Vinte e uma horas e alguns minutos. Minutos suficientes para que eu me atrasasse para o cinema. Não é à toa que não gosto de Segundas feiras. Sempre que tento fazer algo de bom neste dia, simplesmente não dá certo. Desta vez marquei com uma amiga para assistir a um filme. Segundas feiras têm cara de tédio e de solidão e eu não estava nem um pouco a fim de passar a noite assistindo Tela Quente em casa, de jeito nenhum...
- Mas como assim os ingressos acabaram?
Perguntei, perplexa, para a atendente.
- É porque hoje a entrada é mais barata, época de férias, sabe como é...
- E o pior que esta era a última sessão da noite...
- É, infelizmente você deu azar...
Logo assim que deixei o guichê, meu telefone tocou
- Onde você tá, sua maluca? Perguntava Renata, aflita .
- A um passo de um surto psicótico. -respondi- e você?
- Quê? Um passo de onde?
- Esquece. fala.
- Eu tô assistindo o filme. Você tava demorando, encontrei com a Letícia e a Aline na fila. Decidi entrar com elas e te esperar aqui.
- Acabou a porra do ingresso! Não tem como eu entrar.
- Você quer que eu...
- Não. Fica aí e assiste essa bosta! Amanhã a gente se fala.
Perguntei, perplexa, para a atendente.
- É porque hoje a entrada é mais barata, época de férias, sabe como é...
- E o pior que esta era a última sessão da noite...
- É, infelizmente você deu azar...
Logo assim que deixei o guichê, meu telefone tocou
- Onde você tá, sua maluca? Perguntava Renata, aflita .
- A um passo de um surto psicótico. -respondi- e você?
- Quê? Um passo de onde?
- Esquece. fala.
- Eu tô assistindo o filme. Você tava demorando, encontrei com a Letícia e a Aline na fila. Decidi entrar com elas e te esperar aqui.
- Acabou a porra do ingresso! Não tem como eu entrar.
- Você quer que eu...
- Não. Fica aí e assiste essa bosta! Amanhã a gente se fala.
Disse isso e desliguei sem delongas. É interessante minha amizade com Renata... Ela nunca se importa com minhas reações explosivas e irônicas. Acha graça. Talvez porque ela seja sempre otimista, alegre ou porque não entende nada do que eu digo.
Pronto. Lá se foi o meu plano perfeito para um pouco de distração naquela noite. Lamentei não ter um plano B... Desci as escadas do cinema, pensando no que faria. Ir para casa estava fora de cogitação. Além do mais, aquela agitação toda me deu fome. Achei melhor ir até a praça de alimentação. E foi só eu pisar lá, para me lembrar do quanto eu detesto shoppings.
Acho que sofro de algum tipo de transtorno de convívio superpopulacional. Na verdade, acho que nem existe este termo. Sou é anti social mesmo... Mas, quando se está puta da vida e com a barriga vazia, tudo vale a pena, até mesmo pedir um "Mc capitalista indigesto, cebola, picles, num pão com gergelim".
Tudo o que eu queria era que a noite fosse menos patética, mas àquela altura, já era. Por que será que as Segundas feiras são assim? Por que simplesmente não são como as Sextas? Ah, as Sextas são ótimas...
Acho que sofro de algum tipo de transtorno de convívio superpopulacional. Na verdade, acho que nem existe este termo. Sou é anti social mesmo... Mas, quando se está puta da vida e com a barriga vazia, tudo vale a pena, até mesmo pedir um "Mc capitalista indigesto, cebola, picles, num pão com gergelim".
Tudo o que eu queria era que a noite fosse menos patética, mas àquela altura, já era. Por que será que as Segundas feiras são assim? Por que simplesmente não são como as Sextas? Ah, as Sextas são ótimas...
Fui em busca de um lugar para me sentar. Não avistei uma mísera mesa vaga em toda aquela imensa praça... Não sei que raios estava acontecendo naquela Segunda feira, mas o local estava absurdamente cheio. Devia ser, sei lá, o dia internacional do shopping ou algo assim...
