AGRADECIMENTOS
Obrigado, primeiramente a Deus, pela força e pelas ideias, sempre, sempre, as quais me alimentam dia-a-dia, e geram histórias como esta.
Obrigado aos amigos que acompanharam, e os que não acompanharam também! Todos fazem parte desse mundo, esse meu mundo literário; sobretudo nessa história, né, rs.
Obrigado por existir o Autores S/A.
Obrigado pela paciência de vocês! Ana, eis a última parcela do seu presente! rs
Bom... Vamos ao que interessa, não?
Último capítulo!
Peço licença aos nobres autores de hoje para realizar essa postagem.
(Deixem seus comentários no final, com vossas opiniões a respeito da história, em geral. É muito importante pra mim a visão de vocês. Obrigado! :)
Capítulo 10
“PERDIDOS E ACHADOS”
-Então você sabia de tudo, Andréa... Por que não me contou desde o início, quando eu fui à escola? Por que mentiu?
-Eu não podia revelar uma história dessas a um desconhecido. A Simone me confiou esse segredo, eu... Eu nunca esperei que um dia isso tudo viesse à tona. Quando ela me deu o livro, ela disse que fazia isso para entregá-lo nas mãos do destino. Ela me disse que já tinha feito isso uma vez, e que o livro retornara às suas mãos. Eu, pra não ficar carregando esse fardo, decidi passá-lo à frente também. Coube ao destino cuidar desse livro...
-Por isso você dizia que esse livro tinha história, mas nunca entrava em detalhes. Nossa... Quanta coisa seria evitada se você tivesse me dito naquele dia!
-Lohan, tente entender a minha situação. Eu não levava fé na sua busca também, achava que nunca ia encontrar a Simone! Você superou todas as minhas expectativas, é um grande de um teimoso!
-Por que resolveu contar tudo isso pra Camila? Por que contar a ela?
-Não sei, eu resolvi contar, não sei. A Simone já estava morta, ela ia testemunhar a seu favor... Ela precisava saber o que estava por trás dessa trama toda.
-E ela, com toda sua astúcia, se aproveitou dessa bela informação e resolveu chegar até a Karina antes de mim e chantagear a coitada.
-Só que eu não disse a ela o nome da Karina, até porque eu não sabia! Eu sabia sim, que era uma jornalista, mas não sabia que era Karina o nome dela. A Camila me ligou hoje de manhã, me dizendo que tinha conseguido o nome da jornalista quando foi depor a seu favor, já tinha pegado o livro e que já estava à caça dela para chantageá-la.
-E você, não disse nada?
-Eu pedi pra que ela desistisse daquilo, que não levaria a nada! Brincar com o destino é coisa séria! Ela chegou a me oferecer uma parte da grana que ia conseguir, ah... Adiantou alguma coisa? Ela é completamente doida! Fez o que fez, e deu no que deu... Eu confesso que não esperava essa atitude ousada e maléfica da minha colega de trabalho... Soubesse disso, não teria contado a ela jamais essa história toda. Eu tenho uma grande parcela de culpa nisso tudo. Quando você me falou da morte da Karina, eu... Eu quase tive um troço!
-O leite já foi derramado.
-O sangue, né! O sangue!
-Mas que história louca, não? Eu nunca imaginei que essa dedicatória tivesse sido escrita de irmão para irmã. Um irmão apaixonado pela irmã... E a Simone também não era flor que se cheirasse, hein... Extorquiu a melhor amiga, sem contar os escândalos que ela se meteu depois.
-A Camila tomou o exemplo dela. Inacreditável essa minha colega de trabalho, inacreditável... Maldita a hora que fui abrir minha boca! Como já dizia minha avó, língua é pra comer com batata. Dentro da boca, não presta.
-Andréa, isso significa que nem tudo está acabado – Disse Lohan, a um sorriso entusiasmado.
-Hã?
-A Karina morreu... Provavelmente a irmã dela irá ao enterro, essa tal Bia. Será o momento de eu finalmente cumprir a minha missão, Andréa.
-Lohan, faça-me um favor! Depois desse trelelê todo que deu até em morte, você ainda quer seguir em frente com essa idéia?
-Só falta um passo, Andréa! Um passo! Eu não posso desistir agora. Eu confesso que ia sim desistir, mas toda essa revelação me dá a chance de continuar. Tudo isso não pode ter sido em vão.
-Você é quem sabe, garoto. Não conte mais comigo pra nada, chega de me meter nessa confusão. Já basta esse sentimento de culpa, e essa angústia pela Camila. Se você quer ir, vá. Mas não toque no meu nome. Entendeu bem?
-Claro, Andréa. Você errou em ter dito a verdade à Camila ao invés de mim, mas soube se redimir, me contando agora.
-Se eu não te contasse, correria sério risco de ser encontrada degolada numa esquina qualquer do Rio de Janeiro amanhã.
-Fala sério, Andréa! Acha mesmo que eu tenho cara de assassino?
-E assassino tem cara? Se tivesse, facilitaria o trabalho da polícia.
-Em breve, eu vou conseguir provar a minha inocência. Enquanto isso, preciso terminar o que comecei. Você vai ficar aqui, esperando notícias da Camila?
-Com certeza. Não arredo pé daqui.
-Ela não tem família, nenhum parente?
-A única coisa que eu sei é que ela é divorciada. Fora isso... Nádegas.
-Vou deixar meu número com você, me ligue quando souber de alguma notícia. Agora tenho que ir. Preciso saber aonde Karina Shuenck será sepultada.
-Não vá matar mais ninguém, hein, seu enfermeiro de meia tigela!
"Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias".
(Ricardo Reis)
Já era noite quando os investigadores do Dpto. de Homicídios, Valter e César, recebem por e-mail um retrato-falado do suposto assassino de Simone Prado.
-Quem descreveu essa pessoa? – Indaga Valter, olhando o retrato com atenção.
-Aqui diz, no e-mail, que um casal de idosos, moradores de Copacabana, foi hoje de manhã à delegacia do Leblon e deram queixa a respeito do caso. Segundo eles, esse rapaz estava à beira da estrada no horário coincidente do crime, e o casal, generosamente, concedeu-lhe uma carona até o Rio de Janeiro. Ele vestia uma camisa preta de mangas compridas e uma calça jeans. Parecia nervoso, e tinha resquícios de mato na calça, além de lama na sola dos sapatos... Apresentou-se como Carlos da Silva, disse que morava na Zona Sul, e que tinha sido assaltado. O casal o deixou próximo à praia de Copacabana.
Após ler o e-mail, César cai em profunda reflexão.
-Tudo bate, César! Precisamos conversar com esse casal, eles são testemunhas-chave!
César torna a olhar o retrato na tela do computador... Arregala os olhos.
-Valter, imprima esse retrato!
César deu um salto da cadeira, vestiu o seu paletó rapidamente.
-O que descobriu?!
-Bora pra tocar pra Duque de Caxias. Eu sei quem é esse cara.
Os investigadores voltam àquela modesta casa, desta vez, munidos de uma suspeita latente. Uma senhora de óculos os atende.
-Boa noite, o que desejam?
-Somos investigadores do Departamento de Homicídios. A senhora por acaso reconhece esta pessoa?
César apresenta-lhe o retrato falado, colocando à altura da vista daquela mulher.
