sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Poemas da Semifinal

MARIA AMÉLIA ELÓI
(Distrito Federal)

HERTON GUSTAVO GOMES
(Rio de Janeiro)

RICARDO THADEU
(Riachão do Jacuípe)

BIANCA VELLOSO
(Florianópolis)

Um deles será o grande poeta campeão do III Concurso de Poesia Autores S/A. Em que você aposta suas fichas?

Bem-vindos a SEMIFINAL III Concurso de Poesia Autores S/A!

TEMA:
DATAS COMEMORATIVAS

Nesta semifinal, cada poeta teve de escolher uma data comemorativa, qualquer que fosse do calendário, e elaborar um poema a partir dela. E pra abertura, que tal um embate poético entre os semifinalistas, num desafio do dia dos namorados, ou melhor... ex-namorados!
“Você descobriu que é traído(a) pelo seu namorado(a) justamente no dia 12 de junho! Doloroso, não? Que comece a guerra dos sexos!”



DUELO 01

ESTROFES ÍMPARES (1, 3, 5) – HERTON GUSTAVO GOMES
ESTROFES PARES (2, 4, 6) – MARIA AMÉLIA ELÓI

NESTE DUELO, O PERSONAGEM DE HERTON GOMES É O NAMORADO TRAÍDO PELA PERSOAGEM DA AUTORA MARIA AMÉLIA ELÓI.

(Herton)
A dor me dilacera
vide o teu descaramento:
amputou a primavera
germinou meu sofrimento.

(Maria Amélia)
Querido, deixa de manha
Já não sabias que eras corno?
Uma outra rosa logo te assanha.
Engole agora esse choro morno.

(Herton)
Não só engulo todo o meu pranto
Como lhe arranco do meu jardim.
Se esfregue com outros cravos, em qualquer canto,
que nunca mais se perfumará para mim.

(Maria Amélia)
És muito mau jardineiro
Desdenho de teus espinhos
Já tenho um amor altaneiro
E não pretendo voltar ao teu ninho.

(Herton)
Ingrata, mundana, harpia
sua lembrança agora jaz no passado
mas não se esqueça bandida, vadia:
o que é teu, tá guardado.

(Maria Amélia)
Ofensas não me atingem
se vindas de um cravo menor
Bem vês que as rosas não fingem
Tens galhos. Já sabes de cor!


DUELO 02

ESTROFES ÍMPARES (1, 3, 5) – BIANCA VELLOSO
ESTROFES PARES (2, 4, 6) – RICARDO THADEU

NESTE DUELO, O PERSONAGEM DE BIANCA VELLOSO É A NAMORADA TRAÍDA PELO PERSONAGEM DE RICARDO THADEU.

(Bianca Velloso)
Vaza! Sempre fiz tuas vontades de bom grado
nunca reclamei da bebida nem do cigarro
mas não posso aceitar ver meu namorado
num doze de junho beijando outra dentro do carro.

(Ricardo Thadeu)
Meu amor, aquela era a minha irmã
Com um probleminha de respiração
Você me viu abrindo o seu soutien
Pra que ela não morresse do coração...

(Bianca Velloso)
De repente, assim? De onde ela surgiu?
Irmã? Ora essa! Quanta desfaçatez!
Fui vítima de um amor que nunca existiu
Pega estas flores e vai embora de vez!

(Ricardo Thadeu)
Levo as flores e um amor
Igual à história de novela
Faça-me só mais um favor:
Nunca mais segure vela.

(Bianca Velloso)
Melhor mesmo que seja assim
Não vou derramar dor nesta cidade
Já preparei o tamborim
Vou cantar minha liberdade.

(Ricardo Thadeu)
Então cante sua liberdade
Com voz de taquara rachada
Só não busque a felicidade
Chorando com a cara inchada.

         E então? Na sua opinião, quem se saiu melhor os confrontos poéticos? Esses confrontos serão avaliados por dois jurados e valerá na contagem da disputa da semifinal!

JÚRI DA SEMIFINAL

         A banca da semifinal será formada por seis jurados, sendo que dois deles serão destacados para avaliarem o desempenho dos poetas no desafio poético do dia dos namorados. Ou seja: são seis pontos em jogo.
         Em caso de 3 a 3, recorreremos aos poemas extras para o desempate.

DUELOS DA SEMIFINAL
                 
         Sem delongas, vamos à leitura dos poemas da semifinal! Quem avançará para a grande final?

