Eis o segundo post da história "As vidas de um livro". Boa leitura a todos!
CAPÍTULO 4
“NAS MÃOS ERRADAS”
De volta a Duque de Caxias.
Agora Lohan visitava a escola estadual na qual Bia havia estudado. Ela lhe passou o nome da escola e da professora que ele devia procurar.
Pediu informação na Secretaria.
-Por favor, eu gostaria de falar com a professora Andréa Amaral.
-Ela se encontra na sala dos professores, senhor. É a próxima sala, à direita. – Informou a secretária.
-Obrigado.
Lohan dirigiu-se até a sala. A porta estava aberta. Havia duas mulheres, sentadas à mesa redonda, conversando animadamente. Ele dá duas batidas discretas na porta, chamando a atenção de ambas.
-Andréa Amaral?
Uma delas levanta a mão e diz:
-Presente, querido professor.
“Duremos,
Como vidros, às luzes transparentes
E deixando escorrer a chuva triste,
Só mornos ao sol quente, e refletindo um pouco”.
(Ricardo Reis)
Andréa demonstrou ser, desde o primeiro contato, uma pessoa extremamente solícita e agradável. Convidou Lohan para entrar na sala dos professores, sem temer represálias do rígido diretor do recinto. Ao seu lado, estava a professora de inglês Camila Furtado. Esta, aparentemente mais calada, parecia estar envergonhada com a presença do futuro enfermeiro. No entanto, era tão ou mais loquaz que sua colega de trabalho Andréa. Isso veremos mais adiante...
-Posso mesmo ficar aqui, não vou atrapalhar vocês?
-Imagina! Essa escola é uma bagunça só, isso não é nada. Tem gente que adora cantar de galo pelos corredores, mas organização que é bom, nada! Sente-se.
Lohan surpreendeu-se com a receptividade.
-Eu sou Andréa, professora de Literatura, e essa é Camila Furtado, nossa English teacher.
Lohan cumprimenta Camila com um leve aperto de mão.
-Meu nome é Lohan.
-Gostei do seu nome, bem diferente, não achou, Camila?
-É, achei... – Sorriu.
-De onde você é, Lohan?
-Moro em São Cristóvão. Como vê, andei um bocado pra chegar aqui.
-Nós já nos conhecíamos?
-Não. Eu só sabia o seu nome, e nada mais.
-Uau, será que fiquei famosa e não sei?! Ainda bem que minha dieta ortomolecular está dando resultado, porque se aparecer algum repórter por aqui, fotógrafos, etc, eu estou super em forma.
-Estranho como as pessoas costumam me receber... Como se já me conhecessem.
-Dá pra ver nos seus olhos que você é um bom moço.
Camila deu uma risada irônica. Lohan percebeu.
-Do que está rindo, Camila? Se esqueceu que sou uma pessoa intuitiva? Eu conheço as pessoas pela energia delas.
-Eu não disse nada, Andréa! Só ri da maneira como você se expressou diante do rapaz, foi isso...
-E a minha energia, é boa mesmo? – Indagou Lohan.
-Sua energia... É forte. Intensa. Você nasceu para dividi-la. Iluminar os pedaços escuros dos corações das pessoas.
-Pelo visto você é poetisa, além de professora.
-Acertou. Eu escrevo, e a amiga aqui ao lado também.
-Bem, então... Acho que chegou o momento de ir direto ao ponto. Eu procurei por você, Andréa, por causa desse livro.
Lohan retira o livro da pasta.
-Odes de Ricardo Reis. Você o reconhece?
Andréa apanha o livro, com delicadeza e com um sentimento de nostalgia.
-Meu Deus! Esse livro... Esse livro é meu!
Ela o apertou contra o peito, e abriu um sorriso.
-Bianca Lucchesi. Foi sua aluna há três, quatro anos. Ela disse que a senhora...
-Epa, senhora não! Senhora é uma obra de José de Alencar, publicada no ano de 1875.
Os três não seguraram os risos.
-Não liga, Lohan. Ela é uma galhofeira.
-Perdoe a ignorância, mas... O que é galhofeira?
Mais risadas.
-Uma pessoa irreverente, engraçada, piadista. Uma Andréa da vida. – Definiu Camila, olhando para Lohan com seus olhos felinos, falando com sua fala macia, levemente rouca.
-Então, como eu ia dizendo... A Bianca, mais conhecida como Bia, disse que a se... Disse que você emprestou esse livro para ela numa ocasião em que aplicaria uma prova sobre ele.
Andréa forçou a memória, franzindo a testa...
-Claro! – A um berro – Eu emprestei sim, e ela nunca me devolveu! Sumiu da escola essa menina!
-É, ela se mudou para Niterói.
-Vocês são amigos? – Perguntou Camila, entrosando-se.
-Somos... Conhecidos, apenas. Eu a conheci ontem. Fui atrás de informações sobre a dedicatória escrita na primeira página desse livro. Preciso descobrir quem a escreveu e sobretudo... Para quem.
Andréa conferiu a dedicatória.
-Me lembro dessa dedicatória, claro... Até cheguei a pensar na idéia de fazer o mesmo que você, mas logo depois percebi que seria uma enorme perda de tempo. Como encontrar essas pessoas? Essa tal Bia, esse tal João? Nem data tem essa dedicatória!
-Posso ver?
Andréa passa o livro para Camila.
-Eu já passei por três pessoas até chegar a você. Acredito que uma hora chegarei ao primeiro motor, ao “leitor Deus”.
-Nossa, mas essa busca é o máximo! Você é detetive?
-Sou estudante de Enfermagem. Inclusive, já perdi três aulas por conta desse ato insano.
-Quando ganhei esse livro, a pessoa que me deu disse que ele tinha mais história do que eu imaginava... – Relembra Andréa, com ares nostálgicos – Bons tempos... Eu tinha um corpo de top model...
-Então você lembra quem te deu esse livro?
-Minha antiga colega de trabalho e amiga, Simone. Ela trabalhava nessa escola, quando... Quando... Quando ela precisou se mudar. – Disse, vacilante.
-Por que alguém presentearia outra pessoa com um livro editado em 1963, ainda por cima com uma dedicatória desconhecida?
-Por que alguém mata outra pessoa, esquarteja e joga os pedaços do corpo num caminhão de lixo?
-Para se livrar do corpo – Responde Camila, de bate-pronto.
-Exatamente. Foi isso que ela fez. Ela se livrou das Odes de Ricardo Reis.
-Ela odiava tanto assim esse autor?
-Não, Lohan... Pelo contrário, ela também era professora de Literatura, e gostava desses textos.
-Era? Por que? Não é mais?
Andréa e Camila se entreolham, cismadas. Lohan capta um clima de mistério no ar, e sente que é melhor não adentrar mais na vida da ex-colega de trabalho das duas.
-Esqueçam, eu não me importo com o que aconteceu a ela. A única coisa que me importa, no momento, é saber como posso entrar em contato com ela. Ela será a melhor pista, com certeza. Afinal, disse a você, Andréa, que esse livro guardava muitas histórias, certo? Ou seja... Sinal de que ela sabe de alguma coisa muito importante.
-Por esse motivo ela se livrou do livro. Bem, pelo menos foi essa a minha percepção...Ela não me deu o livro e disse que estava se livrando dele, até porque seria muita indelicadeza da parte dela. Ela me deu dizendo que já tinha o lido várias vezes, e que eu podia trabalhar com ele nas minhas turmas. Foi o que fiz. Aí que entrou a Bianca.
