sábado, 9 de outubro de 2010

O complexo de puta recalcada

Pior do que lidar com aquele nerd com o rosto banhado de pus, que não se cansa de levantar o bendito dedo para dirigir uma pergunta imbecil ao seu professor, ou com aquele invejoso que cobiça até o restolho do pó da sua borracha do primário, que se faz vitimado do mundo, o qual não lhe concede dois minutos de descanso; pior do que lidar com indivíduos desse nível patológico, só mesmo a convivência com ela, a famosa puta recalcada.


O complexo de puta recalcada tem crescido nos últimos tempos. Enquanto o papai medieval escolhia, de acordo com os seus interesses, o parceiro que viria a possuir sua filha (possuir é um termo medieval também, eu sei), tudo ia “repressivamente bem”. A modernidade cedeu às mulheres uma enxurrada de direitos, e não estou recriminando isso. Um desses direitos foi fundamental para a mudança social, e talvez nem Durkheim tenha notado isso: o direito de escolha do parceiro.

Só que esse direito abarca uma contradição, considerando um dos discursos feministas: se todo homem é igual, pra que diabos ficar escolhendo a dedo?

As leoas saem à caça para, curiosamente, terminarem caçadas no final. O calo é quando aquela leoa, toda produzida, segura de si, a “fodona”, que se diz pronta para ser enjaulada, não é capturada por nenhum caçador, sequer por um cientista a fim de cobaias para experimentos irregulares. E nesse momento, ela nasce: a puta recalcada.

Ela passa de leoa a atiradora, mas não de elite: essa atira da elite à classe baixa. E quanto mais atira, mais percebe que suas balas se perdem em meio a uma multidão de mulheres bem sucedidas. O que era seu sonho de consumo – o sucesso no relacionamento – passa a ser o alvo de toda sua inveja recôndita, aquela que recalcou ainda quando criança, quando a coleguinha da segunda série recebeu uma cartinha de amor de um moleque qualquer e ela precisou se contentar em ler o exercício de casa que a professora passou.

A puta recalcada, já em seu estágio patológico mais avançado, pode colocar a moral e os bons costumes das pessoas ao seu redor na lata de lixo. Ela já não se importa com ninguém, nem mesmo com ela. Seu corpo já foi mais oferecido do que flores brancas a Iemanjá no Réveillon. A melhor amiga que se cuide nessas horas: eis que ao seu lado está a famosa frenemy.

Para quem não sabe, frenemy (friend + enemy) é um termo bastante usado nos Estados Unidos para designar aquela amiga que demonstra ser um amor de pessoa, mas, no fundo, é a sua maior rival. Ela vai minando a sua felicidade lentamente, enfatizando seus defeitos, utilizando-se de frases aleatórias, como: “nossa, você parece tão tristinha, amiga... Problemas com seu marido? Ah... Eu conheço uns amigos que podem elevar sua auto-estima em dez minutos...”, ou “pra que pensar em casamento agora, você é tão nova, tem tanta vida pela frente” – como se casar fosse sinônimo de morte! Puta recalcada, bem que você desejou isso na sua mocidade, mas não conseguiu. Como é difícil suportar a felicidade alheia, revivendo os sonhos mal fadados do teu passado, não?




A puta recalcada pode se transformar em uma assassina de cidadãos bem reputados. Tente a sorte em rejeitá-la, ou não demonstrar interesse pelas suas “curvas”, ou “olhos divinais”. Primeiro ela vai cogitar a hipótese da homossexualidade do cidadão. Ok. Ela vai tentar de novo. Persistindo a rejeição, pronto. Ela vai afirmar que o cidadão é gay, mas não só para ela, como para todos os seus amigos em comum com o cidadão.

Quando o alvo da puta recalcada começa a se relacionar com outra, então... Proteja-se. Ela não vai se cansar enquanto não destruir o casal. Suas artimanhas são sorrateiras, implícitas... Ela sabe muito bem como arruinar uma relação. Pena, antes soubesse como construir uma; talvez não recalcasse tanto ressentimento do mundo.

Não existe tratamento para esse complexo. Nem Freud descendo à Terra dá jeito mais. A puta recalcada vai ter sempre um poste de carência para descarregar sua raiva de ser rejeitada. Esse é o problema: sempre vai ter um homem preste a comer qualquer coisa.

As putas também amam. Amam as notas que vão acumular em suas bolsas após o serviço. Porém, as putas recalcadas... Ah, essas nunca sentirão o amor, pois, amor para elas, é tudo aquilo que elas mais desejam destruir.

10 comentários:

2edoissao5 disse...

nunca tinha ouvido nesse tipo de puta..rs mas já conheci algumas assim...
rs

Lohan Lage Pignone disse...

