“O
DESERTO OLHAR DO ESCURO”
(PARA
NILTO MACIEL – IN MEMORIAM)
à noite a cidade se cala
perdida entre um ponto distante
e um parágrafo recente
ressentido...
tempos de infância construídos
de maciços sonhos sertanejos,
pregado na mente voltado pra trás
um cartaz de aviso:
Baturité está vivo...
na capital em plena euforia de
estado
o tempo parece que some na
fortaleza da escrita: o homem...
cidade de sóbrio borracho de onde
se vê o mar,
o sertão e um Brasil inteiro logo
abaixo...
um grito,em berro no deserto olhar
do escuro
o texto é o pretexto do futuro
onde amor não é pecado e trabalho é
mais duro
o presente e o passado se dobram
num beijo molhado...
feridas e perdas se curam no
orvalho
lavando mente,corpo e alma mas a
quem fica nada conforta
a curvatura do tempo é teoria
tardiamente morta...
a tristeza irriga o secor da terra
a saudade semeada no vento e se encerra...
partidos em lascas dores incertas
delírios profundos
clamamos eternidade vaidade aos
seres do mundo...
tudo que se move um dia,
um abalo soterra um homem,
agora no céu sorrirá aos mortos
da terra...
(Dante
Pincelli, 2º colocado no I Concurso de Poesia Autores S/A)
Salve,
salve, Nilto Maciel! Grande padrinho dos concursos do Autores S/A. Que falta
você faz... Como não se lembrar do seu jeito turrão, sua rigidez, e, ao mesmo
tempo, seu bom humor? Um escritor e um crítico de primeira grandeza. Este
concurso foi em sua homenagem, meu caro. Hoje é o post derradeiro da terceira
edição e com certeza suas palavras estariam aqui, registradas, inaugurando
novos horizontes para esses poetas. Obrigado por tudo. Que o céu esteja em
festa com tua presença.
Agradeço
ao Dante pelo belo poema escrito ao imortal Nilto Maciel.
Agora vamos deixar a tristeza de lado
e... ficar tenso! Sim, chegou a hora. Apresentamos...
OS RESULTADOS DA GRANDE FINAL DO
III CONCURSO DE POESIA AUTORES S/A
“Mereço porque cheguei até a final e
venci as fases com coragem, paciência e suor”.
(Ricardo
Thadeu, Bahia)
“Mereço porque, apesar dos lugares
comuns que visito, da falta de rima sofisticada, da ausência do poder de
síntese, apesar do clichê e do sentimento autobiografado em tantos versos meus,
minha poesia é especial, porque toca lá no fundo. E emocionar é que há de mais
universal”.
(Herton
Gomes, Rio de Janeiro)
4º COLOCADA:
MARIA AMÉLIA ELÓI (DF)
(Receberá uma medalha)
3º COLOCADA:
BIANCA VELLOSO (SC)
(Receberá uma medalha, 01 livro e 3 revistas Mega Artesanato)
2º COLOCADO:
?
(Receberá um troféu, 02 livros e 3 revistas Mega Artesanato)
1º COLOCADO:
?
(Receberá um troféu, 01 mp4 player e uma publicação pela Editora Patuá).
Além disso, foi oferecido ao 2º lugar o livro:
"Casa Devastada", de Thiago Mattos
e ao 1º lugar, o livro:
"Um caderno de capa verde", de Flávio Morgado
“Minha
vida sob meus pés”
(um
poema coletivo para ficar na memória desta edição)
Sob meus pés continuam a correr
rios mortos
sangue bombeado das pálpebras.
Alguém me procura por dentro.
quem palmilha esse chão de abismos?
De onde essa voz que me avulta longe?
Quando?
se não sou o que ecoa
se não sou o que me habita as entranhas
de que sirvo escorrer?
minha lágrima é protesto
panfleto inútil do coração
alvejado de amor em praça pública...
e desse amor pendurado
pelos postes da rua Augusta
sobra a certeza da desventura
Encaro meu reflexo,
Espasmo,esquálido, estático
Na lágrima que o asfalto esconjura...
no espelho afloram abscessos do passado
conjugo hoje abortos mal sucedidos
fluem em meus seios córregos de prazer obscuro
volto a meus pés - minhas veias são rios.
Rio bombeado de mágoas.
Ninguém me procura no raso e nada profundo.
E enquanto isso, lá fora,
a cidade corre em silêncio
Contradiz com o caos aqui dentro e o palpitar inquieto
Sob os meus pés resquícios de pegadas sem história
sobre a minha cabeça
inventários alheios
e essa seiva e essa sede
que escorre pelos poros da cidade
e deixa seu cheiro e seu rastro...
quem vê os dois meninos de rua
que passam num barco de papel
tingido com as dores do meu peito?
ninguém os vê, ninguém os escuta
a dor e a luta que deles emana:perscrutando em silêncio
são eles dois vultos no tempo.
Quem é que dorme
quem é que deita
as dores deles no meu leito
e neste reduto de esquecimento,
o grito e o sonho viram quatro
pés de infância sobre a linha do tempo
que empina crianças no céu
que querem sonhar, mas que com as asas cortadas
caem no oceano de enrugados pés que as naufragam
alados os peixes devoram as ondas
que batem feridas como se amputadas
fossem: sereias de vidro não cantam
emergem das águas turvas
e como por encanto
seduzem sob o luar
O rio é vivo sob minh'alma,
e há nele a infância ressentida, lacuna de sonho,
luar ofegante de quem quer beijo e não ganha.
Faço manha, faço frente;
se atrás vem gente, me segura...
Chego sem engano, no mano a mano
na mais aparente paixão que assanha.
sangue bombeado das pálpebras.
Alguém me procura por dentro.
quem palmilha esse chão de abismos?
De onde essa voz que me avulta longe?
Quando?
se não sou o que ecoa
se não sou o que me habita as entranhas
de que sirvo escorrer?
minha lágrima é protesto
panfleto inútil do coração
alvejado de amor em praça pública...
e desse amor pendurado
pelos postes da rua Augusta
sobra a certeza da desventura
Encaro meu reflexo,
Espasmo,esquálido, estático
Na lágrima que o asfalto esconjura...
no espelho afloram abscessos do passado
conjugo hoje abortos mal sucedidos
fluem em meus seios córregos de prazer obscuro
volto a meus pés - minhas veias são rios.
Rio bombeado de mágoas.
Ninguém me procura no raso e nada profundo.