-Acha mesmo, Andréa, que ela queria se livrar dele? Então porque dá-lo a você? Porque não jogá-lo fora, queimá-lo, simplesmente?
-Ora, não sei! Talvez porque isso seria um crime mortal, uma vez concretizado pelas mãos de uma professora de Literatura! E também, certa vez, eu comentei com ela que adorava Fernando Pessoa. Isso pode ter influenciado na decisão dela.
Camila repousa o livro sobre a mesa, e o entrega para Lohan, que logo o guarda na pasta.
-Acho que é “viagem” sua, Andréa. Por que a Si ia querer se livrar de um livro? Só por causa dessa mísera dedicatória? Se ela soubesse de algo, teria nos contado. – Calculou Camila.
-Eu só preciso saber como faço para entrar em contato com ela. Não adianta ficarmos aqui especulando toda a vida sobre ela. Precisamos encontrá-la! Acredito que vocês saibam para onde ela se mudou, afinal, eram amigas, certo?
-Ela não... Ela não avisou. Ela desapareceu, Lohan. Sinto muito.- Anuncia Andréa, empalidecida.
Lohan sente seus ombros desabarem. Por um instante, pensou que tudo estava perdido. Tudo havia sido em vão.
-Co, como assim, gente? Como uma pessoa pode desaparecer do mapa, porque?
Eis que ele aparece, naquele exato instante.
-Ei, vocês duas! O horário do recreio já está acabando, subam com suas turmas.
-Ok, Edson, nós já estamos terminando nossa conversa.
Edson Basílio = lingüista, poeta concretista e diretor carrasco daquela escola. Ai de quem ousa desobedecer suas ordens. Ele é pior do que vilão de novela das oito. Digo, das nove.
-Quem é esse rapaz? E o que ele faz dentro da sala dos professores?
-Eu sou Lohan, e...
-Eu perguntei a elas, meu querido. Se eu me dirigisse a você, faria a pergunta da seguinte forma: “quem é você?”.
-Ele é um amigo meu, veio dar uma notícia... Uma notícia importante. Vem comigo, Lohan, vamos nos retirar antes que a situação piore por aqui. – Disse Camila, providenciando a rápida saída de Lohan antes que Edson fizesse um escarcéu.
-É, eu também vou indo, subir com minhas crianças. – Completou Andréa.
Todos saíram, sem dar confiança ao diretor. Edson ainda segurou o braço de Camila e disse, quase ao pé do ouvido:
-Não quero mais amiguinhos no ambiente de trabalho, ouviu bem, professorinha?
-Fale no diminutivo com a sua avó. Me solta.
-Ei, sem arrogância... O que foi, hein? Quer aparecer pro amiguinho? Será mesmo que é seu amiguinho?...
Camila consegue soltar seu braço das mãos de Basílio, e segue com Andréa, indo buscar suas turmas.
-Lohan, me espere lá fora, perto do carrinho de pipoca. Eu saio em quarenta minutos, é minha última aula. O meu telefone está num pedaço de papel, dentro do livro. – Diz Camila, baixinho, próxima a Lohan.
-Seu telefone?...
-A gente pode se desencontrar. Sou prevenida.
-E a Andréa?
-Ela sairá mais tarde. Me espere lá, ok? Tenho uma coisa pra te falar.
Camila sai, disfarçadamente, sorrindo para as crianças que passavam. Edson lança um olhar maligno para Lohan, que sai da escola, intrigado.
“Tenho uma coisa pra te falar... Por que não disse na presença da Andréa? Por que não me passou seu telefone abertamente? O que está acontecendo?...”.
Inquieto em seus pensamentos, Lohan cumpre o combinado, e vai até o carrinho de pipoca. Recosta-se no muro da escola, que por sinal, estava pichado. Abriu a pasta, retirou o livro e o folheou com destreza. Encontrou o que queria... O pedaço de papel, estava mesmo lá, entre as páginas 26 e 27.
-Garota esperta, hein... Mas pra que isso?...
Pôs o papel no bolso da calça jeans e recolocou o livro dentro da pasta. Tinha uma estranha sensação de que estava preste a cair numa grande enrascada por conta dessa sua loucura. Pensou nas aulas que estava perdendo... Na preocupação dos seus amigos, seus pais...
Distraiu-se com os transeuntes, as crianças e os jovens que deixavam a escola, o pipoqueiro bem servido de freguesia, o céu nublado...
-Ei! Ô moleque! Pega ladrão! – Berrou, como se adiantasse.
Lá se ia a pasta preta de Lohan nas mãos de um menino de boné preto. Foi num piscar de olhos.
Lohan não cruzou os braços; partiu atrás do menino, que estava vestido pelo uniforme da escola e disparava calçada afora, lépido como ele só.
A perseguição se estendeu até a esquina. O moleque a dobrou, e Lohan em sua cola. Não admitia que todo o seu esforço, até então, fosse por água abaixo devido a uma simples distração e ao mal intento de um pivete. Cada gota de suor que se formava em sua testa o motivava a correr mais, a persistir naquela perseguição conturbada por diversos obstáculos; as pessoas que transitavam, os postes, os orelhões, os buracos. Corria como se naquela pasta estivesse encerrada uma pedra valiosa, ou coisa outra qualquer de grande valor.
Não o perdia de vista. Esbarrou em um senhor, que ficou para trás reclamando. Mais adiante, uma movimentada rua para atravessar. O moleque arriscou: atravessou com o sinal aberto. Lohan decidiu fazer o mesmo. Os carros freavam e quase se colidiam. O moleque passou pelo canteiro e já estava noutra rua, tão movimentada quanto. Quase foi atropelado, mas conseguiu alcançar a calçada. Lohan também pulou o canteiro que divida ambas as mãos das ruas, mas não obteve a mesma sorte. Uma Kombi não freou a tempo, e o atropelou.
“Nada é prêmio: sucede o que acontece”
(Ricardo Reis)
Foi apenas um corte no braço. Lohan foi levado até o hospital mais próximo, para que recebesse o curativo. O próprio motorista da Kombi o levou, demonstrando gentileza e preocupação.
Uma jovem enfermeira entrou no quarto onde estava, e iniciou os preparativos para o curativo. Lohan olhava vagamente, para o nada. Não conseguia acreditar no que tinha acontecido.
-Em que mundo está, hein? – Perguntou ela, enquanto umedecia uma gaze.
-Como? Falou comigo?
-Tem mais alguém aqui? – Ela sorriu.
-Desculpe, é que... Eu to realmente com a cabeça longe... Meu Deus, tem coisas que acontecem... Inacreditáveis.
-Como o que, por exemplo?
-Tive minha pasta roubada, por isso vim parar aqui.
-Não foi atropelamento?
-Persegui o pivete, acabei levando a pior.
-Nossa... E o que tinha de tão importante naquela pasta?
Lohan sorriu, balançando a cabeça, indignado. Pensou no que ia responder: “um livro”. Provavelmente faria papel de ridículo diante da enfermeira.
-Um livro.
-Ah, não acredito! – Disse ela, caminhando até ele com o material em uma bandeja.
-Por incrível que pareça.
