segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Uma vida que nos ama!

Provocada pelos comentários das pessoas que leram o texto passado. Pensei muito sobre essa sensação de acolhimento, de aconchego, carinho que sempre mencionam...
E enquanto já me convencia do quanto ser afetuoso é confundido com piegas, me surpreendo com o reconhecimento desse afeto, por pessoas diferentes, em idade, sexo, estilo... O que me fez refletir muito sobre essa questão.

Comecei a pensar na vida que me acolheu.
Onde e com quem ela me colocou. Quem foram meus pais, meus vizinhos, meus amigos desde a infância.
Quem me acalentou nos braços, escutou meus gemidos e compreendeu as minhas palavras quando elas ainda eram sons confusos.
Quem me limpou e fez adormecer ao ponto de eu me sentir segura e de fato repousar...
Pensei também naquela jovem que trabalhava em casa cuidando de mim.
Na sua paciência infinita em voltar a fita cassete muitas vezes para eu ouvir a música preferida. Lembro perfeitamente de estar no colo dela. Ela toda carinhosa, protegendo-me e sustentando-me em um braço enquanto o outro carregava um antigo toca-fitas.
Depois sou tocada pela lembrança do meu pai voltando do bar com doce de abóbora nas mãos, que eu a-do-ra-va quebrar aquela casquinha durinha em volta dele... E da minha mãe que trazia da padaria próxima ao seu trabalho, um pão sovado divino...
Lembro ainda do seu Francisco, meu vizinho. Queria-me tanto bem, que abriu um portão no muro entre nossas casas para que eu pudesse passar. Fez também uma cadeirinha de madeira do meu tamanho para eu comer junto com eles na mesa (essa cadeirinha era colocada em cima da cadeira comum)... E do meu avô que passava a semana toda trabalhando fora e vinha me ver com um abraço delicioso, mostrando-me que eu era importante para ele... Tinha também a tia Nair, que invariavelmente passava o dia do meu aniversário na minha casa, esperando que eu chegasse da escola nos primeiros anos ou da faculdade com a mesma alegria, só para ficarmos juntas... Não quero ser injusta, teria muito a recordar... Muita gente, muitos gestos...

Eu conheço o acolhimento e sei onde ele mora em mim. Mas antes que fizesse morada, ele me visitava e eu o recebia e conversávamos continuamente, até que ele veio morar em mim e agora nós acolhemos os outros.
E essa é a minha intenção: convidar você a lembrar e pensar no como a vida amou e ama você.
De que jeito você sente que o amor fala com você e espero que você esteja ouvindo.
Espero que você saiba que por ter acordado hoje, havia muita vida reservada para o seu dia, e dentro dela, manifestações desse amor.

Alguém nessa vida está ligado a você porque o quer bem. Alguém pode ter feito seu café, ter lhe dado um beijo, um telefonema, ter colocado algo em sua mesa, enviado um e-mail, olhado em seus olhos, não sei, mas sei que alguém nessa vida está amando você, mesmo que você não reconheça ou não tenha se dado conta.

Muitas vezes passamos uma vida inteira desacreditados, apressados e nem vemos o que e quem se abre para nós, exclusivamente para nós...

Porque uma coisa é clara: para que estejamos vivos, a vida nos acolheu. Abriu um espaço e nos inseriu no universo. Deu-nos corpo e alma, deu-nos identidade e história, deu-nos tempo e possibilidade. E é certo que quando nos damos conta do quanto e do como somos amados, passamos a amar mais e melhor as pessoas. O que parece piegas num primeiro instante, é o que se vê no choro do bebê procurando colo e na lágrima de quem chega ao fim da vida... O ser humano começa e termina essa vida em busca da experiência do amor, de saber-se querido, mais que as coisas, de saber-se amante, mais que tudo!

Um acolhimento verdadeiro nunca será piegas, porque acolher significa dar espaço para o outro existir e fazer história em nossa vida. Por isso quando você lê o que escrevo já me deu morada! Por isso quando penso em você, anônimo, penso que minha vida é muito mais rica do que conheço, do que tenho consciência...

Que possamos então reconhecer as pessoas que estão permitindo que a vida nos ame de algum jeito, em que reconheçamos os tesouros que ninguém rouba. A luz que não se apaga. O sentido que preenche o vazio.

Hoje, a começar por hoje, eu desejo que você se aventure a descobrir esse amor por entre os simples fatos do seu dia. Milhares de pequenas coisas estão dando certo para você agora. Assim a Vida nos ama, um a um. Talvez só nos falte olhar e ver!

Um beijo carinhoso em seu coração, até breve!

Ah, e se quiser compartilhar um gesto de amor recebido, será bem-vindo! Comente aqui!

5 comentários:

Sim! Podemos pensar! disse...

Suas palavras chegam ao coração,muito bonito!

Anônimo disse...

Lindo o seu dom de encantar a todos nós!Bjsss

Valentina

Andréa Amaral disse...

Iluminada é o seu nome.

Simone Prado Ribeiro disse...

Acolher é um dos sinônimos de amar.
É aceitar os outros como eles são.
É se permitir, deixando de lado o preconceito para só então amar e ser amado...
Se permitir para conhecer outros valores, mundos e vidas.
É um “dar espaço para o outro existir e fazer história em nossa vida.”

Adorei o seu texto, Claudia. Lindo demais!!!
Eu só posso dizer: muito obrigada.
Bjussss...

Cacarina disse...

Vocês é que olham com olhos amorosos! Um beijo,
Claudia