DUELO 01

TÍTULOS:

“Álbum”
(Maria Amélia Elói)



X

“Nada de novo sob o sol de 40 graus”
(Herton Gustavo Gomes)



Data escolhida: “Finados” (02 de novembro)
Título: “Álbum” (Maria Amélia Elói)

Eu sempre guardei feriado
como quem crê um milagre:
um beijo no carnaval, as luzes de novo ano, o banho de mar nas férias, recato na sexta santa, argola de namorado
A vida contada em recessos — pois fatos do todo dia acabam perdendo o viço
Meu livro é de festa das mães proclamação da alegria caça-ovos tiradentes bom velhinho corpus christi

Não fica de fora o finados:
chuvinha precisa e insistente, família de abraço cingido, gostoso zelar de memórias

Por muito e querido tempo, velávamos mortos distantes
cravados em outras instâncias: parentes de décimo grau, amigos de década antiga

Doía um nada na alma
saudade polida fazendo cosquinha

Mas ela chegou resoluta pra se apoderar dos retratos
ceifou meus avós alguns primos
rondou toda a vizinhança
Sem nem embaraço ou socorro
senhora de si e dos meus
laçou os chegados mais rentes.
Tocou até mesmo o meu pai!

Agora no 2 de novembro tormenta vem muito robusta
saudade que ofende o pra sempre

O que celebrar no suspenso – pra caber no hoje outra vez o tempo em que éramos juntos?

Data escolhida: Ano Novo (31 de dezembro)
Título: Nada de novo sob o sol de 40 graus (Herton Gustavo Gomes)

“Feliz ano velho!”
Diz a puta fodida
por um gordo funéreo
na Central do Brasil.
“É dia de branco!”
Berra a nega suada
na Lapa currada
por um porco senil.
Entra ano, sai ano, outra vez, tudo igual:
a fé sai pelo cano de um revólver no Vidigal.
“Que tudo se realize
nesse ano que acabou de nascer!”
Deseja o pai de família
na Glória, debaixo do seu michê.
“Muito dinheiro no bolso,
saúde pra dar e vender!”
São os votos de um mendigo doente,
que só será atendido depois de morrer.
 “Feliz ano velho!”
Grita o desempregado
escondido atrás do Evangelho
traficando em São Conrado.
“Que tudo se realize
nesse ano que acabou de nascer!”
Deseja o malandro em crise
roubando criança no Baixo Bebê.
“É dia de trampo!”
Canta o funkeiro sem fone de ouvido
de janeiro a janeiro
dentro de um 474 entupido.
“Saúde pra dar e vender!”
Murmura o coroa tarado
roçando o pinto no rabo
da estudante que pensa em morrer.
Entra ano, sai ano e o mais do mesmo acontece:
a gente repete promessas enquanto o Rio apodrece.
Entra ano, sai ano, é sempre a mesma canção:
na cidade do samba todo dia é réveillon.
Entra ano sai ano: inércia, engano.
40 graus de desgraça fritando o cotidiano.
Réveillon em Copa, au revoir!
Esse Rio já passou em minha vida
e meu coração se perdeu no mar.


DUELO 02

TÍTULOS:

            “Dissimulação”
           (Ricardo Thadeu)



X

“vermelho”
(Bianca Velloso)



Data escolhida: Ano Novo (31 de dezembro)
Título: Dissimulação (Ricardo Thadeu)

As luzes queimam, no escuro céu:
cinzas de um ano que se desfaz.

Esperanças transgridem o tempo
estourado na contagem regressiva.

Passantes, embriagados do porvir,
cumprem o ritual de suas biografias:

usam, como disfarce, brancos trajes
e fingem a felicidade da mesa farta;

pulam três ondas, afagam amigos,
atiram ao mar pedidos e promessas.

Várias explosões enfeitam a virada
de pólvora e bolhas de champanhe.

Não são os relógios que celebram.
É o acaso que anuncia a chegada.


Data escolhida: Dia Nacional de Luta contra o Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (18 de maio).
Título: vermelho

catorze anos eu tinha
e tinha também o Beto 
e a delicadeza
do primeiro beijo
um beijo e mais nada
um beijo que era tudo
...
menina praieira 
voltava pra casa 
cantarolando o mar
...
questão de segundos
meu cantarolar foi interrompido
...
não sei nem de onde
surgiu aquele homem
alto e forte, estilo lutador de jiu-jitsu
...
parecia raiva o que ele carregava nos olhos
não tive tempo de pensar
:
arrastou-me
arrancou-me as roupas
arrancou-me a inocência
arrancou-me os sonhos
beijou-me com força
e o beijo dele tinha gosto de morte
invadiu-me o sexo
depois foi embora

o vermelho doce virou sangue
abortei minha adolescência.


ATÉ QUINTA-FEIRA, COM OS RESULTADOS E O TÃO ESPERADO ANÚNCIO DOS FINALISTAS DESTA EDIÇÃO!

AUTORES S/A:
UMA SOCIEDADE DIFERENTE DAS OUTRAS


PARCEIROS:





Um comentário:

Cinthia Kriemler disse...

Maria Amélia, que poema! Você veio de cara limpa, peito aberto, mostrando o sentimento da perda. Lindo! Fico com esta frase "Agora no 2 de novembro tormenta vem muito robusta
saudade que ofende o pra sempre
O que celebrar no suspenso – pra caber no hoje outra vez o tempo em que éramos juntos?"