-Hum, corte feio, não? Mas me diz: era um livro muito caro, ou... Sei lá, o que tinha nele de tão importante a ponto de fazer você cometer a loucura de perseguir o pivete? Já pensou se tivesse alguém na cobertura dele e te acertasse um tiro?
-Não pensei em nada no momento. Se era um livro importante?... Sim, pra mim era. E para a pessoa que estava prestes a recebê-lo mais ainda.
-Então era uma entrega?
-Digamos que sim... Ah, que droga!
Lohan soca a maca em que estava sentado. A enfermeira limpava a ferida com soro.
-Está doendo?
-Não, não...
-Acalme-se, essas coisas são rotineiras na nossa cidade, você sabe disso. Não foi e nem será a última vítima. Eu mesma já fui assaltada, dentro de um ônibus, a caminho de casa. Levaram minha bolsa, com meus documentos, meu dinheiro... O que fazer?
-Eu não sei... Não foi um assalto casual, como esses... – Deduziu.
-Acha que foi premeditado? Tinha alguém te seguindo?
-Seguindo não. Mas tinha gente que sabia do valor daquele livro.
-Vai dar queixa quando sair daqui? – Disse, já preparando para enrolar a gaze.
-É, pretendo... Sei que não vai adiantar muita coisa, mas é o de praxe, né. Ei, não vai aplicar o anti-séptico?
-Como?
-Eu cortei o braço no asfalto. Precisa aplicar o anti-séptico na limpeza, além do soro, e depois sim, proteger com a gaze. Faz parte do procedimento, se esqueceu?
-É, eu... – Disse, a um sorriso sem graça – Eu conversei, me distrai. Desculpe.
Ela apanha o remédio e o aplica. Sem desfazer o riso constrangido, ela diz:
-Você prestou atenção nisso, mesmo com a cabeça a mil... Como sabia?
-Vou pro último período de enfermagem.
Ela quase fica estática.
-Nossa, então... Estava sendo avaliada e não sabia!
-Que isso, quem sou eu pra avaliar alguém. Eu não quis te constranger.
-Não, você agiu bem! Eu me formei ano passado. As vezes fico um pouco nervosa ainda, dependendo do caso.
-E das pessoas.
-Como assim, das pessoas?
-Se for uma pessoa com um assunto interessante, tanto quanto o meu, você acaba dispersando sua atenção e cometendo falhas no procedimento.
-Eu falo muito, é um defeito.
-Tente se controlar. Rayanna... Que lindo nome. Só agora fui reparar no seu crachá.
-É, aqui nós usamos. Obrigada. E o seu?
-Lohan.
-Prazer. É, acho que agora sim, está terminado.
-Como, se nem começou? – Gracejou.
Rayanna o olhou, encafifada, com um sorriso desentendido.
-O que?...
-Nada, brincadeira.
Lohan olhou para o relógio. Havia passado meia-hora, desde o atropelamento.
-Preciso fazer um telefonema. Rayanna, obrigado por tudo.
-Precisando... Estou a seu dispor, futuro colega de trabalho. Quem sabe nossos caminhos não se cruzem num desses hospitais da vida ainda?
-É, quem sabe... Adeus.
-Adeus. Ah, e boa sorte.
-Obrigado.
Lohan vai até o banheiro, lava o rosto e decide telefonar para Camila.
-Alô, Lohan? Acabei de dispensar a turma. Já estou indo.
-Acho que você terá que percorrer um caminho um pouco mais longo...
Vinte minutos depois...
Lohan e Camila se encontram em frente ao hospital.
-O que aconteceu com seu braço, Lohan?! – Preocupada.
-Eu fui atropelado. Um pivete roubou a pasta, com o livro e eu fui perseguí-lo... Droga, não fosse isso, eu teria pegado ele!
-O livro... Roubado?!! – Pasmou-se.
-Camila, me diz logo, o que está acontecendo? Por que aquele clima de mistério na escola?
Camila ainda tentava assimilar aquele sumiço do livro... Sua mente fértil já havia pensado centenas de possibilidades.
-É... Perai, deixa eu raciocinar... Esse livro foi roubado... Alguém mandou, Lohan.
-Eu também acho, e será você quem me dirá agora quem pode ter sido.
-Eu? Como eu? Eu sei muito pouco, Lohan! Talvez tanto quanto você.
-Conte o pouco que você sabe.
Nesse momento, começa a chover.
-Vem, vamos entrar naquele bar!
Os dois correm até um bar próximo. Lá, acomodam-se em uma das mesas. Havia poucas pessoas ali dentro.
-Por que me dar seu telefone, porque querer conversar comigo sem a presença da Andréa? – Exige Lohan.
-A Simone lecionava naquela escola há três anos. Era uma boa colega, boa professora, todos gostavam dela... Até que...
-Continue.
-Ela se meteu num escândalo terrível. Foi flagrada transando com um aluno na despensa da escola, e horário de aula.
-Putz... Nem se deu o trabalho de pegar um motel de beira de estrada.
-Sim, ela foi burra, deixou se levar pelo instinto. Esse acontecimento foi o game over da carreira profissional e do casamento dela.
-Ainda era casada!
-Foi expulsa do colégio e de casa, e impedida de lecionar pelo resto da vida.
-Explicado o sumiço dessa tal Simone.
-Também pudera, a mulher não tinha mais cara pra ficar nem na cidade. Isso repercutiu muito, saiu na imprensa, até. A escola ficou queimada por um tempo, muitos ainda comentam sobre isso... Acho que nunca vamos recuperar nossa reputação. Os próprios alunos vivem de gracinhas com as professoras, achando que podem comer todas elas. E a Simone... Essa precisou recomeçar a vida dela, se mandou, sabe-se lá pra onde.
-E porque não me disseram isso antes?
-Porque não sabíamos ao certo quem era. Aliás, eu ainda nem sei. Nem sei porque eu to aqui, me expondo dessa maneira pra você.
-Sua amiga disse que eu sou bom moço, se esqueceu?
-A Andréa é louca. Nós não te falamos porque todos daquela escola entraram em um acordo em nunca mais tocarem nesse assunto lá dentro, ainda mais para um desconhecido. E se você fosse mesmo da imprensa, conforme brincou a Andréa? Por isso pedi que ficássemos a sós. Ainda não sei porquê, mas confio em você.
-Não devia.
-Por que, você quer me matar?
-Você acha que se eu quisesse te matar, eu te diria?
-Eu diria. Você não ia acreditar em mim, ia rir da minha cara. E isso o relaxaria. Eu aproveitaria sua vulnerabilidade e o atacaria, feito uma viúva negra.
Lohan surpreendeu-se com a malícia daquela professora, que a princípio demonstrara ser tão simples e tímida.
-É... Sem pista da Simone, sem o livro. Fim da linha.
Ficaram um tempo, hesitantes, olhando pra mesa do bar...
-Por que você acha que mandaram roubar o livro?
-Não sei... É difícil dizer isso, mas acho que pode ter sido a Andréa.
-Ela faria isso só pra proteger o caso da Simone?
-Também. Com o livro desaparecido, você não teria mais motivos pra procurar pela Simone. Mas eu não sei, Lohan... Tem alguma coisa por trás disso, que eu também não sei.
-A Andréa sabe algo especial sobre o livro, e não quis contar. Algo que a Simone também sabe, e disse a ela. E com certeza envolve a dedicatória.
