sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Classificados na Triagem do III Concurso de Poesia Autores S/A


            Olá, caríssimos poetas e leitores!  Amanhã, dia 24 de setembro de 2014, é dia de descobrimos quais serão os poetas classificados para a próxima etapa do III Concurso de Poesia Autores S/A. Este foi só o começo: ainda há muita água para rolar!
            Os jurados, os quais nós ainda não podemos divulgar as identidades, tiveram um trabalho árduo para selecionar, de 562 inscritos, os 40 poemas. O nível estava muito alto. Sendo assim, temos uma boa novidade para todos os inscritos: ao invés de 40 classificados, decidimos dobrar essa quantidade; ou seja: revelaremos, nesta postagem, 80 poetas classificados!
            As chances de cada um de vocês, poetas participantes, dobraram. Agora, é fazer figa e ficar grudadinho aqui no Autores S/A. Como nós adoramos um suspense, vamos divulgar os resultados ao longo do dia, aos poucos, a partir da meia-noite até as 21:00 horas! Neste horário, já saberemos quem são os 80 grandes poetas classificados e, ao final deste post, iremos divulgar os ditames para a próxima etapa. Portanto, amanhã mesmo, os poetas classificados saberão como será o próximo desafio deste concurso.
            Começaremos a divulgar os resultados pelos mais bem votados, em ordem decrescente. Atenção: A posição dos poetas, nesta triagem, servirá, na próxima etapa, como critério de desempate. Portanto, mais um motivo para ficarem ligados neste post!
            Como todos sabem, o número de poemas inscritos foi recorde. Além disso, o número de classificados também foi elevado. Considerando isso, não foi possível para os jurados, nesta triagem, traçar comentários a respeito dos poemas. A decisão da banca foi consensual. No entanto, no decorrer do concurso, os poetas que forem avançando receberão feedbacks de jurados do mais alto gabarito.

            A seguir, a numeração oficial da lista. Aos poucos, esse ranking será ocupado. Boa sorte a todos os envolvidos e... até qualquer hora!

1º De Brasília, DF: “Sobre Tempo e Memória” (Urbanóide Cáustico)


“As peras, no prato,
apodrecem.
O relógio, sobre elas,
mede
a sua morte?”
(Ferreira Gular)

A maçã
apodrece
sobre a mesa.

A comida
posta à mesa
(que apodrece).

Tal qual
um homem
apodrece.

(Seu olho de vidro.)

A mesa
apodrece
sob a maçã
(aquela),

sob o prato
de comida,
que também.

A madeira
apodrece
o interior da mesa,
antes.

E o homem
(o mesmo)
tem tremor nas mãos.

A fórmica,
revestindo a madeira,
solta-se em lascas.

(Como a pele
do homem.)

A comida
apodrece
na escuridão
no estômago.


(E o homem
regurgita
pássaros
calcinados.)

A memória
da maçã
já não traz
a mesa,
que não traz
a madeira,
que não mais

a árvore.

Esta
já não (se) lembra
(d)a floresta.

(Envelhecer
é só –
e sozinho.)

O homem
e seu dente de ouro,
sem o sorriso.

A mulher
e seu colar de pérolas,
sem a festa.

Um e outro
e sempre sem
(e só).

Na memória
de ambos,
um que se foi
e outro nunca.

A mulher
reluta
em ser a maçã
(que apodrece).

E o homem,
a mesa
(que também).

(A madeira
corroendo(-se)
por dentro.)

A memória
– dela –
seca-se,
como a carne
da maçã.

Seca-se,
como os olhos
(de vidro?)
filtram
a desluz.

A memória
– dele –
sobe na mesa,
pula da árvore,

cai no rio.

Mas rio
já não há:
vazio espesso.

E o homem
-árvore
apodrece
                       longe
                                        da floresta
                                        de homens.

(Envelhecer
é só –
e sozinho.)

Torna-se
refém
da memória.

Como a árvore,
da terra que
a sustém.

E a maçã,
da espada
que a corta.

A memória
é frio aço
de dois cortes.

Tanto fere
quem a cultiva
quanto
quem a ignora.

A memória
é lâmina
que divide
as horas.

Como a espada
trespassa
a maçã
(sua carne
morta).

A memória
é substância
torta
se apodrece
dentro
de quem
a gesta.

Tal qual
a comida
(indi-)
gesta
os vermes
que a
devoram.

A memória
(presente)
esconde-se
em ausências
fortuitas.

Relógio
sem pêndulo,
marca o
esque-
cimento.

A memória
paralisa
o tempo

(rio de matéria
putrefata).


Tenta
dissolvê-
lo – unir
suas pontas.

Ou divi-
di-lo:
múltiplos
espelhos.

A memória
quer fazer-se
mesa
antes
de fazer-se
árvore,

antes de
floresta.

A memória
quer lograr
o tempo
no falso
de suas horas.

Já o tempo,
por seu turno,
não se dá
por vencido.

E separa:

a madeira
                            da mesa,
a mesa
                            da maçã,
a maçã
                            da mulher,
a mulher
                            do homem
                            (em gêneros
                             e dores), 
e o homem
                            e a mulher

            de si mesmos.

O tempo
se-
para,

enquanto
prepara
o bote
no mote
do homem
(ou mulher)

livre

(como disse
o gênio
torto)

: ser livre,
de fato,
é estar
morto.


2º De Cabo Frio, RJ: “memórias II” (Dersu Uzala)

mergulho de olhos vendados
em valas imundas
a infância reinventada
         no estranhamento das meninas
                   (sábado de carnaval na rua de Cavalcante
roupas ao avesso
                   no avesso dos significados)
         pedaço pequeno do tempo
retirado sem anestesia

as gargalhadas
durante a
                   missa
no sermão de São Matheus

a caçada aos sacis
                   moinhos de vento
                   ventania
                   os meninos enfileirados em uniforme de gala
                   prontos para saudar Hitler
a descoberta da criação do mundo
barro virando vida
a culpa por pecados seculares
sem cura
a observação dos quadros da
                            via crucis
as imagens atropelando apelos
                            as mãos sujas de sangue

os tremores
         o coração acelerado
na manhã de domingo
medo
temor
terror
ardendo sobre o signo da inquisição
consumindo a alma em ritual pagão

a descoberta do prazer
saboreando cada instante
laceração da carne
oferecida em holocausto.

3º De Cachoeiras de Macacu, RJ: “Calçada” (Anne Sexton)

,noite alta
av. rio branco

deitados
pequenos pés
descobertos

e a poesia à espreita –

o primeiro a acordar
acende a luz do sol:


4º De Pelotas, RS:Boa noite” (Barcellos)

Então tá combinado:
um coquetel de cápsulas
meia hora antes de deitar
que é pra não ficar pensando
na morte que nos assombra
nas carnes expostas em açougues
no perfume de teus cabelos
na amante secreta de Bertold Brecht
–  que trabalhava até tarde
numa estação de trem em Hamburgo.

Meia hora antes pra não pensar
nas asas dos abutres
no grito dos soldados
no eco das cordilheiras
no rosado de teus seios
nos camelos do Saara
na corda assassina
em torno de Herzog
no compasso do balé
no cheiro dessas ruas.