Seja bem vindo, So sad! Mas pq so sad e não so happy? rs

É, cara, eu também conheço esse tipo... É so sad!

Abraços

Andréa Amaral disse...

Depois dessa, só nascendo com um pênis mesmo...mas, o que foi isso? Um desabafo de quem já sofreu alguma artimanha bem sucedida das putas recalcadas? Juro que pensei que este texto fosse de alguma esposa "Amélia" traída. Lohan, vc é muito bom mesmo.Fodástico e mordaz.

Ítalo Machado disse...

"Seu corpo já foi mais oferecido do que flores brancas a Iemanjá no Réveillon"

Sensacional rsrs

Ótimo texto cara!

Daniel disse...

"Esse é o problema: sempre vai ter um homem preste a comer qualquer coisa."
adoro essa vulgaridade
sashsuAsahsahsuhasha

Rosângela alves Lage disse...

Infelizmente hoje é comum este tipo de mulher em nossa sociedade.Pior ainda quando este tipo está bem ao nosso lado, colocando seu veneno em nossas vidas.Homens e mulheres, fiquem atentos e boa sorte!!!

Rayanna Ornelas disse...

Bem observado,Lohan! É preciso estar atento msm,pq esse tipo está por aí, everywhere!

Gleise disse...

Achei um pouco ácido demais. Falar mal de mulher é complicado pois todas - sem excessão - tem um pouco de cada uma das suas personagens. Não é caráter, é fase. Preferiria que vc escrevesse sobre relacionamentos, entende? Seu humor ferino é bom, mas não gosto de estereótipos; nem femininos, nem masculinos. Mas seu texto é inteligente. Parabéns.

Ana Beatriz Manier disse...

Lohan, não entendi NADA. Sinto apenas que foi um texto (bem) escrito com raiva. Cada um é o que é, o que consegue ser. Resultado de vivências boas e ruins. Não há quem seja totalmente bom ou totalmente mau. Todos acertam e todos erram, e não por vontade de errar, de ser sacana, mas por vontade de ACERTAR.
Não dá para definir as pessoas por um só traço. Este traço pode ser defesa, escudo, pode querer dizer o contrário do que parece dizer. Vc sabe disso.
bjs!

Lohan Lage Pignone disse...

Amigos e amigas, rs,

Obrigado pelos elogios, Andréa. Por essas e outras que não podemos mesmo associar texto ao autor, rsrs.

Italo e Daniel, obrigado pela presença de vcs! Diria que eu não chego a ser vulgar, mas talvez, como bem disse a Andréa, mordaz.

Rô, que bom que conseguiu colocar seu nome em azul!! haha Sim, pior é quando elas estão bem ao nosso lado...rsrs

Rayanna, esse tipo está por toda parte, e já emendando no comentário da Gleise, que por sinal, é nova (eu acho) por aqui, seja bem vinda, Gleise!
Bem, Gleise, a acidez foi bem proposital nesse texto, pra falar a verdade... Talvez tenha sido o meu texto mais ''rascante'' até hoje. Concordo com você, todas (e todos, os homens também) carregam em si personagens. O problema é quando um desses personagens resolve assumir o papel principal a qualquer custo. A vida ''de mentirinha'' começa a ganhar uma tonalidade real. Nós somos ou parecemos?

As atitudes, quando repetidas por um bom tempo, creio eu que denunciam sim o caráter de uma pessoa. Não vejo como um estereótipo, mas apenas uma das personagens as quais vc mesma mto bem citou.

Fazendo um link com a Ana; como não entendeu NADA, Ana?! rs Reitero: não defini uma pessoa, um gênero, que seja. Até porque, a puta recalcada também tem seus atributos, claro. O problema é como ela os direciona perante os outros. Seria mesmo tentando acertar? Não sei... Tenho minhas dúvidas, Ana. Acho que tem gente que, de tanto tentar acertar e se frustar na vida, acaba querendo descontar nos outros o que outrora lhe causou ressentimento, amargura. Isso é um traço, não o desenho inteiro.
Logo, concordo que seja um escudo. Um escudo de si próprio. Quando você se torna o que você não é em essencia, você se torna um ''novo''. E todos temem o novo, o desconhecido. Em cada um de nós existe um desconhecido.

UMA DAS verdades é que sim, esse personagem existe. Se é mocinho, ou vilão, talvez eu não saiba classificar no momento. Não sei se o que essa pessoa (a referida no texto) viveu no passado justifique o que ela é hoje, não sei. Posso afirmar que sim, ela existe. E geralmente, está bem abaixo dos nossos narizes... Portanto, como disse a Rosangela: fiquemos atentos e boa sorte!

Abraços a todos!!! Fiquem a vontade para comentar!!