-Eu tive a mesma impressão, Lohan. Esse livro não podia cair nas mãos de uma pessoa interessada em desvendar o mistério dessa dedicatória. Eles nunca esperavam que alguém fosse ter essa iniciativa enlouquecida que você teve...
-Acha que eu devo dar queixa?
-Não, não... Eu vou sondar a Andréa primeiro. Dar queixa só vai fazer o ladrão se esconder ainda mais. Confesso que agora a minha curiosidade foi despertada também. To contigo nessa.
-Percebe-se que você é apaixonada por um mistério.
-Não imagina o quanto. Não sabe quantas pessoas eu já matei, nem quantos crimes já desvendei.
Lohan sorri, inclina a cabeça para frente, e diz:
-Só falta você me dizer que é uma espiã infiltrada na escola.
-Quem sabe.
Camila mordisca os lábios, sem tirar os olhos de Lohan.
-Quer dizer então que estou diante de um ponto de interrogação... Pode-se esperar tudo desse mundo, realmente.
-Mais um mistério para o senhor descobrir, Sherlock.
-Qual?
-Camila Furtado.
-Pra quem não queria se expor comigo...
-Eu quero que você me exponha. Faça, se for capaz.
-Não acha que já to quebrando muito a cabeça com um mistério, pra você me arrumar outro, muito mais complexo? – Sorri.
-Esqueça esse livro, e decifra-me.
-Se eu não te decifrar, o que vai acontecer? Vai me devorar, Esfinge?
-Com o maior prazer.
Olharam-se profundamente. Lohan deslocou seus olhos daquele olhar hipnótico, rebuscando o foco de sua investigação.
-O pivete... Ele vestia o uniforme da escola.
Camila dá um sorriso sem graça, ao perceber que Lohan não entrara em seu jogo.
-Isso fortalece a sua suspeita.
-A Andréa. Ela provavelmente enviou um dos alunos para tal missão... Para ela fazer isso, é porque a coisa por trás desse livro é muito séria. Você lembra como ele era?
-Não, foi muito rápido. Eu só o vi de costas. Era negro, devia ter uns treze ou quatorze anos, usava um boné preto.
-O que mais tem naquela porcaria de escola é pivete e vagabundo. Não deve ter sido difícil achar um pra realizar esse furto.
-O que me diz? O que devo fazer?
-Pra sua sorte, eu acho que temos uma salvação. Apenas uma.
-Jesus Cristo? – Gozou.
-Mauri Oliveira. – Respondeu, com um ar confiante.
CAPÍTULO 5
“ESFINGE”
A sala de professores estava cheia quando Camila convida Andréa para tomar um café com ela, na cantina.
-Aconteceu alguma coisa, Camila? Você ta com uma cara... – Repara a perspicaz Andréa, enquanto beberica seu café.
-É, aconteceu. Não sabe o Lohan, do livro?
-Claro, ele esteve aqui ontem e sumiu. Suponho que tenha desanimado ao saber que a Simone desapareceu...
-Eu me encontrei com ele ontem. O livro foi roubado.
-Como?! – Espantou-se, quase derrubando o café.
-Ele estava na rua quando um pivete, com o uniforme da escola, tomou a pasta dele.
-Nossa, isso dá uma história e tanto! Já tenho até sugestão de título: o livro maldito.
-Malditas são as pessoas, Andréa. Por que o livro seria maldito? Você saberia me dizer?
Andréa nota a desconfiança da amiga.
-O que foi, hein, Camila? Que bicho te mordeu? Não acha que eu sou uma pessoa muito ocupada pra ficar me preocupando com um livro velho, que contém uma dedicatória como outra qualquer?
-Calma, Andréa... Eu to confusa. Por que iam roubar o Lohan?
-Por que tantas pessoas, todo santo dia nesse país, são roubadas? Pergunte ao presidente, talvez ele saiba te responder.
-Ok, Andréa, não vou mais falar sobre isso com você. Eu só queria sua ajuda. Fique com suas ocupações.
Camila volta para a sala dos professores, irritada. Seu celular toca. Era Lohan. Ela se esquiva da aglomeração para atendê-lo:
-E aí, colocou o plano em ação? – Pergunta ele.
-Ainda não. A aula vai começar agora.
-Tem certeza que não quer que eu vá até aí?
-Não, eu dou conta sozinha. Além do mais, sua presença vai retrair o garoto. Fique tranqüilo, eu vou conseguir.
-Sua autoconfiança me assusta.
-Graças a ela eu posso dizer: eu sou foda.
“Ah, mas olhos e boca aqui se escondem!
Mãos apertei, não alma, e aqui jazem.
Homem, um corpo choro!”.
(Ricardo Reis)
Fim da aula de inglês. Terceiro ano do Ensino Médio. Os jovens deixavam a sala, apressados. Exceto Mauri. Este sempre ficava por último, totalmente recluso em seu universo, seguindo o ritmo lento dos ponteiros de um relógio que, para ele, parecia nem existir. O tempo parecia estar aquém daquele jovem magro e alto, de cabelos pretos, olhos fundos, mente perturbada.
-Mauri, eu quero trocar uma idéia com você. Pode ser?
Os olhos voltados para ele mesmo agora se volviam arrastados para Camila, que estava de pé, atrás de sua mesa.
Com a mochila nas costas, ele caminha até a mesa da professora, e diante dela fica, sem dizer nenhuma palavra.
-Ok, então... – Suspira ela, tentando encontrar um meio ameno para iniciar aquele assunto – Mauri, eu sei que todos prometeram em nunca mais tocarem nesse assunto tão desagradável, sobretudo para você... Apesar de ainda se ouvirem piadinhas de uns alunos idiotas... Antes de mais nada, quero te dizer que você é um cara que tem a minha admiração. Você teve muito peito em continuar nessa escola depois de tudo que aconteceu.
Ele continua olhando a professora com a mais profunda morbidez, sem tencionar dizer uma palavra sequer.
-Eu sei que durante um período você continuou mantendo contatos com ela.
-Como sabe? – Pronunciou as primeiras palavras, sem modificar a expressão mortificada.
-Eu não sei, Mauri. – Confessa - Mas eu acredito que isso tenha acontecido. Você ficou dois meses longe da escola, repetiu de ano. Foi um ano muito atribulado para você. Mas eu tenho certeza que o seu sentimento era verdadeiro, mais forte que tudo, que todos. Forte o suficiente para que não terminasse daquela forma para vocês dois.
-Sentimento... O que é sentimento?
-É o que se sente.
-Eu sinto vontade de ir ao banheiro cagar agora. Isso pode ser chamado de um sentimento?
Fizeram uma pausa. A voz arrastada e lânguida de Mauri dava arrepios em Camila. Ele se tornou um jovem destroçado emocionalmente desde o escândalo que envolveu ele e a professora Simone.
-Mauri, eu preciso saber o que você sabe da Simone que se foi. O que ela foi antes, todos sabem. O que ela é hoje... Ninguém sabe.
-Quem ia querer saber? Todos apedrejaram. Não houve um Cristo que lhe estendesse a mão. Houve diabos... Diabos! – Gritou, subitamente – Diabos que a quiseram longe daqui o mais rápido possível. – Concluiu, amainando o tom de voz.
-Eu quero saber, Mauri. Eu encontrei uma coisa que pertence a ela. Um livro, que ela esqueceu. Esse livro é... É muito importante para ela.
