quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

prosaicos amazônicos





No meio da sua praça, e de ambos os lados do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a cura das nações. Apocalipse 22.2.


sobrevoei a floresta amazônica
fiquei com a falsa impressão de que não havia desmatamento
tomado pela cegueira
não percebi o quanto era estreita essa percepção
quase do tamanho da janela do avião

a derrubada era longe daquele caminho percorrido
entre Manaus e Urucu
dava – se pelas costas
como de hábito agem os covardes

acontecia com as bênçãos dos insanos representantes do poder
gente que não tem vergonha de aparecer em público
em solenidades comemorativas
sendo capazes de plantar árvores ao som do hino nacional
como guardiões das reservas ambientais 

cada árvore derrubada
cada hectare de floresta transformado em deserto
cada tribo expulsa por grileiros e gado
cada morte repetida de Chico Mendes
registro da total incapacidade de respeito ao próximo.

que país queremos deixar de herança?
o país da mentira e da impunidade?
o que temos feito nos últimos trinta anos
para barrar esse crime anunciado?

remeto os versos prosaicos
como um grito para despertar consciências
e recuperar a dignidade dos povos amazônicos.


Flávio Machado

5 comentários:

Lohan Lage Pignone disse...

Caro Flavio,

Eis um desabafo que deve ser gritado por todo brasileiro, seja em forma de poema, seja em forma de música, pintura enfim, todos meios artísticos.

Obrigado por compor a equipe do Autores S/A!

Grande abraço,
Lohan

Anônimo disse...

Companheiro Lohan, esse grito parece abafado na garganta, mas vamos soltar a nossa voz. Abraços

PS: Uma honra estar aqui postando no blog.

Alvaro Domingues disse...

Um contundente apelo em forma de poema. Pena que quem deve ouvir, não tem sensibilidade para perceber o quão verdeiro ele é.

Inah Lins disse...


Um grito de alerta em forma de poema,o que me lembra o grito de Munch!
Todos nós devemos fazer coro a esse belo poema, até que, mesmo aqueles que não desejam escutá-lo, sejam por ele contaminados pela força de um Brasil unido.
Parabéns, amigo Flávio,
Inah

Camila disse...

Lindo texto! Está tão na moda falar de Amazônia e de questões indígenas em geral; muitos mudam seus sobrenomes para demonstrar apoio à causa. Mas quantos estão de fato concatenados com o perigo eminente do desmatamento? Quantos educam seus filhos e pensar essas questões? Quantos levam essa discussão à mesa de jantar em casa? Educar dá trabalho... reeducar adultos viciados em não preocupar-se dá mais.