sábado, 26 de dezembro de 2009

Ano Novo, Vida Nova







5,4,3,2,1...
é ano novo!!!
Vermelho, branco, amarelo,
Azul e verde...
Fitinhas, galhinhos, amuletos,
Três pulinhos, pedidos e mais pedidos!
Ilusões e mais ilusões.
De que adianta tudo isso, se mesmo o ano sendo novo,
Você continua essa pessoa velha?
Para que o ano seja realmente novo,
Devemos começar em nós a inovação.
Vou perder cinco quilos no ano novo,
Vou arrumar um emprego,
Vou fisgar aquele gatinho...
Vamos primeiramente, neste ano novo,
Traçar nossas metas e estratégias,
Porque isoladas de nada adiantam.

Refletir e fazer aquela retrospectiva,
O que aconteceu neste ano velho,
Quais foram as nossas vitórias?
Mesmo na dor, na tristeza, na calamidade,
Estamos aqui, a ponto de passarmos pro ano vindouro,
Por isso somos vitoriosos.
Mesmo com as lágrimas, a saudade,
Que haja por trás delas uma gotinha de esperança,
Que se transforme num oceano de bênçãos,
Que nos inunde na alma força e perseverança,
Para acreditar na existência do sonho realizado,
E paciência para esperar as belezas da primavera,
Que nossos olhos estejam bem arregalados para enxergarmos
Cada andorinha que passar por nós
e perceber nela o milagre da vida.
Quero às 23:59, do dia 31/12/2009,
Bater no peito e gritar pro mundo ouvir
Eu ganhei, eu venci,
Recebi de presente mais um ano,
Que venha 2010, e traga muita paz, fé,
Alegria, amor, discernimento, sabedoria,
Canções, poemas, cores, que venha a vida!
É isso que eu quero: VIDA!!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Então é Natal!


Prezados amigos Autores e Leitores,

É com alegria que desejo muitas felicidades, um Natal repleto de harmonia, luz, paz e amor. Quero aproveitar para dizer que ando um pouco ausente do nosso blog,por conta de trabalho,mas acredito que em breve vou poder retomar minhas postagens com mais regularidade.

Abaixo, compartilho algumas reflexões que tive neste momento especial que é o Natal

Então chegou mais um natal, o momento de estarmos reunidos com nossas famílias para celebrar o nascimento de Jesus e, também um momento especial para praticarmos com mais intensidade a fraternidade e o amor ao próximo que ele nos ensinou. É tempo de aproveitarmos esta energia boa da renovação presente nesta época do ano para renovarmos nossas atitudes, nossos objetivos, trazendo para este presente, o hoje, o agora que é o verdadeiro presente que nós temos para sermos felizes em nossas vidas.

Muitas vezes nos vemos presos, apegados a situações do passado que não foram boas e carregamos aquele peso às vezes durante anos e anos, muitas vezes não percebendo tantas oportunidades boas que surgem em nossa vida por estarmos ainda presos a tais situações, como se estivéssemos com os olhos vendados. Hoje, eu vejo que o passado passou e o futuro eu ainda não sei como será e depende da minha prática hoje fazer com que esse futuro seja bom, por isso meus amigos, vamos viver o presente, vamos ser felizes hoje, vamos ser sinceros, amáveis e educados hoje para amanhã serem sinceros amáveis e educados conosco, é preciso renovar sempre dentro de nós este sentimento de fé em Deus, fé no homem, sabendo sempre da dualidade presente nos seres humanos e na Terra, mas procurando se conectar com a força positiva, procurando olhar as qualidades de quem está perto de nós, com cuidado e atenção para podermos caminhar com alegria paz e harmonia nesse mundão de Deus,nos colocando sempre no lugar de sermos pessoas de paz e pelas nossas atitudes equilibradas na vida podermos transmitir uma tranqüilidade,um conforto para um irmão que estiver precisando.


Saudades e Felicidades,que a Luz do Nosso Divino Mestre Jesus possa chegar ao lar de cada um de nós!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Jesus Cristo é a luz e o amor que habita em nós. Feliz Natal!




Hoje quero apenas desejar à todos os colegas autores, amigos, conhecidos, desconhecidos, leitores, curiosos uma noite de paz e harmonia.
Que todos possam desfrutar da companhia das pessoas que amam, seus amigos, parentes, todos os que são próximos, mesmo que distantes... Que possamos numa única noite do ano, nos desprender em pensamento e sentimento, das tristezas e maldades que fazem parte deste mundo; que possamos agradecer e enaltecer o significado real do nascimento do salvador do mundo, que morreu na cruz por nós, mesmo que não merecedores de tal sacrifício.
Jesus Cristo é Deus e pai de todos nós. Só ele tem o poder de transformar nossas vidsas.
Toda luz, todo amor, toda vida, toda a natureza, todo o reino animal são representações concretas da existência de Deus. Sem ele não teríamos condições nem forças para lutar contra as forças do mal.
Eu acredito na sua existência e espero que um dia, mesmo que por um momento efêmero, eu possa ser carregada nos seus braços, como já o fui uma vez (que eu tenha consciência), pois acredito que não se passe um dia, sem que ele não esteja caminhando ao nosso lado, zelando pelo nosso bem estar, mesmo quando tudo parece estar contra nós. Ele realmente sempre abre alguma porta,  mesmo quando pensamos que ela nos foi fechada para sempre.
E embora hajam motivos enormes que pareçam nos fazer querer desanimar ou desacreditar da sua existência, todos os dias milagres acontecem para nos provar o contrário, pois a força do amor que habita em Deus e está no meio de nós, com certeza há de prevalecer.
Talvez seja por isso que a simbologia deste amor seja recriada no seu nascimento: não há nada mais puro, singelo, belo e amoroso, do que um bebê. O menino Jesus na manjedoura é a luz e o amor na sua forma mais inocente e bela dentro de nós.
Feliz Natal à todos.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Dois lobos...