-Sim, sim! Esse é o Ernesto, meu neto!
-Então ele se chama mesmo Ernesto... – Cochicha Valter.
-Ele está em casa no momento?
-Ele ta lá no quarto com o meu outro neto. Veio passar uns dias aqui... O que querem com ele? Ele é um bom menino! – Defende a avó, trêmula.
-Acalme-se, senhora. Nós só vamos trocar uma idéia com ele. Podemos entrar?
A velha assente com a cabeça, quase sem reação. Os dois policiais entram. Ouve-se um som alto e abafado, vindo do quarto onde estavam os dois garotos.
-Então eles são primos... Apenas primos? – Insinua Valter.
-São primos, o que mais eles podiam ser? – Intriga-se a velha, ajeitando os óculos no nariz.
Os policiais se aproximam da porta do quarto, dando-lhe duas batidas.
-Eu peço pra eles abaixarem esse maldito som, mas não adianta!
Mauri abaixa o volume do som e corre para abrir a porta, já explodindo em reclamação:
-Para de perturbar, vó!...
Ele se dá conta.
-Boa noite, Mauri. Boa noite, Ernesto!
O policial acena para Ernesto, que está sentado à cama.
-O que fazem aqui de novo? Resolveram bater ponto aqui em casa? – Resmunga Mauri.
-Viemos em definitivo. Senhor Ernesto, por favor, se levante.
Eles adentram o quarto.
-Quem deu permissão pra entrarem assim? – Indaga Ernesto, já de pé, pálido feito cera.
-Nós somos autoridades. E você é suspeito de ter assassinado Simone Prado. Portanto, será levado à delegacia neste exato momento. O senhor nos deve algumas explicações.
Valter segura as mãos de Ernesto, e o algema.
-Mas, mas...
-Não! O meu neto não!! – Desespera-se a velha.
Mauri observava a tudo, em silêncio. Ele e Ernesto apenas se olhavam, eloqüentemente.
-Eu não mato nem uma barata! Eu sou inocente!
-A minha filha também é inocente, e ela já matou uma barata. – Ironiza César.
-Com base em que estão detendo o meu primo?
-Nisso.
César mostra a todos o retrato falado.
-Viemos aqui hoje cedo, e, coincidentemente, esse retrato veio parar nos nossos arquivos há poucas horas. Vamos levar o suspeito até a delegacia, e lá faremos um teste de identificação, com as pessoas que contribuíram para que esse retrato fosse feito. Caso seja comprovado... Bem, digamos que terá que rebolar.
-Penso que rebolar não seria algo tão difícil pra ele – Gargalha Valter, sempre irônico.
As faces rubras de Ernesto denunciam sua vergonha e sua raiva.
-Ernesto... Você não fez isso com a Simone, fez?
Os olhos de Mauri reluziam. Uma poça de lágrimas se formava. Ernesto fez um semblante interrogativo.
-Agora não temos tempo para discussões familiares. Senhor Mauri, peço que fique junto de sua avó. Muito em breve vamos convidá-lo a depor também. Vamos.
Eles encaminham o suspeito até o carro.
-Chamem um advogado! Um advogado! – Clama Ernesto, sendo empurrado para o banco de trás do carro.
Mauri permanece dentro do quarto, imóvel. A velha gritava à porta.
A revelação estava próxima.
“Aguardo, equânime, o que não conheço”.
(Ricardo Reis)
Mal raiou o dia e Lohan já estava de pé, debruçado à grade da sacada de sua casa. Nas mãos, o livro. A dedicatória pesava mais do que nunca. Tantas conseqüências aquela busca incessante havia trazido, tantas passagens e influências nas vidas de outrem, inclusive na sua. Sua rotina inerte, suas visões cartesianas a respeito do mundo... Tudo se transformou quando segurou aquele livro pela primeira vez.
Era meio-dia quando Lohan recebeu um telefonema de Andréa. Camila havia sido transferida para o quarto.
Por Camila, o jovem sentia um misto de raiva e desejo. Queria olhar a cara dela, e dizer palavras duras a ela. Ao mesmo tempo, tremia só de pensar na frieza que vestiria diante daquela esfinge.
-Ela está consciente, graças a Deus! – Exclamou Andréa, muito aliviada – Parece que quebrou o fêmur, foi o mais grave.
-Já pode ir visitá-la?
-Sim, eu te acompanho.
-Fique tranqüila, eu não vou matar a Camila.
-Eu não pensei nisso, idiota.
A ansiedade tomou conta de Lohan. A cada passo no corredor, um pulsar mais forte no peito. Ele e Andréa entraram no quarto. Lá estava Camila, com uma perna engessada, pendurada em uma haste; o corpo repleto de curativos. Seus olhinhos se abriram com dificuldade ao ouvir o barulho da chegada dos dois.
-Vocês?... – Ela murmurou.
-Abra os olhos, Camila. Ele está aqui. – Diz Andréa.
A professora de Literatura se aproxima da paciente, acariciando seus cabelos. Lohan permanece afastado, de braços cruzados.
-Eu devia ter morrido. Eu devia ter morrido...
-Não, não devia. Você tinha que passar por isso. Que essa lição venha ensinar muita coisa a você.
-Eu to completamente arrependida... A Karina não podia ter morrido...
As lágrimas desceram pelo olhar arrependido de Camila.
-Não vai chegar perto, Lohan?
Lohan não se move.
-Ele já sabe de tudo, Camila. Eu contei tudo a ele.
Camila fitou o jovem estudante, sem saber como se expressar naquele momento.
-Diz alguma coisa. – Ela pede.
-Você é uma mercenária, Camila. Não vale o chão que pisa. Uma golpista, suja, fria... Capaz de se deitar com um homem para roubar dele um livro! Por que? Por que tudo isso? Que grande lucro pra sua vida isso te daria? Alguns trocados... Mas o dinheiro acaba. E a sua consciência? Ela não reclama, Camila?
-Eu não vou pedir o seu perdão, Lohan. Eu não tenho esse direito.
-Eu não te daria o meu perdão. Você nunca passou de uma desconhecida pra mim. Tive a ilusão de pensar que te conhecia, de pensar que poderíamos ser... Amigos, talvez. Cheguei a pensar em uma relação... Na verdade, eu nunca te conheci. Agora sim, sei quem é. Sei do que é capaz.
-Não, não sabe. Eu também sou capaz de amar.
-Tenho minhas dúvidas. – Ri, sarcástico.
-Eu também pensava que fosse diferente. Pensava que... Que eu era tão egocêntrica, tão manipuladora, a ponto de não conseguir sentir o amor, nunca. Eu era daquelas que acreditava na inexistência do amor. Mas quando eu te conheci...
-Para, Camila. Sem apelar, por favor. O seu cinismo é digno de um Oscar.
-Eu fui fraca, ambiciosa demais.
-Camila... Desculpe pelo o que vou dizer agora, mas... Vamos fingir que nunca nos vimos. Que tudo entre nós foi uma mera aventura, uma coisa passageira. Um sonho e um pesadelo. Não me procure mais.
Os dois olhares se fixam, como arcos retesados. A flecha não é atirada. A tensão paira no ar. Lohan se encaminha até a porta, sem mais palavras. Sai, sem dizer adeus.
Dali, ele segue direto para o banheiro. Molha o rosto, desajeitadamente, e olha-se no espelho.