Pra não mais pensar
na lira dos anjos
no poema que Ricardo Reis
perdeu para um vento
– que o apanhou de surpresa
e o levou para sempre consigo –
nos santos das igrejas
em barcos à deriva
no piano de Villa-Lobos
nos riscos das florestas e rios.

Pra não mais ficar pensando
na solidão dos astronautas
e dos condutores do metrô
na saga dos cavaleiros
no berro dos torturados
nas flautas andinas
nas cenas de Almodóvar
no porto de Gdansk
no teu ronco surpreendente...
combinado então: boa noite.

5º  De Brasília, DF: “Vida” (Maria Lis)

roubou meu calendário
calçou minhas sandálias de caminhar
estradas de sonhos, tomou de mim
minhas pessoas preferidas
os gatos que ronronavam no quintal
as plantas contra mau-olhado
pendurou sinos de cristal no teto
da varanda pra dançar salsa com a brisa
                              (e chamar felicidade
mudou o quadro de lugar
carregou minha cadeira de pensar pra perto
da janela escancarada do tempo
jogou fora o tapete mágico desfiado
comprado num brechó
e fez amor com o meu amor numa canoa
torta, no meio do rio [como se vê nos filmes]
lavou com xampu de lavanda
os cabelos cor de mate e se deitou
na rede de algodão, esperando o sono
não chegar
pra poder sugar a noite com olhos de estrela
de estreia
rompeu em madrugada
se drogou de orvalho
pulou o portão de trepadeiras
suspirou com jeito de ‘enfim
e desceu a rua assoviando
adeus, vou pra não voltar  

6º  De Jundiaí, SP: “Pequenas poesias” (José Matsushita)

uma folha
brinca sozinha
dando cambalhotas
de outono
um caramujo
deixa um rastro de atrasos
sem se preocupar
com a pressa do mundo
atrás
do arame farpado
uma farpada rosa sonha
tornar-se afago
uma semente de dente-de-leão
plana
paraquedista da vida
sem planos
um riacho de silêncios
murmura respostas
para perguntas
não feitas
o reflexo
da lua
em uma poça d’água
sonho de marés
uma gaiola
vazia
guarda
voos
e o breve poeta abandona
as eternidades para a posteridade do depois
e vive, antes do fenecer de sua hora,
a pequena poesia... do imenso agora


7º  De Recife, PE:“Elegíaca” (Lúcio Beringer)

A palavra é a minha quarta dimensão.                              Clarice Lispector              
       
   
         Segui os passos
         da menina de Tchetchelnik
         Dez luas passaram flechadas por Sagitário
         Maçãs no claro ofertam-se de tanta maturação:
         ensanguentadas, reluzem. Balançam lustres
         em din-dlens de poeira suja
         Aqui
         a Praça Maciel Pinheiro
         circunda o Tempo
         O casarão 387
         é agora insípido e laranja
         (mas vi entre uma e outra janela
         a menina sorrir para mundos distantes)
         Longe
         as esquinas de Nápoles Berna Torquay Washington
         (As esquinas do mundo são iguais
         quando punge à solidão
         a lembrança de tudo que fomos)
         Corro pelos caminhos de mais um solstício
         a cidade ergue-se em dóricas faiscantes
         escaravelhos brotam da terra
         e no rosto eslavo
         pupilas pulsam quasars
         É por ti:
         elevo-me à tua memória
         Candelabros iluminando a noite
         o Kaddish arrebanhando os perdidos como nós
         – percorro os caminhos da mulher de Tchetchelnik
         O olhar oblíquo
         A boca rubra
         A safira no dedo
         A Estrela de Mil Pontas
         rompendo gargantas. É Palavra
         Aponta Sagitário mais uma seta em riste
         Agora, sabeis: no coração selvagemente livre
                                    
 Salve 9 de dezembro

8º  Do Rio de Janeiro, RJ: “Construção” (Henry James)

a palavra é adaga
a cortar os pulsos

contra ela
milícias bombas
são inúteis

canhões não têm vez
sequer mordaças

a palavra não se cala
grita ejacula goza

a palavra é adaga
fere, mata
mas também é espera:
seu tempo é todo o tempo

9º  De Petrópolis, RJ: “(hall)” (Le Chat Rouge)

Entra, Magda, e olha por
onde anda, que o chão está
cheio de ossos
A festa está começando,
Magda,
e você já está entediada
Não repara no teto, que sofre de esquizofrenia
Nem no banheiro, que tem Alzheimer
e já não lembra
o que fizeram
nele
Não tem ninguém
Mas não estamos sozinhos

Aquele que pica pão na pia
veio só por você
Trouxe vinho e dividiu as compras
Ele se chama Thiago
Acho que se conhecem, Magda,
tenho certeza que se conhecem,
mesmo que você não reconheça
Aquela que chora enquanto rega
uma planta
não sabe meu nome
nem eu o dela
mas me perguntou no corredor
do açougue se eu podia ajudá-la
eu disse que sim
ela chora desde então
e inunda meus vasos de planta

Já é tarde, Magda
mas é sempre tarde
Usei os vinis como ralos de chuveiro
ou bandejas em que
vou servindo meu corpo retalhado aos
convidados que nunca convidei

Prova um pouco
Você sempre foi boa nisso
Eu sempre fui bom nisso
É por isso que estamos aqui
como navios que naufragam
Vi num documentário enquanto
você não chegava:
os navios não naufragam com pompa
ou rapidez, formando redemoinhos,
engolindo baleias
Naufragam devagar
Ficam horas
talvez dias
inclinados
caindo pouco a pouco caindo
sumindo como um sol
que se põe e é noite
sem nem que notemos

Me dá tua bolsa, Magda
Vou guardar no quarto
em cima da cama
Você conhece o quarto
você só não conhece quem dorme no quarto
Lembra de pegar a bolsa
quando for embora
Até lá
senta na única cadeira da casa
aquela encostada à parede
e
cuidado com a parede
que se recusa a emudecer
Acha que é memória
ou cisma que é esquecimento
mas na maior parte das vezes
se diverte segurando teu retrato, Magda
como um revólver
apontado contra meu coração

10º  De Atibaia, SP: “JCMN Tratado de metalúrgica” (Sub-versivo)

 A João Cabral de Melo Neto

João, vivia de pedra,
 engolia navalha,
cuspia prego.
Apertava parafuso com a caneta, e
esmerilhava o papel com borracha,
datilografava o pó da estrada, experimentava o poema- marmita,
fazia virgula com vergalhão de aço,
e ponto final à marteladas.

Carregava a história na ponta da baio(ca)neta,
riscava delicadamente a pele dos outros, eriçava os pelos do nunca nas terras da nuca.
Mantinha firmemente preso na morsa o verso de aço,
e no torno mecânico esculpia inescrupulosamente a culpa,
media o espaço vazio
-utilizando parquímetro- milímetro a milímetro.
No sindicato dos insatisfeitos fazia coro
 ao defeito dos outros, na defesa de
 pequenas reformas ortográficas, solicitava plus value e apontava seu lápis como cúmplice.

Era um simplório operário
de letras, e com caneta em riste bradava ao patrão:
 – Sou poeta.

