sábado, 23 de julho de 2011

Comentários, notas e anúncio do Campo Platônico do Top 9

APRESENTAÇÃO:

Jurados: Ângelo Farias e Nilto Maciel.

Jurados convidados: Hélio Alvarenga Nunes e Paulo Fodra.

NOTA:

A jurada Ludmila Maurer não pôde participar do Top 9, por motivos pessoais. Ela mandou um “boa sorte” a todos os poetas.

Hoje teremos a presença de dois jurados especiais: Hélio Nunes é Mestre em Artes e doutorando em Artes na Escola de Belas Artes. Sua visão direcionada à imagem que foi proposta aos poetas foi de suma importância para o resultado da análise dos poemas do Top 9. Já Paulo Fodra é o jurado que, até então, mais se aproximou do mundo dos poetas desta competição. Escritor, Paulo Fodra divulga seus textos em um blog, e seu olhar leitor, além da intimidade com o mundo virtual, também contribuiu bastante para esta avaliação.

Hélio Alvarenga Nunes

Observação: a entrevista com Hélio será publicada posteriormente.

Doutorando em Artes na Escola de Belas Artes (EBA) da UFMG, bolsa CAPES. Mestre em Artes pela EBA-UFMG, bolsa FAPEMIG, com a dissertação Pintura para catálogos: notas sobre o arquivamento da arte, defendida e indicada para publicação em 2009. Graduado também pela EBA-UFMG, habilitação em pintura, em 2005. Integra o grupo de estudos e pesquisa Estratégias da arte numa era das catástrofes, liderado pela Profª Drª Maria Angélica Melendi de Biasizzo. No 2º semestre de 2009, foi professor substituto, com bolsa REUNI, das disciplinas Artes Visuais II e Artes Visuais no Brasil II, ambas do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, EBA-UFMG. Em 2005, foi bolsista de iniciação científica no projeto Memória, mimese, amnésia: criação museológica virtual sob coordenação da Profª Drª Mabe Machado Bethônico, participando da elaboração de diversos aspectos do projeto museumuseu relacionado. O trabalho resultante, Criação de coleções, inventários e “tatogartas”, foi selecionado como um dos melhores na área de Lingüística, Letras e Artes na XIV Semana de Iniciação Científica da UFMG. Foi monitor da disciplina Técnicas e Materiais Pictóricos em 2003. Administra o site: http://www.dedalu.art.br/#info


Entrevista com Paulo Fodra

Paulo Fodra nasceu e vive em São Paulo. Formou-se arquiteto, mas trabalha com marketing e branding. É também músico, membro da banda Chevy 69, arqueiro e leitor compulsivo. Viciado na agitação da metrópole, escreve para se livrar das vozes que moram em sua cabeça. Participou da coletânea steampunk Deus Ex Machina – Anjos e Demônios na Era do Vapor (Editora Estronho, 2011), com o conto “A Seita do Ferrabraz”. Seu livro de microcontos Insólito – microalucinações (Selo 3x4, Editora Multifoco), tem lançamento previsto para outubro de 2011Mantém o twitter @paulofodra e divulga seus contos fantásticos no site www.paulofodra.com.br.  

Lohan: Olá, Paulo, primeiramente, é um prazer recebê-lo aqui no Autores S/A. Escritor, blogueiro, arquiteto, músico, arqueiro, trabalha com Marketing... Quantas especialidades o compõem! Quais as semelhanças que você pode identificar entre ser um arquiteto com o ser um escritor? 

Paulo Fodra: O ofício do arquiteto, mais do que desenhar e construir, é organizar o espaço. É materializar uns sonhos e desejos. É se conectar às pessoas e provocar emoções. Escrever também é mais do que juntar palavras. É construir uma imagem dentro da cabeça de outra pessoa. Essa imagem, assim como a arquitetura, precisa de planejamento e técnica para a execução. Só que esses dois fatores, sozinhos, não têm a capacidade de emocionar um indivíduo. É uma equação delicada e deliciosa de se equilibrar.

Lohan: Em seu perfil na rede virtual, você diz que ''escreve para se livrar das vozes que moram em sua cabeça''. Desde quando você ''ouve'' essas vozes, Paulo? Quando se descobriu escritor, e como?

