CHEGOU
A HORA…
A
GRANDE FINAL DO III CONCURSO DE POESIA
AUTORES
S/A!
ERAM
562...
72…
32…
16…
08…
04…
RESTAM
02.
QUEM
SE CONSAGRARÁ O CAMPEÃO
DA
TERCEIRA EDIÇÃO?
HERTON GUSTAVO GOMES X RICARDO THADEU
“A
terceira edição do concurso de poesia Autores S/A começou em agosto, com o
período de inscrições, e somente agora, no dia 4 de dezembro, descobriremos,
enfim, o nome do grande vitorioso. No entanto, sabemos que todos os
participantes saíram vitoriosos desta labuta poética. Foi uma confraternização
belíssima, que proporcionou diversos vínculos intelectuais e de amizade,
sobretudo através do grupo do Facebook, denominado “III Concurso de Poesia
Autores S/A”. E esta foi a vitória do concurso.
A final é estrelada por um poeta do Rio
de Janeiro, impetuoso e intenso; e um baiano, de Riachão do Jacuípe, comedido e
certeiro. Herton Gustavo Gomes versus Ricardo Thadeu: ambos realizaram
trajetórias consistentes neste certame. O campeão terá um livro de poemas publicado
pela Editora Patuá, fora outras premiações. Ricardo Thadeu tem uma história
curiosa nesta edição: foi reclassificado após a desistência de 04
participantes, na segunda fase do concurso. Desde então, não deixou mais a
peteca cair. Já Herton se manteve regular durante todo o certame, surpreendendo
pela coragem em se expressar tão genuinamente em seus trabalhos, deixando
prevalecer o sentimento sobre a técnica. Ricardo, o oposto de seu adversário,
conquistara a sexta colocação na primeira edição deste concurso, e, à época,
foi considerado um dos grandes destaques. Herton é estreante no certame, e sua
conduta poética tem provado, etapa após etapa, que ainda o coração pode gritar
mais alto que a razão.
Muito curiosa a configuração dessa
final. O poeta mais autêntico contra o poeta mais metódico do concurso. Suas
trajetórias ilustram isso, emblematicamente”.
Opostos que
buscam um objetivo em comum: a vitória.
Quem
vencerá este derradeiro embate?
O coração
ou a cabeça?
TRAJETÓRIA DOS FINALISTAS
Vamos relembrar a trajetória desses dois talentosos poetas
finalistas ao longo do concurso? Desde quando tudo começou… Vale a pena LER de
novo!
DE
RIACHÃO DO JACUÍPE, BAHIA:
RICARDO
THADEU
“CHAMADO”
Em Tóquio, um homem
escreve um poema:
Fantasmas transitam na
calçada da fama.
Todas as luzes se
acendem em Paris.
O universo conspira
contra os Vikings.
A mulher tem orgasmos
múltiplos.
O disco voador pousa em
Londres.
Três mariachis cantam
em Florianópolis.
Crianças morrem no
oriente médio.
O robô japonês salva a
humanidade.
O presidente do Chile
envia um SMS.
Duas mulheres se beijam
em Chernobyl.
O vampiro ataca a
mocinha indefesa.
Moisés divide o mar
vermelho em dois.
Elvis canta Love
me Tender na rádio AM.
O cowboy mata mil e
oitocentos índios.
Romeiros escalam
milhares de degraus.
Em Tóquio, o poeta para
de escrever:
O mundo inteiro para
junto.
“CONFISSÃO”
Em mim, reside Outro
que é abismo:
Ser faminto de eras
abissais.
Inquilino inadimplente
de mim mesmo,
Abasteço-me de mitos
ancestrais.
E despedaço-me em mil
absurdos:
Alimento de segredos
marginais.
“EPISÓDIO”
Com calma, componho um
abismo:
dilema criado em mim
pelo tempo.
Os atalhos das horas
são o lamento:
imenso vazio de
momentos passados.
Regulo os passos, conto
os minutos:
inútil tarefa dos
relógios de corda.
E contento-me com o
eterno retorno
atento ao despertar das
janelas.
HAIKAI:
“INVERNANDO”
o homem sertanejo
vê no escuro céu da
roça
chegar a esperança
“OUTRA
FACE”
Estou cansado deste ser
curtido,
nascido do outro lado
da tela.
Compartilho o luar da
estrada
na caravela de antigas
feridas.
Adormeço nas remotas
páginas
que cutucam outras
falsas vidas.
Assoberbado e sem tino,
espero:
o destino é uma face
indomada.
“ENREDO”
O homem é um só e se
divide
em mil balões atados
por um nó;
é um elo que, na rua,
se bifurca:
nada busca, além de
dissolver-se.
As portas expõem o ego
partido,
inflado com ar que o
outro respira.
Em mil bexigas de mil
mentiras,
o ser, na avenida, se
decompõe.
“DE
CAROL PARA CHICO”
Meus olhos fundos, tu
dizes,
são tristes, com teus
versos em riste
apontados para a
partida.
As comedidas lágrimas,
tu sabes,
nublam-me as coisas lá
de fora:
a flor que nasce, a
estrela que cai.
Se cheia de amor me
deixaste
reside ele ainda em
minhas retinas
mesmo sem existir de
fato.
Não importa a festa e
os versos
que cantaste. Nada vale
o que não vi.
Eu parti no mesmo barco
que partiste.
“FOCO”
Não há enigma nas
engrenagens
que, corroídas pela ferrugem,
que, corroídas pela ferrugem,
movem a cena:
o insone movimento dos quadros
evidencia, no oculto quarto,
as máscaras e as feridas;
a sujeira secular que forra paredes
é escondida sob a projeção
de trôpegos movimentos;
atropeladas hordas de sentimentos,
atados ao lobo fingido,
forjam lágrimas no escuro.
Alheios a tudo, na última fila,
um casal partilha outros sentidos.
o insone movimento dos quadros
evidencia, no oculto quarto,
as máscaras e as feridas;
a sujeira secular que forra paredes
é escondida sob a projeção
de trôpegos movimentos;
atropeladas hordas de sentimentos,
atados ao lobo fingido,
forjam lágrimas no escuro.
Alheios a tudo, na última fila,
um casal partilha outros sentidos.
Trova
de Ricardo Thadeu
Adornaste teu olhar
com a pura maresia;
eu, bebendo deste mar,
afoguei-me em agonia.
“COISA
DE GENTE GRANDE”
Gente grande nunca diz
O que a gente quer
saber
Existe tanta pergunta
E ninguém pra
responder.
Se o casco da tartaruga
é também a casa dela,
onde fica, então, a
janela?
Por que tem dente de
leite
e não tem dente de
café?
Caranguejo só anda de
ré?
Por que a onda vai e
volta?
Porque o mar é salgado?
Só tem água do outro
lado?
Por que a lua fica
magra?