E enquanto isso, lá fora,
a cidade corre em silêncio
Contradiz com o caos aqui dentro e o palpitar inquieto
Sob os meus pés resquícios de pegadas sem história
sobre a minha cabeça
inventários alheios
e essa seiva e essa sede
que escorre pelos poros da cidade
e deixa seu cheiro e seu rastro...
quem vê os dois meninos de rua
que passam num barco de papel
tingido com as dores do meu peito?
ninguém os vê, ninguém os escuta
a dor e a luta que deles emana:perscrutando em silêncio
são eles dois vultos no tempo.
Quem é que dorme
quem é que deita
as dores deles no meu leito
e neste reduto de esquecimento,
o grito e o sonho viram quatro
pés de infância sobre a linha do tempo
que empina crianças no céu
que querem sonhar, mas que com as asas cortadas
caem no oceano de enrugados pés que as naufragam
alados os peixes devoram as ondas
que batem feridas como se amputadas
fossem: sereias de vidro não cantam
emergem das águas turvas
e como por encanto
seduzem sob o luar
O rio é vivo sob minh'alma,
e há nele a infância ressentida, lacuna de sonho,
luar ofegante de quem quer beijo e não ganha.
Faço manha, faço frente;
se atrás vem gente, me segura...
Chego sem engano, no mano a mano
na mais aparente paixão que assanha.
(Texto
coletivo publicado no grupo do concurso, pelo Facebook, no dia 26/10/14. Cada
poeta tinha de escrever uma estrofe com 3 versos. Os autores são: Jacqueline
Salgado, Gustavo Rodrigues, Cinthia Kriemler, Herton Gomes, Natasha Félix,
Lohan Lage, Bianca Velloso, Marcelo Asth, Analice Chaves, Gerci Oliveira,
Alvaro Barcellos, Francisco Carvalho Jr., Ricardo Thadeu, Andressa Barrichello,
Nathan Sousa, André Kondo, Felipe Crespo, Dora Oliveira, Maria Amélia Elói e
André Anlub).
BOLÃO DA FINAL
Conforme
divulgado no grupo do Facebook, quem quisesse enviar uma aposta para o placar
dessa emocionante final, concorreria ao livro “Livro de Ouro da Mitologia”.
Pois então, antes que os resultados comecem a ser liberados, divulguemos,
abaixo, todas as apostas. Vencerá aquele que acertar placar e vencedor exato.
Placar aproximado não será válido. Se ninguém acertar, não teremos vencedor. Apostas:
RICARDO THADEU X HERTON GOMES
12 X 05 (Simone Prado)
07 X 10 (Gerci Oliveira)
07 X
10 (Dora Oliveira)
09 X 08 (André Anlub)
07 X 10 (Natasha Félix)
06 X
11 (André Oviedo)
06 X
11 (Thiago Luz)
05 X 12 (Maria Amélia Elói)
10 X 07 (Jacqueline Salgado)
11 X
06 (Hugo Costa)
09 X
08 (Nathan Sousa)
11 X 06 (Georgio Rios)
10 X 07 (Edweine Loureiro)
07 X 10 (Adalberto Carmo)
10 X 07 (Marcelo Asth)
06 X 11 (Bianca Velloso)
Foram,
no total, 16 apostas. A coisa está tão dividida que esses dois empataram no
bolão: 08 preferências para cada um!
VOTAÇÃO POPULAR
Os votos da votação do público poderão
MIGRAR para este post! Serão contabilizados o do último post e deste, ok?
E OUTRA: A
VOTAÇÃO SERÁ ESTENDIDA. Ao invés de finalizar às 19 horas, será
encerrada às 23:30 hs. Boa sorte!
JURADOS
DOS VIDEOPOEMAS:
PAULO
FODRA E MARCOS BASSINI
Paulo Fodra e Marcos Bassini são, além
de escritores, músicos. Já participaram de etapas anteriores desta edição.
Foi solicitado aos dois que examinassem
não só a declamação e interpretação, mas que levassem também em conta o poema,
o conteúdo do poema. Segue, abaixo, vossos comentarios e escolhas:
PAULO FODRA DIZ...
PAULO FODRA DIZ...
“PERCURSO”: Poema muito
bem construído com bom ritmo e concisão. Na quarta estrofe, a rima pobre
não/inconstitucionalização soa forçada dentro do contexto do poema e provoca
uma queda brusca no ritmo. Ao ser declamado a musicalidade do poema se diluiu
na interpretação. Além do mais, o poeta fala “buceta” como quem diz “ursinho de
pelúcia”...
“ALONSO”: Poema
concebido para ser declamado. Quase que não funciona por escrito. Casamento
simbiótico perfeito entre texto e interpretação. Brilhante!
ESCOLHA
DE PAULO FODRA: “ALONSO”, DE HERTON GOMES
MARCOS BASSINI DIZ:
MARCOS BASSINI DIZ:
“ALONSO”: Herton
Gustavo engrandece seu texto – Conto? Poema? Quem decide é o autor: poema – com
uma interpretação emocionada e que emociona. A cada personagem afirmando que
Alonso, o amante que se foi, não vai voltar, sofremos, também, a perda.
Com a repetição - o alerta contínuo de todos aqueles que conhecem a
protagonista - o texto ganha ainda mais força e impacta até na resposta que não
dá: Alonso volta? Há de. Mas jamais saberemos.
“PERCURSO”: Ricardo
Thadeu tem, em mãos, um poema que fala de coisas teoricamente opostas: silêncio
e palavras. Palavras que queimam. Palavras que cortam. Palavras que precisam do
silêncio para ganharem força no momento em que serão proferidas. Sim, palavras
e silêncio são opostos, mas absolutamente complementares. Ricardo até consegue
mostrar isso, mas esquece que cada palavra precisa de uma emoção diferente na
hora de ser falada. Ele não sabe se olha o texto ou a câmera. Ele vacila. Quase
gagueja. Claro: Ricardo não é ator: é poeta. E oferece, na minha opinião, o
melhor poema. Por isso, é dele o meu voto.
ESCOLHA
DE MARCOS BASSINI: “PERCURSO”, DE RICARDO THADEU
PLACAR ATUAL:
HERTON GOMES 1 X 1 RICARDO THADEU
(AINDA RESTAM 14 JURADOS E A DECISÃO DO PÚBLICO)
APRESENTAÇÃO DOS JURADOS
Os jurados serão apresentados
juntamente com suas avaliações.