-Ah... – Suspira.
Seu celular toca.
-Dr. Fontes?
-Olá, meu amigo! – A voz parecia extasiada.
-Aconteceu alguma coisa?
-Sim, aconteceu. O senhor já pode se considerar um homem acima de qualquer suspeita.
-Alguma novidade no caso da Simone?! – Empolgou-se.
-Eu estou na Delegacia aqui de Caxias. O verdadeiro assassino confessou crime. Já sabemos quem matou Simone Prado, e porquê.
-Armando, eu não disse!
-Não. Não foi o Armando.
-Então... Quem foi?
“Já o frio da sombra
Em que não terei olhos”
(Ricardo Reis)
Quando o seu rosto foi fragmentado pelos espaços entre as grades, Ernesto sorriu, amargurado.
Minutos depois, seu primo é conduzido até a sua cela. Mauri encara Ernesto com um semblante torto, aparentando uma profunda vergonha. –“O fechar de olhos, conformado e preso, por dentro e por fora”.
-Gaiola. Jamais me esqueceria de um poema seu. Lembro de cada verso, cada palavra – Completou Ernesto, colando seu corpo contra a grade fria.
-A prisão te corrói externamente. A mim, trancafia qualquer coisa que se possa chamar de alma.
-Não, não fique assim! – Ernesto estende as mãos pelas aberturas, que passam a ser seguras pelas mãos pálidas e sensíveis do poeta – Eu fiz uma escolha. Eu quis te salvar.
-Eu não tenho palavras...
-Guarde as suas palavras para poetizar. É o que torna você ainda mais belo, Mauri.
-Nunca fui belo. Ser ordinário que sou... De paixões corriqueiras, de impulsos juvenis que não combinam com a minha maturidade precoce. Sou uma contradição, infinita contradição!
-Não fala assim...
-Eu não esperava que fosse se entregar. E você fez isso para que não chegassem até mim.
-Eu matei a Simone, não você.
-Mas fui eu quem idealizou o crime. Eu quem te passou todas as informações.
-Eu podia ter me negado a fazer! Fiz porque eu não agüentava mais te ver sofrer por causa daquela vagabunda. Não me arrependo de nada, amor. A noite de amor que tivemos foi a melhor recompensa que você poderia me dar.
-Não me chame de amor. Nunca te amei, nunca correspondi suas intenções pederastas. Você é um ser impuro. Pra você, matar ou cometer qualquer outro tipo de ato que fuja dos mandamentos divinos ou da lei dos homens, é nada. Eu tenho nojo de homossexuais.
-Como tem coragem de me dizer isso agora?! – Ernesto larga as mãos de Mauri – Você e eu, nós tivemos aquela noite de amor!
-Não foi de amor, você sabe disso. Eu apenas cumpri a minha palavra, do trato que fizemos.
-Você brincou o tempo todo com os meus sentimentos... Me usou, se aproveitou deles, pra, pra... Pra realizar sua vingança. Claro, a Simone te dispensou de vez, ela te humilhou! Você ficou transtornado...
-A raiva, o arrependimento... – Ri Mauri, maquiavélico, observando o sofrimento de Ernesto – Aposto que está pensando em me entregar, não?
Ernesto se lança à grade, e com olhar encolerizado, dispara:
-Eu dei minha alma ao diabo por você!
-Dar nunca foi problema para você.
-Desgraçado... Traidor. Eu vou contar toda a verdade à polícia.
-Conte. Não terá importância... Quando eu sair daqui, vou me abismar no escuro mais profundo que existe. Cansei de existir.
-Não, Mauri... Não faça isso.
-Ser punido por outros homens? Não, não. Eu crio minha punição. Já ouviu falar em harakiri?
-Mauri, pelo amor de Deus... Está bem, eu não te entrego!
-Adeus, Ernesto.
-Mauri!!
Mauri saiu pelas ruas, sem rumo. Ora abria sorrisos dementes, ora fechava cenho, em tristeza incomparável. Em desatino, lançou-se no meio do asfalto. O sinal estava verde. Fechou os olhos e abriu os braços diante do primeiro carro que se aproximava. Ouviram-se gritos. Ouviu-se uma colisão.
Seu corpo foi jogado a alguns metros de distância.
A jovem motorista cuspiu no volante o chiclete que mascava e saiu do carro, desesperada. Outro acidente ocorreu atrás do seu carro, devido à parada repentina no andamento do trânsito. Ao deparar-se com aquele corpo estendido no asfalto, a jovem de piercing na língua levou as mãos à cabeça, e gritou:
-Puta que pariu! Matei um cara!
Em estado de choque, Bianca Lucchesi puxa o celular do bolso e disca, com as mãos trêmulas, para o seu irmão.
-Camillo, acabei de atropelar e matar um retardado suicida... Puta merda, foi só eu voltar pra essa porra de lugar que isso acontece! Ai meu Deus, eu to fudida, to fudida, to fudida...
-Calma, Bia, aonde você ta?!
-Sei lá!... – Ela olha ao redor, muito agitada – To na avenida de Caxias, perto da tua casa. Corre aqui!
Bianca desligou o celular e correu até o corpo. A ambulância já estava a caminho.
Bianca se abaixa, e percebe que escorria sangue das narinas da vítima.
-É só um garoto... Só um...
Ela sente uma vertigem, e desmaia ao lado de Mauri. Agora, eram dois a serem socorridos.
Fontes conversava com Lohan a respeito do caso encerrado. Estavam em um bar, comemorando com dois canecos de chopp.
-Que história... Crime passivo! – Disse Lohan, surpreendido - Mas por que ela me disse, pouco antes de morrer, que tinha sido o Armando?
-Ora, ela não conhecia o tal Ernesto. Pela lógica, Simone deve ter imaginado que seu assassino fora enviado pelo ex-marido, afinal, ele vivia a ameaçando.
-Claro... E o Mauri?
-O Mauri disse que não sabia de nada. Só dizia isso, o tempo todo. Imagina o ódio que ele deve estar sentindo desse primo.
Fontes entorna goela abaixo mais uma golada de chopp.
-E a Camila? Sobreviveu, hã?
-Hoje fui lá e disse a ela tudo que estava engasgado. Loira safada.
-Haha, pois é justamente o que nós, homens, adoramos! Loiras safadas! Não?
-Eu que o diga...
Sorriram.
-Eu preciso ir em casa, me arrumar. Hoje é o grande dia.
-Oh, claro, já ia me esquecendo... Como ficou sabendo o local do enterro?
-No jornal, onde ela trabalhava. Lá fui informado, me passei como amigo.
-Eu espero que dê tudo certo. Sua saga está próxima do fim, meu caro andarilho! Andarilho inocentado! Haha, vem, vamos brindar de novo!
Fontes ergueu o caneco, sorridente. Lohan o acompanhou, e os dois brindaram.
“Meu balde exponho à chuva, por ter água.
Minha vontade, assim, ao mundo exponho,
Recebo o que me é dado,
E o que falta não quero”.
(Ricardo Reis)
Quando Bianca abriu os olhos, viu a sua frente uma imagem dócil; uma enfermeira, segurando uma prancheta.
-Eu morri?... – Indagou, tentando se levantar.
-Ei, ei, calma. Permaneça deitada, você precisa descansar. Foi sedada.
-Caralho, eu fui dopada... Isso é contra a lei...