A sombra segue a gente?
A hiena está sempre
contente?
Por que a cadeira tem
perna
e não usa meia e
sapato?
Quem faz os bigodes do
gato?
Gente grande nunca diz
O que a gente quer
saber.
E se for pra não saber
nada
Eu prefiro nem crescer.
LIMERIQUE:
O vento beijou teu
cabelo
arranjando um belo
novelo
de cordas douradas,
todas afinadas,
que dedilhei com muito
zelo.
“DISSIMULAÇÃO”
As luzes queimam, no
escuro céu:
cinzas de um ano que se
desfaz.
Esperanças transgridem
o tempo
estourado na contagem
regressiva.
Passantes, embriagados
do porvir,
cumprem o ritual de
suas biografias:
usam, como disfarce,
brancos trajes
e fingem a felicidade
da mesa farta;
pulam três ondas,
afagam amigos,
atiram ao mar pedidos e
promessas.
Várias explosões
enfeitam a virada
de pólvora e bolhas de
champanhe.
Não são os relógios que
celebram.
É o acaso que anuncia a
chegada.
DO
RIO DE JANEIRO, RJ:
HERTON
GUSTAVO GOMES
“ROTINA”
um gordo mastiga de
boca aberta um pacote de batata Ruffles
um americano
pergunta pra um brasileiro
que não entende inglês
se falta muito pra chegar
na Siqueira Campos
uma adolescente
ouve um rock meloso
com headphone
no último volume aos prantos
um velho tosse e engole o catarro
enquanto lê os classificados
da semana passada
venda e compra de carros
uma criança chata
faz pirraça por um motivo qualquer
uma moça ridícula
fala mal do marido da irmã em voz alta
e repete o tempo todo que em briga de casal não se mete a colher
dois caras falam sobre futebol
um rapaz do interior
que nunca tinha andado de metrô
sonha com um lugar ao sol
um bebê tão lindo
dorme no colo da avó
uma voz pede desculpas
pelas freadas bruscas
e eu fico com dó
dessa vez que antes
de ser desculpada
é mal paga pra pedir desculpas por mais uma freada
uma dona de casa
pensa no preço da carne
uma atriz conhecida
causa espanto por usar um transporte tão popular
o resto do vagão
segue vidrado nos seus smartphones
e a rotina se encarrega de continuar
sozinha
sigo meu rumo
com inveja de todos os passageiros
amanhã Alonso
faz aniversário
e não sou eu quem vai levá-lo
pra jantar
amanhã a vida será igual a hoje
sem graça
sem cor
onde minha tristeza
causaria piedade
até na pessoa mais fria desse metrô.
um americano
pergunta pra um brasileiro
que não entende inglês
se falta muito pra chegar
na Siqueira Campos
uma adolescente
ouve um rock meloso
com headphone
no último volume aos prantos
um velho tosse e engole o catarro
enquanto lê os classificados
da semana passada
venda e compra de carros
uma criança chata
faz pirraça por um motivo qualquer
uma moça ridícula
fala mal do marido da irmã em voz alta
e repete o tempo todo que em briga de casal não se mete a colher
dois caras falam sobre futebol
um rapaz do interior
que nunca tinha andado de metrô
sonha com um lugar ao sol
um bebê tão lindo
dorme no colo da avó
uma voz pede desculpas
pelas freadas bruscas
e eu fico com dó
dessa vez que antes
de ser desculpada
é mal paga pra pedir desculpas por mais uma freada
uma dona de casa
pensa no preço da carne
uma atriz conhecida
causa espanto por usar um transporte tão popular
o resto do vagão
segue vidrado nos seus smartphones
e a rotina se encarrega de continuar
sozinha
sigo meu rumo
com inveja de todos os passageiros
amanhã Alonso
faz aniversário
e não sou eu quem vai levá-lo
pra jantar
amanhã a vida será igual a hoje
sem graça
sem cor
onde minha tristeza
causaria piedade
até na pessoa mais fria desse metrô.
...
Em que estação vou
permitir que minha vida
perca o metrô?
“FÊMEA”
a mulher que habita em
mim
é perigosa
feito uma aranha
quando se trata de amor
ela morde
pica
arranha
e não manda recado
a mulher que habita em
mim
tem fogo nas entranhas
e se entrega
e se esfrega
com uma coragem tamanha
que não se encontra
nas prateleiras de
nenhum supermercado
a mulher que habita em
mim
é puta
é gruta
prestes a desabar
é fruta
que não é qualquer um
que pode chupar
a mulher que habita em
mim
é leviana
mente com sinceridade
na rua
no palco
na cama
por orgulho
interesse
ou piedade
a mulher que habita em
mim
é refém de todas suas
vontades
ela não tem idade
não tem pudor
não tem sexo
não tem rosto
é uma baleia
é uma sereia
é lua cheia
no mês de agosto.
“WESTERN
PARTICULAR”
“ainda te espero”
reclama o bolero
nesse vinil de oitenta
e quatro
vazio
cinéreo
travo um duelo
entre o Rivotril
e a falta do teu abraço
“ainda te quero”
confessa aos
berros
esse fado português
sozinho
me descabelo
e travo um duelo
entre o vinho
e a sede de ti, outra
vez
“ainda me desespero”
repete sincero
esse tango
argentino
sofrido
funéreo
travo um duelo
com meu próprio destino
e enfrento tua ausência
dançando na corda bamba
sem perder a cadência
encho a cara nessa roda
de samba
não me dou por vencido
te perder foi doído
mas sofrer, meu
querido,
anda fora de moda.
HAIKAI:
“ESTÉRIL”
manchete do dia:
primavera no sertão
não brota poesia
“UM
ESTRANHO NO ESPELHO”
Quem é esse trapo?
com quem me deparo em
frente ao espelho
olhar cabisbaixo
semblante cansado
estrangeiro de mim
tão apodrecido
antes da primavera
com cara de fera
com fome
Quem é esse homem?
Com dores na alma
e no rim
Quem é esse cão acuado?
Com o coração
enferrujado
boca com gosto de cárie
quem é essa barbárie?
Pele amarrotada
alma enrugada
de véspera
tão antes do tempo
previsto
quem é esse bicho?
Quem é esse rato?
Que hoje chafurda no
lixo
que um dia já foi quase
um gato
de pelúcia
de madame
tão bem cuidado
e cheio de astúcia
e hoje é esse bagaço
esse vexame
quem é esse trapo?
Esse saco de estopa
esse pano de chão
encardido
fadigado
corroído
pela falta de paixão
constrangido
derrotado
abatido
de tanta desilusão
quem é esse verme?
Que não ousa me encarar
no espelho
esse porco
que me olha torto
enviesado
olhos vermelhos
inchados
de tanto chorar
de tanto esperar
de tanto dar murro em
ponta de faca
Quem é essa
carcaça?
essa coisa medonha
que me olha com
vergonha e piedade
me assusta
me aflige
me apavora
quem ele é?
