(Por Cinthia Kriemler)
escuta
este grito
(é meu)
grito de besta impotente
que ainda faz sangue
vivo embaixo
das crostas
é meu este
flagelo que mil
porres não aplacam
e o sofrimento-capataz
que se entranha nas vísceras
—
e comanda a
casa
escuta meu berro, meu urro
que não sou surdina ou elegância
imbecil
eu bato o portão
{fazendo muito alarde !
porque sou rangido, atrito
nesta dor de corte
porque não há silêncio
no
que mutila a
alma
partir é sempre mais que se afastar
das grades
: é cedo, é desterro
inferno com deus
céu do diabo
dia sem som, sem tom
straight flush incompleto
em noite
de mão de mando
vontade de esconder embaixo
do lençol a vida
amarfanhada
o gesto, o afeto, o ar
que falta
mas nada disso adianta
[o
grito, o berro, o urro, as grades]
que quando se vai
já se foi
3 comentários:
A Palavra, quando bem tratada, gera maravilhas literarias. Eis um exemplo. Parabens, Cinthia. :)Sempre brilhante.
"Quando se vai" lendo, vai sentindo que o seu grito é também o nosso grito. Muitas vezes me percebo "rangido", mesmo sem a porta bater. Coisa do atrito dos dias.
Versos fortes. Poema denso! Gostei muito! Beijos.
eu bato o portão
{fazendo muito alarde !
porque sou rangido, atrito
nesta dor de corte
Cinthia, reverencio seu talento derramado nesse urro de dor! Dói como faca afiada. Parabéns!
Postar um comentário