Paulo Fodra: A mesmice sempre me inquietou. Nunca me conformei com a rotina enquanto pano de fundo para a vida. Viver é sentir, experimentar. Por isso, sempre imaginei novas formas de fazer velhas coisas. Nunca me contentei, por exemplo, em escrever uma redação "Minhas férias" como as que os meus colegas liam, ano após ano, na escola. Não queria dizer o que todo mundo dizia, pois sentia que havia mais a ser dito. Nunca me contentava com uma explicação superficial. Escrever foi o modo que encontrei de canalizar a minha visão pessoal do modo como as coisas são, para compartilhá-la com outras pessoas.

Lohan: Paulo, você é blogueiro, e também já participou de uma antologia. Os melhores poemas deste concurso formarão uma antologia, que será publicada pela editora Multifoco. Você, que está imerso nesta realidade dos blogs, acredita que pode nascer daqui, deste concurso realizado no Autores S/A, um grande nome da literatura?

Paulo Fodra: Atualmente, tenho visto muitos talentos à deriva. A maior dificuldade continua sendo ser ouvido pelo público certo. Nesse processo, conta muito o empenho pessoal do autor,  os projetos encampados por blogs como o Autores S/A. Vamos torcer!

Lohan: Pra finalizar, qual é o conselho que você deixa aos poetas competidores, Paulo? Na sua opinião, qual será o perfil do poeta vitorioso neste certame?

Paulo Fodra: O grande conselho que eu dou para quem está no concurso, ou mesmo procurando sua trilha pela escrita, é insistir até encontrar uma voz própria. Ou várias. O que não se pode, nem se deve fazer, é ignorá-las ou sufocá-las pensando no lado comercial. Tapinhas nas costas são bons de vez em quando, mas ser porta-vozes é uma imensa e solitária responsabilidade. Ir contra isso não vale a pena.

SUGESTÃO DE LEITURA:
Hoje a dica de leitura é da jurada Ludmila Maurer que, embora ausente, enviou esta grande sugestão:
- O arco e a lira, de Octavio Paz. Ed. Nova Fronteira.

POEMAS COMENTADOS E NOTAS (NOTAS DE: 05 a 10)

Pseudônimo: Ivanúcia Lopes
Poema: Autoapresentação

Ângelo Farias: Bela associação de imagens, líricos início, meio e fim. Mas, infelizmente, há uma proposta.
Nota: 6,5

Nilto Maciel: Bom poema, mas parece ter sido escrito antes de o poeta ver a imagem do homem a empurrar o pacote.
Nota: 8

Hélio Nunes: Bela escritura da intervenção, mas em geral...
Nota: 9

Paulo Fodra: Uma bela representação da loucura que é, sem sombra de dúvida, uma das interpretações que surgem da imagem proposta. Bem trabalhada, coesa, a ponto de ser autônoma. Faltou apenas um diálogo mais direto com a imagem.
Nota: 9

Pseudônimo: Príncipe Desavisado
Poema: Branco gelo

Ângelo Farias: Procura também evidente por coesão com a referência, mas de qualidade de transmissão opaca. 
Nota: 7

Nilto Maciel: Chama a atenção a repetição de sons como “parcas marcas”, “calos que se calam”, “voa caçoa atordoa”, como se poesia fosse simples e pura diversão.
Nota: 7

Hélio Nunes: De várias imagens que se lê, uma que se vê.
Nota: 9

Paulo Fodra: Eficiente ao construir uma via crúcis dúbia. Se por um lado o protagonista é oprimido pela rotina árdua do seu fardo, por outro, sofre sozinho, pois seu esforço não é percebido aos olhos dos outros. Mais do que a recriação da imagem, o autor transparece uma nova história, oculta a quem meramente observa.
Nota: 9

Pseudônimo: O Velho
Poema: carregamentos móveis

Ângelo Farias: Aproveitamento de traços simbólicos de personagens literários e procura por coesão com a referência. 
Nota: 7,5

Nilto Maciel: A intertextualidade com Drummond, a mitologia grega e outras literaturas faz deste poema uma obra de arte.
Nota: 9

Hélio Nunes: “Tradutor, traidor”, mas também respeito verdadeiro por este outro, que é um outro-imagem.
Nota: 9,5

Paulo Fodra: Esse poema apresenta um ritmo melodioso, quase lúdico, que reforça a jornada inútil do “quixote abnegado” com a sensação de ir e vir sem fim. O autor optou por fazer uma tradução bem literal da imagem apropriando-se do absurdo para figurá-la no cotidiano opressor. Dentro dessa proposta, o trabalho está bem apurado e coeso.
Nota: 9,5