Um anjo ao avesso
uma puta
ou um rascunho de
mulher?
Esse cadáver
esse covarde
quando foi que ele
morreu?
Quem é esse trapo?
Esse velho fedorento
nesse esboço
nesse corpo
nesse rosto de lamento
que um dia já foi meu?
“À
QUEIMA ROUPA”
a folha tesa
de rancor e mágoa
mutila o verso
fulminante:
o fel
amargo da palavra
embrulhada pra viagem
do amante
que não comprou
passagem de volta
revolta
é agora sua
munição:
balas de goma
mofadas
a esmo disparadas
atingindo o próprio
coração
quando a paixão é pouca
ao poeta
fatalmente
resta
a ironia:
rimas
são tiros à queima
roupa
deliberadamente
à sua revelia.
“ANA
CONTEMPORÂNEA”
me pague um chope
em troca eu chupo
o canto esquerdo
do seu lábio inferior
que eu juro que lhe adoro
que lhe tenho tanto amor
me pague um chope
em troca eu chupo
o canto esquerdo
do seu lábio inferior
que eu juro que lhe adoro
que lhe tenho tanto amor
me pague um sorvete
e meu bilhete do metrô
que passeio contigo de mãos dadas
apesar desse calor
numa tarde de domingo na Antero de Quental
não me leve a mal
se eu não fechar os olhos
quando me beijar
mas fui adestrada
pra não me emocionar
mas posso fazer de conta
que lhe dou meu coração
se me pagar um prato feito
ou um mate com limão
sussurro no seu ouvido
sacanagens com paixão
e lhe deixo me exibir como prêmio
como um troféu, um bicho de estimação
me pague um drops, um cigarro
e meu bilhete do metrô
que passeio contigo de mãos dadas
apesar desse calor
numa tarde de domingo na Antero de Quental
não me leve a mal
se eu não fechar os olhos
quando me beijar
mas fui adestrada
pra não me emocionar
mas posso fazer de conta
que lhe dou meu coração
se me pagar um prato feito
ou um mate com limão
sussurro no seu ouvido
sacanagens com paixão
e lhe deixo me exibir como prêmio
como um troféu, um bicho de estimação
me pague um drops, um cigarro
e um batom
meu chocolate preferido
que massageio o seu ego
lhe abraçando sem pudor
em pleno calçadão
como cachaça
não sou de graça,
mas também não saio caro.
sou a refeição mais barata
pra você comer no carro
ou num motel de quinta
numa sexta-feira cinza
depois do expediente
mas cuidado!
a minha língua
é aguardente
meu corpo é como pinga:
gastando pouco
se consome diariamente
e como a bebida, que vem da cana
você se torna dependente
da minha presença na sua cama
ou no banco de trás do seu veículo
e sem sua porra,
lambuzando o meu pescoço,
você se sentirá andando em círculos
por isso corra
enquanto é tempo
pois sou blindada a sentimentos
depois não diga que não avisei:
caso se apaixonar
a coisa muda de figura depois.
vou querer ser tratada como uma puta rainha
e meu preço sobe pra bandeira dois
daí em diante
enxergarei com desprezo
qualquer forma barata de tentar me impressionar
muito pra mim será pouco
lhe ordenarei, ir à esquina me trazer a lua
e caso não encontre, tudo bem
do mesmo modo, lhe arranco até a roupa do corpo
em troca, lhe dou prazer
lhe faço o ser humano mais realizado
meu chocolate preferido
que massageio o seu ego
lhe abraçando sem pudor
em pleno calçadão
como cachaça
não sou de graça,
mas também não saio caro.
sou a refeição mais barata
pra você comer no carro
ou num motel de quinta
numa sexta-feira cinza
depois do expediente
mas cuidado!
a minha língua
é aguardente
meu corpo é como pinga:
gastando pouco
se consome diariamente
e como a bebida, que vem da cana
você se torna dependente
da minha presença na sua cama
ou no banco de trás do seu veículo
e sem sua porra,
lambuzando o meu pescoço,
você se sentirá andando em círculos
por isso corra
enquanto é tempo
pois sou blindada a sentimentos
depois não diga que não avisei:
caso se apaixonar
a coisa muda de figura depois.
vou querer ser tratada como uma puta rainha
e meu preço sobe pra bandeira dois
daí em diante
enxergarei com desprezo
qualquer forma barata de tentar me impressionar
muito pra mim será pouco
lhe ordenarei, ir à esquina me trazer a lua
e caso não encontre, tudo bem
do mesmo modo, lhe arranco até a roupa do corpo
em troca, lhe dou prazer
lhe faço o ser humano mais realizado
e enquanto pego as
chaves do conjugado
que comprou pra mim no Estácio
que comprou pra mim no Estácio
lhe faço crer
que gozo
que gozo
só
de lhe ver
de dia, de tarde, de
noite, de madrugada
que estou completamente
apaixonada.
“RIO
SHOW”
No Espaço Itaú, o amor
dá o cu num banheiro todo mijado
sem projetar porra nenhuma.
No Roxy, o amor fede a passado
bebendo uísque falsificado numa banheira de espuma.
No Moreira Sales, o amor é teoria: conhece o mundo inteiro
e morre de cirrose e apatia nadando em dinheiro.
No Kinoplex Tijuca, o amor é dublado
não gosta de silêncio, pipoca quente, nem refrigerante gelado.
Na Estação Botafogo, o amor dispensa legendas: chega de metrô
e tem um caso antigo com Tarantino, Almodóvar e Truffaut.
No Cinemark Village Mall, o amor não se mistura:
chora no escuro, bota a culpa no filme e nunca perde a postura.
No NewYork City Center, o amor é emergente
feito um Woody Allen ao avesso: raso e incoerente.
No Cine Jóia, o amor não vale nada.
No Cine Santa, desce a ladeira.
No CCBB, sai de cartaz de mãos dadas com outro rapaz, toda terça feira.
No Multiplex Caxias, o amor é clichê.
No Leblon, celebridade.
Na Uruguaiana, pirataria
No Odeon, eternidade.
sem projetar porra nenhuma.
No Roxy, o amor fede a passado
bebendo uísque falsificado numa banheira de espuma.
No Moreira Sales, o amor é teoria: conhece o mundo inteiro
e morre de cirrose e apatia nadando em dinheiro.
No Kinoplex Tijuca, o amor é dublado
não gosta de silêncio, pipoca quente, nem refrigerante gelado.
Na Estação Botafogo, o amor dispensa legendas: chega de metrô
e tem um caso antigo com Tarantino, Almodóvar e Truffaut.
No Cinemark Village Mall, o amor não se mistura:
chora no escuro, bota a culpa no filme e nunca perde a postura.
