sábado, 10 de abril de 2010

A Luzia




A vida
Foi o que Luzia perdeu atrás da horta
O sol re-luzia
A lua reluzia a luz do sol
Mas Luzia... Estava morta.

A morte,
Foi o que Luzia ganhou enquanto cuidava de sua horta.
A mulher re-lanceava,
O homem lançava o olhar,
E Luzia, que não sabia,
Vivia tal qual uma alface a secar.

A horta,
Era tudo o que Luzia tinha.
A horta,
Só tinha a Luzia.
A mão que plantava,
A mesma que colhia,
Agora, ali estava:
Morta, a Luzia.
Atrás da horta,
Sob um sol quente de meio-dia.
Mas o sol apenas luzia,
O sol... Apenas luzia.

O sol,
Seca a vida da horta
Seca a morte de Luzia
Que seca, em vida, já estava
E não sabia.
O sol,
A luz ia... A luz ia...
E veio a chuva,
E chovia sobre Luzia.
Cinco dias,
Que venham os urubus
Sinalizarem o cadáver, com alegria.
Que venham todos,
Sentirem a falsa agonia.

A vida,
Foi o que Luzia perdeu atrás da horta...
Primeiro a faca
O abrir da porta
O esconder-se
Atrás da horta...
A garganta corta.

Morta,
Era o estado de Luzia atrás da horta...
Que olhar agora se importa?



(Roda morta, Sérgio Sampaio)

2 comentários:

Simone Prado Ribeiro disse...

Lohan, que trabalho lindo no trato da palavra “luzia”. Ficou maravilhosa a poesia, linda.
A história da vida desse personagem, que triste. Mas de nada diferente do que observamos hoje em dia... Infelizmente.
Belíssimo, estou encantada com esse seu trabalho de “carpinteiro da palavra”!
A música escolhida... Que mensagem forte e ousada que toca lá, no mais obscuro dos sentimentos do ser humano. Incrível essa parte da canção na voz de Zeca Baleiro: “ O triste em tudo isso é que eu sei disso Eu vivo disso e além disso, Eu quero sempre mais e mais.” E engraçado é que eu estava pensando nesse assunto durante a semana, devido as chuvas e alguns falatórios irritantes que ouvi de algumas pessoas que observavam a tragédia de perto em Niterói.
Parabéns amigo, amei essa poesia! Para mim uma das suas melhores que já li!
Abração!
Si.

Unknown disse...

Lindo, simplesmente!!!!!