- Me perdoe...
O rosto magro e velho à sua frente suplicava-lhe, os olhos sem brilho pediam por alguma piedade milagrosa que lhes devolvesse luz. Ele estava ali, trêmulo à sua frente como se agora temesse. As rugas da testa que tanto lhe apavoravam agora eram suaves, mas ainda traziam a lembrança do homem mau.
Com os olhos cobertos de lágrimas, pouco via, só ouvia seus gritos. Sem ter para onde fugir, acabava encolhida nos cantos, as mãos em frente ao rosto em uma ultima defesa. O objeto de sua dor e raiva agora suplicava-lhe, inútil, por misericórdia. Tentou se virar e afastar-se mas ele tocou-lhe no braço, não como o homem mau mas levemente. Mesmo sem olhar diretamente sabia que as lagrimas corriam de seus olhos.
O homem mau não chorava nunca, não possuía sentimentos, esse era o homem bom. Seu sorriso era capaz de curar as mais profundas chagas e seu abraço parecia um mundo à parte, muito longe de qualquer problema. O rosto era distorcido pelos anos guardados na memória mas o sorriso parecia intacto, uma de suas melhores lembranças. Virou-se completamente e abaixou os olhos por um momento, encontrando os sapatos velhos e surrados. Eram inconfundíveis.. os pés do homem mau.
Os sapatos batiam contra o piso em uma dança desordenada, tudo que podia observar de seu refugio embaixo da cama eram os pés, eles dançavam rápido, as vezes vagarosamente, na medida em que os gritos se intensificavam ou diminuíam. Dessa vez pareciam mais aflitos, empenhavam-se cada vez mais em sua dança até pararem em um ultimo e definitivo som. As gotas de sangue pingavam no chão como tinta vermelha, os pés de repente sumiram, restou o silencio cortado pelos gemidos.
Virou-se resoluta para ir embora mas o homem ajoelhou-se, já soluçando e implorou-lhe mais uma vez. Ela deteve-se e observou-o mais uma vez. As mãos abertas que lhe alisavam docemente os cabelos, as mãos fechadas que as vezes via antes que lhe atingissem. O corpo alto caminhando ao sol, o corpo magro estirado no sofá. O homem bom, o homem mau, suas lembranças se misturavam e se confundiam, os dois homens lutavam em seu interior numa batalha definitiva, mas não percebiam que essa luta lhe dilacerava por dentro. Abaixou-se com as mãos sobre a cabeça, tentou afastar as lembranças mas elas persistiam, giravam em sua mente, multiplicavam-se por todas as partes. Em alguns segundos, seu desespero converteu-se em grito. Deixou que o eco circulasse por alguns instantes em sua mente já limpa e então voltou a fitar o homem à sua frente.
O homem bom e o homem mau haviam desaparecido, restava apenas um ser humano frágil e vulnerável, soluçando como uma criança.
De repente, sentiu-se capaz de apagar de vez o homem mau, guardar apenas as boas lembranças. O ser à sua frente parecia mais humano agora, assim como ela mesma. Aventurou-se a dar um passo em sua direção, mas logo tudo escureceu-se. Os sons até então incompreensíveis tornaram-se os mesmos de todas as noites. Abriu os olhos e passou as mãos pelo rosto coberto de suor, descansou-as sobre o colchão com um suspiro e passou a fitar o teto. Quando seus olhos acostumaram-se com a escuridão, levantou-se.
O corredor parecia uma mancha cinzenta e disforme, ela contava cuidadosamente os passos até a porta do meio, entre seu quarto e o banheiro. Ao chegar perto, viu-a entreaberta e parou, o som abafado fez seu corpo tremer, dava-se ordens explicitas para voltar mas seu corpo insistia em seguir em frente.
Ao chegar à pórta reconheceu o som, observou o interior do quarto. A garrafa esquecida intacta sobre a mesa, o corpo inerte debruçado no chão, soluços.

Retalhos







Sou como um iceberg, o que a maioria das pessoas conhece sobre mim, não é nem metade do que sou, o melhor e o pior de mim está submerso, escondido. Tenho carências insolúveis. Já beijei homens que nem de longe me merecem. Sou extremamente teimosa. Adoro um remedinho. Sou cheia de manias. Odeio gente que pensa que me conhece, odeio gente que quer muito me conhecer. Sou raivosa quando me sinto acuada. Não como camarão. Só ando no banco da frente dos carros. Não me imponho a ninguém, não imploro afeto. Não me apego com facilidade. Raramente sinto pena. Não sou indiscreta nas minhas relações. Não sou de água, sou de fogo. Eu não me parto, prefiro partir, deixar, ir. Jamais entro numa disputa, me recuso a ser uma opção. Não exibo minhas lágrimas, no máximo, minhas marcas. Amo cães, biquinis, praia e suco de limão. Posso passar dias a base de Coca Zero e carambola, perco 3 quilos em 3 horas.
Pertencer me encanta. Obedeço quando bem mandada. Odeio homens que acatam, que se sujeitam, que me adoram. Provocam-me asco. Tenho medo de mariposas, mas gosto de olhá-las através do vidro. Não tenho religião, acredito em deuses, deusas, budas, unicórnios, bruxas e em almas penadas. Sou realmente uma gracinha, mas uma neurótica diagnosticada, tratada, analisada, às vezes doce feito Nutella e às vezes amarga como Campari. Não tenho muitos amigos, porque acho mais inteligente ser seletiva a respeito daqueles que você escolhe para contar os seus segredos. Então, chateio só aqueles que não me acham uma chata, por isso me querem ao seu lado. Acho sim, que, às vezes, dou trabalho. Mas é como ter um carro importado: se você não quiser ter que pagar o preço da manutenção, mude para um Gol 1000.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Onde está o Menino???