No NewYork City Center, o amor é emergente
feito um Woody Allen ao avesso: raso e incoerente.
No Cine Jóia, o amor não vale nada.
No Cine Santa, desce a ladeira.
No CCBB, sai de cartaz de mãos dadas com outro rapaz, toda terça feira.
No Multiplex Caxias, o amor é clichê.
No Leblon, celebridade.
Na Uruguaiana, pirataria
No Odeon, eternidade.
Trova
de Herton Gomes
Jantar você foi uma
delícia
mas não quero
indigestão:
minha tara não é
carícia
minha fome não é
paixão.
“BARQUINHO
DE PAPEL”
Na minha infância,
nunca tive árvore de Natal.
No dia vinte e quatro não tinha essa história de ceia
No dia vinte e quatro não tinha essa história de ceia
a gente jantava o
trivial
e depois ia dormir de barriga de cheia.
No dia vinte e cinco, nunca ganhei bicicleta, videogame
carrinho de controle remoto, abraço de pai, ou bola de capotão.
Eu me distraía olhando as estrelas
jogando bolita, rodando pião.
A caixa d’ água no quintal de casa
e depois ia dormir de barriga de cheia.
No dia vinte e cinco, nunca ganhei bicicleta, videogame
carrinho de controle remoto, abraço de pai, ou bola de capotão.
Eu me distraía olhando as estrelas
jogando bolita, rodando pião.
A caixa d’ água no quintal de casa
era meu oceano
onde feliz da vida eu
navegava
com meu barquinho de
papel.
A minha infância nem foi assim tão colorida,
mas eu ainda acredito em Papai Noel.
A minha infância nem foi assim tão colorida,
mas eu ainda acredito em Papai Noel.
LIMERIQUE:
O papai vai chorar em
cena
a mamãe não verá
problema
junho de manhã
na Rua Sacopã
eu de paquera com um
poema.
“NADA
DE NOVO SOB O SOL DE 40 GRAUS”
“Feliz ano velho!”
Diz a puta fodida
por um gordo funéreo
na Central do Brasil.
“É dia de branco!”
Berra a nega suada
na Lapa currada
por um porco senil.
Entra ano, sai ano,
outra vez, tudo igual:
a fé sai pelo cano de
um revólver no Vidigal.
“Que tudo se realize
nesse ano que acabou de
nascer!”
Deseja o pai de família
na Glória, debaixo do
seu michê.
“Muito dinheiro no
bolso,
saúde pra dar e
vender!”
São os votos de um
mendigo doente,
que só será atendido
depois de morrer.
“Feliz ano velho!”
Grita o desempregado
escondido atrás do
Evangelho
traficando em São
Conrado.
“Que tudo se realize
nesse ano que acabou de
nascer!”
Deseja o malandro em
crise
roubando criança no
Baixo Bebê.
“É dia de trampo!”
Canta o funkeiro sem
fone de ouvido
de janeiro a janeiro
dentro de um 474
entupido.
“Saúde pra dar e
vender!”
Murmura o coroa tarado
roçando o pinto no rabo
da estudante que pensa
em morrer.
Entra ano, sai ano e o
mais do mesmo acontece:
a gente repete
promessas enquanto o Rio apodrece.
Entra ano, sai ano, é
sempre a mesma canção:
na cidade do samba todo
dia é réveillon.
Entra ano sai ano:
inércia, engano.
40 graus de desgraça
fritando o cotidiano.
Réveillon em Copa, au revoir!
Esse Rio já passou em
minha vida
e meu coração se perdeu
no mar.
ENTREVISTA COM OS FINALISTAS
Agora teremos uma ótima oportunidade de conhecer mais e
melhor sobre nossos dois grandes finalistas. Apreciem a deliciosa entrevista
feita com os dois e o que revelaram sobre eles mesmos, sobre o concurso, enfim,
sobre a vida.
Autores
S/A: Primeiramente, pedimos a vocês que escrevam uma breve biografia de
vossas vidas. Afinal, quem são vocês?
Ricardo
Thadeu: Um professor de espanhol sossegado que
gosta de fazer piada, ler e escrever poesia.
Herton
Gomes: Acho sempre difícil fazer um resumo
sobre minha biografia. Primeiro porque sou prolixo, logo especialmente
resumir minha vida, não é tarefa fácil. Nem sei onde minha vida começa. Nem sei
onde ela termina. Nem sei onde ela recomeça. Só sei que minha trajetória
é assim: feita de começos, fins e recomeços. Só sei que existe tantos
dentro de mim, que o meu fim é sempre um recomeço; e meu começo é um recomeço
sem fim. Sou um homem verdadeiro ao extremo, que sempre pagou caro
pelo excesso de sinceridade. Nem tudo mundo está preparado para ter ao lado ao
alguém tão de verdade. Mas o que entendem minha espontaneidade desmedida,
os que conseguem me enxergar além da superfície, costumam se
apaixonar. Minha biografia talvez possa ser definida assim: sou um
homem que se entrega, que arrisca, que diz o que pensa, que se declara,
que nunca ficou em cima do muro, que toma partido, que se expõe, que tira a
casca da ferida, pra ter a certeza que ela realmente parou de sangrar.
Sou paixão até debaixo da água embora ainda não saiba nadar. Sou ingênuo,
romântico, visceral; um leonino nato: vaidoso, exibido, gênio forte,
decidido, divertido, exagerado, desesperado, sol e tempestade no mesmo céu. A
minha biografia está impregnada desde o inicio de partidas, amores
despedaçados, poesia, chocolate e pastel. A comida, o amor, a busca pelo
sentido da vida, estão sempre presentes nos meus versos. Sou formado em
Publicidade, mas já larguei administração e Letras pela metade. E sonho em ser
um ator, um autor, e um poeta de sucesso. Será que é pecado sonhar tanto assim?
Será que Deus castiga quem sonha demais? Tomara que não! Enfim pra terminar
essa apresentação, sou um homem que sempre segue em frente, mas de vez em
quando olha pra trás. Talvez por isso eu trago o riso e a melancolia
intrínsecos no meu coração. E o sangue quente pulsando nas veias. É isso
aí minha gente, sinceramente, não sou areia pra qualquer caminhão.
Autores
S/A: À primeira vista, o que motivou vocês a se inscreverem no I Concurso
de Poesia Autores S/A? Este objetivo foi alcançado durante o concurso?
Ricardo
Thadeu: Este concurso sempre foi uma espécie de
oficina para mim. Participei de várias edições e queria ganhar, claro. Mas
nunca saí perdendo, apesar das eliminações. Escrevi dois, ou três bons poemas e
isso não tem preço. Desta vez, além dos poemas, construí algumas amizades e
conheci gente talentosa. Logo, o objetivo inicial, qualquer que tenha sido, foi
alcançado. Quiçá, superado.