-Você está num hospital. Ficou muito tempo desacordada, sofreu um baque muito grande.
-Baque quem sofreu foi aquele maluco suicida. Ele entrou na minha frente, morreu porque quis.
-O garoto não morreu. Ele sofreu um traumatismo craniano, está sendo operado.
Bianca respirou aliviada.
-Putz... Menos mal. Meu irmão ta por aí?
-Sim, ele já perguntou várias vezes por você. Parece gostar muito de você.
-É... A gente se acertou...
-Seu nome é Bianca, não?
-É, e o teu?
-Rayanna.
-Nome diferente. – Riu-se, entorpecida.
-Quem sabe não seja o nome da sua filha. Se for menina, claro.
-Filhos? Vira essa boca pra lá, ô. Filho só fode a gente.
Rayanna ri da espontaneidade da paciente, e diz:
-Pois então já pode começar a pensar em meios de controlar o seu.
-Eu não sou mãe, não deu pra reparar nisso, “dona enfermeira”? Tenho uma tia sexóloga que vive me enchendo o saco pra usar camisinha.
-Então algum imprevisto ocorreu... Mãe você não é. Ainda...
A enfermeira pausa, e completa:
-Daqui a nove meses, será.
-Hã??
Bianca revira os olhos e desmaia outra vez.
Capítulo 11
“AS CARTAS QUE O DESTINO DÁ”
-Nada é isolado nesse mundo, Lohan. As aranhas são as maiores metáforas da vida, entenda quem quiser entender.
Assim aquela mulher de traços marcantes disse a um jovem que lhe entregava um livro.
O fim daquela tarde, que se diz ocaso, marcou um grande momento na vida de duas pessoas. Apesar de estarem próximas a tudo que simboliza a morte, renegavam qualquer contemplação ao obscuro, e se deixavam levar pelas ondas de um mar vivo; se deixavam interligar seus destinos, suas palavras e atos, como se estivessem toda a vida enclausurados na cela de um instante, à espera daquele instante libertador.
Foi uma catarse mútua, foram lágrimas mútuas.
Ana Beatriz retirou seus óculos escuros, e revelou que ainda tinha um estoque reserva de lágrimas. Seus olhos vermelhos do pranto concedido à irmã tornava o momento ainda mais dramático.
-Eu não acreditava em destino. Agora sei que ele existe.
-Não é assim, Lohan... Certa vez eu li, em algum lugar, não lembro onde... “O destino dá as cartas. Basta você saber o que fazer com elas”. O destino deu a você esse livro. Se você não tivesse tomado nenhuma iniciativa... O destino continuaria não existindo para você. O destino existe para quem recebe e envia as cartas que ele coloca em suas mãos. Eu já enviei as cartas que me couberam. Uni um casal que há anos não se via, Gertrude e Irving. Hoje sou recompensada pelo meu ato. Hoje sou eu quem recebe a carta. Amanhã, Lohan, será você.
Estavam afastados, em um monte coberto por uma grama verde escura – mais escura devido à tonalidade do céu, que era cinzento, e sinalizava uma forte chuva.
O cemitério ficava logo adiante, e de lá podiam avistar os túmulos. A despedida de Karina Shuenck foi serena, assim como ela era em vida.
-Vim de São Paulo para o enterro de minha irmã, e recebo uma lembrança que o meu irmão escreveu-me em vida. Talvez, se ela não tivesse morrido, você nunca teria me encontrado.
-Seria injusto, depois de tanto esforço.
-Injusto...? Há quem você reclamaria essa injustiça? A Deus? Não existe o justo e o injusto. Existe o que deve existir. Foi justa a morte da minha irmã? Ora, se formos pensar assim, claro que não! Mas agora eu sei, agora eu posso entender! – Sorriu, reverberante – Ela morreu por uma finalidade!
-Ele escreveu certo por linhas tortas.
-Já o meu irmão escreveu muito certo. Linhas retas, boa letra. Sempre foi muito inteligente... – Divagava, remoçando os bons momentos de infância ao lado de João.
Pela praia um dia corriam, tinham lá seus onze, doze anos. Afastados dos pais, os irmãos caíram exaustos na areia molhada, e fitaram o céu aberto de sol, sentindo seus corpos serem invadidos por toques leves de mar. De mãos dadas, sonhavam em voz alta.
-Quando a gente crescer, a gente pode morar junto, Bia.
-A gente vai poder ver televisão a hora que quiser... – Riu-se a menina.
-Vai poder abrir a geladeira de madrugada!
-E ouvir discos na maior altura!
-Mas aí tem os vizinhos, né, Bia...
-Não! A gente moraria num campo, bem distante, sabe, assim, bem longe das pessoas. Só eu e você.
-Você jura que mora comigo?
-Juro. Mas... E a Karininha?
-Ah, a Karina faz companhia pra mãe e pro pai. Ela nasceu por último, e quem nasce por último paga o pato!
Riram, riram... Inocentes, flutuantes...
-Eu te amo, Bia.
Ela beijou o rosto do irmão.
-Ele sempre me amou.
Agora, no presente, Ana Beatriz expunha conclusões que ficaram sempre sufocadas em seu peito.
-No seu coração... Você já perdoou tudo o que ele fez?
Ela hesitou, sentiu o rosto molhado, mas agora não só por lágrimas; pingos de chuva despendiam das nuvens. Ela direcionou seu olhar para o alto, e respondeu:
-Eu já te perdoei, meu irmão. Você sabe disso. Você sabe... Eu também te amo.
Fechou os olhos, levou a mão à face esquerda e alisou-a, sentindo-a como se naquele instante tivesse recebido um beijo dos lábios de João. Chegou a sorrir, etérea.
-Vamos, Ana. Começou a chover...
-Deixa, deixa... É ele, ele está me respondendo! É também a minha irmã, eles estão festejando lá no céu! Eles, eles estão dançando, eu aposto! Meu irmão amava dançar!
Ela abriu os braços e um sorriso, e sentiu aquela energia da chuva entranhar em si. Lohan a observava, risonho.
Ficaram ali durante por um bom tempo. Completamente encharcados, sobretudo interiormente; almas límpidas, sensação de missão cumprida.
Isso: sensação de missão cumprida. Missão cumprida não significa abrir caminho para a passagem. Significa uma oportunidade de sentir a razão. A razão de viver.
“Seja qual for o certo,
Mesmo para com esses
Que cremos serem deuses, não sejamos
Inteiros numa fé talvez sem causa”
(Ricardo Reis)
Dois dias depois
Lohan volta ao Sebo, onde tudo começou.
-Tatiana?
Ela estava no alto de uma escada, enfileirando livros no alto de uma estante.
-My goodness!! Lohan!!!
Rapidamente ela desce a escada e vai abraçá-lo. Lohan não compreende aquela recepção eufórica.
-Que bom te ver!
-Eu disse que voltaria pra explicar sobre as lâminas basais, não disse?
-E você acha que eu ia agüentar esperar esse tempo todo? Ne-ver! Catei minhas amigas enfermeiras, e dei um ultimato: ou um livro sobre lâminas basais, ou o fim da nossa duradoura amizade! Dá licença, eu consigo baixar a Soraya Montenegro quando eu quero.
-Soraya Montenegro...? – Sorri, desentendido.