Marcelino
Juvêncio Freire (Sertânia, 20 de março de 1967), é um escritor brasileiro. Nascido
em Sertânia, no estado de Pernambuco, muda-se com a família para Paulo Afonso, Bahia, em 1969. Lá permanece por
seis anos, até voltar para Pernambuco e radicar-se na capital, Recife, onde
começa a fazer teatro. Em 1981, escreve os primeiros textos do gênero e participa
juntamente com artistas plásticos e escritores Adrienne Myrtes, Denis Maerlant,
Jobalo, Pedro Paulo Rodrigues e Regi So Ares, do grupo POETAS HUMANOS,
fundamental para sua formação artística. Ao longo da década de
1980, trabalha como bancário e inicia o curso de Letras na Universidade Católica de Pernambuco,
sem concluí-lo. Em 1989, freqüenta a oficina literária do escritor Raimundo
Carrero e, dois anos depois, é premiado pelo governo do Estado
de Pernambuco. Decide mudar-se para a cidade de São Paulo em 1991 e publica, de
forma independente, seus dois primeiros livros: AcRústico, de 1995 e EraOdito,
de 1998. Em 2000, publica o livro de contos Angu de Sangue. Em 2002, Marcelino idealizou
e editou a Coleção 5 Minutinhos, inaugurando com ela o selo eraOdito
editOra. É um dos editores da PS:SP, revista de prosa lançada em maio
de 2003,
e um dos contistas em destaque nas antologias Geração 90 (2001) e Os
Transgressores (2003), publicadas pela Boitempo Editorial. Faturou dois Prêmios
Jabutis; um em 2006, com a obra “Contos Negreiros” e um em 2014, com o romance “Nossos
sonhos”.
Antonio
Carlos Secchin (Rio de Janeiro, 10 de junho de 1952) é um poeta, ensaísta e crítico literário brasileiro. É
membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 3
de junho de 2004. Doutor em letras, é professor titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio de
Janeiro desde 1993. Ganhador de diversos prêmios literários,
organizador de antologias como as de João Cabral de Melo Neto, Cecília Meireles (edição do centenário), Mário Pederneiras, dentre outros. Começou a
ganhar destaque como crítico literário ao escrever o livro João Cabral: A
poesia do menos, vencedor de dois prêmios importantes: o do Instituto Nacional
do Livro (MEC) e o Sílvio Romero (ABL). Mais importante do que os prêmios
recebidos, o parecer do próprio João Cabral de Melo Neto define a grandeza do
crítico Secchin: "Entre todos os professores, pesquisadores e críticos que
já se debruçaram sobre minha obra, destaco Antonio Carlos Secchin. Foi quem
melhor analisou os desdobramentos daquilo que pude realizar como poeta"
(Entrevista concedida a Ricardo Vieira Lima, em 1991). Além do estudo sobre
João Cabral, publicou os livros A ilha (1971), Ária de estação (1973), Movimento (1976), Elementos (1983), Diga-se
de passagem (1988), Poesia e desordem (1996), Todos os
ventos (2002), Escritos sobre poesia e alguma ficção (2003), Guia
de sebos (2003, 4ª edição), 50 poemas escolhidos pelo autor (2006), Memórias
de um leitor de poesia (2010). Como organizador, foi o responsável pela
edição das poesias completas de Cecília Meirelles, por ocasião do centenário da
escritora e, mais que isso, a sua experiência em garimpar tesouros literários,
trouxe a público o primeiro livro de poesia publicado por Cecília e que estava
desaparecido: “Espectros”. Em 2009, encontrou outra raridade: poemas inéditos
de Carlos Drummond de Andrade, acompanhados de manuscritos com comentários do
poeta, trazendo aos leitores fontes importantes sobre o autor.Seu trabalho
crítico, por sua vez, ao se debruçar nas obras de autores como: Álvares de
Azevedo, Cruz e Sousa, Cecília, Drummond, Quintana, João Cabral, Ferreira
Gullar ou de ficcionistas como Machado de Assis ou cronistas como Rubem Braga,
sempre nos oferece uma visão inovadora dos autores, com sua análise precisa e
sua refinada capacidade interpretativa.Afora esta intensa atividade no mundo
das letras, é também um exímio colecionador de livros, especialmente os raros,
sendo um dos principais bibliófilos do país. A paixão pelos livros fez dele um
freqüentador assíduo e grande conhecedor dos sebos, o que lhe proporcionou a
publicação do “Guia de sebos”. Lançado em 2003, logo atingiu a lista dos mais
vendidos, se tornando uma publicação de utilidade pública, um guia essencial
aos admiradores e colecionadores de livros. Sua faceta poética ganhou destaque
com a publicação de Todos os ventos, que recebeu em 2002 o prêmio da
Academia Brasileira de Letras. No livro, o poeta revela sua capacidade de
criar, mesclando o rigor estético à criatividade poética. O crítico abre espaço
para o poeta, que reflete sobre o ato criativo: "Uma escrita / é uma
escuta / feita voz/ mar de mármore/ ou de papel/ lançado a esmo...". É o sétimo ocupante da
cadeira 19 da Academia Brasileira de Letras. Foi eleito
em 3 de junho de 2004, na sucessão de Marcos Almir Madeira, e recebido em 6 de
agosto de 2004 pelo acadêmico Ivan
Junqueira. Em seu discurso de posse privilegiou os poetas ao
destacar um belo trecho da obra de Cecília Meirelles: "Como os poetas
que já cantaram,/ e que ninguém mais escuta,/ eu sou também a sombra vaga/ de
alguma interminável música".
Sophie
Rebecca Lewis é escritora, editora e tradutora
do francês e do português. Ela tem traduzido obras por Marcel Aymé, Violette
Leduc, Stendhal e Julio Verne, entre outros. Ela é editora-chefe na editora
britânica And Other Stories e mora no Rio de Janeiro desde 2011.
Emilie
Audigier é formada em Letras e profissões do
livro na França, trabalhou com editoras em Paris, e dirigiu o Escritório do
Livro da Embaixada do Brasil, responsável pela divulgação de escritores de
língua francesa. Doutora em Letras (Universidade de Provence e UFRJ), fez
pesquisa de pós-doc na PGET/UFSC sobre os contos de Machado de Assis traduzidos
para o francês. Tradutora literária do português (Books, Chandeigne,
Flammarion, Leya), verteu números de escritores brasileiros contemporâneos.
Seus trabalhos são publicados nos livros Traduire le même, l’autre et le
soi (PUP), O trabalho da tradução (Contracapa), La poésie
du Brésil (Chandeigne), Retraduire en littérature de jeunesse (Peter
Lang), Le bestiaire imaginaires des voyageurs (Arthaud), Histoire
des traductions en langue française (Verdier). Atualmente é pesquisadora e
leciona no PosTrad/UnB; também dirige a coleção “Projectiles” na editora
francesa Passage(s).
