quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Ilusão de ótica.
Mistério.
Não podemos afirmar convictamente o que supomos realidade. A imaginação é a maior armadilha do amor.
Os olhos sempre parecem mais brilhantes que os demais, os defeitos são quase sinônimos de qualidades, ou no máximo, estranheza e diferença em meio a multidão de seres iguais e a pré-disposição à solidariedade, torna-se servidão, sem retribuições pretendidas. A gratificação maior encontra-se num simples sorriso que a tudo desbanca em beleza e graça e faz saltitar o coração iluminado feito o sol no alvorecer do dia. As definições são contrárias em dicionários e prática. Solidão antes companheira, inimiga se torna. O ônibus cheio não importa, toma-se por percurso feito em uma limousine. A estética das cáries e das gorduras encolhem-se em sua mera insignificância. Estrias e celulite tornam-se símbolo de estilo, como as listras das zebras ou pintas nas onças: marcas fashion de beleza... A matéria é apenas um invólucro onde cabe unir-mo-nos fisicamente ao ser amado, pedaço (in)completo da nossa (im)perfeição.
Mistério.
A realidade agora é convictamente negada. Negação absolutamente racional do que antes fora puro e sincero sentimento em delírio e gozo...
Solidão nos cai bem. Fantasmas não nos perseguem, não há medidas, nem divisão.
A retribuição antes inexistente em desejo, transforma-se em cobranças que ao mesmo tempo já não cabem, mas que sempre ressurgem na hipótese de um futuro não tão mais brilhante quando pensado à dois.
As cáries e gordura agora nos dão nojo, são sinônimos de desleixo, não importa quem sejam seus portadores. A estética das clínicas e revistas ocupou seu lugar. Até o vizinho antes fantasma ignorado, parece ser mais atraente com seu gingado comum. Já não amamos mais...Todos os olhos são iguais e os sorrisos não conseguem mais colorir a selva de concreto com o verde imaginário daquele bosque onde milhões de vezes nos imaginamos correndo felizes entre árvores no início de outono.
As definições gramaticais ou substantivas se tornam sinônimos novamente; meras palavras precisam muito mais do que pensamos para atraírem nossa atenção.
Poesias? Não as sentimos como tais, apenas lemos-as como leitores superficiais que passeiam os seus olhos pelas folhas, sem que as palavras digam absolutamente nada. Mesmo as que possam comover, não interessam. Julgamos-as patéticas mensagens de pedidos de socorro de fracos e iludidos amantes, como nós mesmos já fomos um dia; como recém-nascidos que choram por um pouco de leite e acalento no colo materno. O ônibus voltou a ser o mesmo tédio irritante e cheio de miseráveis suados e mães cheirando a cebola e alho.; "donas" do lar e suas crias histéricas, retratos fiéis de futuros progenitores frustrados, enfiados em ônibus como esse...todos nos inspiram pena, aquela pena indiferente e o desprezo de quem já compreendeu que se iludir de amor, nada mais é do que escravizar a liberdade, enganada por migalhas de emotividade e doses multiplicadas de repressão, que no início da paíxão são mascaradas por compreensão. Emotividade acompanhada por uma ilusão de ótica e excesso de imaginação: a maior armadilha dos repetidos ciclos familiares esquizofrênicos, que o Estado teve a inteligência de manter.
N.Fri.,28/03/90.
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4 comentários:
Que Legal!!! Fabuloso!!
Andrea, vc como sempre ótima!
Essa crônica me deu a ideia de uma linha no tempo, por exemplo, anos 30/40 e 80/2000.
É uma pena que nossa sociedade tenha se tornado essa grande massa insensível, apressada e capitalista. Mas, que não sejamos como eles, e sim pessoas de atitude e opinião próprias que não precisam ser como essa crias do Estado.
Bjão!
Andrea, mto bom!!
Qm disse que é chato, hein??
Isso tudo não passa de uma ilusão de ótica sua, rs!
Bjão!
Oiiii!
Você acredita que trabalhei esse tema e essa imagem, mais outras na clínica nesse dia?
Não tive tempo de comentar, mas achei o máximo!
Logo te mando um @ direito viu?
Saudades!
Claudia
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