-Lâmina basal: treliça de macromoléculas, funcionalmente importante para a célula. Decorei ipsi litteris, porém ainda nada entendi. Abafe the case, falemos de algo que não seja relacionado a células!
-Ok... Na verdade, eu vim até aqui para te agradecer. Você foi o primeiro elo dessa corrente.
-Que corrente, que isso?
-Do livro. Não se lembra? Eu consegui encontrar a mulher citada naquela dedicatória. Ela recebeu o livro, o livro que você me deu a uma semana atrás.
-Ai, me amarrota que eu fui passada por um ferro Arno Ultragliss Difusion! Sério, Lohan?...
-Parece mentira, mas é verdade. Foi uma longa jornada... Mas consegui.
-Lohan do céu, eu também tenho que te agradecer! Você veio até aqui e me deixou um bilhete, eu tinha saído, mas li o seu recado!
-Ótimo! E você foi até lá, visitar o seu... Ex-bofe rockeiro? – Gracejou.
-Nossa, nem me fale... Eu fui. Que situação estava aquele homem, meo Deos... Eu me senti uma bombeira resgatando o Lord Byron de um incêndio.
-Ele é completamente apaixonado por você ainda. Isso ficou claro pra mim.
-O assunto de vida ou morte dele era, como eu já previa: me pedir pra voltar.
-E...?
-E aí que eu... Eu pedi um time. Preciso pensar, também não é assim.
-Tati, uma vez eu ouvi em um filme de Hitchcock, não me lembro qual agora, uma mulher dizer algo muito certo: quando duas pessoas se gostam, devem se colidir feito dois carros em auto-estrada. Se você gosta do Camillo, não fique pensando muito tempo. Parta para cima!
-É... Por que não? – Disse ela, reflexiva – E você, Lohan? Não querendo ser indiscreta, já sendo, como anda a sua vida amorosa?
Lohan sorri, tímido, e responde:
-Não anda, está aleijada, coitada.
-Nossa!!! Abstraia esse baixo astral!!!
-Não é baixo astral, eu lido bem com essa situação. Por enquanto eu sou carteiro... O meu dia de receber as cartas ainda chegará.
-Filosofia de orkut, abandona essa vida que não te pertence, menino. Olha, eu tenho umas amigas que estão loucas pra desencalhar! Se quiser, te apresento algumas, mas não seja muito exigente, isso é coisa de sargento, honey.
-As mulheres são mais exigentes, acredite... Bem, Tati, agora eu preciso ir. Tenho que repor uma semana de aulas perdidas!
-Meu enfermeiro poeta, que os deuses gregos o protejam!
-E que mais nenhuma dedicatória seja encontrada por mim.
-Oh, eu faço questão de separar todos os livros com dedicatórias e enviá-los para você! Aqui está o meu belle cartão, não repare, está mui lindo, eu sei.
Tatiana entrega a ele um cartão que continha seu telefone, e-mail e endereço do sebo.
-Quando precisar de amigas solteiras ou livros sobre lâminas basais, call me.
-Ligarei. Já você, não se esqueça: colida. Se você ama, colida.
“Choro, que a mim futuro,
Súbdito ausente e nulo
Do universal destino”
(Ricardo Reis)
Após se despedir de sua empregada, a professora Camila bate a porta com dificuldade, girando a chave na fechadura. Apoiada em duas muletas, ela se desloca até o sofá. Sentada, ela apóia a perna engessada sobre uma cadeira próxima. Ofegante, apanha o controle remoto e liga a televisão.
Zapeou vários canais, aleatoriamente. Estava afundada em tédio. Largou o controle sobre o sofá, e apanhou um porta-retrato sobre a mesinha ao lado. Com a sensibilidade aflorada, emocionou-se ao recordar o dia que aquela imagem a remetia.
Estavam em um parque, os dois. Recém-casados, fizeram mil planos. Enquanto assistiam às crianças brincarem, cogitavam um sem-número de nomes para os filhos que iam ter. Lambuzaram-se com molho de cachorro quente, dançaram sob o sol ameno daquele fim de tarde, amaram-se à noite, num leito repleto de pétalas de rosas, aromas orientais, alguma música de Djavan, entre outras delícias que tornam os momentos inesquecíveis, perceptíveis pelo cheiro, pelo toque, pelo som - mesmo que tenham sido vividos há anos.
O som estridente da campainha. O susto fez com que o porta-retrato escapulisse de sua mão, espatifando-se no chão.
-Droga... Quem é?! – Grita, sobressaltada.
Ninguém responde.
-Não acredito...
Irritada, Camila apanha suas muletas e se levanta. Caminha até a porta, e confere o olho-mágico.
Recua um passo.
-Não vai abrir a porta para mim, Camilíssima? – Perguntou uma voz masculina, capciosa.
-O que você quer? O que veio fazer aqui?
-Te visitar... Ou você acha que eu ia perder a oportunidade de te ver na pior?
-Dê o fora daqui, Edson.
-Ah, deixe de bobagem, Camilinha... Abre a porta, vai.
Camila sente-se ameaçada por Edson, que havia lhe jurado vingança devido ao último imbróglio entre os dois. Amedrontada, ela se dirige até a estante, onde avista um estilete afiado. Cautelosamente, ela apanha o objeto e o enfia na bainha de sua calça de moleton cinza, cobrindo-a com a blusa.
-Se você não for embora, eu vou chamar a polícia, ouviu bem?
-Ta com medo, Camila? Medo de mim, por que? Eu é que devia ter medo de você, afinal, você tem uma arma... Será que essa arma está legalizada? Vá saber... Já pensou se a polícia chega e descobre uma parada erradas dessas?
Camila se dirige até a porta, e a destranca. Ao abrir, se depara com um Edson Basílio sorridente, cheio de cinismo para dar.
-Buenas, Camila! Vim autografar seu gesso! – Ri, balançando uma caneta.
-Vai autografar a bunda da sua avó, seu imbecil.
-Hum, até que você me deu uma ótima idéia agora, sabia? Autografar uma bunda... Não vai me convidar para entrar?
-Não. Vem cá, como sabe meu endereço?
-Se esqueceu que ano passado eu te dei uma carona, belezura? Você até deixou eu pôr minha mão na sua coxa...
-Safado, eu me arrependi de ter vindo contigo, depois disso nunca mais. Caça teu rumo. Volta pra sua escola, volta. Quando você sai, aquilo lá vira um pardieiro. Mais do que já é.
-Tirei o dia de folga hoje. Eu mereço, não? Meus funcionários me abandonam, assim eu fico na pior.
-Eu trabalho pro Estado, não pra você. Prefiro morrer de fome a ter que trabalhar pra você.
-Por falar em fome, tem rango nessa casa? Sozinha, desse jeito aí... Bem possível que não tenha nem um arroz. Eu sei cozinhar bem.
-Sai!
Camila impulsiona a porta com uma das muletas. Antes que ela se fechasse, Edson a segura, empurrando-a de volta.
-Eu vou te dar uma comidinha, Camila. Na boca.
Ele entra à força, quase derrubando Camila.
-Ora, vejam só! Um casal de pombinhos no chão da sala.
Edson apanha o porta-retrato quebrado do chão.
-Larga essa foto...
-Quem é, primeiro namoradinho? Não, não... A essa altura esse já deve ter sido o oitavo namoradinho... – Especulava, cínico, enquanto observava a foto.