É noite em Belém,
e em certo lugar nasce alguém...
O mundo não sabe.
ou mesmo que saiba esquece...
Aquele que foi prometido, que foi prometido!
Pessoas o visitam,
trazendo-lhe presentes, mas não sabem...
Onde está? Onde está o Menino?
O Menino nasceu, nasceu Jesus,
hoje é Natal, hoje é Natal, mas onde está o Menino?

Essa música pequenina e linda eu também aprendi quando criança no coral da escola. Acho que falta um pedacinho da letra, mas sua essência é essa aí.
Lá, com dez anos de idade, achava que essa letra era doce a a música suave, verdadeira.
Hoje assusta-me que a pergunta seja ainda mais forte e urgente... Onde está o Menino?
Que Natal celebramos, nos pergunta a Andréa Amaral e ela está cheia de razão...
Nosso menino está cheio de agulhas no corpo... O passando fome... Ou esquecido nas ruas, nos carros.
Nosso menino quer ser mais feliz, mas para chegar a experimentar uma gotinha de felicidade precisa pagar muito, precisa declarar em alta voz suas necessidades... Meu Deus!
E sua pergunta me fez pensar que ainda estou a viver o meu Natal... Que ainda posso agir com afeto ou com determinação diante do que quero resgatar e cultivar. Seria necessário fazer muito mais, mas já é um começo...
E, se Natal é sentir Deus vivo em nossa vida, Ele vive quando sentimos sintonia, alegria, ternura, amizade, companheirismo, partilha, torcida, esperança, gratidão...
Em gotinhas pequeninas, como a música, saboreei essas coisas aqui com vocês, mesmo em tão pouco tempo. É o que vejo nos poemas, nas histórias, nos causos, nos desabafos...
E fiquei pensando se um dia conseguiremos fazer uma ceia viva, sentar e olhar nos olhos, já que nos conhecemos através das mãos inspiradas (ou não, rs) por nossas almas inquietas!
Sabe? Seja lá o que for, que interessante é ter um espaço virtual com vocês! Que legal que cada um decore seu cômodo e mesmo com o (in)cômodo vizinho a bisbilhotar, conviva-se bem na casa Autores S/A. Risos
Façamos histórias, escrevamos muito mais... Sou grata por ter acesso à leitura, como possibilidade de enriquecimento do meu olhar!
Um beijão com um desejo de um querido Natal para vocês!
Claudia

O homem que queria ser outro - Parte 13 - Celebração (Antepenúltimo capítulo)

Meus amigos leitores e leitores! Antepenúltimo capítulo, pegando fogo! Um detalhe do autor: desde que comecei a escrever essa história, tenho esse capítulo em mente. Estou tentando publicá-lo desde a parte 5, rsrs. Finalmente ele chegou. Celebremos! (Lohan L. Pignone).







No sábado, pela manhã, Régis, acompanhado por um policial, chega à casa de Vitor, o autor das ameaças à Lia Neide. Régis toca a campainha. Após alguns segundos, Vitor o atende, e logo o reconhece.



-Delegado Régis, 14º DP. Este é meu amigo Mandrake.



-Em que posso ajudar? – Pergunta Vitor, ainda sonolento. Era nove da manhã.



-Pode nos ajudar sendo um bom menino: sincero e obediente.



Vitor já imaginava do que se tratava. Para não piorar sua situação, não pensou na possibilidade de mentir.



-Prendam a verdadeira culpada pela morte do Adalberto. As evidências estão na cara de todos! Eu estava do lado dele quando a maldita mensagem foi enviada. Se ela não agiu com as próprias mãos, ela foi a mandante do crime!



-Peço que mantenha a calminha, rapaz. Entendo sua revolta, sua dor. Mas nada disso justifica o que está fazendo. Saiba que ameaça de morte é crime também, e o senhor, tanto quanto eles, podem ser presos.



-Ah, era só o que faltava! O que prova que eu a ameaço de morte?



-Por enquanto, nada. Dessa você vai passar ileso... Mas deixo aqui um aviso, bem claro: se ela receber mais uma ligação, seja de onde for, com ameaça de morte, nós vamos te pegar. E outra: se algum atentado acontecer a ela... Pode se considerar um homem trancafiado atrás das grades.



-Ora, se ela for atropelada, será minha culpa também? – Zomba.



-Quem mandou ameaçá-la?



-Está bem, eu perdi a cabeça... Confesso. Eu vou deixá-la em paz, mas não judicialmente. Vou mover céus e terras para prender essa vadia.



-Saiba que ela não é a única suspeita... É o máximo que posso lhe garantir. Estamos investigando, e creio que em breve saberemos a verdade.



-Assim espero.



-Ok... Tem porte de arma?



-Se tenho arma... Não, por que?



-Só por curiosidade. Saiba que se estiver mentindo, descobriremos também, não sabe?



-Sou contra arma.



-Ah é? – Ri o delegado – E com o que pretendia matar a moça? Envenenando-a com cianureto?



-Existem várias maneiras de vingança mortal. O senhor sabe disso melhor do que eu.