11º  De Campina Grande, PB: “Preto e Branco” (Josué do Carmo)

Molhado, nas minhas mãos, em prantos
lavando silêncio e telhando
nascia setembro  – chuvoso  –,
no beco de casa; na rua vazia
nos quartos de muro
com os olhos pintados
de agosto.
(...)

12º Do Rio de Janeiro, RJ: “Censura” (Anderson Council)

sobrou até
para os vaga-lumes

não pode
a bunda acesa

é contra

os bons costumes

13º De Florianópolis, SC: “Embolia” (Morena do Espelho)

ela comia
dos pássaros a cabeça
:
asfixiada castrava
os próprios voos
...
cresceu com medo das aves

operava a vida em modo avião
:
costurava o amor
pelos moldes de revista
desaguava mágoas nos soluços
dos choros que engolia
...
na trama do vento
traçava poesia
e trançava os cabelos
a espera de um cometa

14º Do Rio de Janeiro, RJ: “Pré-Operatório” (C. Vasconcellos)

No preparo para a cirurgia paro e penso na liturgia do ato,
nas rezas conhecidas, nos santinhos de apoio,
para o fato de mãos alheias invadirem meu ventre.
Por mais que eu me concentre em N. Sra. Desatadora dos Nós,
Santo Antonio, Santo Expedito, certamente
são os nós do endométrio em útero miomático,
o cálculo matemático, simétrico que faz seu próprio rito.
E me levam a carregar na maleta hospitalar
os livros de Adélia, Elisa Lucinda, Quintana,
suas sacanagens, lembranças, imagens,
além de minhas havaianas.
Deito na maca, por debaixo daquele pano, nuinha
e a guriazinha  que mora em mim há tanto tempo
ora pra que não tenha chegado a hora definitiva de partir,
há tanto verso em sua conversa, tanto poema por nascer,
que este útero indo embora não pode interromper.
“Mãe Litinha, grita para a rapaziada aí do céu
pra dar mais um tempo, que o advérbio não é agora.
Tô ficando íntima do verbo, a rima já virou
companheira, o poema é como coceira:
quando começa não há nada que o impeça”.

15º De Uberlândia, MG: “Arte e vida severina” (à maneira de João Cabral) (Buriti)

Maneira de escrever que eu pretendi:
não a escrita frondosa, cheia de si.
Antes a escrita baldia, reles, miúda,
que se aninha nas leiras da lauda.

No papel (entre uma linha e outra) disponho
– cão vadio, vira-letras – o que apanho
no chão da minha vida severina:
cacos, ciscos, ninharias – o que de mim mina.

O lápis na mão, a mão no papel,
traço o círculo de giz que me contém.
De tão mínimo, nele, além de mim, cabem
ruídos poucos do que vai no carrossel

do vasto mundo. Só o que escrituro:
palavras ao redor do umbigo. E se
não posso outra dicção, não me esconjure!
É a maneira de escrever que consegui.

16º Do Rio de Janeiro, RJ: “Guerra” (Alice Condor)

Ainda que
         meu rosto pólvora se desfaça ao lançar-se do corpo
         e meus olhos se desfaçam ao saltarem do rosto
         e meu corpo se desfaça ao mover-me sem porto
Ainda que
         tantos gestos se façam como pólvora em meu corpo
         e tanta pólvora se ache na mão morta do meu corpo
         e tanto corpo se mate frente a pólvora do rosto
Ainda que
         seja de carne o corpo
         e a pólvora aço
         e de areia o rosto
me ergo pra além da matéria objetiva do morto
e lanço do alto

grave corpo absorto

17º  De Varre-Sai, RJ: “Duas mulheres que temperavam” (Marcopolo)
I
Minha mãe proseava com as lagartixas.
Passei a entender certas linguagens esticadas.
Dizia, vem canário, e o amarelinho das penas se arrepiava.
O pé de chuchu só dava chuchu do lado de cá, era o olho dela orientando.
Daí eu caí doente, fui curado com beijos.
Tudo se curou assim, exceto as lombrigas,
quando sentei na cadeira de Padre Anchieta e ele me abençoou, eu soube,
até vi seu retratinho com uma onça.
Quando minha mãe se foi, da roseira que plantou, nasceram dezenas de rosas.
O vento soprou forte, o quintal se encheu das flores despetaladas.
O jardineiro, pasmo, não conseguia jogar aquelas plantas no lixo.
Como jogar fora uma saudade?
Do que guardou para si, em vida, encheu uma caixa de sapatos:
lembrancinhas de gente, mais nada.
A lagartixa sumiu, o canário sumiu, as rosas voltaram a ser raras.
Tantos queridos que se foram... As pessoas têm a mania de ir embora.
II
Na panela de minha tia cabia a fome do mundo.
A vizinhança dizia: hum, que cheirinho bom!
Visitas não saíam de barriga vazia. E eu ganhava a rapa do angu.
Como o flautista de Hamelin, das panelas emergiam braços de aromas que nos agarravam pelo nariz. E no mês de maio – ah o mês de maio! – ela exorbitava:
os melhores doces, porque era o mês da santinha dela.
E os potes se arrebentavam de cheios.
E não havia jeito, a gente, se pudesse, surrupiava algum no meio da noite.
Mas, tão altos, em torres de marfim, o sonho não escalava as escadas invisíveis.
Foi ficando velha, o tacho secou, o fogão apagou as brasas.
E a gente disparou a crescer que não teve ninguém que impedisse.
Mudamos de cidade, viramos gente de negócios, mercadores, doutores.
Gente sem tempo. Não havia mais espaço para rapas de angu
e queijo assado na trempe.
E ela, ela mesma, foi se apagando, de tantas horas.
III
Um dia, e tinha que haver este dia, quando todos os barquinhos que lancei nos rios voltaram, voltaram também boiando nas águas os tabuleiros de quindins.
E vozes ao longe me chamando, José, vem beber o leite com erva-doce pra gripe!
Acudi ao chamado, levantei-me da cama, abri a porta e nada.
Quem?
Mas não obtive respostas.
Desde esse dia suponho que, no silêncio, nos cantos da casa...
Onde nunca vejo, nem sei onde fica...
Um rio leva e traz esses barquinhos de papel...
Transportando reis, rainhas, lagartixas e guerreiros de chumbo.
E bolinhos de chuva, que eu não falei, com uma camada de açúcar.
Deixo que trafeguem. E eles me lembram do que fui feito.

18º De Três Lagoas, MS: “Céu de concreto” (D. Fernandes)

"Mortos ao ar-livre, que eram,
hoje à terra-livre estão.
São tão da terra que a terra
nem sente sua intrusão".

(João Cabral de Melo Neto)


Para alcançares o céu de concreto sejas bruto
Sem distrações que te levem a amar
O sentimento sublime que te amansa
Joga-o aos lobos e o deixe sangrar
Para alcançares o céu de concreto, sejas mecânico
Feito de pura engrenagem e óleo
Não tenhas delicadezas, sejas profano
O mundo de osso não salva quem tem pacto com o azul
O mundo de cascalho não perdoa quem não sonha preto e branco

Se queres mesmo outro céu, sejas poeta
Mas saibas que o teu sangue vai virar tinta
Que o teu corpo será combustível da fumaça
Teu verso zombaria na praça
O teu intestino vítima de um cimento
A tua lírica te salvará por um tempo
E só nesse tempo não estarás enlouquecendo
Vais olhar pelo vidro sujo de uma ave morta
e verás lá fora uma marca destoante
Até no que concreto rachadura pare poesia

19º De Santos, SP:Hereditária” (Natasha F.)