Camila se aproxima de Edson, e tenta tomar a foto de suas mãos.
-Ei, cuidado! Ta a fim de levar um tombo?
-Como você entra na minha casa assim, seu filho da puta? Dê o fora ou...!
-Ou o que, sua vagaba?!
Edson agarra os cabelos de Camila, agora deixando transparecer seu ódio.
-Me larga.
-Vai gritar, vai? Que vergonha... Uma mulher tão valente que nem você, gritando para o vizinho vir te socorrer...
-Eu não vou gritar. Eu não tenho medo de você.
Edson beija Camila, forçadamente. Ela acerta um golpe em sua costela com uma das muletas. Ele se afasta, levando as mãos ao local atingido.
Aproveitando o ensejo, Camila segue em direção à porta, a fim de escapar. Edson consegue alcançá-la. Agarrando em seu braço, ele a derruba no chão.
-Covarde!... Quer se vingar de mim, quer? Me encare de igual pra igual!
-Desde moleque eu tenho fantasia com loiras de perna engessada. Que tesão.
Edson segura as pernas de Camila e começa a arrastá-la.
-Socorro!!
-Grite, grite mais alto! Vamos ver, pra onde vamos primeiro? Hum...
Edson puxa Camila pelo corredor. Ele abre a porta do quarto, e se anima com a idéia de colocá-la na cama.
-Finalmente, eu vou te comer.
Edson entra no quarto e tenta arrastar Camila para lá. Ela se agarra nas paredes de entrada.
-Será que eu vou ter que quebrar os dedos das suas mãozinhas?
-Por que não me pega no colo? Não me agüenta, seu fraco?
Edson dá uma risada maléfica.
-Era o que eu ia fazer.
Ele se agacha, e mete seus braços por baixo de Camila, criando um suporte para erguê-la. Com esforço, ele a levanta. Nesse instante, Camila, agilmente, puxa da bainha o estilete, o aciona e perfura a veia jugular de Edson com toda a força.
Automaticamente, ele permite que ela caia de seus braços.
Um jato de sangue é ejaculado do pescoço de Basílio, que tenta conter a hemorragia com as mãos. Com o corpo dolorido, Camila não solta o estilete, e assiste à pavorosa cena. Edson tenta proferir alguma palavra, e não consegue. Agonizante, ele pula sobre a professora, e agarra seu pescoço, na tentativa de enforcá-la. O estilete escapole da mão de Camila.
Ela se debate, tenta empurrá-lo, mas ele é mais forte; ele dispõe de toda sua força para matá-la. O sangue espirra sobre o rosto de Camila, que se engasga. Ela tateia o piso, na esperança de segurar o estilete.
Seu corpo estremece sob o de Edson, o oxigênio não é sugado. No último estágio de sua agonia, ela consegue alcançar o estilete, e atinge novamente o diretor, desta vez no rosto, lanhando sua face brutalmente.
Ele solta o pescoço de Camila, que se rasteja, arquejante, já com os lábios roxos, para debaixo da cama. Edson sucumbe, sem ar, e, caído no chão, agarra o pé engessado de Camila, fincando suas unhas no gesso, marcando-o. Ele tenta avançar sobre o corpo dela, que acerta um chute em seu rosto. Resfolegantes, mudos, os dois lutam. Camila consegue se desvencilhar e se protege sob a cama de casal. Edson se arrasta até ela. Uma poça de sangue se desmembra em filetes pelos vãos dos pisos brancos.
Um último gemido, e a morte.
O corpo ficou próximo a Camila, que sai pela outra lateral da cama. Completamente suja de sangue, ela se arrasta pela casa, até a sala. Apoiando-se no braço do sofá, ela consegue alcançar o telefone.
-É da polícia...? Eu, Camila Furtado, acabo de matar um homem na minha casa. De verdade.
"Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje".
(Ricardo Reis)
Seis meses depois...
Lohan tomava a barca para Niterói. Estava muito apreensivo. Sentou-se numa das primeiras filas, mirou o olhar na Baía resplandecente de sol daquela manhã. Tentava disfarçar os calafrios. Abraçava-se. Conferia a hora em seu relógio de pulso com constância.
Em outro bloco, havia um rapaz, vestindo uma camisa do Vasco, lendo a página de esportes de um jornal...
-Pior que ter um filho é ter um time na zona de rebaixamento...
Chegando em Niterói, os dois tomaram o mesmo rumo, sem se esbarrarem. Lohan andava a passos largos, bastante apressado. O outro, tranqüilo, ainda parou em um boteco para tomar um café...
Na sala de espera do consultório da Dra. Carla Zeglio, havia quatro machos ansiosos e uma fêmea grávida.
-Até que enfim, pensei que não viesse mais! – Reclamou Bianca, a grávida.
-Calma, amor, ainda nem chamaram... – Apazigua o seu namorado, Mauri Oliveira.
-Grande Lohan, quem diria... – Graceja Camillo, o irmão de Bianca.
-Como vai, Alan? Ops, Camillo!
Lohan aperta a mão do ex-rockeiro...
-Não, agora eu me chamo Yeshua. Yeshua Nazareno. Deus Pai Todo Poderoso me deu um sinal dos céus, Ele me indicou em sonho este nome. In hoc signo vinces!
-Não liga, Lohan. O meu irmão agora é protestante, fervoroso. Trocou os discos do Napalm Death pelos os de Mahalia Jackson...
-Deus é amor. E amor é o que eu sinto. Logo, eu sinto a Deus.
Lohan senta-se ao lado de... Yeshua.
-E o seu romance com a Tatiana?
-Não profira o nome desta ímpia pessoa ao meu lado!! – Grita, enlouquecido – Esta pecadora tentou queimar todos os meus cd’s, que louvam a Deus, que glorificam ao meu Deus! Mas ela vai se curar, ela vai se libertar do pecado, o sangue de Jesus tem poder!!
Os demais contiveram os risos. Lohan não entendeu mais nada.
Os outros dois homens presentes tinham porte atlético, eram ratos de academia.
-Pelo visto não falta ninguém, falta? – Abisma-se o enfermeiro, ao notar a quantidade de seres masculinos naquela sala.
Minutos depois, chega o último candidato a pai.
-Reninho, que demora, hein!
Renner, o jovem com a camisa do Vasco, senta-se ao lado de Lohan.
-Ei, eu te conheço? – Pergunta ele a Lohan, reparando em seu rosto.
Nesse momento, chega uma cliente de Carla...
-Jesus me abana, hoje tem esse time de futebol inteiro na fila?! – Reclama Juliana, dirigindo-se à recepção.
-Não, não... – Sorri a recepcionista – Eles vieram apenas para saberem o resultado de um exame de DNA. Fique à vontade, já vamos chamá-la.
Carla abre a porta do seu consultório.
-Por favor, os meninos já estão todos presentes?
-Já, tia!
-Podem entrar, por favor.
Quatro homens eram suspeitos de paternidade.
Lohan reconheceu Renner.
-Eu também me lembro de você, cara! Te conheci na barca, você ia visitar uma tia, algo assim...
-Pelo o que eu to vendo, viemos visitar a mesma tia naquele dia...
Bianca entra acompanhada de Mauri e Yeshua.