Me senti meio ridícula, segurando aquela bandeja enquanto procurava lugar. Até que passando por entre as mesas, esbarrei num sujeito sentado à minha esquerda. Esbarrei não, minha bolsa atingiu em cheio o ombro do rapaz. Agora sim, me senti uma ridícula completa...
Sussurrei desculpas, que por sorte, ele ouviu e então sorriu para mim. Uns vinte e poucos anos, talvez trinta. Cabelos castanhos e curtos, calça jeans e camisa azul. Sorriso perfeito. Interrompeu a leitura de um livro e me olhou diretamente nos olhos.
Me senti meio ridícula, segurando aquela bandeja enquanto procurava lugar. Até que passando por entre as mesas, esbarrei num sujeito sentado à minha esquerda. Esbarrei não, minha bolsa atingiu em cheio o ombro do rapaz. Agora sim, me senti uma ridícula completa...
Sussurrei desculpas, que por sorte, ele ouviu e então sorriu para mim. Uns vinte e poucos anos, talvez trinta. Cabelos castanhos e curtos, calça jeans e camisa azul. Sorriso perfeito. Interrompeu a leitura de um livro e me olhou diretamente nos olhos.
- Não foi nada.
- É que eu estava procurando uma mesa e sem querer a bolsa...
- Arthur.
- Hein?
- Arthur. Me chamo Arthur. E você?
Estendeu a mão direita, forçando um cumprimento, ao qual retribuí sem jeito.
- Ehh... Ana. Ana.
Até agora não sei porque diabos menti meu nome...
Até agora não sei porque diabos menti meu nome...
- Está esperando alguém, Ana?
- Eu? Não.
- Eu? Não.
respondia, como retardada, mas respondia.
- Estou errado ou você está procurando um lugar para se sentar? Fique à vontade.
- Estou errado ou você está procurando um lugar para se sentar? Fique à vontade.
Disse, indicando a cadeira vaga em frente a ele.
- Obrigada.
- Obrigada.
Agradeci sem jeito, me acomodando na cadeira. Ele comia algo parecido com um petisco árabe e que eu não me atrevi a perguntar o que era. Tratei logo de degustar o meu Mc hamburguer de coisa...
- E o namorado, ficou em casa?
- Não. Não tenho namorado.
Definitivamente, aquilo era surreal. Eu tinha acabado de violar três regras fundamentais do mandamento anti social: Não conversar com um estranho, não comer com um estranho e a pior delas: não responder perguntas pessoais a um estranho. E ele parecia mesmo empenhado em dar sequência aquela conversa. Fiquei sem graça e decidi ser cordial.
- Não. Não tenho namorado.
Definitivamente, aquilo era surreal. Eu tinha acabado de violar três regras fundamentais do mandamento anti social: Não conversar com um estranho, não comer com um estranho e a pior delas: não responder perguntas pessoais a um estranho. E ele parecia mesmo empenhado em dar sequência aquela conversa. Fiquei sem graça e decidi ser cordial.
- O shopping está cheio hoje, não? -ele perguntou
- Pois é. Eu pretendia ir ao cinema...
- Você trabalha em que? É advogada?
Me chamou atenção a facilidade que ele tinha de mudar de assunto. Ou a facilidade com que pequenas coisas despertavam sua atenção.
- Não. Por que advogada?
Me chamou atenção a facilidade que ele tinha de mudar de assunto. Ou a facilidade com que pequenas coisas despertavam sua atenção.
- Não. Por que advogada?
- Só um palpite. Seu jeito, sua postura...
- Não. Não sou advogada -respondi, sem contudo responder, achando tudo muito estranho.
- Gosto da sua franja. Faz um efeito bonito sobre os seus olhos...
- Como é?
- Essa franja, de lado. Realça o seu olhar. Você tem olhar de lince, sabia?
