terça-feira, 4 de agosto de 2009

Meu Desejo Clandestino



Eu a desejei tanto, que meu corpo até desafiaria as leis da ciência e engravidaria sem a intervenção masculina.
Acordei numa manhã de janeiro, férias, verão, praia, e lá estavam eles: redondos e rijos, meus seios mal cabiam dentro do biquini. Que alegria senti quando desconfiei pela primeira vez que a carregava comigo! Queria logo ter enjôos matinais, ostentar meu barrigão, comprar berço, carrinho, trocar receitas de grávidas, fazer diários...


Depois de anos de preconceitos, votos, sutians queimados, sufragistas, direito ao aborto, pílula anticoncepcional, etc... Para algumas mulheres é uma afronta alguém pós-graduada, mulher independente, que se fez sozinha, com um futuro promissor, uma expoência entre o juristas, querer ser apenas mãe.
Apenas? Não.

Nunca havia sentido nada mais prazeroso e fantástico na vida do que sentir os pézinhos dela deslizando de dentro de minha barriga, como um carinho de dentro para fora. Ela estava ali, dentro de mim, junto comigo, comendo comigo, respirando comigo, fazendo companhia à solidão, a minha alma. Luiza.

A realização entrou na minha vida de diversas formas: no amor, no trabalho, com a minha família, meus amigos, minhas viagens, mudanças, mas a felicidade, essa só veio junto com ela, que mesmo antes de nascer, me fez entender, que nada no mundo poderia me fazer amar mais do que eu a amo. Um amor que dói de de tão agudo.

Foi muito bom me desfazer dos meus processos, dos meus prazos, das minhas legislações e dar seus lugares aos livros sobre mães e filhas, nomes de bebês.
Foi divino não querer responder cada afronta jocosa, de minhas colegas de trabalho, advogadas raivosas, feministas impetuosas, que me odiaram por querer se mãe, em um mundo tão ruim, tão machista, eu me "rendi" a sociedade tradicionalista... E pela primeira vez, eu ri, não tive vontade de brigar pelos meus direitos, no caso, o de estar grávida. Eu estava feliz, plena, suave, completa. Meus hormônios eram como ópio, entorpecendo meu corpo de serenidade.

Meu marido, acostumado a ver uma mulher severa, advogada centrada, dentro de taillers de grife, saltos altíssimos e sempre de dietas, agora se espantava ao se deparar com uma mulher de cara lavada, sentada no chão, de vestidos largos, em frente a uma bacia de lichias, sem se importar com as unhas que estragariam, leve como uma pluma com a cabeça nas nuvens.Ele também estava feliz com a chegada do bebê, mas principalmente com a despedida do meu mal humor.

Passamos 9 meses conversando, eu e ela, dia e noite, falamos sobre nós e sobre o mundo que a esperava e finalmente ela estava pronta. No fundo, queria guardá-la para sempre, pois dentro de mim eu não teria que dividí-la com ninguém.

Com uma peridural, ela deixou meu útero e desabrochou para a vida.
Trouxeram ela para os meus braços, Luiza estava quentinha, se aconchegou em mim, mamou e sem saber nadinha ainda dessa vida, fez de mim uma mãe. Sua mãe.

Com o sol entrando pela janela do hospital, iluminando uma relva dourada sobre a cabeça de minha filha, lembrei do poetinha, e sem medo de parecer clichê, cantarolei baixinho: ..." e um raio de sol, nos teus cabelos, como um brilhante que partindo a luz explode em sete cores.... revelando então os sete mil amores... que eu guardei somente para te dar... LUIZA...".

11 comentários:

Ernesto Ulysses disse...

Juliana, você demonstrou com muita emoção a alegria de ser mãe. Acho que ser mãe é uma coisa divina. Parabéns e que você e sua filha sejam muito felizes.

Sim! Podemos pensar! disse...

Fiquei emocionado...(rsrsrs)
Muito lindo esse texto,essa experiência.Vejo a maternidade como a sublime missão da mulher nessa vida e você descreveu lindamente esta experiência tão divina.

Parabéns!!!

Saúde e Felicidades para Luiza!!!

Juliana Künzel disse...

Rsrsrsrsr... Gente, eu não sou mãe, eu descrevi uma personagem.
como o próprio titulo diz, esse é o meu desejo clandestino....
Beijos

Camila disse...

Um bom autor, tem de saber convencer os leitores; tem de ter bons argumentos que sustentem a ideia que ele defende no texto. A tão falada verossimilhança, fundamental para desencadear os fatos. Ju, se eu não te conhecesse, teria me convencido de que você é uma mãe realizada. Os sentimentos que a gravidez traz, as mudanças, a satisfação, estão muito bem descritos. Palavra de uma mãe coruja. Parabéns pela sensibilidade!

Lohan disse...

rsrsrs
Eu já estava rindo aqui dos comentários. Dps cheguei a ficar intrigado, será mesmo que a Juliana é mãe e eu nem sabia? rsrs
Luiza, nome lindo! Se tiver uma filha, ponha mesmo este nome.
Lindo texto Juliana, vc desta vez me surpreendeu. Geralmente costumo ler textos cômicos seus, e neste texto, vc foi tão suave, tão... Maternal, digamos assim, que me deixou de queixo caído. Emocionante mesmo. Essa semana está surpreendente mesmo, rs, eu descambando pro texto bem humorado, vc para o texto repleto de sensibilidade e emoção...rs O que mais teremos de surpresas?? rs
Meus parabéns, de verdade. Q esse seu desejo a la Clarice Lispector, rs, seja realizado. Um dia ele irá, esteja certa. Luiza já está a caminho... Um dia ela encontra nosso mundo.
Bjão!!

Sim! Podemos pensar! disse...

Pois é...rsrsrsrs...também me convenceu,viu como seu texto ficou bom!
Parabéns e que venha a Luiza!!!

Andréa Amaral disse...

Nossa, eu já estava pronta pra convidar a Luiza pra vir brincar com o meu Davi, te pedir receitas de papinha (estou nesta fase da maternidade)e quando li que você NÃO é mãe, fiquei estática. Realmente, não devemos confundir o autor e a obra.Desta vez vc se superou.Maravilhoso, "mamãe".Sem querer ser indiscreta, já sendo: você teve gravidez psicológica?KKKK

Andréa Amaral disse...

Outra coisa: que linda esta foto do pézinho...

Juliana Künzel disse...

rsrsrs....Gente, isso é tudo o que eu imagino como é gestar uma criança e depois tê-la... E é como eu gostaria que acontecesse comigo qdo for a hora ... Ainda falta bastante.... Mas não tive gravidez psicológica não,Andréa rsrsrsrs....
Mas se eu tiver uma filha com certeza se chamará Luiza e o motivo desse nome, lhes darei em outra crônica...

Unknown disse...

Caramba, texto sensível e emocionante!!!!!!!!!!!!!! Adorei!!!!

Unknown disse...

Que declaração!Só quem é mãe entende como é mágico o momento em que um pequeno ser,ainda em formação,se locomove dentro de nossas barrigas,e com isso ,percebemos que a maior dádiva que nos foi dada é a de gerar um pedaço de nós!
Parabéns!!!