-As coisas esquecidas... Propositais. Quando se precisa começar de novo, não existe mais o que sempre existiu. Precisa-se reexistir.
-Você se reexistiu, Mauri?
-“Em tua ausência... Inexisto” – Respondeu, citando um trecho de um dos seus poemas.
-Eu sei que você ainda a ama. E por causa desse amor, eu tenho certeza que você sabe onde ela está, como ela está. A ética, a desmoralização, as humilhações... Nada disso pode destruir o amor.
-Quem é você pra falar de amor... – Sorri, maquiavélico – Você é uma puta.
Camila engoliu a seco e disse:
-Como pode chamar a sua professora de puta?
-Porque todas vocês são. A Simone me dizia coisas... Nosso erro foi permitir que nos descobríssemos. Já vocês... Vocês todas mantém seus segredos dionisíacos bem escondidos, no fundo do baú podre de suas almas, atrás dessas paredes descascadas, sob esses ralos fétidos, ratazanas, lama, putrefação, merda! Merda!!! Merda!!!
Aquele grito visceral salivou o rosto de Camila. Mauri sai da sala, batendo a porta. Ela ficou ali, parada, durante um bom tempo...
Após recompor os pensamentos e telefonar para Lohan, avisando que ainda não havia conseguido nada, desceu os degraus da escada devagar, apoiando-se no corrimão. Não percebeu que ali embaixo uma pessoa a esperava.
-Primeiro ele, depois você. Sozinhos na sala. O que esse Mauri tem que eu não tenho?
Camila lança um olhar odioso para Edson.
-Venha até a minha sala. Vou te dizer o que eu tenho – Diz ele, indo para a sala.
Contrariada, Camila entrou na sala do déspota. Ele tranca a porta.
-Segredo de Estado, é? – Indaga ela, ao vê-lo trancar a porta.
-Talvez. Isso você me dirá. Senta.
Sentaram-se. Edson abre sua gaveta e retira dela um livro...
-Conhece esse livro?
-É um livro de História.
-Sim, e exatamente na página 48, Julio César é assassinado por Brutus e Cássio... Ele então diz a frase que entraria para a história: até tu, Brutus?
-Aonde quer chegar, Basílio?
-Brutus e Cássio... Sabe que ontem quando vi você e a Andréa conversando com aquele rapaz, na surdina, tive um mau pressentimento?
-Homens como você não são capazes de pressentir nada.
-Como eu já conheço a história, e não quero morrer como Julio César, traído pelas minhas pupilas queridas, decidi arregaçar as mangas e agir.
-Diga de uma vez o que quer.
-Eu? Eu não quero nada. Talvez você queira.
Edson abre a gaveta novamente, e retira dela outro livro.
-E esse livro, conhece?
Camila arregala os olhos e, no ímpeto, tenta arrancá-lo das mãos de Edson, que habilmente se desvencilha.
-Haha, você o quer? Por que, Camila? Quem se importa tanto com um livro velho, de Ricardo Reis?
-Me dá esse livro, seu ladrão!
-Ei, vamos nos acalmando...
-Então foi você... Mas por que, por que?!
-Eu vi aquele rapaz saindo daqui. Foi estranho... Eu cheguei, vocês inventaram uma desculpa esfarrapada, ele saiu... E aquela pasta preta que ele segurava, muito me intrigou!
-Achou que estávamos te denunciando, é? O que não faz uma pessoa com rabo preso!
-Você sempre me jogou indiretas. Sempre quis me ferrar.
-Desvio de verba é crime.
-Prove que eu desviei. Prove, sua vagabunda.
-Me respeite. E me devolva esse livro, agora.
-Pra minha felicidade, o menino me trouxe um livro ordinário. Eu não o joguei fora porque ele me cheirou mistério e porque pretendo usá-lo a meu bel-prazer. Por que quer tanto ele de volta? Não posso deixá-lo na biblioteca?
-Ele não te pertence. Pertence ao meu amigo!
-O que vai dizer quando devolver a ele? Que eu o roubei?
-Não, eu invento uma desculpa. Digo que encontrei debaixo da mesa, que o aluno deixou sob uma mesa. Por favor, me devolva esse livro. Ele é importante pro Lohan.
-Ele é mesmo seu amigo?
-Não te interessa.
-Ok... Eu te devolvo.
Edson estendeu o braço, como se fosse entregar o livro a Camila. Quando ela ia recebê-lo...
-Mas! – Sorriu, sarcástico, recuando o braço – Antes, quero propor uma condição.
Camila controla a ansiedade.
-Desgraçado...
-Eu quero que transe comigo.
Camila gargalha.
-Está rindo, é?
-É, eu to rindo! Imagina só se eu vou me sujeitar a uma nojeira dessas. Agora você se superou, Edson. Eu não pensava que fosse tão canalha.
-Sendo assim, o livro continuará sob minha posse. Isso se eu não utilizá-lo para acender a minha lareira hoje. Está frio, não está?
-Não faça isso.
-Ora, mas esse livro é de ouro ou o que?!
-Edson, pelo amor de Deus, esse livro é... É de família.
-Eu não acredito em Deus, muito menos em família. Nunca tive nenhum dos dois na minha vida.
-Você não vai me ganhar assim, me chantageando. Olha, eu vou avisar ao Lohan e à polícia, ouviu bem?
-Faça isso. A essa altura, o livro já estará em cinzas. Vão provar o que?
-O garoto que você mandou. Ele vai confessar.
-Ele morre, mas não abre o bico. Esses pivetes do morro, você sabe como são. Além do mais, ninguém sabe quem ele é.
-Seu safado, filho da puta!!
Camila avança em Edson, pulando sobre a mesa. Ela lhe dispara murros. Ele se defende, e a empurra. Ela consegue pegar a chave no bolso de sua camisa.
-Eu vou sair, mas eu volto pra te pegar, seu nojento. Eu volto.
-Te espero, meu anjo.
“Vive sem horas. Quanto mede pesa,
E quanto pensas mede.
Num fluido incerto nexo, como o rio
Cujas ondas são ele,
Assim teus dias vê, e se te vires
Passar, como a outrem, cala”.
(Ricardo Reis)
No dia seguinte, Camila faz uma nova investida em Mauri. Dessa vez, ela o cerca no corredor, no horário de recreio.
-Quer me deixar em paz?
-Mauri, por favor, vamos conversar como pessoas civilizadas. Eu não estou aqui pra te ofender, cara. Só quero saber uma informação que eu sei que você pode me dar.
-“Sou um rascunho com letras apagadas”.
-Chega de linguagem cifrada.
-Chega de me abordar. Eu não quero, e não posso mais me aproximar de professoras. Se esqueceu?
-Mauri... Eu estou com um livro da Simone, que é muito importante pra ela. Eu só preciso saber o endereço dela, pra eu poder enviar pelos Correios. Só isso. Ela ficaria imensamente grata.
Mauri hesita.
-Eu prometi a ela. Eu prometi a ela.
-Eu sei, eu sei! Mas se não fosse tão importante, eu jamais te pediria isso.
-Eu não posso.
Mauri se esquiva, e segue corredor afora. Camila percebe que era chegada a hora de lançar mão de sua chantagem.
-Eu vou te reprovar. – Ela anuncia, ainda de costas para ele.
