sexta-feira, 1 de julho de 2011

Comentários, notas e anúncio do Campo Platônico do Top 15

Enfim, as notas e comentários dos jurados do Top 15. Justificamos a demora desta postagem: devido à imensa qualidade do post que contém os haicais, decidimos deixá-lo mais tempo em voga, no blog. Obrigado pela compreensão! Fim do suspense!

APRESENTAÇÃO

Jurada: Ludmila Maurer
Jurados convidados: Edson Kenji Iura, Tânia Diniz e Vera Americano

NOTA:

Por motivos de força maior, os jurados Ângelo Farias e Nilto Maciel não puderam comparecer nesta rodada, como jurados. Eles desejaram boa sorte a todos os poetas. Na próxima etapa, eles estarão de volta. Agradecemos pela compreensão.

Nesta semana, tivemos a felicidade de contar com a presença de três grandes autores da literatura brasileira: o mestre dos haicais, Edson Kenji Iura, um dos nomes mais importantes deste gênero no Brasil; também haicaísta Tânia Diniz, que administra um mural poético muito importante na rede virtual; e, por fim, a excelente escritora Vera Americano, grande nome da literatura brasileira. Aproveitamos a oportunidade e expressamos aqui nossos sinceros agradecimentos a esses queridos autores. A seguir, vocês terão o prazer de ler pequenas entrevistas, realizadas pelo autor s/a Lohan Lage, com esses autores convidados. Boa leitura!

Entrevista com Edson Kenji Iura

Edson Kenji Iura é nascido e residente em São Paulo. Trabalha na área de informática. Desde 1991 é devotado à prática do haicai como membro do Grêmio Haicai Ipê. Seleciona haicais de leitores para publicação no Jornal Nippak. Pioneiro na divulgação do haicai brasileiro na internet como editor do "Caqui" (www.kakinet.com), primeira revista eletrônica em português exclusivamente dedicada ao assunto, fundada em 1996. Administrador do fórum eletrônico "Haikai-L", o primeiro na internet dedicado ao haicai brasileiro, fundado em 1996. Jurado de concursos de haicai. Tem haicais publicados em antologias. Email: kakinet@gmail.com.

Lohan: Edson, é um prazer, primeiramente, recebê-lo aqui, no Autores S/A. Você, um dos maiores mestres do haicai brasileiro, faz parte do Grêmio Haicai Ipê (GHI), um grupo de haicaístas especializados, responsáveis por estudar e compor haicais. Conte-nos um pouco mais sobre este Grêmio.

Edson: O Grêmio Haicai Ipê foi fundado em 1987 por entusiastas do haicai, sendo o primeiro grupo de estudo e composição de haicais em português do Brasil. Mantém suas reuniões em São Paulo, ininterruptamente, desde então. Promove eventos como o Encontro Brasileiro de Haicai, o Concurso Brasileiro de Haicai Infanto-juvenil e o Concurso de Haicai Goga Masuda. Seu inspirador é o poeta Goga Masuda (1911-2008), mestre que escreveu haicais em japonês e português.

Lohan: Nós, organizadores, decidimos criar uma padronização nas postagens dos poemas do concurso: postamos de acordo com a ordem alfabética dos títulos dos poemas. Sendo assim, pedimos aos poetas participantes que empregassem um título aos seus haicais (embora saibamos que seja uma atribuição facultativa). O que pensa a respeito desta nossa decisão? Por que um haicai não carece de um título?

Edson: Relembrando o mestre Goga, "o haicai é um diálogo entre autor e leitor". O que importa é a interpretação que o leitor dá ao texto do autor. Na maioria das vezes, o título direciona a decifração do poema, quando não se transforma num simples atalho para que o autor imponha a sua visão. Além disso, numa forma tão curta, acaba funcionando como um quarto verso, somando gordura ao texto. Tentarei ignorar os títulos durante os julgamentos.

Lohan: Em uma entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão (site Garganta da Serpente), você afirma, em uma de suas respostas, que não é um escritor por profissão, mas sim, apenas um médium. Como você definiria essa mediunidade, em relação aos seus escritos?

Edson: Essa entrevista deve ter mais de dez anos. Quis dizer que me vejo mais como facilitador do que produtor. Através de minha atividade na internet, procuro aproximar as pessoas do haicai.