Luci quando criança
aprendeu a deitar no branco
dos versinhos e do olho

Ainda criança        
trepidava com os sons
formava frases como:

a lua comeu o dia e ficou cheia.
o mar lambe os peixes e cospe ondulado.
o cego tem os olhos de todos.
tomei banho de chuva e gotejei o riso.

Mãe Vera, aflita dos fios aos ossos
levou Luci, já beirando a mocidade,
ao doutor Raul.

“Minha filha é torta” diz-lhe, vaga
“Coxa?” pergunta, entendido
“Entortada pro quando”

Exames realizados
O rosto grave do doutor
estampa em mãe Vera o medo
(Algumas coisas precisam ser jogadas na cara para serem digeridas)

Diagnóstico: inclinação pros pormenores;
Sobressaltos com palavras novas;
Sensibilidade em altas doses –

Minha senhora, serei breve
Sua filha nasceu virada pra poesia

Mãe Vera desiludida, cospe dor
entre lágrimas salgadas.
Sai do consultório e no pé da orelha
da poetiza, põe um adendo:

“Promete-me que teu verso será mais belo do que o meu?”

20º De Curitiba, PR:Travessia de Van Gogh” (Chatecutle)

Quebrada a realidade do mundo,
inicia a travessia nos braços da loucura.

Seu hálito criativo, sem fragilidades,
imprevisível,
súbito,
rasga padrões e, longe das fórmulas da simetria,
estende cores sobre a tela desafiando regras.

Em Arles,
recursos de luz e sombra nutrem seu instinto
mas, longe da razão e da ternura, deprime-se.
(Ao anoitecer o amarelo envelhece,
as  pétalas declinam,
as farpas da solidão murcham os girassóis cortados).

21º De Riachão do Jacuípe, BA: “Chamado” (Tom Ruiz)


Em Tóquio, um homem escreve um poema:

Fantasmas transitam na calçada da fama.
Todas as luzes se acendem em Paris.
O universo conspira contra os Vikings.
A mulher tem orgasmos múltiplos.
O disco voador pousa em Londres.
Três mariachis cantam em Florianópolis.
Crianças morrem no oriente médio.
O robô japonês salva a humanidade.
O presidente do Chile envia um SMS.
Duas mulheres se beijam em Chernobyl.
O vampiro ataca a mocinha indefesa.
Moisés divide o mar vermelho em dois.
Elvis canta Love me Tender na rádio AM.
O cowboy mata mil e oitocentos índios.
Romeiros escalam milhares de degraus.

Em Tóquio, o poeta para de escrever:

O mundo inteiro para junto.

22º De Salvador, BA: “Lírica Berreta”(Augusto da Maia)
                                                       
nem rima rica nem prima pobre
move o poema
sem tema ou bula

retira a burca
mais vale a trama
tabuleiro de dama e drama

apesar da fome ou forma
que consome
obra e homem

segue sóbrio e sombrio
assombrado com a própria
sombra

das fontes: o dado ou dadá
bebe
não se embebeda

rio contra-corrente o leva
navega
sem bote salva-vidas ou vela

sabe que não basta forma
ou fôrma
poema não é questão

de transe, mas de transa,
transito tenso e babélico
entre o belo e o bélico

23º  De Taguatinga, DF: O homem por dentro” (E. Antunes)

Conhecer as encostas   neste mar de cascalho
onde proliferam lágrimas    e risos de condição humana
nesta pequena aventura     que recomeça a cada dia.
Homem: por dentro    a prisão da carne
ou a liberdade do grito?
E ressurge como os capins
o impacto da pedra
                   na fronte.
Quisera ser os pastos    de bois e pássaros
e pragas e conhecer     cada pequeno existir
cada fuga de carne mínima,    cada centímetro
de ruptura e colisão,    como numa caçada
                    de falcões.
O homem por dentro:    ser posto no mundo,
largado no mundo feito              coisa,
painel de guerra
                     e fúria.
Como ouvir este silêncio    escondido sob
os ventos do turbilhão?
Homem: coração
                de pedra e carne.     Homem: leão, rato, palavra.
Desígnios do mundo     de terno e gravata.
Conhecer tantas faces    dentro da face,   qual trama de mar    e tinta abjeta,    escrevendo as memórias
                             do porão.  
Uma concepção de paraíso    debaixo das pernas
                      do tempo.
Bandeiras de derrotas   
                                e vitórias
crescendo como    pendões de milho
nos campos minados da solidão.   E a palavra homem
criando personalidade própria    como mosca nascendo
do barro:
                       criação!

Mas não é só isso:   há também a foice recurva,
que reclama o pescoço,    as notícias de amor
                       e morte
vindas de longe,    muito longe,
pelos fios de cobre,     ondas do ar.
Receio de dizer     quanto ainda resta
de homem no dicionário                           e no zoológico,
quanto resta de homem    na memória dos bichos,
nas pegadas da lama,    nos dentes da lua,
nos ossos da solidão?

24º  De Curitiba, PR: “Barbitúricos”(Perez)

Sobre o prato talheres,
Movem-se como ponteiros,
Ervilhas marcam minutos inteiros,
Sem fome o que resta são desprazeres.

Copo cheio de sangue – sede,
Cada gole esconde medo e rancor,
Mesa ex-posta, olhar de torpor,
Dionísio se ausenta do quadro na parede.

Não há banquete na sala morta,
Ruídos somente de pratos e facas,
Copos se esvaziam e nada conforta.

Vida rasa evoca anorexia,
Punhos abertos – apatia sádica,
Em transe, Cassandra anuncia.

25º  De Vancouver, Canadá: “Azulejos no Céu” (Carla Soares)

Os brincos na orelha pesam
Como papel de parede ondulado.

Quer construir uma casa nas nuvens
Onde o azul caiba em caixas redondas.

O marido se cansa ao reclamar da vida.
E acha incrível que possam estar juntos até hoje.

A parede da cozinha está desbotada
E a alça da mala, quebrada.
Juntas, fazem um par.

Pontiagudos, deitados na areia salgada,
seus pés caminham de sapatos pretos
Numa outra direção.

O marido passa pela cozinha, sai,
E por um instante ela acredita ver azulejos
Lapidando as falhas do céu.

26º  De Carapicuíba, SP: “Rua México” (L. M. Brancuci)


Lola e Bel lambem-se
lambiam-se
e jogava-se futebol no campo minado de cocô
de Lola e Bel com cheiro de bafo de
pedro que gritava.

