Há poucos dias vi no blog Letrados (www.letradosnf.ning.com) uma publicação de Thaty Brooks, sem texto, apresentando somente um curta de animação, de nome Vida Maria, do diretor Márcio Ramos. Me atrevi a assiti-lo. Daí o que seria apenas um comentário suscitou uma resposta inesperada:
Meu comentário:
Em oito minutos este curta resume uma tragédia de séculos. Tragédia afônica, sem prédios caindo, cruzeiros naufragando, terremotos, tsunamis, deslizamentos, inundações. Tragédia lenta e calma, como o ritmo da própria animação, quase muda, quase a mesma, do começo até o fim.
Resposta ao meu comentário:
Caro internauta,
A vida é isso mesmo, a paisagem é essa mesma, e o povo gosta, senão não seria povo. O povo tem cara, identidade, são os desígnios de Deus, temos de respeitar, não chamar nem nas entrelinhas "de miséria" a vida dessa gente tabalhadora e honesta. Miseráveis somos nós, que vivemos de negar nossos golpes e nossas "franciscanas" negociações. Afinal cultura é cultura, vem do céu, como o sol, a lua, o frio, o calor. A seca. Cultura é coisa valiosa, mas também é qualquer coisa que sirva para nos chamar de gente. É do convívio, mas é da natureza também. É como os índios. É natural que não sejam civilizados. A civilização não é boa, dizimou quase todas as populações ameríndias. Sobrou pouco. O que sobrou é quase índio. Então para que agora civilizar o feliz nordestino? Instruí-lo para quê? Para o forte sertanejo é tudo natural. Mudar para quê? Cortar as madeixas de Sansão? O sol traz a seca, a chuva inundações e morte, o vento furacões, miséria de ricos e pobres. E ninguém diz que Deus errou, ninguém diz que o céu deve abolir os astros. Por que abolir a vida pacata dessa gente tranquila? Cultura é para ser preservada. Não se macula a cultura do simples com ambições civilizatórias. O nordestino vive muito, vai aos 100, 120. E nós na cidade fartos de mendigar previdência - quer dizer, providência. Estamos fartos de lutar por 15° salários. Vivemos pouco, podendo chegar a0s 70, às vezes aos 80, mas já muito debilitados, sem ar. Pobre de nós, a luta aqui é peia. Letras e instrução é para gente perdida como nós, sem alma, impura. A gente do sertão não, é feliz, nós diplomados às vezes achamos a gente nordestina meio triste, porque não admitimos nossa derrota existencial. Por aqui nos achamos poderosos, capazes da salvação através do conhecimento. Ir à escola é tudo. É nada! O professor é o agente tranformador. É nada! Muitos de nós somos do nordeste também, e achamos que a vida dessa gente nordestina é ruim, que é vida de inseto, sem horizonte. Não, elas gostam de viver assim, é a vida delas, a cultura delas, que não podemos nem desejamos demolir de nossas vistas, afinal preconceito é algo muito feio, discriminação é coisa muito feia. Por outro lado cultura é cultura, é patrimônio, é sagrado, não se toca, não se muda, paisagem tampouco. A vida é assim mesmo, uns com muita coisa para cuidar, muito trabalho chato, carros, imóveis, iates, viagens, mulheres, jóias, trabalheira da porra, coisa sem importância; já outros com o mínimo, mas com muita gente por perto, muitos filhos, calor humano.
Vejamos: o sol sempre nasce e se põe no mesmo lugar, é sempre quente, sempre o mesmo, mas continua inspirador e atraindo olhares de admiração. Portanto, deixem o mandacaru onde está. Não se compadeçam do que é natureza. Os abutres são carniceiros. Os nordestinos são nordestinos. Assinado: elite brasileira.
Camillo Landoni
Em oito minutos este curta resume uma tragédia de séculos. Tragédia afônica, sem prédios caindo, cruzeiros naufragando, terremotos, tsunamis, deslizamentos, inundações. Tragédia lenta e calma, como o ritmo da própria animação, quase muda, quase a mesma, do começo até o fim.
Resposta ao meu comentário:
Caro internauta,
A vida é isso mesmo, a paisagem é essa mesma, e o povo gosta, senão não seria povo. O povo tem cara, identidade, são os desígnios de Deus, temos de respeitar, não chamar nem nas entrelinhas "de miséria" a vida dessa gente tabalhadora e honesta. Miseráveis somos nós, que vivemos de negar nossos golpes e nossas "franciscanas" negociações. Afinal cultura é cultura, vem do céu, como o sol, a lua, o frio, o calor. A seca. Cultura é coisa valiosa, mas também é qualquer coisa que sirva para nos chamar de gente. É do convívio, mas é da natureza também. É como os índios. É natural que não sejam civilizados. A civilização não é boa, dizimou quase todas as populações ameríndias. Sobrou pouco. O que sobrou é quase índio. Então para que agora civilizar o feliz nordestino? Instruí-lo para quê? Para o forte sertanejo é tudo natural. Mudar para quê? Cortar as madeixas de Sansão? O sol traz a seca, a chuva inundações e morte, o vento furacões, miséria de ricos e pobres. E ninguém diz que Deus errou, ninguém diz que o céu deve abolir os astros. Por que abolir a vida pacata dessa gente tranquila? Cultura é para ser preservada. Não se macula a cultura do simples com ambições civilizatórias. O nordestino vive muito, vai aos 100, 120. E nós na cidade fartos de mendigar previdência - quer dizer, providência. Estamos fartos de lutar por 15° salários. Vivemos pouco, podendo chegar a0s 70, às vezes aos 80, mas já muito debilitados, sem ar. Pobre de nós, a luta aqui é peia. Letras e instrução é para gente perdida como nós, sem alma, impura. A gente do sertão não, é feliz, nós diplomados às vezes achamos a gente nordestina meio triste, porque não admitimos nossa derrota existencial. Por aqui nos achamos poderosos, capazes da salvação através do conhecimento. Ir à escola é tudo. É nada! O professor é o agente tranformador. É nada! Muitos de nós somos do nordeste também, e achamos que a vida dessa gente nordestina é ruim, que é vida de inseto, sem horizonte. Não, elas gostam de viver assim, é a vida delas, a cultura delas, que não podemos nem desejamos demolir de nossas vistas, afinal preconceito é algo muito feio, discriminação é coisa muito feia. Por outro lado cultura é cultura, é patrimônio, é sagrado, não se toca, não se muda, paisagem tampouco. A vida é assim mesmo, uns com muita coisa para cuidar, muito trabalho chato, carros, imóveis, iates, viagens, mulheres, jóias, trabalheira da porra, coisa sem importância; já outros com o mínimo, mas com muita gente por perto, muitos filhos, calor humano.
Vejamos: o sol sempre nasce e se põe no mesmo lugar, é sempre quente, sempre o mesmo, mas continua inspirador e atraindo olhares de admiração. Portanto, deixem o mandacaru onde está. Não se compadeçam do que é natureza. Os abutres são carniceiros. Os nordestinos são nordestinos. Assinado: elite brasileira.
Camillo Landoni
Um comentário:
Perfeito.
Cada vez mais eugosto desse blog.
Postar um comentário