Herton
Gomes: A possibilidade de ter meu primeiro
livro publicado. Me sinto preparado para publicar um livro. Pronto não. Porque
nunca vou me sentir pronto. Mas preparado para todo o aprendizado que um passo
como esse possa me proporcionar. Tenho urgência de compartilhar
meus versos e a rede social não dá conta de toda essa minha urgência que
nada mais é que um alarme do meu coração, dizendo que chegou a hora da
minha dor, do meu riso, da minha espera, virar livro. Por isso me
inscrevi. Naturalmente, durante o percurso fui descobrindo que além da
possibilidade do livro publicado, crescia como artista com a troca, com os
desafios propostos no Concurso, com a avaliação da vários jurados que me
incitaram a momentos valiosos de reflexão (nem todos é óbvio, alguns foram tão
arrogantes, tão donos da verdade, que vou te contar!), descobrir também que é
possível escrever um poema encomendado sem ser burocrático, sem abrir mão da
minha intuição, foi libertador! E os encontros com pessoas incríveis como
Marília Lima, Ricardo Thadeu, Bianca Velloso, André Oviedo, Natasha Félix,
Francisco Carvalho, Dora Oliveira, Maria Amélia e Cinthia, foram especiais por
motivos impares com cada uma delas. O encontro com Marília, Ricardo e
Bianca foi tão orgânico, tão gratuito, tão sincero, tão edificante que me
cobriu de afeto e gratidão! Natasha me arrebatou com sua intensidade e
juventude tão visceral. E arrisco a dizer que o meu transbordar também chegou
até sua alma. André Oviedo! Meu Deus! A beleza e a dor dos seus versos, me
dilatam, me refletem, me angustiam, me aliviam, me inundam como poucos poetas
me fizeram a vida inteira, virei fã, admirador, seguidor e grato por
traduzir a minha dor para sempre. Francisco, quanta elegância num só poeta! Com
Dora, Maria Amélia e Cintiha , tirei do armário o meu atleta. Nos
estranhamos, e competimos com a toda a dignidade de um jogador. Essas
três poetas tão lindas, despertaram a minha essência de competidor. Mas depois
me rendi a elas. São cores vivas de uma aquarela chamada poesia. Eu
disse nos estranhamos, mas talvez o estranhamento tenha sido por minha parte,
de vez em quando o meu espírito de competidor encrenqueiro incita o
combate. Mas foi lindo ver a transformação da relação com essas três mulheres
tão especiais. Uma delas me escreveu dias desses, dizendo que estava
orando pela minha vitória na competição. Ou seja, a publicação do livro é
a lua, mas se eu não tocá-la, tenho certeza que toquei e fui tocado pelas
estrelas.
Autores
S/A: Qual é a relação de vocês com a Internet? Publicar os trabalhos
literários na Internet pode banalizá-los?
Ricardo
Thadeu: A internet é uma ferramenta necessária,
ou melhor, indispensável; mas não fico 24 horas conectado. Não, pelo contrário:
a internet, se usada da maneira correta, pode ajudar o escritor. Alguém pode
publicar um poema no facebook, por exemplo, e receber alguns comentários
importantes, incentivadores e, é claro, aquele “feedback” de outros poetas.
Isso é muito importante. Meu primeiro livro é composto basicamente por poemas
que publiquei de 2008 a 2009 no meu blog.
Herton
Gomes: A internet é uma ferramenta que
me permite divulgar a minha poesia, me comunicar com meus leitores, e também me
inspirar. Hoje um número bem relevantes de pessoas conhece minha poesia. Sem a
internet teria sido bem mais difícil chegar até elas, especialmente não tendo
nenhum livro publicado. Não acredito que a publicação dos meus textos na
internet possam banaliza-los. A menos que eles já sejam banais.
Autores
S/A: Qual obra de arte vocês mais apreciam no campo musical e da pintura?
Ricardo
Thadeu: Sou apaixonado por rock clássico, mas
não abro mão de uma galera do nordeste que cresci escutando (Geraldo Azevedo,
Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Tom Zé, Zé Ramalho, Fagner). Sou fã de Juraci
Dórea, artista plástico feirense de extremo talento.
Herton
Gomes: Los Hermanos é minha grande inspiração.
A melancolia e a criatividade pulsante de suas letras me
alimentam. Magritte é meu pintor favorito. Sua atemporalidade me ilumina.
Autores
S/A: Qual é o livro de cabeceira de vocês?
Ricardo
Thadeu: São dois: “Todos los fuegos el fuego”,
de Julio Cortázar; e “Amálgama”, de Roberval Pereyr.
Herton
Gomes: “Poesias Nunca Publicadas”, de Caio
Fernando Abreu.
Autores
S/A: Parafraseando Rilke, um poeta de verdade, que tem a poesia como guia,
saberá enfrentar a solidão. A solidão lhes é benéfica? O poeta é um solitário
por excelência ou seus poemas são válvulas de escape da solidão?
Ricardo
Thadeu: São duas coisas diferentes: escrever
para enfrentar a solidão e ter a leitura como companheira. A escrita é um ato
solitário. Escrevendo meus poemas, não me sinto menos só. Eu preciso estar só.
No entanto, a leitura de um bom poema pode servir como uma excelente companhia.
Herton
Gomes: A solidão é essencial para a minha
poesia. Assim como a comunicação com o mundo lá fora. Cinema, teatro, praia,
academia, conversa fiada com um amigo de longa data na sorveteria, flerte na
mesa do bar, sexo, fila de banco, um copo de açúcar emprestado no vizinho,
tudo, absolutamente tudo é ingrediente para a minha inspiração. Vivo num
constante brainstorming. E nesse processo a solidão também é fundamental,
para que ouça o que as paredes têm a me dizer, para que eu escute o barulho do
ar condicionado, para que eu goze da minha liberdade, para que eu padeça
de saudade, para que eu pense demais. Para que eu visite os cantos mais
recônditos da minha alma. Uma boa dose de solidão diária faz um bem danado à
minha poesia.
Autores
S/A: Qual é, ou qual foi, o sonho mais louco de vocês? Sonhos e desejos
vão se transformando em poesia enquanto não são concretizados?
Ricardo
Thadeu: Eu encontrei comigo mesmo em sonho. Foi
uma coisa estranhíssima. A gente se vê no espelho todos os dias, mas não espera
encontrar aquele “eu” no meio da rua. Já escrevi alguns poemas sobre isso, mas
nenhum conseguiu chegar perto de expressar o estranhamento daquele encontro.
Herton
Gomes: Quero levar minha poesia para a tv,
para o cinema e para o teatro. Espero concretizar esse sonho e se não
concretiza-lo ou ele vira frustação ou vira poesia. Que seja a segunda opção.
Autores
S/A: Se alguém lhes pedisse para definir “quem é você” através de um
poema, qual poema você escolheria para defini-lo?
