quando perco as forças,
quando me sinto frouxo,
meu inconsciente me toma de assalto,
grito alto,
não sei bem quem sou
ou quem quero ser
por vezes sou alguém
que rodeia seu próprio corpo
em torno de um jardim,
imaginário jardim,
que delícia, o Éden,
sou o em.
ou sou a delícia
que roçou teu paladar
e escorregou por vias
até arenais e venosas sensações,
sou os sons.
sou também a veia
que carrega o néctar
que te manteve
vegetando por entre as flores
daquele jardim,
lembra de mim?
sou o vegeto
o dejeto
que caiu por engano
rente ao litoral
onde carneiros pastavam
e crianças brincavam
de se aquecer,
sou o ter
sou a lã
o ímã
o domingo de manhã
que você, com sono,
não viu passar
sob sua janela
empoeirada há semanas.
iguanas nas pedras
do box do teu banheiro,
sou o chuveiro.
sou o primeiro
o dinheiro
que te comprou
um prato feito
como obra de arte,
sou a parte.
sou o inteiro
o posseiro
dos teus dias cansativo.
sou vivo no olho
mas olho o quase nada
de mão parada,
sou a escada.
sou a cilada
a estrada
que me levou ao insano
que eu mesmo
não suportei ver.
sou o ser
que colore os caminhos
que levam a pernambuco,
sou o eunuco.
sou quase maluco
e te fiz um filho.
sou o trilho
de onde você descarrilou.
sou as ondas de energia
que te jogam
contra a parede,
sou a rede.
sou a sede
que molhou teu cabelo ralo.
sou o galo
que não cantou
ontem de noite,
sou a garganta.
sou pessoa santa
embora minha imagem
não pertença ao espelho.
sou o velho, o novo e a roda.
me gastei em tentar
descobrir ladeira acima.
sou a rima preciosa
que falhou no teu poema.
sou a algema
que te soltou depois da porta.
sou a morta
que viveu seu sonho lindo
e ainda passa rindo,
sou findo.
sou o destino embaralhado
que você guardou
junto com as cartas,
entre o ás de copas
e o valete de espadas,
sou o elmo.
sou o oboé
que você soprou
e não tirou som.
sou teu pé com bolhas
exausto de cruzar caminhos
a procura de si mesmo,
sou o esmo.
sou minha casa
que me protege da chuva
mas me entrega a mim.
sou meio sem fim,
e desfolho-me lentamente
procurando folhas em branco,
sou o pranto.
sou o branco
que cobriu-me
algumas noites
mas deixou-me, um dia, só,
sou o nó.
sou o nós.
sou a voz do cantor
que cantou
até virar cigarra.
sou a barra
de quem canta
mas precisa trabalhar,
sou o par.
sou o negror
que assola o teu futuro
de algum lado do muro.
sou o escuro
que te espera
na dobra da esquina,
sou aquela menina.
sou a sina
de quem pensa que ensina
e não aprende por opção.
sou o pão,
a massa entre teus dedos,,,
as sortes,
os medos.
sou o segredo
que me mantém firme
pronto pra negar
o inevitável,
sou inviável,
infalível.
sou o combustível
que te trouxe até aqui,
e você nem sabe
porque veio,
eu sou o meio
que uso para estar no meio,
sou o seio.
sou o recheio
quando malhas sem parar.
sou o vagar
não parei porque não quis,
sou o feliz.
sou atriz,
e acho que você
pode também sê-lo,
basta romper o selo
que te ata ao gelo
que te atormenta o coração,
as vezes, sou a ação...
1991
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