Lohan: Pra terminar, pergunto-lhe qual autor, ou quais autores, você considera o grande(s) nome(s) do haicai no Brasil? Que obras você recomenda àqueles que desejam trilhar o caminho dos haikus?

Edson: Entre os autores vivos, quero citar todos os poetas do Grêmio Haicai Ipê, é claro. Num degrau acima, a senhora Teruko Oda, certamente a melhor entre eles. Paulo Franchetti, professor da Unicamp, é o grande intelectual do haicai brasileiro, que também começa a se destacar como poeta. E, num registro um pouco diferente, Alice Ruiz, uma poeta de alcance popular, que dedica um grande espaço de sua criação ao haicai. Livros: enquanto Paulo Franchetti não reedita o seu necessário "Haikai - antologia e história" ou lança uma outra obra de fôlego semelhante, a melhor referência que posso dar é em língua inglesa: "Traces of dreams - Landscape, Cultural Memory, and the Poetry of Basho", do nipo-americano Haruo Shirane, uma leitura apaixonante para todos os amantes do haicai e da poesia em geral.

Entrevista com a escritora Tânia Diniz

Tânia Diniz é graduada em Letras pela UFMG (português, francês, italiano, espanhol). Poeta, contista, haicaísta, editora, promotora cultural, professora de idiomas, oferece palestras e Oficinas (haicai, criação literária); editora-idealizadora do mural poético Mulheres Emergenπes, em 1989, de publicação trimestral e de circulação internacional, que enfatiza o feminino (autores novos ao lado dos conhecidos) e onde já realizou 07 Concursos Internacionais de Poesia com excelente acolhida do público.
Livros de contos: O Mágico de Nós (1988/ 2ª ed., 1989), Rituais (1997).
PoemasMulher EmBalada (1992); Bashô em Nós , haicais (co-autoria/ 1996); Relato de Viagem à Marmelada, haicais (1997); Flor do Quiabo, haicais, (2001); Série Preciosa, poemas (div. volumes), 2008; entre outros.
Em 1998 foi secretária, tradutora e intérprete na I Bienal Internacional de Poesia de BH, à convite da Secretaria de Cultura de MG.
Trabalhos publicados em diversas antologias, revistas, sites e jornais nacionais e alguns estrangeiros. Diversos trabalhos premiados em concursos literários no país e exterior.
Criou também a editora Mulheres Emergentes Edições Alternativas, desde 1989, com inúmeros títulos editados.
Lohan: Primeiramente, é um prazer recebê-la aqui no Autores S/A, Tânia. Em sua opinião, quais são os elementos que um haicai de qualidade deve possuir? Você poderia indicar alguns livros de haicais, os quais você considera de imprescindíveis para quem pretende se tornar um haicaísta profissional?

Tânia: O que acho mais complicado é tanta teoria... Sempre fiz poemas curtos, até me tocar que poderiam ser haicais (ou até mesmo mini-contos). Meus amigos até comentavam. Daí passei a buscar orientações, estudar, e naquela época nem tinha Internet. Conheci  Teruko Oda (SP), ficamos amigas e, através dela, muito aprendi. Aqui em BH eu nem sabia o que ou onde procurar livros teóricos. Acho que ainda é difícil. Nas palavras de Teruko, sou irreverente (nem sempre), mas mantenho o espírito que me faz haicaísta. Ultimamente, quando consigo, leio virtualmente o Paulo Franchetti e o Edson Kenji Iura, no site www.kakinet.com. Então, a dica é: ler muito. Geralmente, nos prefácios, sempre “se saca” algo novo. Alguns livros que cito e indico em minhas oficinas são: Natureza – berço do haicai / kigologia e antologia – de H. Masuda Goga e Teruko Oda; Bashô, de Paulo Leminski (Ed. Brasiliense) – este creio já ter sido esgotado; O haicai no Brasil, de H. Masuda Goga (Ed. Oriento); Introdução ao haicai, de Teruko Oda (Grêmio Haicai Ipê); O livro dos Hai-Kais (Ensaio de O. Paz), trad. De Olga Savary.