Ricardo
Thadeu:
CONTEMPLAÇÃO DA NUVEM
(Antonio Brasileiro)
A vida é a contemplação
daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem
passando.
E uma nuvem passando
ensina-nos mais coisas que cem pássaros
mil livros um milhão de homens.
A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem.
Passando.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem
passando.
E uma nuvem passando
ensina-nos mais coisas que cem pássaros
mil livros um milhão de homens.
A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem.
Passando.
Herton
Gomes: “Cara estranho”, dos Los Hermanos, não
me define, mas diz muito sobre mim. Me identifico muito com essa letra. Me
definir, ainda não encontrei um poema, ou letra que desse conta disso. Tá
pra nascer a música ou poema capaz de definir.
Autores
S/A: Qual poeta desta competição teria vaga nesta Grande Final além de
vocês? E por quê?
Ricardo
Thadeu: Não dá para dizer um. São muitos, li
muita gente boa. Alguns saíram “no detalhe”, outros tiveram sorte. Veja o meu
caso: saí nas fases preliminares e ganhei uma segunda chance por conta de
desistências.
Herton
Gomes: André Oviedo! Com Certeza! Porque tudo
que ele escreve é repleto de beleza, som, dor, saudade, partida, vontade,
desejo, melancolia e amor. Porque seu poder de síntese é arrebatador. O
livro dele também virou meu livro de cabeceira. Sua poesia é afiada, declarada,
e essencial pra quem já viveu ou há de viver um grande amor.
Autores
S/A: Quem foi o jurado que mais acresceu e enriqueceu o certame com seus
comentários durante a competição?
Ricardo
Thadeu: Quero registrar que, a partir da fase
de grupos, senti certa má vontade de alguns jurados. Todo mundo tem direito de
não gostar de um poema e quem julga tem o dever de manifestar isso. Mas não
custa nada justificar a escolha sem menosprezar. Gostei dos julgamentos de
Cíntia Moscovich, Flávio Morgado e Julián Fuks, sendo a primeira um belo
exemplo de simplicidade e elegância na avaliação.
Herton
Gomes: A Thelma Guedes. Com elegância e
sutileza, sem deixar de ser firme ou crítica, ela tocou em pontos muito
relevantes que me abriram horizontes, como, por exemplo, a importância de
deixar pra “explodir” um poema do meio
para o final. E não começar com ele já estourando, em virtude do grande risco
dele ir perdendo sua força durante o caminho. Ela também me alertou sobre a
importância que existe na poesia de se buscar tocar num assunto sem precisar
ser tão direto, ou cru. Mas disse sem arrogância ou pretensão de querer enfiar
na minha goela uma cartilha de como se fazer poesia. Senti isso em relação a
alguns jurados. Achei arrogante ouvir de alguns que poesia se faz assim, poesia
se faz assado, poesia não pode ser longa, poesia não pode ser curta demais. Não
pode? Onde é que está escrito que não pode? Poesia não é bolo de caixinha que a
gente compra no mercado Mundial e depois acrescenta dois ovos e uma xícara de
leite. Naturalmente que os jurados em sua maioria acrescentaram, somaram,
edificaram, inclusive quando não pouparam em avaliações mais duras. E pude
absorver muitas reflexões positivas, mesmo quando assim se deu. Agora quando a
avaliação vinha repleta de prepotência, a única vontade que me dava era de nem
sequer conhecer a obra desses donos da verdade. A Thelma é um exemplo claro de
quem conseguiu analisar com coerência, sinceridade e elegância. Acredito que o
principio de qualquer poema, é tocar ou não tocar. Acho que alguns jurados que
andam com suas cartilhas debaixo do braço, deviam inserir esse tópico nelas. Ou
melhor, deviam rasgar essas cartilhas e ignorar todas as outras regras. Afinal
é tudo relativo, subjetivo e toca ou não toca. Simples assim.
Autores
S/A: Em qual etapa deste concurso vocês tiveram mais dificuldade na
elaboração do poema? E por quê?
Ricardo
Thadeu: A final. Além da pressão típica da
fase, um tema livre (não tão livre assim), depois de uma série de fases
temáticas, me deixou um pouco inseguro.
Herton
Gomes: No poema infantil. Fiquei meio confuso
nesse desafio de me comunicar com esse publico. Adoro crianças e sou bastante
infantil, mas tive dificuldade em encontrar o tom de um poema que dialogasse
com as crianças e ao mesmo tempo não fosse “tatibitati”. Mas fiquei muito feliz
com o júri surpresa. Achei o júri mais autêntico do que o júri escolhido pra
avaliar aquela etapa. Alias, o júri daquela etapa, em sua maioria, foi no meu
ponto de vista uma decepção.
Autores
S/A: Qual o papel, a importância da poesia em sua vida, e como se dá o seu
fazer poético? Existe algum método em seu processo poético?
Ricardo
Thadeu: A poesia é aquele fio de expectativa e
espanto que faz a gente não perder a fé na vida. Passei muito tempo escrevendo
poema piada. Cansei. Hoje, escrevo tentando expor minhas inquietações. Aquela
configuração que usei no concurso (estrofes de dois versos) parece-me a melhor
para dizer o que quero dizer sem abrir mão de certo lirismo. Nem sempre
consigo. Quase nunca, na verdade. Por isso, tenho aproveitado poucos poemas. E
diminuído a extensão de alguns deles.
Herton
Gomes: A poesia corre nas minhas veias.
Escrevo para continuar. Para não me jogar da janela do apartamento. Pra não
comer um pote inteiro de Nutella. Pra aguentar a saudade, o fracasso, a
ruptura, o corte, o chute, a queda, a separação e a derrota. Quando a
minha vida fecha as duas janelas, a poesia me abre uma porta. Não tenho nenhum
método. Mas a música é uma ferramenta sempre presente que aguça minha
inspiração. Ah, e gosto de escrever a primeira vez, na timeline do meu
facebook. Não pode ser em notas. Tem que ser no facebook. Direto. Com o risco
da rede cair e eu perder todo o meu trabalho poético. É isso. Se tem um método.
Talvez seja esse: escrever flertando com o risco de perder tudo que escrevi.
Lembrei de outra coisa: a casa arrumada demais me atrapalha. Preciso de
um certo caos domestico. Alguma cama desarrumada, algum livro fora do lugar.
Casa organizada demais, me esvazia.
Autores
S/A: Sabemos que todos são vencedores. Os desafios deste concurso não
foram nada fáceis. Mas sabemos também que todos entram em uma competição para
vencer, embora perder não seja um verbo apropriado em um certame onde tanto se
ganhou. Agora respondam, sem rodeios, por favor: por que você merece vencer
este concurso de poesia?
Ricardo
Thadeu: Mereço pelo mesmo motivo que Herton
merece: cheguei até a final e venci as fases com coragem, paciência e suor.