-Sei melhor ainda o que fazer com os sujeitos que cometem esses crimes... Fica esperto, ouviu? Estamos de olho. Vamos, Mandrake.



O policial que acompanhava o delegado toma a frente, entrando no carro que estava estacionado à beira da calçada da casa. Régis lança um piscar de olhos à Vitor, que expressa uma medo no olhar. Em seguida, entra no carro.



-Vamos embora. Aposto dez pratas que esse otário vai no banheiro se limpar agora.



Mandrake sorri e dá arrancada no carro.



No hospital, Euclides recebe alta. Com a face esquerda e o nariz inchados, o olho roxo e o corpo dolorido, ele vem caminhando pelo corredor, sorridente. Seu sorriso era insano, bem como seu olhar. Sorria dos planos diabólicos que montava em sua mente.



Mal saiu do hospital, com uma receita médica em mãos, e, ao invés de ir direto a uma farmácia, foi a uma livraria.



-Posso ajudá-lo, senhor? – Pergunta uma das atendentes, observando o estado deplorável de Euclides, que observava os livros com uma certa rapidez.



-Dar livros para os outros é sempre uma missão complicada, não acha?



-Ah, com certeza. Mas o senhor conhece essa pessoa, sabe de suas preferências literárias, seu estilo de vida? Isso já é um bom caminho.



-Sim, eu o conheço... Eu... Eu sei perfeitamente quem ele é. Sei de tudo que ele gosta, tudo o que ele quer, e o que não quer também. Sei tudo sobre ele...



-Nossa, a moça sorri, então imagino que não seja tão complicada assim essa missão!



-Neste caso, o problema não é o livro, mas sim, a pessoa que ira presenteá-lo. Ele... Ele não é mais ou mesmo comigo.



-Entendo...



-Não, não entende. Você não entende nada. Me deixe sozinho, pode ser?



A jovem se assustou. E, gaguejando, diz:



-Es, está bem, eu... Fique a vontade...



Euclides, com toda sua insensibilidade, permanece vasculhando as prateleiras...





Sete horas da noite...



Não haviam sido muitos os convidados para o aniversário de Ariano. Alguns amigos mais próximos da família, tios, e poucos amigos de Ariano, da época da escola. Uma enorme no centro da sala, forrada por um extenso pano de cor branca, com um bordado admirável. A simplicidade permeava a recepção dos convidados, que presenteavam Ariano, o enchiam daquelas mesmas perguntas:



-Como se sente, meu querido?



-Está se cuidando direitinho?



-E a faculdade?



-Vai continuar no jornal?



-Já comeu quantas universitárias?



Ariano atendia a todos com sua genuína simpatia. Ficou muito feliz com a chegada de Julia e Ana Lucia, e, sobretudo, com a chegada dela...



-Lia Neide... Você veio...



-Eu não podia faltar. Você se tornou uma pessoa especial na minha vida. Ao menos comparecendo em sua casa, em seu aniversário... Eu posso retribuir tudo o que faz por mim.



-Eu faço porque amo você.



-Por favor...



-Tudo bem, desculpe... Venha, se acomodem!



Ariano cumprimenta Dona Beatriz.



Seus pais o observavam de longe.



-Veja, ele adora isso. Ser prestigiado pelas pessoas que ama. – Comenta Arlete, mãe de Ariano – Ele diz que odeia aniversário, mas no fundo... Ele não me engana.



-Ele está doido por essa menina, a Lia. Tomara que eles dêem certo. Ela é uma ótima pessoa.



-Tem certeza disso?



-Como? – Espanta-se Walter.



-Ela não está sendo acusada de assassinato?



-Ela é inocente, Arlete. Por que está levantando essa suspeita contra a moça?



-Porque não há nenhuma certeza. Ou há?



-Eu nunca me engano com as pessoas.



Arlete cruza os braços, dúbia.



-Vamos servir o jantar.



Ariano conversava com Ana Lucia.



-Por que não trouxe seu filho, Ana?



-Ah, ele anda meio doente... Além do mais, o pai quer aproveitar mais tempo com ele. O trabalho impede que ele seja, de fato, um pai presente.



-Em que ele trabalha?



Ana aperta os lábios, e mente:



-Ele é engenheiro civil.



-Que legal.



Lia Neide balança o ombro de Ariano. Ele se vira para ela:



-O que foi, Lia?



-Você disse que não tinha convidado esse traste. – Diz, constrangida.



Ariano e Ana Lucia voltam seus olhares para a porta. Euclides era recebido por Arlete, que por sinal, estava muito sem graça. Ele trazia sob o braço um embrulho.



-Onde está o aniversariante, dona Arlete?



-Eu vou chamá-lo...



Não precisou. Ariano já estava ali, com ar de poucos amigos.



-Olá, Ariano. Feliz aniversário.



Euclides lhe dá um abraço. Por cima do ombro de Euclides, Ariano lança um olhar estupefato para a mãe, que faz sinal para que ele mantenha o controle.



Julia se reúne a Lia e Ana Lucia, com uma taça de vinho na mão.



-O Ariano não podia ter chamado o Euclides.



-Mas ele não o convidou. – Diz Ana Lucia, convicta.



-Desculpe, mas quem é você? – Indaga Julia, bebericando seu vinho. Ana Lucia, que lutava contra sua ânsia em encher uma daquelas taças com aquele vinho tinto escaldante de prazer, engole a seco. Julia franze o cenho, aguardando uma resposta.



-Ela é amiga da faculdade, do Ariano. – Apresenta Lia.



-Ah, você é a Ana Lucia?



-Sim, eu mesma... Prazer.