José
Salgado Maranhão é poeta, letrista e jornalista.
Nasceu no povoado de Cana Brava das Moças, na cidade de Caxias, interior do
Maranhão, onde morou trabalhando na roça. Aos 15 anos, ainda adolescente,
mudou-se com os irmãos e a mãe para Teresina, Piauí, onde foi alfabetizado. Escreveu
artigos sobre música para um jornal local e conheceu Torquato Neto, que o
incentivou a ir para o Rio de Janeiro, o que fez no ano de 1972. Torquato Neto
também sugeriu que criasse um pseudônimo, segundo este, o nome José Salgado
Santos parecia nome de arquivista e não de poeta. Estudou Comunicação na
Pontifícia Universidade Católica (PUC). Terapeuta corporal, foi professor de tai chi chuan e mestre em shiatsu. A partir de 1976 colaborou em várias publicações com artigos e poemas, como a
revista "Música do Planeta Terra", a convite de Júlio Barroso, então
editor da revista, na qual também colaboravam Sergio Natureza, Caetano Veloso,
Ronaldo Bastos, Jorge Mautner e Jorge Salomão, entre outros. Em 1978 foi um dos organizadores, com Sergio Natureza e Moacyr Félix,do livro
"Ebulição da escrivatura -Treze poetas impossíveis" (Ed. Civilização
Brasileira, 1978, RJ), coletânea que reuniu diversos poetas, como Sergio
Natureza (assinando Sérgio Varela), Antônio Carlos Miguel (sob o pseudônimo de
Antônio Caos), Éle Semog, Mário Atayde, Tetê Catalão, entre outros. Publicou
poemas e artigos na revista "Encontro com a Civilização Brasileira"
(1978). Nos anos seguintes, publicou "Aboio" (cordel/ Ed. Corisco -Teresina
- 1984), "Punhos da serpente" (poesia/ Ed. Achiamé, RJ, 1989),
"Palávora" (poesia - Ed. Sette Letras, RJ, 1995), "O beijo da
fera" (poesia - Ed. Sette Letras, RJ, 1996) e "Mural de ventos"
(poesia - Ed. José Olympio, RJ, 1998). Em 1998, ganhou o prêmio "Ribeiro
Couto", da União Brasileira dos Escritores (UBE), com o livro "O
beijo da fera". No ano seguinte, com o livro "Mural de ventos",
foi o vencedor do "Prêmio Jabuti", da Câmara Brasileira do Livro,
dividido com Haroldo de Campos e Geraldo Mello Mourão. Em 2007 sua poesia foi
estudada na Universidade de Brown, em Providence, Rhode Island, nos Estados
Unidos. Tem poemas traduzidos para o inglês, holandês, francês, alemão e
espanhol. Sobre ele, declarou seu conterrâneo Ferreira Gullar:
"Salgado é um dos mais brilhantes poetas de sua geração e possui um
trabalho de linguagem muito especial". Em 2011 recebeu o prêmio
"Machado de Assis de Poesia", da Academia Brasileira
de Letras, indicado pela comissão integrada por Ledo Ivo, Afonso Arinos e
Alberto da Costa e Silva, este último, também relator oficial da indicação.
Sidney
Rocha é romancista, contista e editor
cearense, radicado no Recife. Publicou Sofia (romance, Ateliê editorial, 2005),
Matriuska (contos, Iluminuras, 2009) e O destino das metáforas (contos,
Iluminuras, 2011). Com esse livro ganhou o primeiro lugar, no seu gênero, no
Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 2012.
Sou
Luiz Bras, nasci em 1968, adivinhe onde.
Exatamente: em Cobra Norato, pequena cidade da mítica Terra Brasilis. Sou
fascinado por essa cidade vista primeiro num sonho. Se ela existe realmente ou
não, pouco importa. Você sabe que a vida em preto-e-branco, comum, não vale a
pena. A vida precisa ser colorida pela invenção. Pela fantasia. Pela
imaginação. Desde que sonhei com Cobra Norato, eu resolvi que nasci e moro até
hoje nela. Sou ficcionista e coordenador de laboratórios de criação
literária. Na infância eu ouvia vozes misteriosas que me contavam histórias
secretas. Hoje coleciono miniaturas e gravuras de zigurates. Gosto de pensar
que essas construções míticas, sagradas, simbólicas abrigam criaturas e
mistérios do passado e do futuro. De nosso mundo e de outros. Espantei-me ao
ver pela primeira vez, no Centro Espacial de Hooloomooloo, uma prótese
neurológica conectada a um exoesqueleto. Agora estou tentando resolver, na
literatura, a mesma mistura de fascínio e medo que nossos antepassados sentiram
ao domesticar o fogo. Só acredito em biografias imaginárias. E nos universos
paralelos de Remedios Varo. Venci duas vezes o importante e impossível Prêmio
Príncipe de Cstwertskst, na categoria romance (2010) e na categoria conto
(2014). Mantenho uma coluna mensal no jornal Rascunho,
de Curitiba. Intitula-seRuído branco. Nela escrevo sobre quase tudo, mas
principalmente sobre ficção científica e fantasia.
Leila Míccolis - Carioca,
ex-advogada, Mestra, Doutora e Pós-Doutorada em Teoria Literária / Ciência da
Literatura (UFRJ), escritora de livros (poesia e prosa, com obras publicadas na
França, México, Colômbia, África, Estados Unidos e Portugal), de novelas de TV,
entre elas: “Kananga do Japão”, “Barriga de Aluguel” e “Mandacaru”, teatróloga,
roteirista de cinema, júri de diversos concursos nacionais de poesia. Elaborou
verbetes para a “Enciclopédia de Literatura Brasileira” (MEC/OLAC). Coeditora,
com Urhacy Faustino, de Blocos Online, na Internet há dezoito anos.
Luize Valente é carioca e jornalista. Trabalha com
editora de matérias internacionais na Globonews. É autora, com Elaine Eiger, do
livro “ Israel Rotas e Raízes” (1999, ed. Fototema) e dos documentários “Caminhos da Memória – A Trajetória dos Judeus em
Portugal” (2002) e “A Estrela Oculta do Sertão” (2005). Estreou na ficção com o
romance “O Segredo do Oratório” ( 2012,
ed. Record, 3a edição). Em 2013, o livro ganhou a primeira edição estrangeira,
na Holanda, e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura. O novo livro, “
Uma praça em Antuérpia”, será lançado em
janeiro de 2015 também pela editora Record.