Lohan: Este concurso de poesia visa, além da valorização da poesia, o acompanhamento da evolução dos poetas, uma vez que se trata de uma competição em longo prazo (dois meses de duração). Qual conselho você poderia deixar a todos esses poetas competidores? Manter o estilo, ou variar o estilo poético? Ousar, ou se manter conservador? Como impressionar?

Tânia: Quanto à questão de se manter ou não o estilo (me refiro somente ao do haicai), para concursos oficiais nacionais ou estrangeiros, segundo eu sei, no Japão, tem que ser o haicai tradicional, com métrica, kigo, etc. Contudo, se encontra maravilhosos poemas brasileiros, com certeza, e apesar de não serem rigorosamente dentro da tradição, são haicais. Sempre há muita polêmica sobre essas questões, mas é possível perceber o espírito do haicai. Acreditem, pratiquem e ousem.

Entrevista com a escritora Vera Americano
                                     
Vera Americano nasceu em Minas Gerais. De família goiana, residiu entre Goiás e Rio de Janeiro e, mais tarde, em Brasília. Estudou Letras na Universidade de Brasília (UnB), e fez mestrado em Literatura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Foi professora de teoria da literatura na Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro. Em Brasília, trabalhou no Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), na Fundação Nacional Pró-memória e na Consultoria Legislativa do Senado Federal, para a qual se habilitou mediante concurso para o exercício da função na área de cultura e patrimônio histórico.

Sobre a sua poesia, disse o filósofo e poeta português Agostinho da Silva: “A sua exactidão é um caminho para o divino, não um fim em si própria: o seu reino não é a oficina, mas um céu indistinguível da terra. A sua forma perfeita seria o hai-kai, o contado número de sílabas para conter o máximo de emoção. (...) E os há em seus poemas.”


Publicações:

·         “A Hora Maior”, poesia, 1º prêmio da União Brasileira de Escritores, 1970;
·         “Viaje ao reino de Cora Coralina”, ensaio, El Urogallo, Madrid, 1996;
·         “Arremesso livre”, poesia, Rio de Janeiro, Editora Relume Dumará, 2004;
·         “Os Cine-jornais sobre a construção de Brasília”, ensaio, MinC/SPHAN/Pró-memória, Rio de Janeiro, 1988;
·         Participação em:
antologias (“Poesia de Brasília”, organização de Joanyr de Oliveira; “Deste Planalto Central”, organização de Salomão Sousa, entre outras);

suplementos literários e revistas (“Poesia Sempre”, Fundação Biblioteca Nacional; “Tropos”, Michigan State University, entre outras);

sites, blogs e revistas eletrônicas (“Cronópios”, “Casa das Musas”, “Máquina do Mundo”, “Diversos afins”, entre outros).    

Lohan: Vera Americano, primeiramente, é um imenso prazer recebê-la aqui, neste evento poético virtual de âmbito nacional. Vera, eu já li um livro de sua autoria, o Arremesso Livre, e também alguns poemas encontrados apenas na Internet, em sites como o do Antonio Miranda (www.antoniomiranda.com.br). Percebe-se uma singularidade incomparável, pelo menos sob meu ponto de vista, em sua poesia, bem como um teor hermético que instiga o leitor. Plagiando a pergunta que Júlio Lerner fez à Clarice Lispector numa de suas entrevistas, você se considera uma escritora hermética? Afinal, o que é o hermetismo para você?

Vera: Se há hermetismo, acredite, não é intencional. Possivelmente, minha opção pela economia e pela concisão do verso possa levar a esse juízo. Ocorre que, como efeito direto da concisão, o texto poético carrega consigo várias e generosas camadas de sentido, o que, por sua vez, pode suscitar múltiplas leituras. A meu ver, uma dicção prolixa, ao contrário, entrega ao leitor o poema decantado, o que pode lhe arrefecer o ímpeto de atribuir aos versos novos sentidos nascidos de sua própria leitura. É bom ressaltar, no entanto, que, obviamente, não se trata de uma regra geral. Há primorosas e magistrais exceções, poetas que são autênticos ícones, cuja opção pelo poema de longo curso não cala as muitas vozes de suas obras. No meu caso específico, a economia verbal é uma das formas utilizadas para se alcançar o que se poderia chamar de efeito poético, o que tem a ver com a emoção, com o envolvimento, com a surpresa. 