         A rua vazia e parada
feita de pedra
pedindo brigadeiro de mãe de gabi –
que pulou nove meses atrás da janela.
pedindo pedra que viraria erva
Inverno –

Verão
O sol carnudo e o campo de futebol durando até mais
tarde
Aberto
não triangular: não apontando um caminho 
apontando o azul e de repente
                                                                                     tarde
mesmo que mudou
não é azul tudo
menos azul                            
                                                                                           (mais virginiana)
mais e mais virginiana
como Lola e Bel nas tardes de domingo
vivendo à toa suas vida já ganhas e já perdidas
pelo tempo feito de rua méxico
                                               – empedrado
Titia licinha vai morrendo sentada, amarela
na varanda toma uma bolada na cara e diz –
as mãos estão sujas de carvão
De novo o futebol fodendo as vidas sofridas
com dor física de corpo encarnado
Lola e Bel brincavam-se
e brincavam como os carinhos de gabi
os socos de gabi
as mãos
os dentes os passos
pezinhos nus sujos de terra
indo embora
Pensava que era pede
e não pé de moleque (e duvidava) talvez não soubesse ler ainda.


27º  Do Rio de Janeiro, RJ: “Cama, mesa e poesia” (Flora)

Misturar massas
é misturar corpos
Primeiro vem a farinha
Alquimia
de olhar que cruza
chamando para dançar

Adiciona-se manteiga e açúcar
Docemente batendo
como mãos que se encontram
nas preliminares rítmicas

O fermento no ponto certo
Cuidado com o clima
com a rima
com o movimento

A liga final
fica por conta dos ovos
Luminosos
e quase voláteis
quando ainda quietos

A massa se apura
quando o morno leite
se mistura
como a rasgar o ventre
jorrando magma corpóreo
Lava que fertiliza e reanima
Alimenta!

Depois de pronto
a calda quente
é beijos que tingem
o tecido da pele
Doce sabor que amarra
explode e desamarra
Liberta!

28º De Santos, SP: “Guardanapo” (Granville)

Guardanapo não guarda lugar
Não monta guarda
Mas que diabo ele guarda?

Guarda-roupa, guarda a roupa.
Fim.

Guarda-sol guarda o sol
Guarda-chuva guarda a chuva.
Não! Espera aí...
Como assim?

O guarda da rua guarda o trânsito
Monta guarda parado,
Não em trânsito.

Mas, de nada guarda o guardanapo.
Nem monta guarda
Nem guarda lugar
Muito menos guarda o napo
Mas, que diabo é napo?

Guardanapo limpa a boca,
Limpe a sua
E fim de papo!

29º  De Brasília, DF: “Trinta e cinco” (Palavra Grávida)

É sempre este medo amargo
de morrer sem filhos
e esta culpa infinda
de não querer tê-los.

Decreto uma pausa
– menor, de mais 30
entre esta idade e a menopausa

Empatam o instinto da maternidade
e o egoísmo estéril que se sustenta

Talvez a morte, grande parteira,
me caduque o ventre antes do grito.
Ou o choro ardido de um grão-rebento
estanque ainda tal meu impasse.

Será que há tempo?

30º De Belo Horizonte, MG: “Faça amor nu” (Zack Magieizi)

Quando for fazer amor
Faça nu
Tire os diplomas
O status
O sucesso profissional
As suas etiquetas de grife
Tire as chaves do seu carro
Os cartões de crédito
Tire tudo
Até sobrar
A deliciosa
E apimentada humanidade.


 31º De Valencia, Espanha: “Carajás” (Carita Burana)
  
                                    Em Carajás não se ouviram os tiros
que cantaram na rodovia de um só destino...
sonhando com as terras roubadas
estavam as foices dormindo


encapuzado chegou o vento
disparando a queima-roupa
deixou dezenove tumbas
e a certeza de quem sempre apanha
em Carajás a injustiça abriu os seus braços
quando o sonho da foice foi enterrado
por leis que condenam os já condenados
e purificam os verdadeiros culpados.


32º De Franca, SP: “Patchwork” (Peramorim)
               
Cá com os meus botões
Alinhavo sentimentos rotos
Num emaranhado de cores
Desafiando o tempo e as diretrizes
Abarrotadas de promessas descumpridas
Cinzas de um carnaval vencido
Sem data
Sem valia

Com linha de cor forte
Cirzo as emendas do ontem
Num tecido fino de espera.
Desenho arabescos
E sigo o ponto atrás das correntes
Sem nó
Sem dó

Cá com as minha dúvidas
Teço os dias e desfaço as noites
Com agulhas impiedosamente cegas
A rotina sangra-me as mãos
Sangrando continuo
Sem prumo
Sem rumo

33º De São Paulo, SP: “Ex(Comunhão) (Bianca Velázquez)

Partilha abrupta de um juntar de nadas
cada qual com seu punhado
de sons mudos
(e roupas ao vento)
inventário triste de um amor no sereno

Partilha abrupta entre o abrir e fechar de gavetas
roupas rasgadas, bocas secas

Caminhos estreitos em sol profano
muros altos, jardins arrancados
― outros planos
Partilha de medos e desenganos

Partilha abrupta de um juntar de nadas
chaves entregues, portas fechadas

e janelas abertas

34º De Trofa, Portugal: “Face Escura” (Beijamin Sano)

A noite não estava fria
no entanto tudo tremia
em teu corpo onde já
nenhum medo existia
não havia dores ou erros
só as nuvens e as pontas
dos teus dedos em baixo
das minhas pálpebras
teus dedos a tamborilar
desgraças em meu coração
a fazer-me cócegas
a puxar-me os cabelos
a noite gritava nas cavidades
nas dobras da cortina do chuveiro
a noite não estava adormecida
na epiderme da lua sólida
a noite apenas doía seca
nos dentes sensíveis
a noite brincava distraída
com as tuas gengivas
como se fossem bonecos vodu
a noite deseja a tua língua
em todos os orifícios
da superfície da lua úmida.

35º Do Rio de Janeiro, RJ: “Rotina” (H.G)


um gordo mastiga de boca aberta um pacote de batata Ruffles
um americano
pergunta pra um brasileiro
que não entende inglês
se falta muito pra chegar
na Siqueira Campos
uma adolescente
ouve um rock meloso
com headphone
no último volume aos prantos
um velho tosse e engole o catarro
enquanto lê os classificados
da semana passada
venda e compra de carros
uma criança chata
faz pirraça por um motivo qualquer
uma moça ridícula
fala mal do marido da irmã em voz alta
e repete o tempo todo que em briga de casal não se mete a colher
dois caras falam sobre futebol
um rapaz do interior
que nunca tinha andado de metrô
sonha com um lugar ao sol
um bebê tão lindo
dorme no colo da avó
uma voz pede desculpas
pelas freadas bruscas
e eu fico com dó
dessa vez que antes
de ser desculpada
é mal paga pra pedir desculpas por mais uma freada
uma dona de casa
pensa no preço da carne
uma atriz conhecida
causa espanto por usar um transporte tão popular
o resto do vagão
segue vidrado nos seus smartphones
e a rotina se encarrega de continuar
sozinha
sigo meu rumo
com inveja de todos os passageiros
amanhã Alonso
faz aniversário
e não sou eu quem vai levá-lo
pra jantar
amanhã a vida será igual a hoje
sem graça
sem cor
onde minha tristeza
causaria piedade
até na pessoa mais fria desse metrô.
...
Em que estação vou permitir que minha vida

perca o metrô?