Lourenço
Mutarelli nasceu em 1964, em São Paulo. Escritor, artista
gráfico, roteirista e ator, publicou diversos álbuns de histórias em
quadrinhos, hoje cultuados entre o público do gênero. O cheiro do ralo,
seu primeiro romance, saiu em 2002, seguido por O natimorto e Jesus
Kid. Também escreveu peças de teatro e atuou em curtas-metragens e no
filme O cheiro do ralo, de Heitor Dhalia.
FLÁVIO MORGADO
(Já participou em etapas anteriores)
(Editor da Patuá)
Eduardo
Lacerda, autor do livro de poemas Outro dia de folia, nasceu
em Porto Alegre em 1982, mas vive em São Paulo, cidade que ama, desde os dois anos
de idade. Cursou Letras, com habilitação em Português e Linguística, naUniversidade
de São Paulo, mas não concluiu o curso. Como um legítimo geminiano, também não
conseguiu concluir nada até hoje. Coeditou a Revista Metamorfose e O
Casulo – Jornal de Literatura Contemporânea. Já trabalhou como assistente de
produção cultural na Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos
de Poesia e Literatura e como produtor cultural no Programa São
Paulo: um Estado de Leitores. Atualmente, é coeditor da Editora Patuá, onde
acredita que livros são amuletos. Tem poemas publicados em revistas eletrônicas
e impressas como Entrelivros, Mirante, Ventos do Sul, Cronópios, Germina e
em algumas antologias, como a Antologia Vacamarela e El Vértigo
de los Aires (México). Não se considera poeta, sua verdadeira paixão é
fazer nascer livros e poetas. Não se leva a sério, embora leve a sério a
literatura. Por fim, gosta de truco, tango, cerveja, tarot, video-games e
orquídeas. Outro dia de folia foi premiado pelo ProAC 2011 - Programa
de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo.
OBS: O editor Eduardo Lacerda preferiu fazer um comentário geral e sucinto, em sua escolha. Segue:
Eduardo
Lacerda: Fiz a leitura algumas vezes e gostei de
ambos os poemas, são bem diversos entre si e para escolher o poeta com um
projeto consistente eu deveria mesmo ler mais poemas de cada um deles. No
entanto, como é preciso escolher um… creio que “Percurso” se saiu melhor que “Alonso”
nesta final. Meu voto vai para “Percurso”.
Victor
Paes é escritor, ator, professor e editor da
revista e da editora Contraria do Vento. Publicou em 2007 o livro de poesía O
obvio dos sábios e prepara seu primeiro livro de contos. Tem seus
trabalhos publicados em sites e revistas como Polichinello, Não funciona,
Cronópios, Germina Literatura, entre outros. Escreve também para teatro e ja
teve montadas algumas de suas pecas, dentre elas Mara em um quarto e As
três Marias,que participou do projeto Nova Dramaturgia, sob direção de Roberto
Alvim, e Os cálices do deus, premiado no Concurso Rio Jovem Artista, da
RioArte. Cmo ator, trabalhou em diversas montagens e projetos, como o grupo de
poesia Arranjos para Assobio. Blog do autor: http://victorpaes.blogspot.com/
Título:
Percurso (Ricardo Thadeu)
Antonio Carlos Secchin: Criativo desenvolvimento a partir do desafio com
palavras difíceis de serem encaixadas com naturalidade. Bom ritmo e sintaxe bem
elaborada.
Sophie Lewis: Não
posso criticar o uso das palavras no poema todo. Obviamente tem habilidade e um
senso fino de uso da língua, nos dois sentidos. Gostei da ideia da resposta
‘não’ de algumas palavras, como se fossem com crateras. Só acho uma pena que o
poeta não viu a oportunidade aqui de abrir um mundo maior, novo, inesperado,
por meio dessas palavras, ao invés de ficar só olhando para e pensando em elas.
Emilie
Audigier: O interesse do poema decorre
de sua estrutura simples, com uso de versos curtos, porém eficientes, sobre a
tarefa do poeta, e sua relação com a linguagem. A metáfora da faca está
desenvolvida com destreza, assim como a presença de um campo léxico rico
relacionada a escultura da linguagem (afiar, amolar, regular, lâmina). O uso da
primeira pessoa do singular da uma dimensão lírica e intimista do poeta,
colocando um verbo de ação a cada início de estrofe. Apesar da temática ser
comum, o poeta usou versos com uma respiração própria. O principal defeito
residiria talvez no uso repetido de “palavra” (“palavras” e “idioma” e “língua”
se encontra oito vezes num poema relativamente curto), ou seja, em cada
estrofe, criando uma repetição talvez redundante, ao invés de inventar outros
processos poéticos variados que poderiam enriquecer o poema.
Sidney
Rocha: Entre as duas composições (vou preferir
este termo), e em tudo achando que o “desafio” de palavras, somente curioso mas
em nada realmente grande para o real e grande desafio da poesia, que é
emocionar (mesmo que Mallarmé tenha respondido a Degas de que “poemas se fazem
com palavras”, em oposição às ideias [no que Mallarmé provavelmente quis
responder ao pintor era que palavras expressam ideias, afinal, logo poemas são
feitos com palavras que deem corpo, de verdade, às ideias], mas nisso não me
alongarei mais, para dizer que: “percurso” que, tanto quanto o outro, não
conseguiu incrustar naturalmente as palavras que se pediu na regra (“poesia” e
“regra” são quase palavras opostas), No texto, isso encontra a pior das
“aplicações” em “São todas feras,/ como a palavra magma/ e como a palavra
buceta que, na língua,/ queima em brasa.”, mas que pelo menos é trabalho de
mais musicalidade e trabalha melhor a linguagem que a construção “Alonso”.
Salgado
Maranhão: Meu voto recai neste poema, pela
sua noção de síntese, pelo que conseguiu realizar poeticamente com os termos
que lhe foram apresentados.
Luiz
Bras: Poema tecnicamente bom, mas não me
arrebata como leitor.
Leila Míccolis: “Percurso” é um belíssimo poema. O participante incorporou com mestria as difíceis palavras que lhe foram propostas, sem deixar o poema “esdrúxulo” (para usar outra palavra difícil e incomum...), em nenhum momento. São realmente palavras afiadas em todos os sentidos: aprimoradas, mordazes, cortantes, penetrantes, polidas no silêncio de quem tem consciência da importância de cada uma delas. A leitura do poema faz-me lembrar do Ouroborus, criatura mítica (dragão ou serpente que morde a própria cauda – “as palavras serpenteiam”), representando um ciclo completo, sendo também o símbolo da eternidade, o que, dentro deste texto, acresce-lhe um significado metalinguístico: a eternidade da poesia, que, ao completar seu ciclo de existir, refaz-se e renova-se infinitamente. O autor está de parabéns pelo admirável trabalho que revela uma técnica extremamente precisa, elaborada, requintada e elegante.
