de alguém com relação ao que é inteligente, bem sacado, espirituoso, visceral? Como bem conheço o estilo e linha de pensamento da poeta, posso apostar que esse próximo tema renderá um sonoro 9.0 da senhora Tânia (leia-se zero) e talvez de outros. Anna, pense bem! Se não quiser correr o risco pelo conjunto da obra, talvez seja melhor “vestir“ essa tua mulher nua e levar 9.0 apenas por não ter respeitado o tema! Vejo claramente que existe uma diferença entre não gostarmos de algo, o que é um direito de cada um, e não o entendermos. Tratando-se de escrita, da tua especifica escrita, teria eu vergonha de declarar publicamente e repetidamente que é confusa. Certamente, confusa fico eu. Honestamente, nem sei o que lhe consola diante de tudo. Provavelmente o grande desafio de continuar se superando, de continuar criando jogos de palavras sensacionais, poesias dentro de poesias. O concurso lhe propõe um poema, você cria 5, 6, 7, 30; uma poesia a cada duas palavras, a cada 3. Em minha opinião, que não vale nota alguma, você é o contemporâneo do contemporâneo, jamais previsível. Peço desculpas, por não citar hoje o nome de alguns outros poetas que também acho incríveis desde o primeiro verso que tive oportunidade de ler, mas este é meu momento de luto e não combinaria com tais brilhantismos. Farei questão disso em outro momento, no qual não sinta tão violada minha condição de apreciadora da boa arte. Peço desculpas, Anna, caso tenha lhe colocado em ainda piores lençóis, mas como visitante do blog e da literatura, me senti no direito de “resposta”. Se não o tinha, peço triplas desculpas.

... continua...

Anônimo disse...

Parabenizo o grupo Autores S/A pela iniciativa e pela seleção de doze grandes poetas. Não costumo ler poesias desse nível em muitos concursos, tampouco, em muitos livros. Portanto, são diretamente responsáveis pelo alto nível que atingiram. O cansaço que a proposta lhes rende, também lhes renderá reconhecimento justo. Parabenizo também a proposta semanal de alguns novos jurados, o que não permite uma visão marcada, louvado seja! Apesar da defesa, de forma alguma vim urrar que Anna ‘vença’, gritar que é a melhor. Vim apenas defender um ídolo, que obviamente nem sempre é merecedor de elogios, aplausos e notas 10, no que julguei ter passado um pouco da conta da justiça sã. Infelizmente, depois de ontem, constatei mais uma vez que tudo tem limite, mesmo a hierarquia. Não posso escrever em seu nome, sequer sei se toma como ofensa algumas avaliações que recebe. Creio até que não, já que humildade e bom-humor estão sempre, sempre lhe cercando, mas eu tomo, confesso. Dos Sete Anões, Zangado certamente me espelha. Anna Lisboa pode ser imperfeita, desbocada, marginal, louca, eliminada, ofendida, mas... Sempre tem um ‘mas’, seu talento é incontestável e raro, “doa a quem merece sentir dor“. No fim das contas, Anna, a culpa é toda tua, que aceitou as regras e fez uma inscrição. Quando tudo isto acabar, quando achar que honrou tua superação, você sabe que existe um mundo paralelo de portas abertas pra teu talento infindável. Aqui, todos sempre te entenderão, é óbvio.
Sua amiga e fã,
Angélica Buarque

Anna Lisboa disse...

Angelica, olha, muito obrigada. Nem sei o que dizer rs.
Nao, vc nao me compromete, nao me deixa em lencois ainda piores, tambem nao ligo pra isso. Estou aqui tentando apenas desenvolver um trabalho digno. Levo a serio a construcao de cada poesia, como fiz ate que conseguisse terminar meu livro. Se sao 'bons' trabalhos, nao sei. Sei somente que fiz o possivel e que dou valor a eles independente de qualquer coisa. Agradeco muito o tempo que perdeu escrevendo tanto... Agradeco muito o valor e atencao que sempre me deu, agradeco muito tuas visitas a este universo, nem sempre ensolarado, nem sempre chuvoso.
Um grande beijo.

Cinthia Kriemler disse...

Anna Lisboa, me encanta o seu jeito de escrever. Fico imaginando o tamanho da sua cultura. Gosto de gente não convencional e de textos igualmente assim. E definitivamente adoro o atrevimento, a audácia. Para ser atrevido em literatua há que se ter cultura e amor pelo que se faz. Parabéns pelos seus textos.

Cinthia do sky
(Ri muito de você me chamar assim lá na página da AUTORES no Facebook!)

Anna Lisboa disse...

Querida Cinthia do sky rsrs, nem sei como agradecer. Na verdade, agradecer parece tão pequeno, tão 'obrigatório'. Não, não é nada disso, querida Lune. Quando comecei a escrever, há muito tempo atrás, não tinha grandes sonhos, tinha apenas grandes olhos. Um morador de rua, uma árvore, um luminoso de hotel, de motel, as mãos de meu pai, os cabelos brancos de minha mãe, os fogos no ano novo, enfim, comecei a escrever por ter o privilégio não apenas de enxergar, mas de querer fazer isso. Os anos foram passando, minha visão foi envelhecendo, como o resto do meu corpo e eu troquei o sonho. O que quero da vida hoje é tocar: o morador de rua, uma árvore, os fogos de ano novo, os luminosos de hotéis, de motéis... Infelizmente, meus pais, preciso tocar de outro jeito, já que não estão mais aqui. Os toco escrevendo e não imagina o quanto vale 10 poder tocar uma escritora como você, de alma tão entregue ao ventre feminino. Lune é uma escritora de unhas ruivas e pele transparente. Tudo sempre na medida certa, tudo sempre na “medida alma”. Não lhe agradeço por obrigação, Cinthia Lune, agradeço por orgulho mesmo. Agradeço muito por ver que o que escrevo lhe toca o coração.

Grande beijo! Espero que tenha melhorado e esteja pronta para tricotarmos na quinta!

Dante Pincelli O velho disse...

Viva Angelica Cabral!

Anônimo disse...

Ué, gente, não vão colocar as poesias hoje? Ansiedade mata! kkk

Anônimo disse...

Caro Lohan Lage Pignone

Fiquei muito feliz ao ler uma citação de Berthold Zilly na sua entrevista com Alfredo Fressia. A entrevista publicada na Revista Metáfora é apenas um terço da minha conversa com Zilly, que durou mais de quatro horas.

Abraços,

Vera Helena Saad Rossi