O velho não gostava de relógios. Achava que as pessoas não deviam se prender tanto ao tempo. Ele mesmo parecia deixar as horas mais lentas com seu passo vagaroso e seu jeito calmo. Mas mesmo assim tinha um relógio, daqueles de bolso, bem antigos, com uma corrente grossa banhada em ouro. As vezes parava, tirava-o do bolso e ficava a examina-lo por muito tempo.
Um dia, seu neto já crescido pediu para ver a jóia do velho. Examinou-o e olhou desapontado para o avô. O relógio estava parado, talvez a vários anos. Jovem e moderno que era, não entendia a utilidade de carregar algo estragado, logo ofereceu-se para joga-lo fora, comprar um novo, mas o velho não queria. De fato o relógio do velho não era daqueles que servia para ver as horas, mas sempre que olhava aquela bolacha dourada o seu rosto mudava de modo estranho, parecia mais vivo.
No fim das contas o velho ficou mais velho e estava a morrer. Já sem forças para levantar ele mandou chamar aquele neto e ofereceu-lhe o relógio. O garoto já com lágrimas pegou-o e guardou com cuidado, beijou seu avô e ficou segurando sua mão até que ela esfriasse.
Em algum tempo o garoto cresceu, apanhou da vida, bateu um pouco também. E não poucas vezes pegava-se tirando aquele relógio velho do bolso e olhando-o, ainda parado, depois seguindo com o olhar diferente. Apesar de não ter as horas o relógio do velho não era de forma nenhuma inútil, era uma caixa de lembranças, uma daquelas coisas que guardamos para lembrar de quem somos, para onde podemos voltar e para onde devemos ir.
O garoto não tinha muitas coisas do avô, seu andar era dos mais apressados, contava até os segundos do dia, não parava para olhar muitas coisas, mas de quando em quando também pegava aquele relógio, olhava-o e mudava seu rosto, então já sabia o que fazer.
3 comentários:
Textoo mto lindoo...
*-*
Mauri, me fala, please!!!!!
Vc odiou seu presente de amigo-oculto??????
Fala q detestou, mas me fala!!!! Não poss viver mais com essa dúvida!!!!
Abração!!!!
Ps.: texto demais!!!!!!!!
Mauri, belo texto!
Lembrei-se de uma cena do filme Morangos Silvestres, do Bergman. O protagonista é um velho, que se depara, em dado momento, com um relógio sem ponteiros! Sendo que, antes, ele tinha sonhado com o mesmo.
Isso simbolizaria a morte, uma vez que o tempo parou, ou deixou de existir, para aquela pessoa. Ou, talvez, o tempo já não importava mais. Importavam eram as lembranças, e os conselhos que sua sabedoria lhe permitiria dar.
Parabéns, boy!
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