Leila Míccolis: “Percurso” é um belíssimo poema. O participante incorporou com mestria as difíceis palavras que lhe foram propostas, sem deixar o poema “esdrúxulo” (para usar outra palavra difícil e incomum...), em nenhum momento. São realmente palavras afiadas em todos os sentidos: aprimoradas, mordazes, cortantes, penetrantes, polidas no silêncio de quem tem consciência da importância de cada uma delas. A leitura do poema faz-me lembrar do Ouroborus, criatura mítica (dragão ou serpente que morde a própria cauda – “as palavras serpenteiam”), representando um ciclo completo, sendo também o símbolo da eternidade, o que, dentro deste texto, acresce-lhe um significado metalinguístico: a eternidade da poesia, que, ao completar seu ciclo de existir, refaz-se e renova-se infinitamente. O autor está de parabéns pelo admirável trabalho que revela uma técnica extremamente precisa, elaborada, requintada e elegante.
Luize Valente: O
poema cumpre bem o desafio das três palavras impostas, que fluem no todo sem
que nenhuma das introduções soe de forma forçada. Resulta numa
bela alegoria ao ofício do Poeta / Escritor: o “percurso” da palavra à obra, do
silêncio à arte. Sua imagem – o ir
afiando as palavras – é criativa, original e impactante. Do ponto de vista
técnico, o poema é igualmente bem-sucedido, com interessantes rimas internas,
imperfeitas e ricas (em “palavras” / “afiá-las” atinge mesmo, eu diria, uma
rima imperfeita preciosa), assonâncias alternadas em “e”, “i” e “a” e
aliteração em “l” que lhe conferem especial musicalidade.
Lourenço Mutarelli: Gosto da síntese. É para mim o melhor entre os dois, pelas escolhas, o
ritmo e o jogo com as palavras.
Flávio Morgado: A escolha das palavras não ajudou. O começo do poema estava fluindo bem,
até que a aparente necessidade de encaixar as palavras fez do poema manco. No
fim, apruma-se, belos versos: “Subverto a lâmina das palavras/ para, novamente,
(no silêncio) afiá-las”.
VOTAÇÃO POPULAR: 44 VOTOS PARA RICARDO THADEU
Victor Paes: Nesse poema o poeta cria um ambiente perigoso, que é o de falar de palavras: perigoso por correr o risco de tornar abstrato esse ambiente, quando no fundo as palavras são o que temos de mais concreto. Falar de “silêncio” e “brasa” é perigoso, pois são ideias ainda mais batidas do que todas – pois tudo não é batido? Mas o poeta faz tudo isso como um teste de limites, pois há sempre alguma palavra que faz o contraponto e impede o exagero – usando, inclusive, muito bem as palavras sugeridas, difíceis. E quando um poeta testa os limites, com coragem e precisão, sem dúvida é um poeta interessante.
Victor Paes: Nesse poema o poeta cria um ambiente perigoso, que é o de falar de palavras: perigoso por correr o risco de tornar abstrato esse ambiente, quando no fundo as palavras são o que temos de mais concreto. Falar de “silêncio” e “brasa” é perigoso, pois são ideias ainda mais batidas do que todas – pois tudo não é batido? Mas o poeta faz tudo isso como um teste de limites, pois há sempre alguma palavra que faz o contraponto e impede o exagero – usando, inclusive, muito bem as palavras sugeridas, difíceis. E quando um poeta testa os limites, com coragem e precisão, sem dúvida é um poeta interessante.
Alfredo Fressia: Excelente poema. Breve, vai direto ao tema: um percurso entre as
palavras (afiadas, “reguladas”, desafiadas, mas rebeldes: i.é., o que a poesia
subverte é a relação sempre nova do poeta com as palavras, seu único material).
O poeta fez milagres com as palavras que lhe foram propostas. Belíssimo
exercício para entender que a poesia pode trabalhar com todos os níveis de
linguagem, que não há palavras “anti-poéticas”. Talvez poderia ter usado as
duas grafias, a acadêmica “boceta” junto à do “u” (talvez..., porque podia
introduzir um elemento de humor que alteraria a intenção do poema). O ritmo das
ideias, como das breves estrofes, está impecável. Poeta sabido, “afiado”...
Parabéns!
Título:
Alonso (Herton Gustavo Gomes)
Marcelino
Freire: Resolveu
muito bem o desafio. Com humor. E com o tipo de poema que bebe na fonte da
crônica diária. Belo resultado. No entanto, prefiro o outro poema – quase, com
este, empatado. Bons resultados.
Antonio Carlos Secchin: Interessante
desdobramento do mote “Alonso não volta”, mas a estrutura é algo frouxa e
arbitrária.
Sophie
Lewis: O poeta do ‘Alonso’ se divertiu no
escrito e na imaginação do cenário de Alonso – e comunica o gracejo com humor
meio picante. Gostei do jeito de espalhar referências ao pessoal em torno da
pessoa ausente: faz um mundo ao mesmo tempo muito familiar e também sempre um
toque exagerado. A inclusão das faturas, da voz do metrô, da atendente da
sorveteria, da máquina do banco: todos fazem efeito meio dadá, cut-n-paste, que
não é só efeito mas acaba dando uma ideia de multiplicidade em volta de uma
ausência ao mesmo tempo clássica – tipo romântica, de amor quebrado – e muito
moderna, do modernismo mesmo (penso em Mallarmé! Rapidamente). Não estou certa
que a última linha entrega a premissa do poema muito bem, mas além disso, acho
bem sucedido.
Emilie
Audigier: Uma das principais qualidades
do poema reside na preocupação com o ritmo, trazendo para o leitor um prazer
singular. A repetição “Alonso não volta”, usada como leitmotive do poema, deixa o leitor em suspenso, curioso de
ouvir até o final, dando uma respiração fundamental ao poema. O humor está
presente até a surpresa final, que vem contrariando a argumentação feita pelos
personagens rocambolescos do quotidiano do poeta. Convém destacar a
originalidade do poema no seus recursos poéticos, como o uso da aliteração e da
rima interna nos versos “Poeta, sofrer de amor só é bonito na revista / Arranja
uma moça, vai lavar louça, deixa de desperdício, encontra outro vício,
outro ofício, outro hobby, outro norte, outro rapaz! Arranja outro bofe!” Acredito
que o poema lido de voz alta funcionaria bem; poderia até ser adaptado em
música pelo impacto sonoro que seria criado.
