Afinal, o que vem a ser o tempo?
Ele é ou ele está? Ele tem, nunca houve ou terá?
Ter tempo, estar no tempo ou fazer seu tempo?
Ponte que conecta linhas retas, atalhos sublinhados,
espaços planos ou planos desastrados?
Já nem sei...somos donos, escravos ou reféns?
Ou será que ele, em círculos, cujo centro existem ponteiros
que nos espetam impiedosamente,
espera que consigamos decifrar
onde se estabelecem os limites
da minha ideia metafísica sobre ele
e de como se concretizamas coisas que crio ou deixo de criar,
ao longo de sua passagem eternamente em movimento?
Tudo para, menos o tempo.
Tudo se muta, o tempo , jamais!
Norteia, desnorteia, escurece,
clareia e se move invisível,
porém, constante como as estações.
Mas percebo que ele anda confuso.
A hora do chá já passou das cinco ...
para que horas mesmo?
A novela das oito, que começa às nove;
o percurso à pé,
que se torna mais veloz
do que os mil cavalos de potência
do veículo de última geração,
parado num engarrafamento infinito...
Quanto tempo se passou desde a hora que calculei
percorrer até o final do trajeto?
Meus cálculos já deixaram de ser exatos.
A bússula já não sabe mais de que lado está o sul.
A colheita programada para o início do solstício
se antecipou com a rapidez da semente que brota
ou se perde na imensidão das águas de março,
que resolveram chegar em janeiro.
Quanto tempo se passou desde que comecei
a pensar nele?
O que me parecem horas a fio entre
a ideia de começar a escrever sobre ele
até o ponto final, já não me lembro mais...
Três segundos?
Cinco minutos?
Uma hora?
Quanto tempo te levou para ler o que escrevi?
O que sobrou do tempo
não gasto entre a leitura e o pensar?
Olhe no teu relógio de pulso, no teu celular , ouça no rádio
e se tiver tempo, me diga.
Resta a esperança de que o ancião daquela aldeia,
ainda saiba me dizer se é noite de lua cheia
com o lobisomem uivando para assustar.
Mas sei que isso tudo é apenas minha imaginação.
Afinal, já não existem as matas onde tais entidades
podiam se esconder sem pressa de se esquivar.
E enquanto morrem os plantios, as lendas,
as estações e os anos,
que não passam, mas voam,
que não guiam, mas apressam,
temos que seguir o tempo
galopando, sem tempo para descansar.
O que são exatamente vinte e quatro horas?
Amanhã quando eu acordar talvez eu saiba a resposta.
3 comentários:
Espetacular!
Nunca li nada igual a respeito do tempo.
Fazia tempo que não aparecias neste blog... Findou-se o tempo de minha saudade.
Bjs, Andrea, sou seu fã!
Falando em tempo: continuo nas quintas, ok? Ou será que quinta já é sexta e não sei? Beijos.
Ahhh, que coisa boa chegar aqui e me deparar com um texto tão bem escrito, com algo que se parece tanto com o que sinto. É como se ao olhar esse texto, eu visse minha imagem refletida. Temos tanto em comum! Andréa, que bom saber que vc estará por perto com seus textos maravilhosos!
Beijo grande!!!
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