Ele só podia estar brincando, meus cabelos estavam com um terrível aspecto de Segunda feira.
- Como é isso de "olhar de lince"? - perguntei, esboçando o primeiro sorriso do dia, ainda evitando fixar meus olhos nos dele.
- É um olhar de quem observa ao mesmo tempo em que hipnotiza. Coisa de felina mesmo.
- Como é?
- Essa franja, de lado. Realça o seu olhar. Você tem olhar de lince, sabia?
Ele só podia estar brincando, meus cabelos estavam com um terrível aspecto de Segunda feira.
- Como é isso de "olhar de lince"? - perguntei, esboçando o primeiro sorriso do dia, ainda evitando fixar meus olhos nos dele.
- É um olhar de quem observa ao mesmo tempo em que hipnotiza. Coisa de felina mesmo.
Fiquei muda. Parei de mastigar o pedaço de hambúrguer que estava dentro da boca, tentando digerir o que tinha acabado de ouvir. Não conseguia pensar em nada para dizer, então ele sorriu. Com aqueles dentes perfeitos, que pareciam saídos de um comercial de creme dental.
-Você deve estar pensando que sou algum maníaco... Você entra em uma praça de alimentação cheia e um louco começa a puxar conversa e logo está elogiando seu cabelo.
- Não. De jeito nenhum, não pensei isso.
- Não se preocupe, não sou maníaco. Apenas vi que precisava de um lugar para se sentar.
- Que livro você estava lendo? -Perguntei para disfarçar o estranhamento.
- Na verdade é uma espécie de guia. “300 filmes para ver antes de morrer”. Veio junto com a assinatura de uma revista.
- Hum. Interessante. Eu queria assistir a um filme hoje e não consegui, esgotaram-se os ingressos. Espero conseguir antes de morrer... -disse isso e mudei de assunto- Caramba, não entendo porque essas lanchonetes enchem o copo de gelo e põe dois dedos de refrigerante para completar. Vou até o balcão pedir outro copo para colocar esse iceberg, ando meio resfriada...
Ele achou graça do que eu disse. Caminhei até o balcão da lanchonete com uma estranha certeza de que ele permanecia sentado me esperando.
- Pronto! Estou de volta. Mas me fale mais do livro...
- Eu já li esse negócio várias vezes e acho que já assisti boa parte destes filmes. Quer o livro pra você?
- Hein?
- Pode ficar, toma. Faço questão de te dar.
- Eu já li esse negócio várias vezes e acho que já assisti boa parte destes filmes. Quer o livro pra você?
- Hein?
- Pode ficar, toma. Faço questão de te dar.
- Mas porquê? Nem me conhece...
- Não sei. Mas quero que tenha uma recordação minha.
Como se fosse possível esquecer alguém assim... pensei.
- Não sei... isso é estranho...
- Eu sei que é! Desde que você entrou nessa praça tudo ficou diferente. Não quero ir embora deixando que isso se perca assim. Fique com o livro. E além do mais, nem é um livro propriamente dito, é só um guia de entretenimento.
- Ok, então.
- Não sei. Mas quero que tenha uma recordação minha.
Como se fosse possível esquecer alguém assim... pensei.
- Não sei... isso é estranho...
- Eu sei que é! Desde que você entrou nessa praça tudo ficou diferente. Não quero ir embora deixando que isso se perca assim. Fique com o livro. E além do mais, nem é um livro propriamente dito, é só um guia de entretenimento.
- Ok, então.
- Bem, Ana... infelizmente, eu tenho que ir.
- Oh... não...
Não consegui disfarçar meu desapontamento e também não sei porque senti aquilo. Achei, pelo rumo da conversa, que ele pediria o número do meu telefone ou algo assim... Que pretensão a minha!
- Foi muito bom te conhecer. Espero que não tenha se chateado. Adorei sua companhia.
- Também gostei muito. Não me chateei de modo algum. Aliás, eu agradeço sua gentileza.