Pseudônimo: J. J. Wright
Poema: Errata

Ângelo Farias: Procura mais consistente por sinergia – insistirei nesses termo em todos os sentidos. 
Nota: 7

Nilto Maciel: Este é poema exato, matemático, certeiro feito flecha fincada no coração.
Nota: 10

Hélio Nunes: Quando se analisa uma imagem, sua legenda conta, e também o gosto do freguês – Por que não? – pode refazê-la: a ironia tem seu lugar.
Nota: 9,5

Paulo Fodra: Apesar da forma original e charmosa com que o autor busca reconstruir a imagem, ela não fica muito clara, ao final. A mera substituição das palavras, mesmo se levadas ao campo das idéias que elas representam, não trazem a completude do insight autoral. Falta a centelha que provocaria, na cabeça do leitor, uma forma nova de se olhar a imagem que, uma vez instalada, se mostraria irreversível.
Nota: 8,5

Pseudônimo: Alan de Longe
Poema: Impassividade

Ângelo Farias: Em si é interessantíssima, mas abstrai até o alheio. 
Nota: 7

Nilto Maciel: Protestar em poesia é tão difícil.
Nota: 6

Hélio Nunes: Aguardo as demais voltas nos círculos do Inferno...
Nota: 8

Paulo Fodra: O poema se apropria da imagem proposta buscando um significado simbólico para ela. Esse significado é interessante em si, mas a execução, a forma com que esse significado foi construído, deixou escapar alguns detalhes que diluíram o efeito final. A representação simbólica demanda uma construção imagética eficiente pois visa criar uma ponte entre o mundo das idéias e o mundo real. Acredito que se o autor evitasse figuras lugar-comum como “gelo da indiferença” e trabalhasse melhor o conceito de “peso da cultura cristã ocidental”, alcançaria um resultado melhor.
Nota: 7,5

Pseudônimo: León Bloba
Poema: Sísifo

Ângelo Farias: Mais uma vez vale rever Sísifo e também Camus. Há paradoxos intrigantes e outras iluminações – talvez as de Rimbaud.  E há contradições.  E a pouco se liga ou potencializa.  
Nota: 7

Nilto Maciel: A imagem apresentada aos poetas remete sempre a Sísifo. Neste poema o poeta sabe disso: “ao mito sou remetido”. Bem realizado o poema.
Nota: 8

Hélio Nunes: “Ao mito sou remetido” também; gostaria de ir mais adiante.
Nota: 7,5

Paulo Fodra: O autor traça um paralelo da imagem com o mito de Sísifo, construindo sua dedução através de uma sequência lógica fato>mito>fato+mito>conclusão conduzida com habilidade. Ótimo exemplo de intenção executada com apuro. Dentre os poemas apresentados, é o que produziu em mim a imagem mais marcante.
Nota: 10

Pseudônimo: Paracauam
Poema: Sísifo

Ângelo Farias: Poesia também com valor de per si, mas é preciso rever Sísifo e Camus.  Mesmo se não for o caso, é visita sempre prazerosa.
Nota: 6,5

Nilto Maciel: Muito palavroso. O título não se justifica.
Nota: 7

Hélio Nunes: Este Sísifo precisa de mais cenas, para ser aquele que sabe enquanto sobe, bem como aquele que sabe enquanto desce, o do Absurdo.
Nota: 8

Paulo Fodra: A divisão do poema em três cenas mais complica do que contribui para o resultado final. A referência à imagem se torna explícita apenas na “Cena III”, que é a mais forte e impactante no sentido de construir uma imagem indelével na mente de quem lê. Se o autor tivesse se limitado a ela, poderia ter conseguido maior efeito em representar a imagem. Por outro lado, talvez não dissesse tudo o que gostaria com o poema. Assim, as duas primeiras cenas demandariam um trabalho mais intenso para formar, cada uma por sua vez, imagens únicas, nítidas, e consonantes com o enredo que o autor vislumbrou.
Nota:7,5

Pseudônimo: Aline Monteiro
Poema: Sonho

Ângelo Farias: Vislumbra-se um desejo de coesão, mas é preciso aqui que seja manifesto.
Nota: 6

Nilto Maciel: Muito lugar-comum.
Nota: 6

Hélio Nunes: “Dieu, touché de remords, avait fait le sommeil”.
Nota: 10

Paulo Fodra: Construído somente de efeitos, sem nenhuma causa aparente ou mesmo intuível, esse poema se revelou hermético à minha percepção, além de desconectado da imagem proposta. Pode até ser que a imagem tenha inspirado, em algum ponto, o poema. Se isso ocorreu, não foi explicitada em nenhum momento a ligação. Explorá-la talvez enriquecesse o texto, dando sentido à imagem construída com os versos.
Nota: 7

