segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Se a morte mata, por que não eu?



Wellington de Carvalho Franco. Uma família turca. Doca Street. O que têm em comum? Todos são criminosos. Pessoas tiveram suas vidas aniquiladas por culpa dessas pessoas. Por que o ser humano é levado a matar outro ser humano? E por que não matar?

Mata-se por muitos motivos. Matar é justificável? Não, perante as Ordens Religiosas. Matar é justificável? Sim, perante a realidade e a essência de cada ser. Wellington matou por dinheiro. Às vezes cobrava cinco mil, dez, no máximo, trinta. O mandante do crime também matava, mas não por dinheiro, e sim, através do dinheiro. Wellington cometeu mais de trinta assassinatos e, ao ser detido, disse “não ter matado ninguém”. Por que mentir diante das evidências? Por que temer perder uma liberdade que nunca teve, uma vez que sempre fora acorrentado à ambição, a um pedaço retangular de papel. Não existe liberdade. Existe a utopia da liberdade. Mas isso é assunto pra outra hora...

Uma família turca enterrou uma menina, de dezesseis anos. Triste, não? Pior é saber que esta menina foi sepultada viva pela própria família. Matou pela honra. A menina vivia conversando com meninos, só tinha amigos do gênero masculino! Uma atitude suspeita. Uma saliência precoce, uma, uma... Uma mancha no tecido invejável daquela família. Na Turquia, bem como em outros países, sobretudo asiáticos, a mulher é tolhida por muitos aspectos. Crime de honra. A honra da família deve ser preservada. Pois eu reflito: pressupõe-se que, na Turquia, matar um ser humano não é desonroso para aquele que comete tal ato. É absolutamente normal. Um crime forrado por uma justificativa incontestável.

Doca Street é um criminoso “de renome” aqui, em nosso país. Ele já foi preso, já foi solto, e vive sua vida dentro dos conformes. Matou por amor. Matar alguém por amor não devia ser motivo de prisão. É o ato mais nobre que pode existir. Costuma-se pedir provas de amor àquela pessoa que amamos. Portanto, eis a prova maior. No entanto, ao mesmo passo que se consiste num ato nobre, matar por amor é um ato de extrema burrice. É quase um tiro no pé (ou, dentro do contexto love, um “tiro no próprio coração”) E, como nós, seres humanos, somos movidos pela racionalidade, conclui-se que ninguém mata por amor, e sim, pelas circunstâncias que destroem o amor, como, por exemplo, aquele tal ciúme, aquela discussão rotineira que se torna maçante, estressante e que, de alguma maneira, precisa acabar.

Quais desses criminosos merecem pena maior? Quais crimes são mais justificáveis, se é que um crime se justifica?

Freud, um ateísta de marca maior, já dizia que o indivíduo pensa duas vezes antes de matar outro indivíduo. Mas Deus não entra nessa história. Eu não mato aquele idiota que me roubou porque ele possui entes familiares e amigos. Provavelmente, ao menos um desses poderia buscar vingança pela morte do idiota. Poderia voltar-se contra mim. Minha segurança estaria em jogo. Eu não viveria em paz por um bom tempo, ou nunca, talvez. Bom raciocínio este de Freud, não?

Quando se mata, não se pensa em si, ou em liberdade, ou sequer em Deus. Geralmente o assassino não valoriza a própria vida, logo, não tem medo de morrer. Liberdade é balela. No parâmetro legislativo, a palavra liberdade foi substituída por impunidade. No parâmetro filosófico, liberdade é utopia, como já disse antes. No parâmetro religioso, é contradição: se tenho livre arbítrio, porque seguir a risca dez mandamentos?




A prisão – me refiro àquela que contém um gradil de metal – é uma materialização da que se vive além daquelas grades. Talvez o ser humano esteja percebendo isso, mesmo que inconscientemente, e por isso cometa, cada vez mais, atos bárbaros em nome do money, da honra e do amor. Não se importam com nada. Arrependimento, no sentido que conhecemos, também não existe; não passa de um temor a Deus atrasado. Ninguém se arrepende porque ama a Deus, aos anjos, e a todos os irmãos da face terráquea. Se arrepende porque se tem medo de ir para o que chamamos de inferno. Não é uma demonstração de amor a Deus, mas sim, um “tirar o cu da reta” quando não se vê outra saída no plano físico, digamos assim, para se livrar de tal castigo. Aliás, se um dia disserem que não existe o inferno, preparem-se, pois “vão baixar” o Robespierre e muitas cabeças rolarão. Será o maior terror da História. De vez em quando é bom agradecer ao inferno por existir.

Quem sou eu para julgar uma pessoa que matou se alguma vez já senti vontade de matar alguém? Se já senti vontade, posso, a qualquer momento, concretizá-la. Por que não matar se um dia morreremos nas mãos de Deus e Este é nossa imagem e semelhança? Deus está em nós, certo? E se ele sair para tomar um ar? Nos tornamos assassinos? Ora, é doloroso chegar a essa conclusão, mas acreditem: num mundo infestado do vírus humano, matar é preciso. É questão de sobrevivência. E, para ser mais positivista no que digo: uma vez que um vírus se auto-destrói, o que nos impede de nós, vírus humanos, nos matarmos?