Herton
Gomes: Nossa! Estou sentindo num Big Brother!
Acredito que todos merecemos ter ganho essa competição. Mas já que essa
pergunta é direcionada a mim, vamos lá! Mereço porque me joguei de corpo e alma
nessa competição. (Continuo me sentido no BBB)! Mereço porque minha poesia
ferve, rasga, sangra, sem censura ou piedade. Mereço porque nunca publiquei um
livro. E porque minha vingança (aquela que é irmã gêmea da superação), lembram?
Pois é, ela não estaria completa, se eu não ganhasse no final. E porque, apesar
de nunca ter sido o mais cotado pra chegar até aqui, eu cheguei. E essa
sensação de quebrar paradigmas, de driblar as probabilidades e vencer, seria
surpreendente. Mereço porque, apesar dos lugares comuns que visito, da falta de
rima sofisticada, da ausência do poder de síntese, apesar do clichê e do
sentimento autobiografado em tantos versos meus, minha poesia é especial,
porque toca lá no fundo. E emocionar é que há de mais universal.
BATE-BOLA:
Defina,
em poucas palavras, o que é, para você:
POESIA:
Ricardo Thadeu: magia,
a única e verdadeira
Herton Gomes: Vital
AMOR:
Ricardo Thadeu: Conforto
Herton Gomes: Poesia
FAMÍLIA:
Ricardo Thadeu: cumplicidade
máxima
Herton Gomes: A minha
DOR:
Ricardo Thadeu: necessária
Herton Gomes: A minha,
a do vizinho, a da caixa do supermercado, a velho na fila do pão. E do resto do
mundo. A dor só muda de endereço, mas dói igual.
LEITURA:
Ricardo Thadeu: indispensável
Herton Gomes: Sensorial
COMPETIÇÃO:
Ricardo Thadeu: Jogo, só
isso.
Herton Gomes: Prazer e
tortura
CRÍTICA:
Ricardo Thadeu: Imperativa
Herton Gomes: Uma
opinião. Seja positiva ou negativa. É só UMA opinião.
CAMPO
PLATÔNICO:
Ricardo Thadeu: Aeroporto
de ideais
Herton Gomes: Perda de
tempo que não é desperdício quando vira poesia.
PRECONCEITO:
Ricardo Thadeu: Burrice
humana
Herton Gomes: Luto
diariamente para não ter nenhum. Mas tenho alguns.
VITÓRIA:
Ricardo Thadeu: Pequeno
céu na terra
Herton Gomes: Única
possiblidade
DERROTA:
Ricardo Thadeu: Uma
vitória adiada
Herton Gomes: Minha
tragédia particular
MORTE:
Ricardo Thadeu: Episódio
final do filme das nossas vidas
Herton Gomes: A minha.
Antes da morte dos meus.
ARTE:
Ricardo Thadeu: A existência
que é não sendo
Herton Gomes: Aquilo
que toca. E reverbera.
PERGUNTA ESPECIAL PARA: RICARDO THADEU
Autores
S/A: Ricardo, meu caro, você já participou dos outros 3 concursos
organizados pelo Autores S/A e ficou bem próximo da vitória. Neste, até então,
foi o que chegou mais longe e está a um passo de se sagrar campeão. Qual
diferença você percebe entre este e os certames anteriores que participou? Por
que não fora tão bem sucedido nos outros? Acredita que tenha acontecido uma
evolução de sua parte, como poeta? Acredita que, depois de tantas tentativas,
encontraste a “fórmula”, ou a “manha”, do jogo? Ou os candidatos não foram
“páreos” como nos outros concursos?
Ricardo
Thadeu: Como eu disse, em algumas rodadas, apostei
numa estrutura de poema que me pareceu a mais “segura” sem escapar do meu
estilo. Não deu para mantê-la em outras rodadas. No infanto-juvenil, por
exemplo, tive que bolar outro “esqueleto” e, apesar dos erros ortográficos
(imperdoáveis!), fiquei na disputa. Contei com a sorte também: rolou uma
empatia de alguns jurados com os poemas, penso eu. Em todas as edições, tinha
gente muito boa. Alguns reapareceram como jurados, outros se classificaram
novamente. E, nesta edição, não foi diferente: muita gente talentosa, poetas de
verdade!
PERGUNTA ESPECIAL PARA: HERTON GUSTAVO GOMES
Autores
S/A: Herton, meu caro, você é ator e poeta. Em qual dessas áreas você se
sente mais a vontade? Atuando ou escrevendo poemas? Ambas as artes se
complementam em sua vida? Como?
Herton
Gomes: Me sinto a vontade nas duas àreas. Mas
quero me dedicar cada vez mais a carpintaria da palavra. Além de ator, e poeta,
eu também sou dramaturgo. Inclusive finalista do Projeto Sesi de Dramaturgia
Novos Autores do Rio de Janeiro. Acredito que meu autor alimenta meu ator que
alimenta meu poeta. E eles se retroalimentam. Minha poesia carece ser falada em
voz alta, e essa carência é o meu ator e autor também que impõe. Existe teatro
na minha poesia. E muita poesia no meu teatro. A poesia é minha namorada. O
teatro é meu amante. Sou definitivamente bi.
JÚRI DA GRANDE FINAL
O
júri da final será composto e estruturado da seguinte forma:
-
No
total, serão 16 jurados mais o voto do público, totalizando 17 votos.
-
14
jurados julgarão apenas a leitura dos dois poemas.
-
02
jurados julgarão os vídeos das declamações, levando em consideração a
interpretação, a gravação, enfim, o poema em sua forma audível.
VOTAÇÃO
POPULAR
A votação popular nesta final terá muita significância.
O poeta mais votado pelo público receberá, no ranking geral, 01 voto. A essa
altura, 01 voto pode decidir o concurso!
Poetas, convoquem suas torcidas, seus leitores, enfim,
massifiquem a internet com vossos poemas. Mas lembrem-se de enfatizar que: OS VOTOS SÓ SERÃO VALIDADOS SE FOREM FEITOS NOS
COMENTÁRIOS DESTE POST, LOGADO PELA CONTA DO GOOGLE. ANONIMOS E APENAS COM
NOMES NÃO SERÃO ACEITOS.
A votação será encerrada na quinta-feira, às
19 horas.
Boa sorte!
POEMAS
DA GRANDE FINAL
Abaixo, apreciem a leitura dos poemas finalistas. Cada
um deles teve de impor 03 palavras ao outro. Como era de se esperar, um tentou
dificultar a vida do outro. Ricardo Thadeu impôs as palavras “coadunar, piço e ortônimo”;
já Herton optou por impor “inconstitucionalização, inexorabilidade e buceta”. Vejamos
o que resultou dessa aventura!