36º De Belo Horizonte, MG: “dessas noites em que estava lavando pratos” (Godoy) 

o detergente faz espuma na pia
os pratos ficando limpos no escorredor
os pensamentos sujos quero um cigarro
uma música um blues o céu escuro
meus gatos escondidos em silêncio

duas taças de vinho quase cheias
os pés no chão e pálidos
uma janela uma luz acesa do outro lado

as garrafas de vinho abertas e vazias
leio os rótulos e penso num poema
um inseto esquisito vindo de outro lugar
voa em torno das garrafas vai até a luz e volta
o tempo não tem pressa meus olhos o seguem

os pratos vão ficando limpos
e paro meus olhos na água que escorre

pego uma taça e dou um gole
acompanho o blues num inglês ruim

o inseto se vai e bebo mais
olho a noite escura os pratos brancos
alguém me espera no sofá

"estranho pensar no abandono de toda ambição"

37º  Do Rio de Janeiro, RJ: “Brinde (ao soneto...)” (Passos)

Aos que, em transe extremo ou rarefeito,
Análogo aos pudores dos demônios,
Miram, com aguilhões débeis e errôneos,
O talismã que trago sobre o peito,

Oferto, num festim de ébria ambrosia,
Um verso liquefeito em faux perfume
Cujo tom nacarado que então assume,
Numa densa cadência, escoa e extasia;

E ao incitar-lhes um refluxo amargo,
Cujo aroma guarnece meu acre encargo,
Saciando-me de insípida altivez,

Hei de fixar-lhes tão enrugada tez,
Que brindarei silente – assim prometo –
À frígida doçura de um soneto.

38º De Goiânia, GO: “Vida” (Flor de Lisbela)

Na hora que você menos espera aparece
Aparece a vida que te resta
O pensamento contido
O inconsciente
O indivíduo
O passado
O presente
O intermitente
O inerente, o contínuo
Aparece e depois desaparece
A areia, a ampulheta, a sua pequena vida.

39º De Conceição do Mato Dentro, MG: “Alicerces Suspeitos” (Neneco de Bintim)

De pisar o absurdo
meus pés andam calados
preso às alpercatas
rotas, arrochadas do destino.

Errático por caminhos
que outras línguas palmilharam
vou desbravando rochas em rotas
trespassadas de antigos sangues.

Orbitados ainda, meus dias iguais,
de palavras vis que em vão
alcei à lua num canto-uivo
de último cão danado.

Serão delas a matéria pútrida
com que calcarei meus alicerces
mais suspeitos,
tão movediços os caminhos.

Sólidas somente as culpas
em trilhá-los nu à luz da vida.

40º De Osasco, SP: “uma serenata” (Luiza Caetano)

Dou-te a tarde e a noitinha
A noitinha do interior
da casinha de chácara
que se acende em lampiões
quando deus apaga o dia
e pendura no céu
o tapete aveludado das estrelas
onde meus olhos dançam
em sonhos etéreos de liberdade
         daquela liberdade
         que o amor antigo
aviva na vida comezinha:
Eu te amo,
    costuro as palavras
você cozinha a sopa de letras

e respiramos versos.

41º De Belo Horizonte, MG: “O Culpado” (Renard Diniz)

Relâmpagos berram trovões tenebrosos;
do céu, saraivadas despejam-se brutas;
à rua, enxurradas carregam gomosos
detritos de noites drogadas e putas.

Na trilha que leva ao covil dos gulosos
festins genitais e corpóreas permutas,
embatem-se olhares mordazes, fogosos
vendendo barato seus picos e grutas.

Enquanto a voraz tempestade castiga,
o moço atolado na culpa inimiga
procura outro réu que o conceda prazer.

Cansou-se, afinal, de sentir-se bandido
por ter diferenças na própria libido;

agora é gozar e gozar e morrer.

42º De Vinhedo, SP: “A musa de Caetano” (João Gilda)

E abriu o carnaval
E a coca
E as pernas
Tudo ao mesmo tempo, tempo, tempo, tempo

Arregalada e crua como se fosse de mais ninguém
Gengivas nossas, amor sem par

E fechou a geladeira
E a cara depois do tapa
E os ralos depois de mim

(– Aceita um café?)

Por hora mais nada
Só sorrisos de nanquim

E, por fim
Laiá laiá

(- Aceita um café?)

43º De Americana, SP: “Poema-labor”(Onaira)

Gosto de poema-pimenta,
Aquele que a língua esquenta,
A víscera arde em prece
E nunca mais se esquece.

Gosto de poema-tormenta,
Aquele que ondeia, mareia
E, no viés do meu convés,
Não se sabe se é sorte ou revés.

Gosto de poema-bala,
Aquele que é tiro e queda
– abala, vara, queima –,
Ou lambuza como deliciosa guloseima.

Gosto de poema-labor,
Aquele em que se trabalha,
Batalha, risca, passa a navalha,
                                       Independente do prazer ou da dor.

44º De Jundiái, SP: “Paisagem” (Teixeira Neto)

A avó cega balança
Na cadeira
Ruminando rezas

O gato ronrona, as moscas voam, e a panela
Parece Maria fumaça.

Da menina brotam formas vivas
Enquanto a pera agoniza na cesta.

As flores cantam.

Até mesmo a chuva
Ameaça a vida
Tamborilando nas folhas de bananeira.

A luz úmida vem da janela
Para machucar a carne
Da mesa
Os pães frescos
A fumaça lenta do café.

E eu escrevo versos
Buscando conter as águas
Ai, as águas que movem moinhos


Enquanto a pera ri de tudo e de todos

45º De Aracaju, SE: “Ouvindo vozes e estrelas”(Kay)

Decerto, perdi o senso!
E perdi o incenso
E a roupa
Perdi o cigarro
O celular
Agora não quero mais fumar

Nem amar para entendê-las

46º De Ipatinga, MG: “Riqueza de memória” (Tatu triste)

Não lembro o que comi
no almoço ontem.
Lembro-me perfeitamente
do livro que li.
Viagem benfazeja...
Alumbramento...
Reverberação...
Nas páginas do tablet.

Não sei o número do CPF, RG e PIS.
Recordo-me bem do beija-flor
que visitou a minha sala
e do riso encantador
da criança desconhecida,
querendo colher a rosa
estampada em minha blusa.

Não consigo me lembrar
quanto recebi por um trabalho,
na semana passada.
Sei que fiz bem feito,
com esmero e prazer.

Esqueci
quanto paguei de telefone,
mês passado.
Consegui cantar “Travessia” inteirinha
sem errar a letra,
sem desafinar!

Não sei que dia vence
a prestação do microondas,
mês que vem.
Sei que haverá uma superlua,
será primavera, vou à praia
e vou de trem,
mês que vem.

No porta-joias da memória
guardo o aroma do café fumegante,
transbordando reminiscências...
Mimos maternos, alianças eternas.
O doce dos lábios extasiantes.
O afago dos abraços.
Histórias de vidas entrelaçadas
em colares cintilantes.