Lohan: Meu primeiro contato com seus poemas foi pela Internet. Muitos poetas sofrem com o anonimato e com a não valorização editorial de suas poesias. Haja vista esta problemática, a utilização desta ferramenta (Internet) para a divulgação da poesia estaria se dando de modo emergente?

Vera: Sim, não há dúvida. Mesmo os autores apegados ao papel, à edição convencional, têm se rendido ao imenso vigor demonstrado pelas novas mídias. É conhecido o árduo caminho que um poeta precisa trilhar até o prelo de uma editora. Democraticamente, a web tem expandido as possibilidades de divulgação da poesia e, por isso mesmo, anda provocando um merecido e saudável reboliço. A meu ver, a facilidade oferecida por esse caminho tem favorecido, também, a proliferação de uma certa gratuidade, o que, no entanto, não ofusca nem a significativa produção de qualidade disponível nesse meio, nem a revelação de novos talentos.      

Lohan: O modo de eliminação deste concurso se dá através da soma das notas dos jurados e, posteriormente, pela decisão do público (voto pela enquete). O que você pensa a respeito dessa interação do público no concurso? Existe justiça neste modo de eliminação ou esse molde (voto popular) banaliza a poesia?

Vera: Não banaliza, de forma alguma. Entendo que o voto popular, geralmente carregado de subjetividade, é muito importante para testar o apelo dos poemas concorrentes. Essa tal de subjetividade - fator concorrente em qualquer avaliação de um texto literário - dificilmente deixa de existir, a menos que se lance mão de parâmetros analíticos de natureza estritamente técnica. Assim, à parte o juízo mais crítico e, digamos, mais especializado dos jurados, a participação popular, como já afirmei, me parece muito importante. Além disso, não se pode deixar de valorizar esse tipo de interação do ponto de vista do incentivo e do despertar do gosto pela leitura de poesia. Nesse sentido, em particular, a iniciativa dos Autores S/A é admirável e merecedora de todo aplauso.     

Lohan: Nesta etapa do concurso, os poetas competidores produziram haicais. Lido os haicais, peço-lhe que deixe uma mensagem a todos eles e, também, ouso lhe pedir: por que não um haicai de sua autoria, especialmente para o concurso?

Vera: Vamos lá, poetas! É chegada a rodada dos haicais! Não parece excessivo rememorar que o haicai (ou hai-kai, como no original japonês), forma poética de reduzidas proporções e de grande impacto, tradicionalmente ligado à observação da natureza, traduz, com extrema concisão, um olhar, uma sensação, uma impressão. De um só fôlego, o poeta transmite, por exemplo, uma mínima fração do tempo, um roçar de asas, a queda de uma pétala. De essência contemplativa, abrindo espaço para a reflexão, o haicai lança mão de uma linguagem poética sutil e delicada, mas, ao mesmo tempo, direta e objetiva, dispensando adornos, metáforas, devaneios.
O maior desafio recai na escolha das palavras. Já que são tão poucas, elas costumam ser extremamente precisas: o flash de um efêmero instante contido no total de escassas 17 sílabas poéticas. Originalmente, o haicai dispensava a rima, mas a tradução ocidental fez com que o primeiro verso, quase sempre, rimasse com o terceiro. No entanto, autores de reconhecida competência na composição de haicais dispensam a rima. Assim, desde que mantidas as regras estabelecidas pelo concurso relacionadas à metrificação (o primeiro verso com 5 sílabas poéticas, o segundo com 7, o terceiro com 5), à necessidade de titulação e às características essenciais inerentes ao gênero, os haicais foram bem-vindos, com ou sem rima.
Parece-me indispensável frisar que os haicais concorrentes formam um precioso conjunto de muito bom nível. A regra de atribuição de título, estabelecida pela organização do concurso, foi habilmente explorada por grande parte dos concorrentes. Esses poetas converteram a obrigatoriedade em um eficaz recurso: a atribuição de uma chave para a leitura e consequente ampliação da voltagem poética de seus versos. 
A todos os poetas concorrentes, meu louvor, meu incentivo!  Que se abram à serenidade, à inspiração e ao trabalho! E que venha a poesia!
Boa sorte a todos!  E a propósito:

ZEN

sábia perfeição:
as corolas da manhã
aguardam a sombra.