-Bem, eu convidei a todos porque não acho justo, ou mesmo ético, anunciar o resultado de uma paternidade por telefone, ou por e-mail. Os exames foram realizados aqui, há três dias, e o resultado está dentro deste envelope, na minha mão. Aqui dentro está o único exame positivo.
Carla apresenta a todos um envelope branco, lacrado.
-Imagino o nervoso de vocês! Enfim, é chegada a hora.
-Não querem rezar um Pai-Nosso antes? – Sugere Yeshua.
-Não!!! – Respondem em coro os jovens apreensivos.
Carla abre o envelope e lê, em voz alta:
-Compatibilidade com... Roberto Silvério Mota.
-Ah!!! – Vibra Bianca, sorridente – Robertinho da musculação!!! Foi naquele dia, lembra, que transamos no banheiro da academia, foi demais!
Roberto abaixa a cabeça, arrasado. Os demais respiram aliviados.
-Parabéns, papai. Qual o teu time?
-Flamengo...
-Putz, mais um flamenguista no mundo... – Goza Renner.
Lohan se aproxima de Bianca, e a parabeniza.
-Que você seja uma mãe responsável, ouviu bem?
-Com o Mauri do meu lado, impossível não ser responsável. – Ela sorri, abraçando a Mauri, que tinha um aspecto muito mais saudável do que outrora.
-Mauri?... Esse nome não me é estranho.
-Eu sei quem é você, Lohan. Lembro de que foi acusado de ter matado a Simone. Eu também fui. O meu primo se entregou.
-Então é mesmo você! Você é o... Mauri... Que mundo pequeno.
-Não, Lohan. O mundo não é pequeno. Nós é que somos grandes demais, e não notamos isso. Eu só fui descobrir a minha grandeza quando conheci a essa garota. Me joguei na frente do carro certo. Vamos nos casar e ter os nossos filhos.
Os dois se beijam, apaixonados. Lohan fica a observar o casal, e sente um vazio dentro de si... Um vazio em sua grandeza espiritual. “Falta alguma coisa”, pensou.
Naquela noite, Lohan foi a uma Conferência de Enfermagem, da qual tinha sido convidado por um de seus professores. Após uma série de palestras e discussões, o público foi liberado para um jantar. Ao estar saindo do auditório, sentindo-se deslocado no ambiente, uma vez que seu professor engatara em um caloroso colóquio com outros profissionais, ele esbarra em uma linda jovem de vestido preto, derrubando sua pasta no chão.
-Desculpe, eu pego...
-Não, eu pego!
Abaixaram-se juntos. Reconheceram-se imediatamente. Mal notaram que levantavam a pasta juntos.
-Você... Eu conheço você – Ele diz.
-Claro que você me conhece. Tente se controlar, Rayanna – Disse, imitando o modo de falar de Lohan, à época em que dialogaram.
Os dois sorriram, abismados com tal coincidência.
-Caramba, que satisfação te encontrar aqui. Você cuidou do meu braço.
-E você também, ou não se lembra do toque que me deu?
-É, não fosse isso eu estaria aleijado agora, por aí...
Caíram na risada.
-Estava indo jantar?
-Sim, eu preciso comer alguma coisa, to morta de fome. Essas palestras foram um saco, vamos falar a verdade...
-Concordo. Eu vim acompanhando um professor meu, ele já se meteu no meio dos intelectuais, me esqueceu.
-E eu vim representando o hospital onde trabalho. E você, se formou?
-Me formei. Devo ser o enfermeiro mais inexperiente desse lugar. – Riu – Olha a cara daquele senhor, já deve ter aplicado mais de cinco mil injeções em toda sua carreira – Zomba, analisando as aparências dos senhores.
-Ai, você é bobo! – Sorri.
-Rayanna... Seu nome não saiu da minha cabeça.
-Só o nome?
-Tudo começa pelo nome.
-Ou numa mesa de jantar...
Ela sorriu, insinuante. Sua beleza fulgurava aos olhos de Lohan.
-Pois então que tenhamos um bom apetite.
Os dois seguem juntos, e à mesa, iniciam uma animada conversa.
Ao término do evento, Lohan e Rayanna caminham juntos pela calçada.
-Vou parar por aqui, esperar um táxi...
-Foi muito bom ter te encontrado aqui.
-Acho que os nossos destinos estão traçados, não? Daqui a um ano seremos colegas de trabalho do mesmo hospital!
-Não existe destino traçado. Nós o traçamos.
Lohan se cinge seu corpo ao de Rayanna, e a beija suavemente. Ao cessarem o beijo, ela abre os olhos, e parece despertar de um sonho bom.
-Vamos para um lugar especial essa noite.
-Um lugar especial... Eu sei muito bem que lugar é esse, seu espertinho.
-Você raiou na minha vida. Eu não deixar você nas mãos do destino.
Beijaram-se novamente.
E as estrelas daquele céu presenciaram o começo de um grande amor.
“Da lâmpada noturna
A chama estremece
E o quarto alto ondeia”.
(Ricardo Reis)
Complexo Penitenciário de Bangu
-Camila Furtado... Camila Furtado, de pé!... Camila...
Camila desperta de um sono pesado, a um sobressalto. Esfrega os olhos. Seu nome ecoava em sua cabeça. Da janela, raios quadrados de sol invadem sua cela, a qual dividia com outras duas mulheres. Uma policial chamava pelo seu nome.
-Camila Furtado, levante-se. Temos visita.
Antes de sair, Camila apanha um livro, o qual escondia sob seu colchão.
Ela é levada até a sala de visitas. Coxeando de uma perna, seus passos são lentos. Andréa Amaral a esperava, com um pacote nas mãos.
-Oi minha amiga, como você ta?
-A minha cara não te responde?
A expressão pálida e abatida de Camila era digna de piedade. As olheiras, os cabelos gordurosos, a pele áspera... Sua beleza fora encrudecida, apagada. Seu olhar ainda mantinha resquícios de vivacidade, a velha e boa vivacidade de Camila.
Andréa abraça a amiga, que retribui, meio sem jeito.
-Olha, eu trouxe pra você aquele bolo de fubá que você adora, vivia comendo na sala dos professores...
-Obrigada.
-E esse livro, na sua mão?
Camila fita o livro em sua mão.
-O meu livro... “Os assassinos estão livres”, de Camila Furtado. Você já leu?
-Eu...? Não, eu ainda não tive tempo... Camila, você continua escrevendo?
-Pra que? Se ninguém tem tempo.
Andréa fica sem graça.
-Tudo bem, Andréa. Você é uma grande amiga. Nunca vou me esquecer de tudo o que vem fazendo por mim. É a única que vem me visitar, que ainda lembra que eu existo.
-Não precisa me agradecer. Seja forte, Camila. Cinco meses já se passaram, o início sempre é mais difícil, você vai se adaptar, e o tempo passará mais rápido.
-Eu sempre admirei os assassinos profissionais... Hum – Riu-se, amargurada – Sempre me espelhei neles pra criar os meus personagens. Mas eu... Eu mesma nunca tive coragem suficiente para tirar uma vida. Eu sempre fui uma estúpida... Ilusão a minha de matar e sair impune... Meus livros me enganaram. Minha imaginação me trapaceou. A vida real é dose.
-Você matou em legítima defesa, não por vontade própria, Camila!