Sidney
Rocha: “Alonso”, esse tipo de
“poesia-que-narra” tenta estabelecer uma narrativa mas não constrói
personagens, senão tipos, mesmo assim frágeis, calcados nos lugares-comuns (em
certos anacronismos, trocadilhos e frases-feitas, algo ainda do mundo anedótico
do pior modernismo de 22, tipos como que tentam se sustentar nalguma
inspiração canhestra drummondiana, criando o seu “E agora, (que)Alonso não
volta?”, claro, nem de longe se comparando, de modo que perde este desafio para
“percurso’’.
Salgado
Maranhão: É um bom poema, mas, a meu ver,
divagou demasiadamente, ao ponto de, ao final, quase nos esquecermos das
palavras apresentadas como motivação.
Luiz
Bras: Voto neste, pela irreverência e pelo bom
humor.
Leila
Míccolis: Este poema utilizou igualmente
as palavras estabelecidas com muita propriedade; porém ao contrário do anterior,
“soltou o verbo” e a rima, de
vários tipos: pobres, ricas, interiores, raras, assonantes, ecoicas – uma verdadeira
orgia rimática que imprime ao poema, apesar dos enormes versos bárbaros (mais
de doze sílabas), um ritmo fluente e especial. Quanto ao conteúdo, a poesia
mescla nomes hipotéticos e locais inventados, apresentando e mapeando o mundo
da “personagem” no qual ela transita, bem ao estilo de Borges (que criou um
novo imaginário urbano), mencionando porém pessoas facilmente reconhecíveis
dentro da realidade e do cenário do cotidiano brasileiro.
COMENTÁRIO GERAL DE LEILA MÍCCOLIS:
Em primeiro lugar, parabéns ao concurso pela altíssima
literariedade dos dois finalistas, ambos excelentes em seus respectivos estilos.
Dificílimo é optar por um dos participantes, justamente porque os gêneros de
composição são totalmente diversos, e ambos são hábeis em suas técnicas de
construção. Assisti, pela postagem no blog, os dois vídeos com os autores
falando seus poemas e, em minha opinião, o autor de “Percurso” foi brilhante, bem melhor em sua performance do que o autor de “Alonso”, o qual podia ter valorizado seu texto através de uma
interpretação mais pausada e irônica, contrastando o desenrolar do enredo com o
tom final. Já “Percurso”, na voz de
seu criador, foi perfeito: ganhou ainda mais vida e brilho ao acentuar a intensidade
sonora de suas delicadas rimas, lapidadas e sutis. Este poema é um primor! No
entanto, atendo-me às poesias em si – já que o concurso é de poesia –, embora
eu me incline a apreciar mais os poemas sucintos, até pelas dificuldades que a concisão
engendra, desta vez escolho “Alonso”, motivada pela originalidade de uma narrativa
contemporânea teatral bastante criativa, na qual Alonso, o responsável pelo
conflito, ausente-presente porém invisível o tempo todo, é alguém praticamente transformado
em insert recorrente, e/ou em flash-back rememorativo. Simultaneamente,
há a narração da saga épica (o épico também pode ser lírico) de quem o esperará
sempre (Penélope?...), apesar de tudo e contra todos, desafiando o “destino” desmesuradamente.
Tal como Pessoa propôs, o autor monta uma cena
viva (interconectando poesia e teatro), na qual apresenta uma rica galeria de
tipos, inserindo o particular dentro do universal (o arquétipo do amor); o
coletivo dentro do subjetivo; e o todo social dentro do complexo microcosmo afetivo
– pessoal e único – de um ser humano apaixonado, imune ou altamente resistente
a quaisquer previsões alheias de uma catástrofe irreversível.
Luize Valente: O
poema cumpre de forma inteligente o desafio proposto e as três palavras
impostas surgem naturalmente e com coerência, principalmente “ortônimo” – no
contexto do elenco de nomes e sobrenomes que fazem o poema se desenrolar e se
tornam sua marca registrada – e “piço” – tendo em conta o tom popular que
perfuma os versos de dor. “Coadunar”, ainda que, à primeira vista, e em
abstrato, possa parecer ligeiramente forçado no contexto utilizado, ganha um
colorido todo especial na fala da mãe do protagonista, que, por sua vez, dessa
forma, ganha vida enquanto personagem. Imaginamos logo uma Dona Lourdes de
palavras rebuscadas, o que confere à personagem um tom cômico em meio à
tragédia que muito se coaduna com o
tom popular já mencionado. A imagem
do homem devastado por uma paixão / separação e que, por causa disso, parece
escutar o mundo inteiro, da analista ao jornaleiro, passando pelos funcionários
dos correios e do supermercado, lhe dizendo que o amado não volta mais, resulta
fortíssima e bela. É fácil ver nosso
herói, em delírio, com os olhos vermelhos, deambulando pelas ruas. É fácil
sentir sua dor rasgando a alma, sua solidão no meio de tanta gente. É tão somente um poema de amor – o tema
mais antigo e comum da poesia – e, apesar disso, resulta uma obra com uma
originalidade e uma criatividade que surpreendem. Tecnicamente, considero
interessantes para o fator poético-narrativo a rima misturada e a forma livre.
As rimas quase sempre perfeitas – com algumas dignas exceções, como “mais” /
“Gás”, “moça” / “louça” ou “metrô” / “amor” – combinam, por sua vez, com o tom
popular do poema. Já as frequentes rimas internas, bem como o recurso fônico à
repetição “Alonso não volta”, favorecem a bem-sucedida cadência musical. Por
fim, gosto também do recurso à gradação – com o clímax sendo atingido pelo
mundo inteiro fazendo um “coro” – e do paradoxo – tão próprio
do amor, já dizia Camões – colocando um ponto final.
Lourenço Mutarelli: Muito bom, mas um pouco truncado. Acho que o uso de tantos nomes
próprios quebraram o ritmo. Por outro lado, as palavras impostas eram muito
difíceis.
Flávio
Morgado: O poema tem humor e ironia, e isso
é muito bom. No entanto, técnicamente não é um bom poema. Como já vinha
antecipando em júris anteriores, ainda há uma dificuldade em entender o poder
do verso, o poder gravitacional da pausa. Tecnicamente, pareceu uma “prosa
empilhada”, a pesar de muitos acertos e uma narrativa interessante.
VOTAÇÃO POPULAR: 91 VOTOS PARA HERTON GOMES
VOTAÇÃO POPULAR: 91 VOTOS PARA HERTON GOMES
Victor
Paes: A atmosfera belamente épica
desse poema é extremamente interessante. Ótimos personagens, ótimos nomes.