       Autora: Vera Americano
(Poema inédito de Vera Americano, concedido especialmente para o I Concurso de Poesia Autores S/A).

SUGESTÃO DE FILME

Além das leituras sugeridas nas entrevistas acima, o jurado Ângelo Farias, que, por força maior, não pôde comparecer nesta rodada como jurado, deixou uma boa dica para os poetas:

Ângelo: Assistam a tudo do diretor cinematográfico Akira Kurosawa. E quem sabe até “O Último Samurai”, do diretor Clint Eastwood. Vale a pena!

POEMAS COMENTADOS E NOTAS (NOTAS DE: 05 a 10)
                                       
Pseudônimo: Cervan
Poema: Anunciação

Ludmila Maurer: Boa narração ao título; falta a musicalidade. Métrica pertinente.
Nota: 7

Tânia Diniz: Originalidade, boa imagem.
Nota: 8,5

Edson Kenji: Não vejo razão para o último verso a não ser fechar o poema com palavras bonitas. Você pode encarar os primeiros dois versos como o “zoom” de alguma coisa. Use o terceiro verso para dizer que coisa é essa.
Nota: 5

Vera Americano: Cervan lança mão do título para anunciar o desdobramento da sua observação de uma determinada situação da natureza. A menção à chuva e ao vento dirige com eficácia a interpretação do haicai, que alcança seu objetivo formal e poético.   Observa a métrica e o título cumpre a função esperada.
Nota: 8,5

Pseudônimo: Príncipe Desavisado
Poema: Às cores

Ludmila Maurer: A falta de pontuação sugere diferentes leituras e, por isto, seduz.
Falta a exata métrica.
Nota: 7,5

Tânia Diniz: Muito original, métrica quase perfeita, pois há elisão em do...ou-to-no.
Nota: 9

Edson Kenji: Folhas que caem são mais apropriadas ao inverno, e não ao outono. De qualquer maneira, a imagem é interessante: uma folha “amorenada” (e velha) cai sobre pele dourada de sol ou naturalmente morena (presumivelmente jovem), anunciando a mudança da estação. Não é preciso dizer “cores” no primeiro verso, pois elas já abundam no texto.
Nota: 7

Vera Americano: Príncipe Desavisado desenvolve com competência o tema, de alto efeito plástico e poético. A natureza é representada em suas cores outonais e a imagem expressa pelo terceiro verso estabelece a ligação entre o poeta e o mundo. Observa a métrica, mas o título deixa a desejar, por esvaziar, pela repetição, a força do primeiro verso.
Nota: 8

Pseudônimo: León Bloba
Poema: Arrebol

Ludmila Maurer: Valeria alcançar a métrica para se deixar expor suas possíveis sugestões: escuridão do ocaso, diminuição do prestígio, enfraquecimento, limite. Obviamente a sugestão principal da cor avermelhada do crepúsculo se mantém.
Nota: 7,5

Tânia Diniz: Bonito. Métrica a desejar.
Nota: 9

Edson Kenji: Não há nada aqui, a não ser a repetição, por três vezes, e usando palavras diferentes, da mesma coisa. Para não passar despercebida, cito a brincadeira com a palavra haicai no terceiro verso.  Tente enriquecer o poema com observações do seu entorno.
Nota: 5

Vera Americano: León Bloba opta por um bom tema. Embora seja fiel às regras definidas pelo concurso, não é muito feliz na seleção das palavras, resvalando para um tom discursivo, alheio ao haicai.
Nota: 7

Pseudônimo: Anjo
Poema: Cometa Halley

Ludmila Maurer: Esta forma clássica de poesia japonesa composta de três versos curtos que, sendo aparentemente banal, precisa dizer coisas tocantes, tocar poeticamente o intocável. Faltou a poesia; êxito na métrica.
Nota: 7

Tânia Diniz: Linda imagem. Sem a métrica desejável.
Nota: 8

Edson Kenji: Apenas uma tentativa de resumir a definição de cometa: astro que viaja pelo céu, carregando fragmentos de outros astros e deixando um rastro brilhante.  Olhe para o céu noturno e descreva a sua experiência real.
Nota: 5