Arthur deu outro sorriso lindo e levantou-se. Pensei que meu coração fosse parar de bater quando ele se inclinou na minha direção e se aproximou do meu rosto, a ponto de eu poder inalar seu perfume amadeirado. Sua respiração era suave como um anjo, uma brisa, um sopro de vida, sei lá... Os lábios macios de Arthur tocaram meu rosto, produzindo um leve estalo. Ele me sorriu novamente, com todos aqueles dentes perfeitos e disse:
- Se cuida, moça de franja.
Respondi com um sorriso, não tão perfeito.
Fiquei ali, sozinha. Rodeada por estranhos, todos compenetrados em suas refeições. Impressionante como aquele lugar voltou rapidamente a ser o mesmo shopping chato de sempre. De repente, minha cama me pareceu uma ótima opção de fim de noite.
Enquanto dirigia rumo à minha casa, pensava alto: Arthur... um nome bonito para um homem igualmente bonito, simpático, atraente. Por que será que ele conversou comigo? Teria se sentido atraído por mim? Não sou nada demais, embora não me ache feia. Mas sou desajeitada, só dou mancada.
Ele me parecia tão feliz, tão empolgado com tudo. Parecia algo irreal.Voltava à minha mente o olhar profundo, o sorriso largo, o perfume marcante. Ele devia agir assim com todo mundo, ele parecia ser naturalmente expansivo, simpático. E eu me achando especial, que bobagem...
Tentei lembrar de algum outro momento tão especial em minha vida, em que meu coração disparasse assim por alguém. Parecia algo inédito para minha mente cheia de falhas.
Chegando em casa, deixei as chaves e o livro na cabeceira da cama. Tomei um banho, liguei a tv em volume baixo e aderi à combinação "Tela Quente-cama fria" mesmo. Antes de dormir, resolvi dar uma olhada no tal guia, só para escolher o filme que alugaria para a próxima Segunda feira. Não queria correr riscos com uma bosta de filme sem ingresso no cinema novamente... Ao folhear as primeiras páginas encontrei, não a sinopse de um filme qualquer, mas ali estava, em caneta azul, o desfecho da minha própria história:
"Aqui estão meus telefones... Caso queira minha companhia para assistir ao menos um destes 300 filmes antes de morrer, me ligue. Prometo comprar os ingressos com antecedência! Arthur.”
Sorri, fechei o livro e concluí que as Segundas feiras são dias incríveis!
5 comentários:
Não sei dizer se você é talentosa (opção A); se é "transpirosa" (opção B);se é escritora profissional(opção C) ou setodasasopç~esacimasão verdadeiras (D). Acredito que a D,deva ser a mais provável. Excelente eu já usei? Só pra variar um pouco?
Ah! O que faz os dias valerem a pena é, em grande parte, a disposição com que vamos a eles, não achas?
Sabe, um dos prazeres que tenho ao ler este blogue é que eu costumo ler os textos aos poucos, passo a passo, e só no final "descubro" o nome do autor. Às vezes tento adivinhar, às vezes acerto... E este eu acertei: o estilo, o jeito de brincar com a situação da protagonista, o tema... Camilíssima!
Abraços e feliz dia das crianças!
Ótimo, Camila! Opção D, com certeza Andrea!
O seu melhor texto no blog até então - na minha modesta opinião. Foi o texto que me deixou mais preso, do início ao fim. Tão natural, e tão sensacional. Só vc mesma, garota, rsrs.
Bjão de segunda-feira! (Elas são incríveis pq escrevo às segundas tbm hahaha)
Pra você ver, todos nos rendemos ao seu talento.
Uma coisa interessante você colocou na história: há males que vêm para o bem.
E é verdade. A arte nos redime.
Beijos de admiração!
Opção D com certeza!!!
muito bom ,também fiquei preso desde o começo e esse final como sempre fantástico.
Camilíssima manda muito bem,como disse Sidarta"todos nos rendemos ao seu talento".
Parabéns de mais um fã.
João
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