sábado, 29 de maio de 2010

Depois do "the end"

Vivi para assistir o fim. É estranho quando, por um minuto, se segue além do fim. O que se sente não é vida. O que se sente é um pós-morte.

A sensação de perda de algo lateja surdamente nos porões da casa espiritual que existe em nós. Ultrapassar a linha que designa o final é adquirir uma certeza: a de que o que passou, passou. O que está acabado não se reintegra.


Sim, é um novo estágio que começou. Por mais que todas as velocidades do mundo me façam ir abandonando pedaços de recordações pelo caminho, como folhas secas das árvores de outono, o vento sempre insiste em soprá-los de volta. E essas lembranças remetem a vida de outrora. Me propiciam uma revisão de todo meu aprendizado e dos sacrifícios a que me submeti para no fim dizer que o meio estava justificado. Me fazem perceber as pontas soltas, as quais desobedecem os pontos finais. E me reforça a certeza de que ninguém pode ser dito “feliz para sempre” no final de algum começo. A felicidade existe, o sempre não.


Tudo que existiu antes do fim foi progresso. Tudo contribuiu para que eu me encontrasse. Encontrar a si mesmo é ter paz. E a paz só acontece quando realmente nos damos conta de que chegamos ao fim.

Morrer é descer de um ônibus lotado e aguardar o próximo, pacientemente, em determinado ponto. Sempre rumando para o lar... Morrer é cumprir a missão. E esse sentimento de perda... Esse vazio que pulsa... É simplesmente o que nos motivou para vida, e que já foi resolvido. Chegamos ao lar.

A ilha agradece pela vida sacrificada de cada um. Ela sempre foi um preparatório para o estágio seguinte. O sacrifício fazia parte desse preparatório.

Purgatório? Não, não. Além do mais, nada impede de vivenciarmos nossas purgações em vida. Preparar-se é fundamental; como a mariposa, em seu casulo.

“Esta luta a natureza criou para fortalecer”, disse um certo personagem chamado John. John Locke. Tudo está em seu tempo. Ao romper o casulo, a mariposa saberá que toda a espera, todo o tempo de clausura valeu a pena. O próprio Locke disse a Boone, outro personagem, que Michelangelo passou quatro meses olhando para uma pedra de mármore antes de criar uma de suas mais magníficas esculturas: David. “Pois só nesse exercício é que amadurecemos, construindo com disciplina a nossa própria imortalidade”. (Nassar, Raduan; Lavoura arcaica).

A ilha é a cura para quem a procura. E todos estavam à procura. Todos estavam perdidos.

Depois do fim... Não mais.


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A série Lost terminou no dia 23 de maio de 2010, e deixará muita saudade. Deixará esse vazio, que se sente quando se ultrapassa o fim. O fim da melhor série de todos os tempos.

Eu, como lostmaníaco que fui e sempre serei, deixo aqui esta singela homenagem, consciente de que tudo o que sempre importou em Lost foi a vida, a força da vida de cada um, e suas respectivas escolhas.

Te vejo em outra vida, brotha.

8 comentários:

Kráudio disse...

muito legal o texto Lohan...

Gente... estou promovendo um concurso... "Suposta 7ª Temporada"... O concurso é para mostrar a idéia dos fans de como poderia ser a 7ª Temporada... para os fãs escreverem episódios... para entenderem melhor entrem aqui:

http://pt-br.concurso-losttemporada7.wikia.com/wiki/Regulamento

Anônimo disse...

Putz.... Juro, tocou. Lost deixará saudades....muitas.

Gabriel

Paula Renata disse...

Lohanzito, mandou muito bem na homenagem. Principalmente nessas tres frases:

"Tudo que existiu antes do fim foi progresso. Tudo contribuiu para que eu me encontrasse. Encontrar a si mesmo é ter paz. E a paz só acontece quando realmente nos damos conta de que chegamos ao fim."

"..nada impede de vivenciarmos nossas purgações em vida. Preparar-se é fundamental; como a mariposa, em seu casulo."

"A ilha é a cura para quem a procura. E todos estavam à procura. Todos estavam perdidos."

Adorei o texto!
LOST foi diferente nos olhos de quem soube apreciar a filosofia. =)
Bjuss

Lohan disse...

Valeu galera!

Paula, vc disse tudo mesmo: Lost foi diferente nos olhos de quem soube apreciar a filosofia.

Ficaram muitos mistérios... Sim, ficaram. Mas tem relevância diante da grandeza desse épico final? A meu ver, não.

Namaste!

HaLLs GiugNi disse...

orra... fiquei arrepiado aqui, conseguiu colocar em palavras tudo o que eu vivenciei de Lost

Parabens e obrigado por compartilhar conosco !

continue assim

ivelise disse...

Meu qrdo amigo Lostman;iaco Lohan!!!!
Muito bem dito e colocado suas palavras sobre o fim do Lost...eu ainda nào assistí a última temporada...e espero fazê-lo em breve...e assim poderei discutir ou trocar idéias c/ akele q personificou o seriado Lost....vc meu amigo!!!! Adorei a sua frase...."morrer é descer de um ônibus lotado e aguardar o próximo...... abs!!! Ivelise ah....o último capítulo foi no dia do meu niver....heheheheh

Andréa Amaral disse...

Desculpem, mas tenho que perder a linha: CARALHO!!!!! Me senti ali toda dentro do texto. O texto é você que habita em mim que habita na tênue linha que separa as dimensões de onde viemos e para onde vamos em uma eterna busca por encontrar algo que desfaça o vazio que o sentimento e a ideia de estarmos perdidos nos deixa maculada a visão... A ilha... O porto que parece seguro em meio as águas turbulentas do mar.
Lost forever!!!
Além da imaginação...
Me deu vontade até de chorar. Juro. Só os Lostmaníacos como nós, que sofremos com nossas instabilidades emocionais e intermináveis questionamentos sem respostas ou respostas pela metade, sabemos o quanto este seriado é metafísico.
Te vejo em outra vida, brotha. Assim espero.

Lohan disse...

Ahhhh Andréa, que bom que vc curtiu! Ivelise, também, que bom!

Eu também fiquei emocionado enquanto redigia esse texto, o vazio que fica é muito grande... Mas já estou superando, rs.

Depois que assistirem o final da série, voltem e leiam o texto novamente. Vcs terão uma amplitude maior do que eu expressei nesse texto.

Obrigado, amigos lostmaníacos!!