-Foi por vontade também... Como eu queria matar alguém... E aquela oportunidade era única, Andréa. Por isso me entreguei. O prazer de ser reconhecidamente uma assassina é impagável. No entanto, os dias que vem depois são tão escuros... Tão anônimos... Você vive em meio a tantas iguais a você... E eu sempre quis ser diferente. Diferente.
-Às vezes algum aluno pergunta por você, sabe... As crianças principalmente. Eu digo que você se mudou pra bem longe.
-Não precisa mentir. Eu quero que eles saibam quem eu sou. E o Lohan? Tem tido notícias dele?
-Nunca mais... A última vez que falei com ele foi na época em que você foi presa. Ele nunca mais me procurou.
-Deve me odiar... Ele se enganou muito comigo. É uma pena... Eu sou apaixonada por ele, Andréa. Todos os dias eu penso que ele pode aparecer, do nada... Mas não. Isso nunca vai acontecer. Eu só queria o perdão dele. O tempo está se esgotando, Andréa. Tome, pega esse livro.
Camila entrega o livro na mão de Andréa.
-Na primeira página, há uma dedicatória. Para ele. Entregue-a nas mãos dele.
-Por que?... Esqueça esse garoto, Camila! Caia na real!
-Por favor, faça o que eu to te pedindo. Faça isso.
O tempo acaba. A policial aparece e conduz Camila de volta à sua cela.
-Faça isso, Andréa! Faça isso! – Ela gritava.
Andréa a vê partir, com o livro na mão.
Ao sair da prisão, a professora de literatura toma uma difícil decisão.
Sai pelas ruas à procura de um vendedor de livros. Ela encontra, em uma espécie de camelódromo, um homem vendendo diversos livros, organizados sobre uma esteira, em plena calçada.
-Bom dia, moço.
-Bom dia, dona, vai um livro? Temo livro pra todo gosto!
-Não, obrigada... Na verdade, eu vim doar um livro para o senhor. Um livro de uma amiga minha, Camila Furtado. Eu quero que o senhor tente vendê-lo.
-Opa, mas que coisa boa! Pois eu, em troca, te dou esse livro do nosso ilustre baiano Jorge Amado! Tome, dona, aceite por bom gosto!
-Não, não precisa, eu...
-Aceite, não me venha com desfeita, dona! Tome!
O homem entrega a Andréa “Capitães de areia”, de Jorge Amado. E ela o entrega o livro de Camila Furtado.
-Obrigada! Bom trabalho!
Andréa Amaral segue, em meio à multidão, pensando:
“Chega. Nunca mais quero me envolver nesses casos mirabolantes... Entrego nas mãos do destino. Seja o que ele quiser, e fim de história”.
“Querido Lohan,
A esfinge devorou-se.
O que restou, em seus pedaços,
Já não foi mais desejo,
Foi um amor que até então,
Não me tinha sido apresentado.
Descobri que o ponto de interrogação
Que havia entre nós
Era um bom sentimento,
Que eu aprendi a desfiar
Do meu sórdido retrós.
Tarde demais...
Já que não tenho seu amor,
Peço apenas o seu perdão.
Quem sabe, assim,
Você designe um motivo
Ao pulsar do meu coração”.
Camila Furtado.
FIM
Uma história de Lohan Lage Pignone,
Dedico a todos os autores s/a
Especialmente, a Ana Beatriz.
5 comentários:
Lohan!!!!! kkkkkkkkkkkkkkkkkkk.Só você mesmo. Esta história rendeu muito pano pra manga, hein?
Incrível sua percepção para bolar contos espelhados na personalidade dos envolvidos.
A Camila em Bangú 1 foi D+! Matar Karina, Simone, formar casais, começar um possível romance com Rayanna...Camilo de evangélico e Thaty demoníaca. Me acabei de rir agora.
Mas a melhor foi a do Hitchcock. Adorei!
Valeu amigo, você está cada dia se tornando melhor em suas narrativas.
Obrigada pela homenagem à todos os Autores. Eu conseguia me enxergar com os diálogos pau na lata que escreveu. Um beijão.
Lohan, como te disse pessoalmente (embora de forma fragmentada), teu talento é inato. Adorei a forma como montou a trama e como expôs e amarrou os personagens, mantendo traços da personalidade de cada um. Depois que conversamos, fiquei pensando sobre minha dúvida se uma dedicatória daria esse samba todo... E cheguei à conclusão de que poderia dar sim. Espero, porém, que não com os Autores SA.
Beijos, obrigada pela homenagem e mande o texto completo por e-mail, como te pedi.
Ana
Ai,meu Deus!!
Emocionante o último post desse futuro livro, com certeza!! Parabéns , amigo, por esse trabalho tão bonito, tão bem escrito por meio de um dom e inteligência que Deus te deu. E o melhor ainda, mais um de seus trabalhos concluídos! Não pode deixar os outros tb em aberto. Tem que respeitar esse dom. É o mínimo que você pode fazer por aquele que te deu de graça!
Estive pensando melhor sobre esse lance do destino..., realmente somos grandes responsáveis pelo nosso e o que podemos influenciar na vida de outros.
Obrigada, como sendo um dos Autores S/A, pela homenagem, engraçada, sim, quando me deparei com o meu nome e sobrenome. Estória tensa a de Simone e Maury, mas que , para mim, foi uma das melhores cenas de tão marcantes e intensas advindas desses personagens. Parabéns pelo capítulo de Camila e Edson, principalmente no finalzinho. De fato, foi perfeito.
Termino esse comentário com Ricardo Reis, que me encantou a medida que ia lendo os capítulos:
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.
(Ricardo Reis- Cada Um)
Um beijão!!!
Si.
Ai,meu Deus!!
Emocionante o último post desse futuro livro, com certeza!! Parabéns , amigo, por esse trabalho tão bonito, tão bem escrito por meio de um dom e inteligência que Deus te deu. E o melhor ainda, mais um de seus trabalhos concluídos! Não pode deixar os outros tb em aberto. Tem que respeitar esse dom. É o mínimo que você pode fazer por aquele que te deu de graça!
Estive pensando melhor sobre esse lance do destino..., realmente somos grandes responsáveis pelo nosso e o que podemos influenciar na vida de outros.
Obrigada, como sendo um dos Autores S/A, pela homenagem, engraçada, sim, quando me deparei com o meu nome e sobrenome. Estória tensa a de Simone e Maury, mas que , para mim, foi uma das melhores cenas de tão marcantes e intensas advindas desses personagens. Parabéns pelo capítulo de Camila e Edson, principalmente no finalzinho. De fato, foi perfeito.
Termino esse comentário com Ricardo Reis, que me encantou a medida que ia lendo os capítulos:
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.
(Ricardo Reis- Cada Um)
Um beijão!!!
Si.
Lohan,
Eu amei minha personagem!!! Realmente ela tem traços (suaves, rsrs) de Camila Furtado. Sinto-me muito honrada com a homenagem, é um mega presente que recebo com muito amor e com profunda admiração. Foi uma delícia acompanhar essa história tão bem enredada em poemas, paixões e crimes. Não sei até que ponto há um pouco de cada um de nós dentre esses personagens incríveis que vc criou, mas sei que me vi em algumas frases e atitudes. Vc é um escritor mega talentoso e não pode nunca parar de escrever, esse é seu dom, seu chamado. Obrigada pelo espaço que me concede na vida real e na ficção. Bjs!!!
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