sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Quando se vai


(Por Cinthia Kriemler)

escuta este grito
(é meu)
grito de besta impotente
que ainda faz sangue
vivo embaixo das crostas
é meu este flagelo que mil
porres não aplacam
e o sofrimento-capataz
que se entranha nas vísceras 
—  e comanda a casa



escuta meu berro, meu urro
que não sou surdina ou elegância 
imbecil 
eu bato o portão 
{fazendo muito alarde !
porque sou rangido, atrito
nesta dor  de corte 
porque não há silêncio 
no que mutila a alma

partir é sempre mais que se afastar
das grades
: é cedo, é desterro
inferno com deus
céu do diabo
dia sem som, sem tom
straight flush incompleto em noite
de mão de mando
vontade de esconder embaixo
do lençol a vida
amarfanhada
o gesto, o afeto, o ar
que falta
mas nada disso adianta
                     [o grito, o berro, o urro, as grades]
que quando se vai
já se foi

3 comentários:

edweinels disse...

A Palavra, quando bem tratada, gera maravilhas literarias. Eis um exemplo. Parabens, Cinthia. :)Sempre brilhante.

geraldo trombin disse...

"Quando se vai" lendo, vai sentindo que o seu grito é também o nosso grito. Muitas vezes me percebo "rangido", mesmo sem a porta bater. Coisa do atrito dos dias.
Versos fortes. Poema denso! Gostei muito! Beijos.

eu bato o portão
{fazendo muito alarde !
porque sou rangido, atrito
nesta dor de corte

cecilia disse...

Cinthia, reverencio seu talento derramado nesse urro de dor! Dói como faca afiada. Parabéns!