-Isso é uma ameaça? – Ele pergunta, detendo seus passos.
-É, é uma ameaça. Um endereço ou um zero. Você escolhe, garoto.
Camila passa por ele, retumbante.
-Eu posso te denunciar por isso, sua puta. Posso ir ao diretor agora mesmo.
Camila se vira, a um sorriso irônico, e diz:
-Quem você acha que o diretor da escola irá ouvir? A puta da professora gostosa que pode dar pra ele a hora que ele quiser, ou um aluno repetente e sem vergonha que já foi pivô de um baita escândalo na escola? Pense nisso. – Termina ela, dando uma piscada de olho. E se vai.
Mauri soca a parede, furioso.
Camila vai até a sala do diretor, com uma expressão tranqüila. Ela entra sem bater, e já vai logo dizendo:
-Amanhã à noite, na sua casa. O livro deverá estar lá. Me leva de carro?
Edson se surpreende com aquela atitude, abre um sorriso de satisfação e diz:
-Eu sabia que não ia recusar. Eu sou mesmo irresistível. Claro, querida. Está tudo acertado.
-Até amanhã.
“Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.”
(Ricardo Reis)
Sexta-feira, dia seguinte. Lohan estava angustiado com o andamento das coisas. O livro não fora encontrado, e imaginava que jamais seria, pelo tempo já decorrido do roubo. Camila não dava notícias, apenas enviava mensagens para o seu celular, pedindo paciência, e para que confiasse nela.
Este seria um dia e tanto para Camila. Era chegada a hora do bote final.
Andréa escrevia no quadro-negro durante sua aula no terceiro ano quando ouve batidas na porta.
-Entre!
Era Camila. Ela abre a porta, e logo é mirada pelo olhar turvo de Mauri, que se sentava na última fila da classe, sem nenhum companheiro.
-Oi, Andréa, desculpe te incomodar... É que eu preciso dar uma palavrinha com o Mauri, pode ser?
Andréa faz que não entende. “O que ela quer com o Mauri?”, pensa.
-Está bem, mas seja breve. Logo eu vou iniciar a explicação da matéria. Mauri, ouviu o que a professora disse? Venha até aqui falar com ela.
Mauri permanece sentado, e cabisbaixo.
-Mauri, eu falei com você. – Insiste Andréa. – Não seja mal educado.
Mauri bufa, e se levanta, muito contra a vontade. Um dos alunos o fita, atento, como se tramasse algo contra ele...
Ele se coloca diante de Camila, que encosta a porta.
-Desculpa eu te chamar assim, no meio da aula... Eu queria te pedir desculpas por ontem, e também te mostrar o livro da Simone. Talvez você queira ficar com ele, de recordação. Você é a pessoa mais apropriada para cuidar desse livro, ou entregar a ela, se quiser. Não precisa me dizer onde ela está.
-E cadê o livro?
-Bem... Eu não queria entregá-lo aqui, na escola. As pessoas podem estranhar nossa proximidade, vamos evitar contatos aqui. Sabe onde fica um restaurante italiano a duas quadras daqui?
Mauri leva a mão ao queixo, indignado.
-Vai me convidar pra almoçar contigo, professora? É assim que quer evitar proximidade?
-Ninguém da escola vai saber. Por favor, aceite. Eu estou muito arrependida pelo o que disse a você ontem. Aceite isso como pedidos de desculpas sinceros. Lá eu te dou o livro. Por favor... Não seja tão durão. Amoleça esse coração ao menos dessa vez comigo, vai.
Mauri hesita, e recita mais um trecho de uma poema seu:
-“Somos o ser que se prende em se soltar... Asas em teias de aranha de um vôo inexistente, em buscar a liberdade falsa, inventamos nossa própria jaula”. Entende o que digo? Eu já me entreguei demais, em busca de liberdade, de autonomia. E o que ganhei com isso? Solidão, tristeza, amargura. Eu não quero me iludir de novo.
-Eu não quero nada com você, e nem você comigo. Prometo nunca mais trocar uma palavra contigo depois de hoje, no restaurante. Combinado?
Ele cruza os braços, atormentado, oscila, e diz:
-Está bem, eu vou.
-Assim que acabar a aula, vá. Te encontro lá.
Mauri retorna à sala de aula. Andréa ainda escrevia no quadro. Ela o olha de soslaio, e nota seu olhar atormentado.
Era meio dia e meio quando Camila chega no restaurante, e encontra Mauri sentado em uma das mesas.
-Obrigada por ter vindo. – Agradece ela, a um sorriso, repousando sua bolsa sobre a cadeira ao lado.
-O livro.
-Calma... Não vai querer comer nada? Nem uma bebida? Afinal de contas, será a última vez que iremos nos falar pessoalmente.
-Não tenho apetite.
-Mauri, você parou de viver por causa da Simone. Cara, você é tão jovem, pra que ficar nessa? Já se passaram três anos! Cadê o Mauri que eu conhecia? Simpático, brincalhão...
-Eu era tão esperto... Veja o que me aconteceu.
-Aconteceu, passou. A Simone recomeçou a vida dela, e você? Você recomeçou?
-“Uma vez sonhei que a neve caía em pleno verão... Os flocos tão frescos misturavam-se às minhas lágrimas... Misturavam-se, derretiam-se, congelavam-se”.
Recitado esse poema, Mauri abaixou a cabeça, passando a fitar a mesa. Camila percebeu que não adiantaria nada continuar com aquele discurso, e resolveu colocar o plano em prática.
-Desculpa, mas... Não tem livro nenhum comigo aqui, Mauri. Eu nunca pensei em entregá-lo a você, porque o que continua me interessando é o endereço da nossa querida amiga Simone.
-Então porque me trouxe até aqui? – Exasperou, agora fitando Camila.
-Queria comer um Provollone com você, mas como você está sem apetite...
-Sua puta. Quer me dar também, é?
-Você tomou ódio das mulheres. É infeliz por causa de uma, e acha que nunca será feliz com nenhuma. Puta é a sua mãe, entendeu?
-Não fale da minha mãe, eu te mato.
-Mata, é? Antes de me matar, eu quero que me diga o endereço e o telefone da Simone.
-Não vou te dizer nada. Nada! – Gritou, socando a mesa com ambas as mãos fechadas.
Algumas pessoas ouviram o rebuliço, volvendo-se para eles.
-Quanto mais chamar atenção para a nossa mesa, será pior para você.
-Eu vou embora, e é agora.
Antes que Mauri se levantasse, Camila se apressou em dizer:
-Eu não sairia daqui, se fosse você. Eu não sei se você sabe, mas tem um policial amigo meu te esperando ali fora, na porta do restaurante.
-Um policial? Você ta de sacanagem com a minha cara?
-Putas só fazem outros tipos de sacanagem.
Mauri gargalhou, para a surpresa de Camila. Há muito não via aquele jovem sorrir. Foi uma gargalhada sombria. Ele não se importou com as palavras da professora, se levantou e, antes de ir, disse:
-Não me procure mais. Nunca mais.
E saiu. Camila sorriu, mexeu nos cabelos. Permaneceu ali, tranqüila. Dois minutos depois, Mauri retornava, acompanhado de um policial à paisana.
-Meu amigo Sidarta, o que me traz aqui? – Alegra-se Camila.
-Sua puta, vadia!!! – Berrava Mauri, desesperado – Você colocou isso na minha mochila!!!