Ótimas citações de nomes de empresas, bancos e outras instituições que ajudam
tanto a se negar a volta de qualquer Alonso. É um poema irônico, dinâmico,
vivo, de ruas e personagens vivos. E, por isso mesmo, profundo. Escolho “Alonso”
por sua força e seu poder de arrebatamento – um arrebatamento dramático das
ruas, que parece fácil, mas na verdade é bem difícil de se encontrar.
Alfredo Fressia: Outro belíssimo texto. Herdeiro do poema de narração breve (penso em
Bandeira, mas também em alguns momentos do Drummond), próximo à blague (e de fato, é um texto exuberante
de bom humor). O impossível retorno do Alonso vai num crescendo –urbano, universal- para acabar na teimosa esperança do
amante. Lohan, esses dois poemas são nota 10, ambos! Adequados aos
temas, bem estruturados, obras de lavra pessoal dos poetas – e não mera
obediência cega a princípios tradicionais da retórica. Só resta ao pobre jurado
escolher entre 10 e 10, e votar com a mais imperdoável subjetividade. Parabéns
aos dois poetas! Que final!
ESCOLHA DE MARCELINO FREIRE: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA DE SECCHIN: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA DE SOPHIE LEWIS: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE EMILIE AUDIGIER: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE SALGADO MARANHÃO: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA DE SIDNEY ROCHA: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA DE LUIZ BRAS: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE LEILA MÍCCOLIS: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE LUIZE VALENTE: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE LOURENÇO MUTARELLI: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA DE FLÁVIO MORGADO: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA POPULAR: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE EDUARDO LACERDA: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA DE VICTOR PAES: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE ALFREDO FRESSIA: "ALONSO", DE HERTON GOEMS
ESCOLHA DE SOPHIE LEWIS: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE EMILIE AUDIGIER: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE SALGADO MARANHÃO: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA DE SIDNEY ROCHA: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA DE LUIZ BRAS: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE LEILA MÍCCOLIS: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE LUIZE VALENTE: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE LOURENÇO MUTARELLI: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA DE FLÁVIO MORGADO: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA POPULAR: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE EDUARDO LACERDA: "PERCURSO", DE RICARDO THADEU
ESCOLHA DE VICTOR PAES: "ALONSO", DE HERTON GOMES
ESCOLHA DE ALFREDO FRESSIA: "ALONSO", DE HERTON GOEMS
PLACAR FINAL:
RICARDO THADEU 8 X 9 HERTON GOMES
PARABÉNS, HERTON GUSTAVO GOMES!
VOCÊ É O NOVO CAMPEÃO DO CONCURSO DE POESIA AUTORES S/A!
OBRIGADO A TODOS PELA COMPREENSÃO, PACIÊNCIA, LEITURA, ESFORÇO, AJUDA, ENFIM, TUDO!
FOI UM BELO CONCURSO, COM SEUS ERROS, SEUS ACERTOS, ENFIM... COMO A VIDA: IMPREVISÍVEL E REPLETO DE EMOÇÕES.
RICARDO THADEU E HERTON GOMES PROTAGONIZARAM A FINAL MAIS EMOCIONANTE DE TODAS AS EDIÇÕES DO AUTORES S/A ATÉ ENTÃO.
APLAUSOS IMENSOS A VOCÊS. CONQUISTARAM JURADOS DOS MAIS ALTOS PATAMARES DA NOSSA CENA LITERÁRIA.
HERTON, TE VEJO NA PATUÁ.
ATÉ A PRÓXIMA!
AUTORES S/A
UMA SOCIEDADE DIFERENTE DAS OUTRAS
AGRADECIMENTOS:
EDITORA PATUÁ
CRIARTE EDITORA
SEC. DE CULTURA DO RIO DE JANEIRO
MUSA RARA
CLANDESTINOS
BLOCOS ONLINE
REVISTA BIOGRAFIA
REVISTA SAMIZDAT
REVISTA NEFELIBATA
E A TODOS OS JURADOS!
OBRIGADO A TODOS.
(LOHAN LAGE PIGNONE)
9 comentários:
Aguemtem poetas Herton e Ricardo, quem manda serem tão especiais
Alonso - Herton Gustavo
Empatou a coisa! segura, segura peão!!!
VOTAÇÃO ENCERRADA!
JÁ JÁ A CONTAGEM FINAL DA VOTAÇÃO POPULAR!
OBRIGADO!
VOTAÇÃO ENCERRADA!
JÁ JÁ A CONTAGEM FINAL DA VOTAÇÃO POPULAR!
OBRIGADO!
Eduardo Lacerda, O CARA da editora Patuá escolheu o poema do Ricardo. Precisa falar mais nada
DOIS GRANDES POETAS !!! . HERTON GUSTAVO GOMES É O MEU FAVORITO PELO AR MODERNO E TRÁGICO DOS ROMANCES QUE VEMOS NO NOSSO COTIDIANO... . ACOMPANHO HERTON GUSTAVO POR REALMENTE " BEBER" SEUS VERSOS ,SEU TOM HILÁRIO E QUASE " METAFÍSICO" . TORÇO FRENETICAMENTE POR ESSE POETA DECIDIDO , AFOITO , SAGAZ , DOCE , MELANCÓLICO ,TENAZ... . VAI HG , VOCE TEM MUITO ESPAÇO E TALENTO E ENTÃO POETA PLENO...CORRA CONTRA O TEMPO !!!. QUE ALEGRIA ! QUE EXTÂSE... . ALONSO VOLTA HG !.
DOIS GRANDES POETAS !!! . HERTON GUSTAVO GOMES É O MEU FAVORITO PELO AR MODERNO E TRÁGICO DOS ROMANCES QUE VEMOS NO NOSSO COTIDIANO... . ACOMPANHO HERTON GUSTAVO POR REALMENTE " BEBER" SEUS VERSOS ,SEU TOM HILÁRIO E QUASE " METAFÍSICO" . TORÇO FRENETICAMENTE POR ESSE POETA DECIDIDO , AFOITO , SAGAZ , DOCE , MELANCÓLICO ,TENAZ... . VAI HG , VOCE TEM MUITO ESPAÇO E TALENTO E ENTÃO POETA PLENO...CORRA CONTRA O TEMPO !!!. QUE ALEGRIA ! QUE EXTÂSE... . ALONSO VOLTA HG !.
sobre o titulo “O DESERTO OLHAR DO ESCURO” , na minha opinião ficaria melhor assim :
O olhar do deserto escuro !
Essa é minha opinião, tenho um blogger onde divulgo meus poemas, ela se chama : Poemas Oficiais, alegraria - me se você visitasse ela.
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