Pseudônimo: Cervan
Poema: turrão

Ângelo Farias: A poesia tangencia a ilustração.  Tem valor de per si, mas cria pouca sinergia.
Nota: 6

Nilto Maciel: Contido, como a imagem do homem a empurrar no chão o objeto. Só não gostei do título. Poderia ser “Sísifo”.
Nota: 7

Hélio Nunes: Nem sempre é necessário magoar-se, a ponta da faca é alvo inelutável e só. Em tamanha síntese, gostaria de um loop mais pontiagudo.
Nota: 7,5

Paulo Fodra: Concisão é a palavra-chave aqui. Sem passar pela óbvia descrição da imagem, o autor conseguiu traduzí-la em significado de maneira sintética e objetiva. O grande mérito desse tipo de abordagem é o impacto que ela pode causar, se trabalhada de maneira adequada.O autor foi muito feliz nesse intento.
Nota: 9

SORTEIO DO LIVRO DO GERALDO LIMA: NÃO HOUVE VENCEDOR! NINGUÉM ACERTOU O POETA MAIS VOTADO DESTA RODADA (O VELHO). O SORTEIO FOI ADIADO PARA A PRÓXIMA RODADA. ATÉ LÁ E OBRIGADO A TODOS PELA PARTICIPAÇÃO!

RESULTADO DO CAMPO PLATÔNICO DO TOP 9

De acordo com as notas atribuídas pelos jurados, os três poetas menos votados nesta rodada que irão disputar no Campo Platônico a permanência na competição são:

*PARACAUAM (Por “Sísifo” – 29 pts.)
*ALINE MONTEIRO (Por "Sonho" – 29 pts.)
*ALAN DE LONGE (Por “Impassividade” – 28,5 pts.)

(Acesse o perfil desses candidatos no blog, e saiba mais sobre o histórico deles neste concurso).

Eis o ranking desta rodada (votação dos jurados):
1º O Velho (Por "carregamentos móveis" – 35,5 pts.)
2º J. J. Wright (Por “Errata”- 35 pts.)
3º León Bloba (Por "Sísifo" – 32,5 pts.)
4º Ivanúcia Lopes (Por "Autoapresentação" – 32,5 pts.)
5º Príncipe Desavisado (Por "Branco gelo" – 32 pts.)
6º Cervan (Por "turrão" - 29,5 pts.)
7º Paracauam (Por "Sísifo" - 29 pts.)
8º Aline Monteiro (Por ''Sonho" - 29 pts.)
9º Alan de Longe (Por "Impassividade" – 28,5 pts.)

Apenas um (1) desses três candidatos (em vermelho) irá se salvar. Dirija-se à enquete ao lado e vote naquele que você deseja que seja o eliminado da competição. Os dois menos votados deixarão o I Concurso de Poesia Autores S/A. Agradecemos a atenção de todos. Parabéns aos que resistiram nessa rodada e boa sorte aos candidatos que estão no temido Campo Platônico. A votação será encerrada amanhã, à 01:00 hora. Obrigado, Autores S/A.
O que acharam do resultado do Top 9? Comentem!

4 comentários:

Anônimo disse...

Parabenizo a todos os poetas e organizadores do concurso por mais esta rodada.
E parabéns, Velho!

*

Obrigado pelos votos e críticas do TOP9.

León Bloba

Anônimo disse...

Léon, deixe de ser Bloba (eheh) sua poesia é magnífica, eu mesmo votei nela, parabéns aos classificados e , reconheço que está difícil votar no campo platônico.
Obrigado a todos os envolvidos.

O Velho

Anônimo disse...

Obrigado, Velho! Bloba é sobrenome, tá aqui na história do pseudônimo! hehehe!

Nesta rodada, achei muito boa a ideia de chamar como jurados-convidados uma pessoa da área das belas artes (trazendo uma avaliação diferente) e uma pessoa que saca de poesia, traz um olhar fresco e está ligado ao www. Foram comentários cuidadosos e atentos aos poemas do top9.

León

Camila disse...

O último comentário foi excluído devido ao seu teor ofensivo. Este tipo de prática vai contra a proposta do blog. Ninguém está aqui para ser xingado. Peço a quem postou o comentário, que o reformule (caso seja capaz) e respeite o espaço e as pessoas envolvidas.