O Novo Testamento nos conta que há mais de dois mil anos Jesus Cristo impediu uma adúltera de ser legalmente apedrejada, pois já naquelas priscas eras o Messias considerou que o ato de atirar pedras em uma mulher, ainda que pecadora, era uma ação brutal e, por isso, inaceitável, justificando-a como demasiado
hipócrita, porque todos que julgavam a mulher também
eram no devido contexto "foras-da-lei". É quase isso: se tenho cuecas de
bolinhas amarelas sob minhas calças, eu não deveria atormentar a vida
de quem as tem no armário. Esse é um dos princípios da honestidade. E da
sanidade mental. Mas eis que dois mil anos depois de Cristo, ainda
atiram-se pedras. Mas dessa vez não foi sobre uma personagem bíblica
legalmente condenada à morte, mas na vida de uma menina brasileira do
século XXI que age sabendo que pode ajudar a melhorar as coisas. Opa,
Cristo também não agiu sabendo?
Podemos dizer que essa menina é de pedra, mas preciosa. É de ouro, mas também é de fibra; uma menina que não
quer ser melhor do que ninguém, que simplesmente tem atitude, que age em
nome do que é para todos, ou seja, trata-se do que deveria ser de interesse coletivo. Mas a tal atitude dessa menina, a
crença dessa menina parece ter como princípio o Absurdo, que remete a um
outro bem maior e este sim, digno de sê-lo: essa menina de ouro seria quase única? Quase tão luminosa e solitária que
se tornaria num bater de asas uma aberração em caverna infestada de
morcegos adormecidos, e como não podia ser diferente, de cabeças lá para
baixo? Ora, então aproveitem esse raio de luz, morceguetas da nossa caverna, primitiva e
progressivamente mais obscura sociedade. E de uma vez por todas, tenham visões sensíveis
e pratiquem ações inteligentes na vida, sobre o além-mundo que as cerca. Façam-se homens e mulheres. Falta muito, eu sei, talvez a pequena distância de uma utopia
para essa tal consciência pra lá das
cavernas da ignorânica e da bestialidade florescer. Mas isso tudo é a vida, e que bom, olha a vida nos surpreendendo outra vez com o Bem, quando tudo parece Mal.
A menina é Isadora Faber e ela tem um "Diário de Classe" no Facebok. Ela pecou contra o sistema: corrupto, negligente, ineficiente e atrasado.
Camillo Landoni
fonte: inpurolandoni.blogspot.com
Um comentário:
Meu amigo, que belo texto, realmente o que essa menina faz, tão espontaneamente, é apenas exibir um retrato, de uma parcela mínima, porém muito representativa, da corrupção e do descaso de uma sociedade, como um todo.
Abraços!
Lohan
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