-Prazer, Julia.



Elas apertam as mãos.



-Como sabe que ele não foi convidado pelo Ariano? – Pergunta Lia, intrigada.



-Por que... Por que eu, sem querer, comentei com o Euclides ontem sobre o aniversário. Agora, como eu imaginar essa inimizade deles? Eles sempre foram super amigos, gente.



-É, mas as coisas estão mudando... – Disse Julia, tomando mais um gole de seu vinho.



Ana Lucia, sedenta, fixou aquela imagem, aquele inclinar da taça, aquele umedecer dos lábios, aquele gole do vinho mais saboroso, aquela cor de sangue, aquela vida escorrendo de uma taça...



-Me dêem licença, eu... Eu vou me servir desse vinho.



E foi, em disparada. Julia e Lia se entreolham, dando de ombros.



-Essa Ana Lucia acabou com a noite do Ariano.



-Não. – Rebate Lia – Ele saberá superar. Ele é maior do que toda a mesquinharia que o ronda.



Euclides entrega o presente a Ariano.



-Não fui convidado, mas... Não me importei muito com isso. Prefiro acreditar que eu sou um daqueles amigos que não precisam receber em suas casas convites de aniversário. Aqueles amigos do peito, que nunca se esquecem da data de aniversário.



-Está errado, Euclides. Os melhores amigos são os primeiros a receberem o convite.



-Todo esse desprezo é por causa dela, não é? Continue acreditando nela...



-Cale essa boca, Euclides. É por causa dela sim, e é nela que eu acredito. Eu não sou indelicado a ponto de colocar você para fora da minha casa. Sou um homem bem educado. Além do mais, ignorar você será mais gostoso do que te expulsar.



-Quantas palavras duras... E nem abriu o presente. Já que é bem educado, você não faria a desfeita de me devolver, faria?



Ariano sorriu, e desembrulhou o presente.



-Ora, ora, ora... Antologia poética do Vinicius de Moraes... Até que você não escolheu mal.



-Eu fiz Letras, se esqueceu? Sei o que é bom. O poeta que melhor fala do amor, da vida. E como você tem se entregado a esse mundo de poesia ultimamente...



-É... Mas como eu sou uma pessoa de bom coração, e não por desfeita, lhe agradeço, mas te devolvo o livro.



Ariano estende os braços segurando o livro.



-Por que isso? Não gosta de Vinicius?



-Sim, ele é o melhor, eu concordo com você. E por isso mesmo estou te devolvendo esse livro.



-Não compreendo... O que está...



-Estou insinuando, Euclides, que este livro servirá mais a você do que a mim. Quem sabe lendo Vinicius de Moraes, você não aprenda e tenha o prazer de assinar poesias de sua autoria?



Ariano repousa o livro na mão de Euclides que, doído de raiva e perplexidade, o recebe, sem desgrudar o olhar epilético daquele que ria irônico de sua cara.



-Fique a vontade... Mas não a ponto de colocar remédio na minha água, ok?



Ariano vira as costas para Euclides, contendo o riso nos lábios.



Euclides continua ali parado, com o livro na mão, pensando: “ele já sabe da poesia, do remédio, ele já sabe de tudo... Será impossível fazê-lo mudar de idéia a meu respeito... Pior para ele. Antes meu amigo do que meu inimigo”.



Walter vai ter com o filho.



-Está bem?



-Estou ótimo, pai. Deixe o Euclides circular pela casa. Ele não fará nada contra mim.



-Ele não é louco.



Todos foram convidados se servir. Alguns se acomodaram nos sofás, outros preferiram ficar de pé, conversando enquanto saboreavam seus pratos e suas bebidas.



Euclides servia-se, naturalmente, quando Julia se aproxima dele propositalmente, enquanto arrumava seu prato também. Em murmúrios, os dois começam a trocar farpas.



-Quantos quilos de maquiagem usou nesse rosto pra tapar o estrago?



-Quantos reais em crédito tem gastado por enviar mensagens anônimas pro meu celular?



-Quantos litros de óleo de peroba você gastou pra passar nessa cara lavada, a ponto de vir ao aniversário de uma pessoa que não o convidou?



-Quantas vezes já foi pra cama com aquele escroto do Haroldo pra continuar garantindo seu empreguinho de redatora no jornal? Por que, cá pra nós, você ali é um zero a esquerda. Seu trabalho é péssimo.



-Mesmo que eu me prestasse a isso... Pelo menos fui boa de cama. Já os seus métodos inescrupulosos pra tomar a vaga dos outros foram mal sucedidos, querido, tanto que foi demitido solenemente, com uma surra do papai de brinde. Cuidado com a espinha do peixe, você pode engasgar e morrer. – Alertou, sarcástica, ao vê-lo pôr uma posta de peixe em seu prato.



-Cuidado comigo, Julia. Você pode perder os freios a qualquer momento, avançar o sinal e colidir com caminhão de cimento. Sua morte seria trágica.



-Não tenho medo das suas ameaças, Euclides. A minha proteção espiritual não vai permitir que nada de mal me aconteça. – Retrucou, mais séria.



-Se eu fosse você, não levaria muita fé em fantasminhas... O máximo que eles podem te fazer é te levar pro inferno quando você bater as botas. Sua estúpida.



Euclides se afasta de Julia. Ela, irada, finca seu garfo no pedaço de carne assada que estava na bandeja sobre a mesa.



Ana Lucia não comia nada. Apenas bebia. Aquele já era a quarta taça de vinho...



Meia hora depois, Walter pede o silêncio de todos, e, ao lado da esposa, inicia uma homenagem ao filho, em voz alta:



-Filho, venha cá...