DUELO
FINAL
Títulos
“Percurso”
X
“Alonso”
Título:
Percurso (Ricardo Thadeu)
No silêncio da língua,
afio as palavras.
Todas tão belas e tão bravas.
São todas feras, como a palavra magma
e como a palavra buceta que, na língua,
queima em brasa.
Amolo as palavras extintas e arredias
que serpenteiam
no movediço terreno
do idioma.
Regulo seus sentidos e recebo um não
das palavras código, égua
e inconstitucionalização.
Contrario a inexorabilidade do ofício:
desafio os vocábulos, desafino a sintaxe
e os ouvidos.
Subverto a lâmina das palavras
para, novamente, (no silêncio) afiá-las.
Título:
Alonso (Herton Gustavo Gomes)
Alonso não volta.
Sentenciou Padre Olavo, previu a cigana Yolanda
Sentenciou Padre Olavo, previu a cigana Yolanda
cujo ortônimo era Maria da Conceição;
garantiu o carteiro Hermógenes da Silva de Alcântara
Machado
com aquele nome rebuscado
de chefe de repartição.
Olha, seu poeta, Alonso não volta mais.
Pro seu CEP só tem a fatura da Light, do Banco, da
Renner e do Gás.
Alonso não volta. Garantiu Edilamar, minha analista.
Alonso não volta. Garantiu Edilamar, minha analista.
Poeta, sofrer de amor só é bonito na revista.
Arranja uma moça, vai lavar
louça, deixa de desperdício, encontra outro vício, outro ofício, outro
hobby, outro norte, outro rapaz!
"Arranja outro bofe!"
Sugeriu Divandir, o cabeleireiro,
que Alonso, esse truqueiro,
não volta mais.
Alonso não volta.
Disse com uma voz robótica a locutora do metrô.
Alonso não volta.
Disse com uma voz robótica a locutora do metrô.
Desça na próxima estação,
que nesse vagão é proibido sofrer de amor.
Meu filho, escuta sua mãe: com tanta gente no mundo,
Meu filho, escuta sua mãe: com tanta gente no mundo,
vai se coadunar justo a quem não te quer?
Dona Lourdes, Dona Lourdes!
Dona Lourdes, Dona Lourdes!
Em assunto do coração, ninguém mete a colher.
Extra! Extra! Alonso não volta! Disparou Josimar, o jornaleiro.
Extra! Extra! Alonso não volta! Disparou Josimar, o jornaleiro.
Não é boato ou fofoca, mas não se fala noutra coisa
no Rio de Janeiro.
E disse Dalila, a atendente da sorveteria desaforada e sem compaixão:
E disse Dalila, a atendente da sorveteria desaforada e sem compaixão:
“Alonso não volta, meu camarada. Só tem sorvete de
limão”.
Marco Aurélio da Cunha Siqueira, gerente do
Bamerindus,
também não disse nada diferente.
Alonso não volta. Se contenha.
Digite sua senha, mas antes
me informe o número da sua conta corrente.
E sem fazer rodeios, me deu o troco, Soraia Ribeiro,
Digite sua senha, mas antes
me informe o número da sua conta corrente.
E sem fazer rodeios, me deu o troco, Soraia Ribeiro,
a caixa pessimista do supermercado Mundial.
Alonso não volta.
E não: outro piço você não encontra igual.
Reginaldo, o técnico de informática,
Reginaldo, o técnico de informática,
concluiu depois de formatar o meu computador : não
tem conserto.
Alonso não volta não, senhor.
Karen Botelho, a oftalmologista zarolha,
Karen Botelho, a oftalmologista zarolha,
disparou só pra me contrariar:
se me permite um conselho,
se me permite um conselho,
sai dessa bolha e se enxerga, querido. Alonso não
vai voltar.
Alessandra Trindade , a âncora sensacionalista do jornal do meio-dia,
Alessandra Trindade , a âncora sensacionalista do jornal do meio-dia,
informou que Alonso não volta, e que já passou da
hora de eu fazer terapia.
Já faço, ô vadia!
Josias, o vendedor seboso de cachorro quente,
Adelaide, a manicure mão de vaca,
Gomides, o guarda municipal, e o resto do mundo,
Josias, o vendedor seboso de cachorro quente,
Adelaide, a manicure mão de vaca,
Gomides, o guarda municipal, e o resto do mundo,
incluindo Edmundo, o esquisito professor de canto,
disseram em coro: Alonso não volta. Enxugue esse
pranto.
E só de pirraça não parei de chorar.
Embora eu saiba que, mais dia, menos dia,
E só de pirraça não parei de chorar.
Embora eu saiba que, mais dia, menos dia,
só pra calar a boca dessa gente atrevida, invejosa e
vazia,
Alonso há de voltar.
POESIA POESIA POESIA POESIA POESIA POESIA POESIA POESIA
POESIA POESIA POESIA POESIA POESIA POESIA POESIA POESIA
E
ENTÃO? QUEM LEVARÁ “O CANECO” DO III CONCURSO DE POESIA AUTORES S/A? FAÇAM SUAS
APOSTAS! NA QUINTA-FEIRA, DESCOBRIREMOS QUEM SERÁ O GRANDE VENCEDOR!
ATÉ
LÁ! E VOTEM, VOTEM MUITO!
PARCEIROS:
EDITORA PATUÁ
CRIARTE EDITORA
SEC. DE CULTURA DO ESTADO DO RJ
AUTORES S/A:
UMA SOCIEDADE DIFERENTE DAS OUTRAS
214 comentários:
«Mais antigas ‹Antigas 201 – 214 de 214Os dois poetas merecem o trofeu, mas se tenho que votar apenas em um, voto naquele me fez rir e quase chorar
Alonso do Herton
placar final: Heron -10. Ricardo -8
Meu voto vai para Ricardo Thadeu.
Com certeza, HERTON GUSTAVO!
Ricardo Thadeu
Percurso de Ricardo Thadeu
Dois grandes poetas, certamente. Porém "Alonso" é um poema que foge à essas regrinhas que estamos acostumados a ver/ouvir. É diferente e ousado. E nós precisamos de poetas/poemas assim.
Meu voto é do "Alonso", de Herton Gustavo Gomes.
Beijos e brisas poéticas.
O poema "Percuso" é bom, mas não me toca em nada! Não chega, não emociona, não atinge...
Já o Alonso, esse me arrebata! Me perco no meio dessa emoção!
Meu voto vai para Herton Gustavo!!!
Ricardo Thadeu
(os dois poemas são excelentes, diga-se.)
Ricardo Thadeu
meu voto vai para Ricardo Thadeu!
ALONSO - HERTON GUSTAVO
Musical e fala direto ao coração
VOTAÇÃO ENCERRADA!
JÁ JÁ A CONTAGEM FINAL DA VOTAÇÃO POPULAR!
OBRIGADO!
Herton!!
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