Quanto às coisas práticas,
têm os blocos de notas,
as agendas eletrônicas.
Para isso servem os computa(dores).

47º De São Gonçalo do Piauí, PI: “Toalha de mesa”(Robert Leza)

puxou a ponta do fio
e retomou o fôlego
para reconstruir o novelo
(a dor e o calo já estavam refeitos)

a agulha, levemente torta,
por vezes parecia um dedo gasto,
camuflado

fosse o que fosse, tudo se deu
por um gancho a mais

um gancho a menos só exigiria arte.

48º De Caxias, MA: Poema em maranhês (Carvalho Jr.)

Para José Neres

a língua do maranhense,
em Jesus abençoada,
banhada em guaraná,
é cheia de hem-hens!

língua que faz
cosquinha nas costas
de paquinhas,
tem um gostinho
de gongo assado,
de peixe no cofo
pescado,
de manga de vez
com sal e pimenta
(do reino),
de arroz cangulado,
no quibane/quibano
(que bando de gente!),
com algumas escolhas
no meio do prato...

língua que cata feijão,
degusta toda sorte
(de fruta),
ranga Maria Isabel,
improvisa um café
com leite e cuzcuz
numa espécie
de almoço jantarado,
puxa pro bucho
um belo cuxá,
abocanha até capitão!

esbarra ainda,
seu Zé Ruela,
deixa de fazer fuá,
deixa de a vida
(alheia)
tanto curiar...
sabes tu me responder:
quantos abalroamentos
em uma barruada há?

enquanto vais pensando,
vou bater uma bola
no campinho e
ganhar muitas barreiras...
éguas, égua-te!
ele errou um horror
de passes e chutes,
mas viu o gol do Juninho,
o magrelo perna de sibite?
vai ter sorte assim
lá na Chechênia!

49º De Dois Córregos, SP: “A captura no mangue” (Ed Lamas)

Os dedos que tateiam a lama

às vezes se confundem

                 com o próprio caranguejo



Andam de lado ou param

                 negaceando a caça

e nesse instante seria natural

um caranguejo imaginar-se

ao lado de outro caranguejo

                e não

                de dedos prontos para puxá-lo

                ao seu limite de dor e medo



O odor humano

é mais intenso

                / íntimo

                ao mangue

do que o odor de caranguejo



E nem o ocaso desse molusco

levará consigo

o esquadrinhar incessante no mangue

                - o coar o barro

que há de persistir

                até os últimos pés

                mãos

                até os últimos dedos

50º De Bauru, SP: “Se eu fosse um poema” (P. Celan)                          

Se eu fosse um poema,
deixar-me-ia sucumbir à liberdade dos versos
ou à tentadora armadilha das rimas.
Enxertos de prosa seriam bem vindos
sintaxes distorcidas, talvez.
Seria assindético ou polissindético
e nadaria de braçada no caos das conjunções.

Se eu fosse um poema,
seria uma medusa a ostentar
versos e serpentes
e petrificaria
os leitores mais desavisados.

Se eu fosse um poema,
gostaria de caber na ponta de um alfinete
ao mesmo tempo em que, sentado na lua,
eu pudesse balançar os pés no universo.

Se eu fosse um poema,
seria concreto
sonoro
pulsante.
Seria calmo,
seria inquieto,
como um paradoxo no espelho.

Se eu fosse um poema,
seria uma ode de Píndaro,
um soneto de Petrarca
ou um haicai de Bashô.
Seria todo o consolo metalinguístico
infinito,
silencioso,
que abre fissuras nas horas.
Simulacro de sentido.

Se eu fosse um poema,
seria desembaraço,
seria coloquial.
Seria pintado,
mimeografado,
fotocopiado
articulado e reticente.

Se eu fosse um poema,
abusaria das anáforas
verteria aliteração.
Seria cratílico,
idílico,
itálico, etílico,
hiperbólico.

Se eu fosse um poema,
não me importaria em ser jogado ao muro
estampado em faixas de tecido ralo,
tapumes disformes
ou impresso na terceira margem do tempo.

Se eu fosse um poema,
esfregar-me-ia nas folhas em branco
até que o sêmen do lirismo penetrasse
o invólucro do vazio.

Se eu fosse um poema,
sobreviveria aos que ignoram poesia.

51ºDe Porto Alegre, RS: Sussurros”(Valente)

Há uma voz infinita
em toda palavra morta
busco nas vertentes
na galharia torta
 nas sementes
o eco
quem sabe encontre nos charcos
nas tumbas ou nas taperas
no começo de outro mundo
vagando
no vazio imenso
o verso

52ºDe São Paulo, SP: “Bicho Sem Duas Cabeças” (Heccos)
  
A fome na boca do lobo...
assim que a baba escorre pelos dentes
o carneiro se infiltra sorrateiro

nessa simbiose se notava
a boca murcha a fome censurada
a baba a ressecar na língua pensa

o pelo arredonda o cio
a fome toda engarrafada a vácuo
dividida por sonhos e talheres

a fúria no sangue virtual
coagulando fundo o olhar castanho
e a pena de um gemido intermitente

53º De São Paulo, SP: “presa” (Ovideo)

só possuímos
o que parte
não somos
foz de nada
e as coisas
não têm
ouvidos
por isso
não ouvem
ao serem
chamadas
tudo
apenas passa
logo após
ter dado
o ar da graça
e sempre
nos resta
este apego
pelo que a vida
finge que dá
mas só empresta
se hoje
não abro
as mãos
é por medo
de perder
os dedos.

54º De Porto Algre, RS: “Valsinha da beira do cais” (Andrea Stoppa)

Eu não te amo, covarde,
mas dentro de meu peito arde
a paixão que em mim quiseres.
Sou bem mais que mil mulheres
sem fazer nenhum alarde
— a não ser aos que me pedem
por gritos no meio da tarde —
e sei fazer como poucas
a cara estranha das loucas
e a voz rouca das devassas
— sem que para isso faças
mais que pagar meus serviços.
Guardo mais de mil feitiços
neste meu corpo esgarçado:
esquecerás teu pecado
quando disser que sou tua
na eternidade de um dia,
no calor da noite fria,
no império de uma rua...
E enquanto brincas de dono
em minha carcaça nua,
eu brinco de virar lua
para disfarçar meu sono,
sonhando que sou inverno
para esquecer o inferno
de ser este triste outono.

55º De Nova Friburgo, RJ:Adeus, meninos...” (André P.)