Todos presentes no restaurante se assustaram.
-Melhor nos retirarmos.
Sidarta, o policial, segurava no braço de Mauri. Os três retiraram-se do restaurante. Mauri se debatia, estava transtornado.
-Me larga!
-Conte o que tu tem pra contar pra nossa amiga, e tudo vai ficar bem, moleque. – Disse Sidarta, que segurava algo na outra mão...
-Agora é que não vou contar! Eu vou te processar, Camila!
-Eu fui obrigada a fazer isso, meu caro. Pedi a um aluno que fizesse isso enquanto você estivesse fora da sala de aula, conversando comigo.
-Você me paga por isso.
-Sidarta, o que acontece com pessoas que carregam trouxinhas de cocaína dentro da mochila?
-Cana.
Sidarta e Camila riam, sem piedade.
-Vamos, cara. Prefere ser preso a contar onde mora a Simone?
Mauri percebe que não há outra saída.
-Por favor, Camila... Mantenha segredo absoluto, eu te peço.
-Eu dou minha palavra. Não tenho intenção de prejudicá-la.
-Ela foi morar em Cachoeira de Macacu, abriu uma lanchonete lá.
-Qual é o nome da lanchonete?
-Não lembro, acho que é Point da Si, algo assim... Oh meu Deus, não acredito que isso ta acontecendo comigo...
-Eu preciso comprovar isso. Me dá teu celular.
Mauri enfia a mão no bolso, pega o celular e entrega a Camila. Ela vasculha os nomes de sua lista de contatos, e encontra o de Simone. Sorri, satisfeita. Em seguida, ela liga para Simone daquele celular.
-Vai, fala com ela. Manda ela dizer onde mora pra mim. Entendeu?
Tremulo, Mauri assente com a cabeça. Ele pega o celular e atende:
-Alo, Mauri?
-Oi, Si...
-Me ligando há essa hora, o que aconteceu?
-Eu... A Camila, lembra dela, a professora de inglês?
-Camila?... Sim, sim, eu lembro... O que tem ela?
-Ela quer saber onde você está morando. Diga a ela, Simone, diga a verdade ou algo de ruim vai acontecer comigo.
Simone fica muda.
-Simone? Você continua na linha?
-Passa pra ela.
Mauri entrega o celular a Camila.
-Oi, minha amiga, quanto tempo!
-O que você está fazendo com o Mauri? Não o machuque.
-Eu jamais machucaria o Mauri. Só quero saber onde você mora pra te fazer uma visita. To morrendo de saudade, Si! Tive que ameaçar o Mauri de reprovar ele na matéria se ele não me desse seu telefone! Ele realmente sabe guardar um segredo, esse menino.
-Você é pérfida, Camila.
-E você não sabe valorizar as amizades. Nunca deu sinal de vida pra gente. Já se passaram três anos.
-Eu não quero que venha em minha casa.
-Então você foi morar pras bandas do interior, hein... Tem parentes aí?
-Tenho uma prima.
-Como chama o mesmo, o lugar?
-Eu não vou dizer.
-O Mauri vai entrar em apuros... Olha, tem até polícia na jogada, se você quer saber. Quer que ele seja preso?
-Não, não! Está bem, eu digo. Eu to morando em Cachoeiras de Macacu.
-Como podemos te achar?
-Tenho uma lanchonete, Point da Si. Estou sempre aqui.
-Ok. Não se preocupe, mais ninguém saberá. Juro que faço isso pela nossa amizade, preciso muito te ver.
-Eu nunca fui sua amiga.
-Pois é... Nem eu. Mas é bom manter as aparências, não? Então, até qualquer hora. Beijos.
Camila desliga.
-Tudo no esquema, Camilíssima? – Pergunta Sidarta.
-Super no esquema. Pode soltar ele.
Sidarta larga o braço de Mauri, que chorava.
-Não fique assim, Mauri. Saiba que tudo o que fiz foi pelo bem. Um dia você saberá tudo.
-Você não presta... Como pôde ter planejado essa sujeira... Até droga arrumou...
-Droga? Que droga, menino?
Ela e Sidarta se entreolharam, risonhos.
-Plantaram cocaína na minha mochila.
-Desde quando pó de giz é cocaína?
Sidarta entrega a trouxinha a Camila, que a abre e despeja o pó branco na palma da mão.
-Como estou acostumada com esse cheiro... Giz branco...
Mauri balançava a cabeça, indignado.
-Ah, e eu também não sou policial. Sou professor de História.
Sidarta retira do bolso da camisa a carteira de policial.
-Isso aqui vende em centenas de camelôs.
Ele e Camila caíram na gargalhada.
-Obrigada, Sid. Atuou perfeitamente!
-Por nada. Às vezes é bom sair da rotina. É estressante ser professor todo santo dia. Quando precisar... Me chama.
-Tenha certeza que chamarei.
Mauri observava àquilo tudo, embasbacado.
-Como eu pude cair nessa...? Como eu fui idiota... Eu mereço a morte. Eu mereço a morte. Eu mereço a morte...
Mauri saiu rua afora, transtornado, repetindo essas palavras.
-Esse garoto não vai se matar não, né, Camila?
Camila, observando Mauri seguir seu trajeto, sem nortes, diz:
-Se ele se matar, ele perde a vida dele. Antes a dele do que a minha. Vambora, que meu dia só começou.
”Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras por própria.
Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és.
Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto.
Sê teu filho”.
(Ricardo Reis)
Eram sete e quinze da noite quando Edson Basílio chegava em sua casa. Ao seu lado, no banco do carona... Camila Furtado. Vestia um sensual vestido vermelho, colado no corpo. Os lábios também estavam tingidos por um batom escarlate. Vermelho... Era a cor da noite.
-Sinta-se à vontade! A casa é sua, meu bem! Vou abrir um vinho tinto pra nós!
Camila sentou-se no sofá da sala, com a bolsa pendurada ao ombro. Edson dirigiu-se até ela com duas taças de vinho nas mãos.
-Brindemos ao nosso prazer. Eu e você, juntos!
-Sempre fui o seu sonho de consumo, não?
-Acertou... Eu sinto um tesão incrível por você.
Brindaram e beberam seus vinhos. Conversa vai, conversa vem...
-O livro. Eu quero vê-lo.
-Nada mais justo! Está no meu quarto. Vamos subir?
Edson acompanhou Camila até o segundo andar do seu sobrado. O seu quarto estava perfumado, a cama bem arrumada. Tudo preparado. Ele a agarra, beijando seu pescoço.
-Me solta, eu quero ver o livro antes! – Exige.
Edson a obedece, e vai apanhar o livro, que estava dentro de sua gaveta de cuecas.
-Aqui está, meu doce. Vou deixá-lo aqui, nessa gaveta. Nunca pensei que fosse me dar tão bem por causa de Ricardo Reis... Salve Fernando Pessoa! Agora vem, vem, minha loiraça...
-Ta, me dá só um minuto, eu vou até o banheiro me preparar...
-Se preparar, mas já ta tudo no esquema! – Reclama, abrindo os braços.
-Uma mulher precisa de tempo. Nunca aprendeu isso? Eu vou me trocar, e sairei do banheiro incrivelmente fatal.
-Ah... Mulheres! Ok, eu espero. Mas não demora.