Vera Americano: Anjo constrói um flash de grande originalidade. Atento à tradição de observação da natureza, adota-a de um ângulo imprevisto. Assim, apesar do tema aparentemente simples e do efeito singelo, obtém bom impacto poético, com reverberações visuais.  Observa a métrica e o título funciona bem.
Nota: 8,5

Pseudônimo: Paracauam
Poema: Cupido

Ludmila Maurer: Maiores ilações teríamos explorando o campo semântico de ‘penas’ se no singular. Métrica justa.
Nota: 7

Tânia Diniz: Originalidade, bom jogo de palavras e imagens.
Nota: 9,5

Edson Kenji: Os versos são muito abstratos. O haicai deve ser visual, ou melhor, sensorial. O que a passagem da primavera provoca? Diga isso não de forma genérica, mas específica, com nomes.
Nota: 5

Vera Americano: Paracauam desenvolve muito bem o tema escolhido, obtendo alta voltagem poética. Reporta sutilmente à natureza, sem fugir da tradição, estabelecendo, com muita propriedade, a sua ligação com a persona poética do autor, artifício que revitaliza a forma. Observa a métrica e o título é habilmente incorporado ao haicai.
Nota: 9,5

Pseudônimo: Bambina
Poema: Frescor Aromático

Ludmila Maurer: Métrica e campo semântico mais explorados emplacariam maiores atributos.
Nota: 6,5

Tânia Diniz: Interessante imagem. Métrica a desejar.
Nota: 8

Edson Kenji: O perfume das flores e a brisa benfazeja são sinais da primavera. Ao invés de fazer uma simples enunciação, tente dizer o que essa brisa provoca nas pessoas ou em si mesmo.
Nota: 5

Vera Americano: Bambina cumpre o que promete no título escolhido, aludindo ao frescor da estação. Entretanto, o desenvolvimento do tema deixa um tanto a desejar, com frágil impacto poético. A métrica foi observada.
Nota: 7,5

Pseudônimo: Alan de Longe
Poema: Gato Matreiro

Ludmila Maurer: Ainda que se tenha imprimido a serenidade, acredito no porvir de seu texto, sobretudo se na métrica.
Nota: 6,5

Tânia Diniz: Lindo, métrica correta.
Nota: 9,5

Edson Kenji: O cenário é de dolência e tranquilidade. Não é necessário apontar isso com a palavra preguiça.
Nota: 5

Vera Americano: Alan de Longe é bastante original ao aliar a linguagem coloquial do título ao tema de inspiração tradicional, pintando um quadro de notas contemplativas. A métrica foi observada.   
Nota: 8

Pseudônimo: O Velho
Poema: Hemerocale

Ludmila Maurer: Sublime melodia, boa metáfora (ainda que desgastada) no tocante à efemeridade da erva em questão. Como alguns vários participantes, peca na métrica estipulada.
Nota: 7

Tânia Diniz: Muito bonito. Métrica a desejar.
Nota: 8,5                                                       

Edson Kenji: É um aforismo que ficaria bem numa trova filosófica, mas não é adequado a um haicai. Descreva uma flor de verdade. Se ela dura apenas um dia, diga o que acontece quando ela murcha.
Nota: 5

Vera Americano: O Velho escolhe com muita competência o título para introduzir o tema, a ele perfeitamente integrado.  Para além de ser a designação da efêmera flor de um dia referida no primeiro verso, a palavra do título carreia para os versos sua potente raiz grega: hemero (dia) + kallos (beleza).  A observação da natureza atinge em seu haicai um belo efeito poético, com seu espaço de reflexão valorizado pela observância da métrica e da sensível e rigorosa seleção de palavras. Destaque-se que, no conjunto, é o único a lançar mão do recurso da rima.
Nota: 9,5


Pseudônimo: Ivanúcia Lopes
Poema: Mosaico

Ludmila Maurer: Boa alusão à realidade contemporânea fragmentada. Boa pontuação sugerindo os estilhaços colados. Há ainda uma ambiguidade no verbo ‘decorando’, pertinente à arte poética. Falta apenas o rigor à métrica estipulada: 5/7/5 sílabas.
Nota: 8,5

Tânia Diniz: Interessante a imagem. Métrica a desejar.
Nota: 8

Edson Kenji: Surrealista. Permita que o leitor visualize o haicai, ao invés de lançar-lhe charadas. Descreva o que fazem de concreto essas pessoas.
Nota: 5