Ariano se aproxima dos pais, envergonhado.



-O que estão aprontando?



Walter abraça o filho e proclama:



-Esse é o menino de ouro. Eu já lidei com muitas pessoas nessa minha vida. Sou advogado há quinze anos, e, baseado no nível de minha experiência de vida, posso afirmar que tenho um filho de ouro. Estudante exemplar, jornalista promissor, um filho de dar inveja a qualquer família. Gênio. Filho, saiba que, enquanto eu puder, farei tudo que estiver a meu alcance pra te ajudar, pra... – Pausa, emocionado – Pra provar o quanto te amo.



Pai e filho se abraçam fortemente. Todos aplaudem aquela cena. Exceto Euclides, que observa a tudo com uma tristeza profunda no olhar.



Ariano já estava com lágrimas nos olhos quando Walter tirou do bolso da calça uma chave, e a balançou diante de Ariano.



-Que significa isso, pai... – Já expressando meio sorriso.



-Vinte anos de vida. Merece um carro de presente, não acha?



Ariano se derrama em lágrimas de emoção, e recebe a chave do carro das mãos do pai.



-Pai, eu não posso acreditar!



E se abraçam novamente. Euclides prende os lábios com força, evitando derramar uma lágrima teimosa que insistia em sair do seu olho. Não ia derramá-la. Observava a tudo, frio. Em sua memória, uma lembrança veio à tona...



“-Meu sonho é ter um carro, pai. – Disse Euclides, na véspera de seu aniversário de vinte anos de idade.



Estavam passando na frente de uma concessionária.



-Carro... Você precisa arrumar um emprego primeiro. Meu pai nunca me deu carro. Eu é que comprei, com meu suor.



-Mas pai... Você tem condições de me dar um carro.



-E quem vai pagar as despesas do carro? Você tem meios para isso?



-Eu consigo um emprego, pai.



Rodolfo gargalhou.



-Você? O que você sabe fazer, Euclides?



-Eu sei escrever bem. Eu já ganhei um concurso de redação na escola.



-Escrever bem não dá dinheiro nesse país. Aprenda isso.



-E o que dá dinheiro, pai?



Pararam para atravessar a rua.



-O que dá dinheiro? Seja um administrador de empresas, um promotor, um juiz, um médico neurologista.



-Eu não conseguiria, pai...



-Então, Euclides, sinto te dizer, mas você nunca será ninguém na vida”.



Como uma ventania, aquela lembrança devastou o juízo de Euclides. Seus nervos atrofiavam-se dentro do corpo. Mas não podia chorar, não podia berrar, não podia quebrar nada. Seria entregar sua fraqueza.



Ariano correu até lá fora para ver o carro. Era um lindo Palio vermelho 2002. Abriu, ligou o carro, verificou cada detalhe do interior daquele automóvel. Euclides permanecera na casa, comendo alguns petiscos. Ele e Ana Lucia trocaram olhares. Ela, num canto isolado, tomando sua bebida. Ela estava entregando sua fraqueza com aquela taça na mão. Euclides vira as costas para ela.



-Ele não te convidou. – Disse ela, cutucando seu ombro.



Ele se volve para Ana.



-O que disse?



-Ele não te convidou. Eu to me sentindo arrasada por ter te contado.



-Arrasada? Você ta bêbada, isso sim. Não larga esse copo.



-Está me vigiando, é?



-Nem precisa vigiar pra saber que você está enchendo a cara.



-Você está me desrespeitando de novo, Euclides.



-Você não é digna de respeito.



Ana Lucia mordisca os lábios, enfurecida, e joga a bebida no rosto de Euclides. Aquele vinho tinto escorre lentamente pelas suas faces, gotejando de suas sobrancelhas grossas, limpando toda aquela máscara que ele utilizara para disfarçar as marcas da surra.



Ele não reage. Percebe que algumas pessoas presenciaram a cena e cochichavam a seu respeito.



-Melhor do que entornar essa, foi jogar tudo na sua cara. Agora sim, eu posso dizer que sou uma bêbada de respeito.



Ana sai da sala, indo dar os parabéns a Ariano pelo carro. Euclides vai até o banheiro, e lava o rosto. As manchas roxas e o inchaço agora são mais visíveis. Ele se olha no espelho, e, muito nervoso, cospe contra seu próprio reflexo.



-Pé de cana filha da puta.



Ele seca o rosto e retorna à festa.



Todos já haviam retornado.



-Meu filho é talentoso em muitos aspectos, mas... Uma coisa que poucos sabem é que o Ariano também é músico, pessoal! – Vibra Arlete, anunciando a todos presentes.



-Ariano!! Toca uma pra gente!! – Pede o “público”.



Lia, que estava próxima de Ariano, pergunta, olhando para o piano imponente da sala:



-Não me diga que sabe tocar piano?



-É... – Ele ri, tímido.



-Vamos, filho! Sente-se ao piano, toque uma canção para a gente!



Ariano, relutante, senta ao piano.



-Manda ver, Ari! – Grita um de seus amigos.



Euclides estava de pé, observando Ariano. Julia se aproxima dele. Estão ombro a ombro.



-Você está me seguindo pela casa?



-As lágrimas borraram a maquiagem? – Goza ela.



Euclides tinha vontade de esganá-la!