Edson jogou-se na cama, tenso. Camila entrou na suíte, pálida. Olhou-se no espelho, e disse para si mesma:
-Sangue frio, Mila. Sangue frio.
Molhou o rosto. Respirou fundo. Abriu a bolsa e retirou de dentro dela um revólver. Engatilhou o dedo, e o apontou para o espelho, como se o reflexo a sua frente fosse o do seu inimigo.
Nesse momento, Edson bate à porta do banheiro.
-Querida, vou buscar mais vinho para nós. Já volto.
Camila corre até a porta, encostando seu ouvido nela. Ela ouve os passos se distanciando, a porta se abrindo e se fechando. “Ele saiu”, calculou.
Camila põe o revólver dentro da bolsa novamente, a fecha, e a deixa sobre a pia. Em seguida, ela abre a porta do banheiro lentamente. Percebe que a porta do quarto estava fechada. Ela sai, sorrateira, e vai direto até a gaveta de cuecas da cômoda. Abre a gaveta. Cuecas. Só cuecas. Ela revira as cuecas, e nada de livro.
-Filho da puta.
-Está procurando por isso?
Ele sai de trás da cortina, balançando o livro em sua mão, do outro lado da cama.
-Qualquer mulher no meu lugar faria isso.
-São todas burras como você. Você quer esse livro? Tire a roupa pra mim. Agora!!
-Mas...
-Vai, agora!
Camila começa a se despir. Por baixo do vestido, havia uma lingerie preta.
-Gostosa... – Admirava Edson, ainda segurando o livro – Tira tudo, tudo, vai.
-Tira você também, ora. Vai transar de roupa?
Edson dá uma risada sádica. Coloca o livro sobre a escrivaninha, e tira a camisa, e a calça jeans.
-Agora vem pra cama.
-Você está se esquecendo de um detalhe, amor.
-Que detalhe?
-Camisinha. Ou você acha que eu arriscaria meu útero com o seu esperma nojento?
-Hum, danada... Adoro quando você fala assim, com ousadia. Eu não ia me esquecer, tenho aqui, debaixo do travesseiro.
-Eu não quero desse. Quero o que eu trouxe, de morango. É o meu sabor predileto... – Ela sorri, passando a língua nos lábios.
Edson se assanha.
-Ta, e cadê? Vamos logo com isso.
-Vou buscar, na minha bolsa.
Camila vai até o banheiro, apanha a bolsa e volta com ela, aberta. Ela coloca a bolsa sobre a cama e diz:
-Trouxe também um brinquedinho pra apimentar nossa noite.
-Comigo você não precisa de vibrador, sua vadia. – Respondeu ele, tirando a cueca.
-Não é bem um vibrador...
Edson, que havia se abaixado um instante pra tirar a cueca, ergue seu olhar para Camila, que apontava uma arma para ele.
-Ei, ei... Que brinquedo é esse, mocinha?
-Não conhece? Calibre 12.
-Desde quando sabe atirar?
-Desde quando aprendi. Veste essa cueca, não quero ficar olhando pra esse pinto horrível e pequeno. Veste, porra!
Edson estava trêmulo. Vestiu a cueca.
-Vamos com calma, Camilíssima. Eu não quero morrer, e você não quer me matar, certo?
-Quem disse que não?
-Se você me matar, já era a sua vida. Já era tudo.
-Me passa o livro. Joga ele aqui, na cama, do meu lado. Vai!
Edson finalmente lhe devolve o livro. Camila o apanha, e logo o coloca dentro de sua bolsa.
-Pronto, já te dei o que você queria.
-Eu sabia que o plano da camisinha ia dar certo. Se nós mulheres somos burras, vocês homens são uns babacas ingênuos. Sabe aonde vocês erram? Quando subestimam a capacidade de uma mulher.
-O que vai fazer agora? Ainda quer atirar em mim?
-Morrendo de vontade eu estou. Mas já consegui o que eu queria. Já você não pode dizer o mesmo, haha. Ficou na vontade.
-Saiba que sua carreira acaba aqui. Vou acabar com a sua vida.
-Tente a sorte. Agora entra no banheiro. Vai, passa pro banheiro!
Edson corre até o banheiro, ainda sob a mira de Camila. Ela retira a chave da fechadura e diz:
-Já passou a noite em um banheiro sozinho?
-Não faça isso, Camila. Como vou sair daqui depois?
-Sei lá, se vira. Você não é o espertão? Olha, pra não dizer que eu sou ruim, vou te dar isso.
Camila retira um grampo do cabelo e lança no chão do banheiro.
-Agora é com você, querido. Buenas noches.
Ela fecha a porta, e a tranca do lado de fora.
-Sua filha da puta, me tira daqui!! Abre essa porta!! Abre!!! – Esmurrou a porta.
Camila recostou-se na porta, morrendo de rir. Em seguida, ela se veste, guarda a arma na bolsa e sai do quarto.
Já na rua, ela pega um táxi.
-Pra onde, madame?
Ela sorri, cheia de alívio e sensação de missão cumprida, e responde:
-Pra casa. Hora de descansar.
“Dia após dia a mesma vida é a mesma”.
(Ricardo Reis)
Lohan e Camila encontraram-se na Confeitaria Colombo naquela manhã de sábado.
-Eu sempre gostei de vir aqui. Minha mãe sempre trouxe, quando criança. – Dizia ela, enquanto saboreava seu Capuccino.
-É, aqui é ótimo. Mas me conta, como conseguiu o livro, e o endereço da Simone?
-Foi fácil. Ameacei reprovar o Mauri, ele logo “cagou” nas calças...
Risos.
-Quanto ao livro... Eu o encontrei no achado e perdidos da escola. Uma faxineira o encontrou debaixo da mesa. O aluno com certeza se arrependeu do que fez. Só que nunca vamos saber se realmente foi a mando de alguém. A Andréa não foi, com certeza.
-Você foi demais. Sem a sua intervenção... Como eu ia conseguir prosseguir?
-Você ia dar um jeito.
-Não, não. Seria impossível... Você quer ir comigo?
-Não, não vai dar. Por mais que eu queira... O dever me chama. Já fiz minha parte. A vida desse livro está nas suas mãos. É nas suas mãos que deve estar.
-Camila, nem sei como te agradecer.
-Sabe sim.
Lohan reflete...
-Ainda quer que eu te decifre?
Ela sorri, boba.
-Aonde você quer que eu te decifre?
-Tem um motel a duas quadras daqui.
-Hum... Professora sabida, direta. Sorte que não sou seu aluno.
-Quem disse que não? Vou te ensinar coisas que você nunca imaginou aprender.
-Pago pra ver.
-Não, pagar não. Não sou puta.
Ela ri, lembrando-se das vezes que fora chamada de puta. Não, não era puta... Era apenas uma mulher.
Uma mulher destemida, maliciosa, enigmática. Era Camila Furtado.
(Ainda não foi dessa vez! My secret friend continua sendo secret, rs. Quem sabe será na próxima vez? Ou quem sabe já não foi citado? Sejam atentos! Até o terceiro post), Lohan.
3 comentários:
Tá ficando bom... tô curiosa demais!!!!
Lohan, e aí? E aíííííííí? Plagiando Frank Zappa: "The torture never stops..."
Acaba logo com a tortura.Tô ficando carente, ninguém se revelou para mim ainda!
Querido, até o final do ano vc termina? Promete???
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