Vera Americano: Ivanúcia Lopes escolhe um tema diferenciado, desligado da observação da natureza inerente à tradição do haicai, adotando um viés contemporâneo, que resvala para a crítica social. No entanto, o potencial poético do tema não é bem desenvolvido e perde força pelo uso excessivo do gerúndio. A métrica não foi observada.
Nota: 7

Pseudônimo: R.
Poema: O Ipê

Ludmila Maurer: ‘Partir’ como sugestão a perder velhos hábitos, ‘florir’ enquanto os novos e viver transformando-se.
Nota: 7,5

Tânia Diniz: Interessante. Métrica a desejar.
Nota: 9

Edson Kenji: Pensamento e conclusão do autor. Quanto mais elaborados, pior para o haicai. Observe um ipê florido e espere que ele lhe diga algo, antes de reciclar velhos conceitos.
Nota: 5

Vera Americano: R. adota um tema sereno, que favorece a obtenção da feição contemplativa do haicai, apesar da seleção de palavras singelas. Observa a métrica.
Nota: 8

Pseudônimo: Aline Monteiro
Poema: Outono

Ludmila Maurer: Bela simplicidade de palavras, sutil metáfora pinçando o sentimento.
Nota: 8,5

Tânia Diniz: Bonita imagem. Métrica a desejar.
Nota: 9

Edson Kenji: Trata-se de uma simples exposição dos estereótipos do outono como estação de temperatura amena e de nostalgia. Procure observar as transformações que a estação provoca nos homens e na natureza.
Nota: 5

Vera Americano: Aline Monteiro obtém um belo efeito, remetendo, sem qualquer artifício de linguagem, à contemplação intimista e delicada do outono. O tema é explicitado no título, que se incorpora de modo natural ao haicai. A métrica foi observada.
Nota: 9

Pseudônimo: Paul Celan
Poema: Perdão

Ludmila Maurer: Ainda que haja a metáfora, falta a poesia maior. Erro na métrica estipulada.
Nota: 6

Tânia Diniz: Interessante, boa métrica.
Nota: 8,5

Edson Kenji: A primavera traz esperança e redenção. Mas, se há idéias a demonstrar, elas devem ser veiculadas com a linguagem da natureza, e não com raciocínios.
Nota: 5

Vera Americano: Paul Celan é feliz na escolha do tema, mas o desenvolvimento deixa a desejar. O título escolhido esvazia a força do segundo verso, comprometendo o efeito poético. Observa a métrica.
Nota: 7,5

Pseudônimo: Semprepoeta
Poema: Primavera Dourada

Ludmila Maurer: Bela imagem: força da cor, força da flor, força da estação.
Nota: 8

Tânia Diniz: Boa imagem.
Nota: 8,5

Edson Kenji: Pensamento e conclusão do autor. O haicai é uma maneira de repartir sensações e descobertas. Ao entregar sua conclusão pronta, o autor nega ao leitor o encanto da descoberta. Observe o girassol sem julgar.
Nota: 5

Vera Americano: Semprepoeta promove um instante contemplativo, apesar da singela seleção de palavras e do frágil impacto poético.  A métrica foi observada.
Nota: 7,5

Pseudônimo: J. J. Wright
Poema: Satori

Ludmila Maurer: Um pássaro canoro e migratório vivendo seu avesso. Isto é poesia, porém falta a métrica.
Nota: 7,5

Tânia Diniz: Bela imagem, original, métrica perfeita.
Nota: 9,5

Edson Kenji: Flor virginal pode ser uma flor idealizada, tal como a do poema de Machado de Assis. Mas talvez seja apenas uma flor recém-desabrochada, mais apropriada ao haicai.  Não sei qual é o tamanho da que flor se refere o poema, mas creio ser mais apropriado dizer “ao lado da flor” ou “entre as flores”. Além disso, cochilo já implica em tranquilidade. Evite redundâncias. 
Nota: 6

Vera Americano: J. J. Wright adota o haicai em sua forma mais acabada, do ponto de vista da tradição. O título, bem escolhido e inteiramente integrado ao desenvolvimento do tema, anuncia os versos que se seguem, traçados a pincel, com extrema delicadeza.  Sem fechar a porta à interpretação, abre espaço para a pura contemplação. Observa a métrica.
Nota: 9