Um rápido silencio toma conta do recinto. Ariano se posiciona. Seus dedos longos começam a deslizar sobre as teclas do piano. Seu corpo, de jovem franzino, crescera repentinamente diante daquele magnífico instrumento. Ariano era uma sumidade. Transformara-se, em segundos, no maior músico que aqueles olhos já haviam presenciado; que aqueles tímpanos já haviam registrado; que aquelas almas já haviam se regozijado. Almas que se descobriram pobres diante de tanto talento, tanto poder. A música! A música tocava fundo no âmago, como uma flecha invisível de encantamento. Os pêlos dos corpos hirtavam-se, e lágrimas clamavam para participar daquele momento único.



-A Grande Sinfonia. A Sinfonia nº 40 de Mozart. Há! – Vibra Julia, amante da música clássica.



Euclides estremeceu. Também conhecia aquela composição de Mozart, e sabia o quão difícil era interpretá-la em piano. Agora era o fim, de fato. Agora tinha certeza: Não existia limite para o talento de Ariano. “Ele é perfeito em tudo, isso... Isso não pode ser, é surreal”, pensava, com uma dor lancinante. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente. Lágrimas que refletiam aquele jovem de vinte anos, franzino, de óculos, e vestes simples. Euclides não piscava. A cada nota da música, uma batida dolorida do coração. O “dó” era em ré maior na alma de Euclides. Sua vida estava acabada, ali, definitivamente. Seria impossível alcançar tanta proeza. “Eu não conseguiria”, admitiu para si mesmo, mais uma vez...



E como era duro admitir isso.



Ariano chorava enquanto tocava. Pensava em Euclides, na traição. Pensava na rejeição que recebia de Lia Neide. De que adiantava, estar ali, atingindo o seu ápice, reluzindo sua luz mais intensa e, no fundo, não ter o que considerava de mais valor.



Aquelas almas emanavam uma força surpreendente. Ariano e Euclides. Duas forças em oposição.



-Mozart... Superdotado, já se apresentava à realeza aos cinco anos de idade... Diz a lenda que Antonio Salieri, outro grande compositor, definhava de inveja de seu rival, Mozart. Mozart ofuscava seu talento, seu brilho. Salieri jamais alcançou a fama de Mozart, e por isso, teria o envenenado. Fingia-se ser o melhor amigo de Mozart, quando na verdade, queria ser o próprio Mozart.



Essas palavras foram ditas por Julia, capciosamente, ao pé do ouvido de Euclides, enquanto Ariano apresentava seu verdadeiro espetáculo.



-Você jamais será Ariano Bezerra, Euclides.



Aquelas palavras criaram uma revolta intensa em Euclides, que precisou sair dali o mais depressa possível antes que cometesse uma grande besteira.



Euclides foi até a cozinha. Lia Neide diz a mãe que irá até a cozinha apanhar um copo d’água e volta num instante. Ana Lucia percebe a saída de Lia logo após a de Euclides e acha estranho.



Euclides também bebia um copo d’água. Lia o encontra na cozinha. Ambos estão sozinhos.



-Ta me seguindo também, garota? – Ataca Euclides, enfurecido.



-Eu? Seguindo você? Eu não perderia meu tempo.



Ela se dirige até o filtro. Euclides se aproxima de Lia.



-Você me destruiu com o Ariano, você não tinha o direito...



-Eu não te destruí. As suas atitudes mesquinhas, falsas e horríveis te destruíram com o Ariano. E em breve, destruirão a você mesmo. Finalmente o Ariano enxergou quem você é. Finalmente todos enxergaram.



-O jogo ainda não terminou. Muita água está pra rolar.



Lia o encara.



-Eu vou conseguir provar minha inocência e me livrar de todo esse caos da minha vida. Por sua causa eu estou sendo até ameaçada de morte! Minha vida se tornou um inferno por sua causa, seu... Demônio.



Euclides segura no braço de Lia.



-Eu to apaixonado por você, Lia. Eu... Eu me apaixonei por você.



-Me larga!



Ela tira seu braço da mão de Euclides.



-Eu digo a verdade, acredite. Eu posso ter errado muito, posso ter mentido demais... Mas isso é a mais pura verdade. Eu nunca amei tanto uma mulher na minha vida.



-Falso, cínico. Você me deseja porque o Ariano também me deseja. O Ariano sim, me ama de verdade. Já você... Um homem sem caráter como você não é capaz de amar.



-Você realmente não dá valor a quem te ama... Ariano, o seu falecido ex, eu... Quem você pensa que é? A rainha dos amantes? Acha que terá a seus pés homens dedicados e amorosos a sua vida inteira? Está enganada, Lia. A vida passa muito rápida. As pessoas vão embora, conhecem outras pessoas, ou simplesmente... Morrem. Não vê o Adalberto? O que está esperando da sua vida? Que o Ariano morra também?



-Não faça nada de mal ao Ariano, pelo amor de Deus... Euclides...



-Entregue-se a mim. O Ariano é tão talentoso, tão genial... Ele não terá tempo para você. Ele viverá sempre muito ocupado, mais ocupado com os próprios pensamentos do que com a própria esposa. Os superdotados são pessoas entediadas, hiper ativas. Não irá suportá-lo um mês.



-Euclides... Como você é sujo... Eu já sabia que era, mas... É a primeira vez que tenho a oportunidade de ver e ouvir as suas imundícies. Eu fui muito burra em te dar trela esse tempo todo... Você roubou meu celular quando eu me distraí, você foi muito esperto... Você armou tudo. Aquela poesia... É do Ariano, e não sua. Quantas maldades... Como suporta ser uma pessoa tão pérfida? Isso não pesa em sua consciência?



-Consciência é sinônimo de covardia. Eu não me arrependo de nada que fiz. Muita coisa que fiz foi... Pelo meu amor a você.