Enfim, contrarie Tim Maia. Não dê motivos. Motivo, seja ele qual for, o mais ridículo que seja, é um motivo. É um motivo para que você adquira sua passagem pro além mais cedo do que imagina.

2 comentários:

Sidarta disse...

Lohan, desta vez você filosofou muito, hein, rapá? Quantas considerações a respeito de matar ou morrer... Vingança x Justiça...

O que você escreveu dá muito pano pra manga. Então vamos lá.

Eu prefiro ver a morte de uma forma simbólica. Tudo o que acontece nesta vida tem um significado, a meu ver. Morte e nascimento fazem parte da vida. Cabe a nós interpretar cada acontecimento. E mesmo que você não pense assim, sua mente interpretará cada momento da vida como uma metáfora a ser decifrada.

Tento não julgar muito a violência cotidiana. Como você diz, é complicado entender o que leva alguém a matar outra pessoa, ou mesmo a se matar.

Por falar nisso, se formos aprofundar o assunto, talvez cheguemos à conclusão de que somos todos assassinos e suicidas, pelo menos indiretamente. Não digo pela vontade que algum dia já tivemos de nos matar ou assassinar alguém, mas pela omissão nossa de cada dia com o sofrimento alheio e injustiça social, e pela falta de cuidado que temos com nosso próprio corpo, com nossa saúde (má alimentação, falta de exercícios, álcool, cigarros, etc).

Sobre céu e inferno... Bem, não tenho tanta certeza se essa ideia do "fogo eterno" ainda assusta nos dias de hoje, a não ser em algumas seitas mais fechadas. Talvez, com a proximidade da morte, as pessoas em geral possam pensar sobre essa possibilidade (de vida após a morte) e arrependerem-se de seus atos. Afinal, a maioria de nós, mesmo com muita fé (no além ou no nada), treme nas bases quando se defronta com o desconhecido.

O que acha?

Lohan disse...

Partilho da mesma opinião Sidarta!
Com brilhantismo você acrescentou "mais lenha na fogueira filosófica, rapaz!'' rs. Não havia pensado sob esse aspecto, mais precisamente o do suicídio invisível; esse, presente nos cigarros, bebidas, gorduras trans, stress diário, etc.
Procurei refletir mais a respeito do que por se mata outra pessoa, ou por que não matar? O que impede um ser humano de matar outro? Leis terrenas, leis divinas, ou leis da própria consciência?
Creio que a teoria do "você vai arder no mármore do inferno" está incutida no inconsciente de cada um, haja vista o aspecto cultural que pesa sobre essa questão. Digo cultural, pois, isso já vem de séculos e mais séculos; uma maneira covarde de intimidação pessoal. Quantas vezes não ouvimos nossos pais dizerem isso, ou qualquer outra pessoa ligada à religião? "Não machuque o coleguinha se não Deus castiga". Deus não castiga, para começar. Precisa-se criar a consciência de que cada um de nós somos responsáveis por nossos atos, e que toda ação provoca uma reação, como já dizia nosso velho amigo Newton. No entanto, você está certíssimo ao colocar que ''trememos na base" quando tudo está por um fio. Por que?
Segundo Freud, o ser humano necessita de ''alguém'' que o ampare, lhe dê proteção. Esse sentido é comum na infancia, diante da figura paterna, principalmente. Porém nós ficamos fortinhos e crescemos, certo? Criamos autonomia, entre outras virtudes interacionais. A sensação de desamparo fica cada vez mais evidente, uma vez que nos afastamos do seio familiar. Necessitamos de um ser que nos conceda esta proteção; cria-se (isso segundo Freud, só para lembrar!) uma figura paterna, uma crença em um ser superior, para que esta sensação de vulnerabilidade seja suprida. A teoria de Freud vai mais a fundo que isso, apenas tentei resumí-la. Sendo assim, é natural que recorramos ao nosso Ser nos momentos mais difíceis, de maior aflição.
Quanto a morte, de fato, é um mistério que jamais será desvendado por nós, meros humanos. Mas, dentro de um contexto evidente, eu diria que a morte se trata de um cálculo perfeito de Deus para que haja sobrevivencia na Terra. Já pensou se não existisse a morte? Viveríamos amontoados! Doenças, pragas, tudo de ruim se disseminaria num piscar de olhos. A Terra já estaria destruída por completo. Isso tudo é óbvio, e, no entanto, é deixado de lado quando tratamos de assuntos como este. Sei que posso chocar a quem ler este comentário com o que direi agora, mas desastres naturais são extremamente necessários no mundo em que vivemos. Este no Haiti, por exemplo. Infelizmente, a propagação do "vírus humano" está destruíndo a Natureza. Quando ela "mata" através de terremotos, tsunamis, vulcões e enchentes, pode-se dizer que seu "assassinato" é plenamente justificável e irrefutável. Ela apenas reage. Lembra do Newton? Então...
Pra terminar, deixo um velho ditado que, neste caso, pode levar a muitas reflexões...
"Deus escreve certo por linhas tortas!".

E então?