RESULTADO DO CAMPO PLATÔNICO DO TOP 15

De acordo com as notas atribuídas pelos jurados, os três poetas menos votados nesta rodada que irão disputar no Campo Platônico a permanência na competição são:

*BERNARDO CABRAL (Por “João-de-barro” – 28 pts.)
*BAMBINA (Por “Frescor Aromático” – 27 pts.)
*PAUL CELAN (Por “Perdão” – 27 pts.)
(Acesse o perfil desses candidatos no blog, e saiba mais sobre o histórico deles neste concurso).
Eis o ranking desta rodada (votação dos jurados):
1º J. J. Wright (Por "Satori" - 32 pts.)
2º Príncipe Desavisado (Por "Às cores"- 31,5 pts.)
3º Aline Monteiro (Por "Outono" - 31,5 pts.)
4º Paracauam (Por "Cupido" - 31 pts.)
5º O Velho (Por "Hemerocale" - 30 pts.)
6º R. (Por "O Ipê" - 29,5 pts.)
7º Cervan (Por "Anunciação" - 29 pts.)
8º Alan de Longe (Por "Gato Matreiro" - 29 pts.)
9º Semprepoeta (Por "Primavera Dourada" - 29 pts.)
10º León Bloba (Por "Arrebol" - 28,5 pts.)
11º Anjo (Por "Cometa Halley" - 28,5 pts.)
12º Ivanúcia Lopes (Por "Mosaico" - 28,5 pts.)
13º Bernardo Cabral (Por "João-de-barro" - 28 pts.)
14º Bambina (Por "Frescor Aromático" - 27 pts.)
15º Paul Celan (Por "Perdão" - 27 pts.)



Apenas um (1) desses três candidatos (em vermelho) irá se salvar. Dirija-se à enquete ao lado e vote naquele que você deseja que seja o eliminado da competição. Os dois menos votados deixarão o I Concurso de Poesia Autores S/A. Agradecemos a atenção de todos. Parabéns aos que resistiram nessa rodada e boa sorte aos candidatos que estão no temido Campo Platônico. A votação será encerrada amanhã, às 22:30 horas. Obrigado, Autores S/A.
O que acharam do resultado do Top 15? Comentem!





Editora Multifoco - Patrocinadora do Concurso.

9 comentários:

Ray disse...

Pra mim o Arrebol é o melhor!!!Nota dez pra ele!!!!

Anônimo disse...

Ótimas avaliações!
Parabéns aos organizadores, participantes e jurados!!

Muito bom mesmo!

Ah...eu adorei a "surrealidade" do haicai de Ivanúcia Lopes. MARAVILHOSO!!

Anônimo disse...

Amei Léon Bobla!Ele é lindo, perfeito, suscita imagens incríveis!

Anônimo disse...

Estou adorando os poemas, e o empenho de cada poeta, não houve poesia ruim, pena que alguém tenha que sair, mas acho que não há coerência nos julgamentos, cada jurado fala uma coisa antagônica a outra referindo-se ao mesmo texto.
Estranho.
Não entendi o jurado que deu 5 pra todo mundo e o poema ao qual ele deu nota 6, foi um dos menos pontuados.
Estranho novamente.

Anônimo disse...

Parabéns a todos! Fico muito feliz de ter meu haicai lido por pessoas tão competentes!
Abraços!

Anônimo disse...

Ao anônimo de 14:23min.

Como assim o poema que o Edson deu 6 foi um dos menos pontuados?? Pelo o que vi lá no ranking, ficou em primeiro lugar dos mais pontuados. Estranho foi o seu comentário...

Anônimo disse...

Isso mesmo, ele deu 6 para o haicai João-de-Barro, que foi eliminado. É coisa de jurado, isso acontece nos melhores concursos, né? Quanto a métrica, há uma certa discordância entre eles sim. Uma jurada disse que a métrica de um poema foi certa, a outra disse que não...

Ana Beatriz Manier disse...

Lindo o Haicai "Cupido". Meu predileto.

Ana Beatriz Manier disse...

Lohan, ótima a entrevista com Vera Americano. Foi você que nos apresentou seus poemas, lembra? Obrigada!
bjks.