-Você não ama nem a você mesmo.



-Eu quero você pra mim, Lia Neide.



Euclides segura nos braços de Lia e a beija de sopetão. Ana Lucia entra na cozinha, e os flagra. Ela deixa sua taça cair e se espatifar no chão, de tão perplexa.



Euclides se afasta de Lia, que tentava retomar o fôlego.



-Desculpa se eu... Se eu interrompi o casalzinho. – Diz Ana, num tom nada amigável.



-Olha, Ana, eu não quis beijá-lo! Esse homem é um... É um cafajeste!



Lia avança em Euclides, que a segura.



-Não tente me bater, garota. Você gostou do meu beijo, confesse. Sua boca estava sedenta pela minha saliva, pela minha língua.



Lia se debatia, porém Euclides segurava seus braços, dominando-a.



-É mentira!!



-Para de fazer ceninha, Lia! Todos em breve saberão de nós!



Ana Lucia caía na armadilha de Euclides...



-É mentira, não acredite em nada do que ele diz, me solta!!



Lia se solta de Euclides. Ofegante, ela cospe no meio de sua cara.



-Canalha! Tome a sua saliva nojenta de volta!



Lia retorna para a sala, retumbante. Euclides fica rindo sozinho, limpando o cuspe do rosto. Ana Lucia não movera um passo.



-Eu já entendi tudo, Euclides.



-Ana... Você era a última pessoa que podia ter visto o que aconteceu aqui.



Ana sorri, maliciosamente, e volta para a sala. Euclides vibra com o resultado.



Ariano finaliza sua apresentação musical. Todos o ovacionam, eufóricos, pedindo bis. Ariano se diz cansado, e se levanta.



Julia se dirige ao pupilo, e diz:



-Você foi... Você incorporou o Mozart. Ariano, não de mole pro Euclides. Ele está sendo derrotado, lentamente. Ele vai cair, Ariano. Seja firme. Vamos vencer.



-Eu sei, Julia. Eu sei.



E se abraçam.



Lia pede a mãe para ir embora, imediatamente. Alega não estar se sentindo bem. Elas vão se despedir de Ariano.



-Já vão?



-É, eu to um pouco com dor de cabeça, e... Eu adorei tudo, obrigada por tudo, Ariano.



Lia dá um beijo no rosto de Ariano, desnorteada. Beatriz também se despede do jovem.



-Eu vou com elas, Ariano. Também estou um caco. A festa não podia ter sido mais divertida! – Diz Julia, contente.



-Eu acompanho todas vocês até a porta.



Antes de saírem, Euclides e Lia trocam um último olhar, o qual é telegrafado por Ana Lucia, que após aquele momento, já havia bebido duas taças seguidas de vinho...



Euclides decide ir embora também.



-Adeus, Ariano. O livro eu deixei sobre a estante. Já tenho muitos livros. E quanto ao carro... Parabéns. Não sabia que você tinha carteira já.



-Sim, eu tenho. Foi a primeira coisa que fiz quando completei dezoito anos. Quem sabe um dia eu não te dou uma carona?



-Ah... Está mudando de idéia quanto a mim ou é impressão minha?



-Eu disse que te daria uma carona... Mas não disse para onde te levaria.



-E para onde me levaria, Ariano?



-Para uma penitenciária, Euclides. Lá será a sua primeira casa. E olha que legal, você não precisará comprá-la.



-Você está jogando do lado errado, Ariano. Enfim... O tempo vai te mostrar a verdade. Obrigado, passe bem, meu... Amigo.



Ariano vê Euclides partir e sente um alívio...



A maioria das pessoas já tinham saído. Ana Lucia ainda tomava seu porre, isolada. Ariano, ao perceber o exagero da amiga, resolve orientá-la.



-Ana, não acha que por hoje chega?... Você mal se agüenta em pé...



-Me deixa, Ari, me deixa... Eu descobri tudo, eu já saquei tudo! Você é o mais inteligente desse lugar, mas fui eu quem descobri toda a verdade... – Dizia, ébria.



-O que está dizendo, Ana? Você não ta legal... Vou ligar pra sua casa, pedir que venham te buscar...



-Ah, Ariano... Quem precisa de ajuda é você, meu amigo.



Ariano passa a prestar atenção no que ela dizia.



-Por que diz isso?



-Você ta cercado por uma corja de assassinos.



-Ana, seja mais clara, se for possível... Você ta falando do Euclides? E mais quem?



-Aquela Lia... Ah, eu bem que desconfiei...



-A Lia Neide?



-Exatamente! – Confirmou ela, a um soluço.



-Vem comigo lá pra fora, Ana. Você está mal.



Ariano apoiou a amiga em seu ombro,



-Eu vi os dois se beijando na cozinha, Ariano!! Eu vi! Eles dois são comparsas! Eles são assassinos! Eles querem te matar!!!!



Walter e Arlete percebem os gritos e se viram para os dois.



-O que está havendo aí, filho? – Pergunta Arlete, preocupada.



Ariano petrificou-se.



-Repete... Repete, Ana, repete se for verdade...



-É verdade. Eu to bêbada, to. Mas eu vi. Enquanto você tocava, os dois se agarravam na cozinha. Eu vi.



Ariano leva sua mão a cabeça, expressando uma forte dor. Ele recua.



-Ahh!



Após um grito de forte dor, ele cai no chão, desacordado.



-Ariano!!!



Seus pais correm para acorrê-lo. Ana Lucia fica parada, observando a tudo, abobada, sem saber o que fazer.



Só o amor pode destruir o intelecto de um gênio.


(Continua nesta semana... Não percam!)