O garoto circulava incansável no meio da multidão, sua voz aguda gritava bilhetes de loteria. Apenas uns e outros o enxergavam de tão pequeno mas nada lhe intimidava. À hora do almoço, desembrulhava sua comida fria, comia como se fosse o melhor dos banquetes então tentava puxar conversa com quem estivesse mais próximo. Logo conseguia, apesar da frieza das pessoas seu talento era inquestionável, então, após algumas frases, fazia a pergunta de todos os dias: "Me conta um sonho?".
É claro que nem todos se sentiriam bem com uma pergunta assim, mas o olhar do garoto trazia uma segurança estranha, confidente, quase hipnótica, qualquer um se veria dizendo mesmo que não quisesse. Ele ouvia calado, os olhos atentos à cada gesto, ao fim , agradecia com um sorriso e levantava-se de volta à rua. Gritava ainda mais alto, sentia-se abastecido, pensava consigo mesmo, estaria vendendo bilhetes ou sonhos?
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