Hoje descobri apavorado
Que meu carro não era mais de plástico
Minha casa na árvore, um quarto e sala espremido e sombrio
Meu trenzinho de madeira, um de alumínio, enorme, sob a grande cidade
Meu avô, uma lápide
Minha conga, um sapato italiano, encerado
E minha capa de herói, uma forca gravata
Descobri meus amigos de bairro, países distantes
Os meus pais, solteiros
Minha cabana no quintal, um escritório sufocante
E os domingos feitos de parque, um sofá oco de gente

Hoje descobri que o menino se foi
Despedi-me dele mirando o espelho
Foram-se todos e tudo tão rápido
Como se o tempo houvesse brigado comigo

56º De Pelotas, RS: “rebenque” (Dani Mo.)

um certo Caboclo DaMatta me disse
que um tal de Simões Lopes Neto
deixou escrito numa nota promissória
que o rebenqueador
"O rebenqueador..., eram os olhos!"

então me pus a pensar
ainda arrepiado
arredio a qualquer chibatada
que se o rebenqueador eram mesmo os olhos
meu amigo Caboclo
a lágrima era a pele marcada

57º De São Paulo, SP:sobre volta ou um breve poema de recordação de encontro com a cidade de trás” (Antônio Pina)

depois de cinco meses
retorno à terra dos velhos equilibristas
onde não se deve estar
sozinho à noite quando começa
a esfriar pois somos lentos demais
para fugir
inumeráveis possibilidades de energia
quem pode saber como será
realmente o que está
por vir andamos por aqui a
moer cães e na calada da noite
construímos paisagens à revelia da chuva
que insiste em tingir de céu todo o azul
nós não estamos preparados para tamanho erro
de cálculo geográfico
quando há no mundo inteiro uma, quando muito
rua
difícil de encontrar.

58ºDe Santo André, SP: “salomão” (Nin)

Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam.
(epígrafe de “A Viagem do Elefante”, de Saramago).

não é o peso de minhas pernas
que determinam a viagem,
: mas o peso de minhas pegadas
impressas no chão
desmanchadas
o chão imprime nos meus pés o peso dessas marcas
dessas marchas

é esse chão que piso e peso
,dentro,
e guardo.
desse chão que vivo
nesse chão permaneço
e esvaneço.

à partida,
entregar-se

com todo o fôlego vindo
do medo e da vontade
(o medo sempre anterior às vontades
ou tão perto delas
a confundir-se)
 indo

o caminho
é o cansaço
na andança
(e existem outros caminhos?
a que levariam outros caminhos?
os caminhos são só um
aquele percorrido
e aquele a percorrer-se)
e a distância entre cada passo
um infinito não-ter-chão
até o próximo passo
até o próximo infinito
até o próximo pedaço de chão.

à chegada,
o estar

− e onde é que se chega? −
e o não mais estar.

(tenho os pés todo machucados
de tanto mantê-los no chão.)
e sempre um passo além de onde se é chegado
espera a esperança
a utopia:
em cada passo

desloucar-se
ou ter-se desloucado.

59º De Curitiba, PR: “Roendo nossos” (Nina Cello)

Comprei um amor
manequim
Tinha teu corpo, eram as tuas costas
pernas milimetricamente as tuas;
finas e compridas
Os cabelos, eu juro:
Bem postos ao gosto dos teus
Terno e gravata
Eram o furo;
O rosto plástico dos olhos musgo
Que vidravam os meus
Hoje não acordei nos meus melhores dias...
Tudo dói, até os ossos
E então chovia.
Vento. Calçada.
Tanta pressa, tanta saudade
E de repente o manequim,
Ali, sem urgência nem maldade
Sem carne para rasgar
nem osso para doer.
Saudade: Osso duro de roer.
Eu, roendo ossos,
corroendo chuvas,
correndo calçadas...
E de repente o manequim, entende?
Parado no tempo
Todo vontades...
Mas ainda assim, detrás do vidro
Sem arara cupido, não havia outras verdades:
era tão somente você dentro
e eu fora. E eu fora.

60ºDe Rio Grande, RS: Elucidário (Miguel A. Rodriguez)

qualquer coisa assim que nos permita
         viver como quem vive
         apenas

isso não nos basta
talvez nem nos distinga de abstrações

perdemo-nos do embaraço da origem
pela a aparência que deveras temos

aqui estamos
e ouvimo-nos sem ar à volta
presas de algo que nos une
         incomunicáveis
         mas ouvindo

quem nos trabalha não sabe
         que estamos
                   sobretudo
                   sobre todos
até que outra forma devida
         nos suceda

61ºDe Pavia, Itália: “Não quero mais” (Longobardo)

Não quero mais ver crianças vendidas
No mercado da guerra,
Não quero sentir o gosto acre do sangue
Entre meus lábios apertados.

Não quero sumir-se
Da tua casa na noite
Sem saber si amanhã
Ainda hei-de ver-te.

Vamos um dia nos dar a mão
E irmos juntos a Samarkand,
A cidade com as cúpulas douradas,
Rica de panos, de ouro e camelos.

Nada poderá nos parar,
Nem o engano das reflexões
Sobre as caudas dos pavões,
Nem o trovão, distante no horizonte.

Quero caminhar de frente alta
Numa praia a beira-mar,
Ou nas dunas do deserto,
Com o sol deslumbrante
E crianças em redor de mim,
Brincando e rindo felizes.

Será uma longa caminhada
Sob um céu de turquesa e lápis-lazúli,
Na brisa quente que vem para baixo
Das montanhas do norte.
Caminhe entre os córregos alegres
Do Jardim do Éden.
Só deixa-me pegar um pêssego
Da árvore do bem e do mal.

Na margem do grande rio,
Contra a luz do horizonte
Vermelho no pôr do sol,
Quero ver airões pescando
E não ouvir mais o sibilo
Das balas traçadoras.

Samarkand no final da viagem,
Já não é a lendária cidade.
O ouro apagado, o mercado calado,
As casas sentindo o peso dos anos.

Vamos fazer brilhar o ouro,
Acordar as fontes de leite e de mel
E plantar flores coloridas
Nas rachaduras das paredes brancas.

62ºDe São José do Rio Preto, SP: “A tempestade” (Donnie Darko)

[ 1 ]

A festa não tinha
hora para acabar.

Estávamos com tanta sede
que tomamos
direto na veia
a substância da nossa
liberdade.

E como estivéssemos
apaixonados
dançamos o ritmo
da nossa geração
tão distraídos...

E como estivéssemos
embriagados
lançamos facas
uns nos outros
sem medo algum
de nos cortar...

[ 2 ]

Mas muito tarde
os cães da noite
anunciaram
a tempestade

e não deu tempo
de retirar
todos os corpos
da varanda.

— Como explicar
os corpos
na varanda?

— E todo aquele
tédio
nos casacos?

nos perguntávamos
como estranhos
de uma mesma
festa.

[ 3 ]

Arranhei tuas portas
na tempestade
desesperado

mas você não tinha
nenhum adágio
ensolarado
o bastante.

— A tempestade
tanto acaba esta noite
como acaba
nunca, baby, disse
um penetra na
festa.

E isto, por enquanto,
é tudo o que temos
de mais bonito.

63º  De Luanda, Angola: “O poeta” (Quimbungo)

O poeta é o anexo das árvores
Que solta o seu latir a favor da camisinha da água de todos os peixes
Sem fotografar a epiderme dos oceanos

Há uma coerência crônica
Entre o homem e o poeta
No imo dos homens
O poeta constrói o motor das imaginações

O poeta desmancha no arco-íris do seu cérebro
As cores diversas para notificar os estados das almas

O poeta profetiza a ideologia de Tomé
No universo do seu pensamento
E já mais dispunibilizara o seu balaio para sufluir das trintas moedas de prata

O poeta é o agricultor da crise das lágrimas
No palco dos pássaros

Ser poeta é submeter o ventre do
crânio ao exercício cumprido para vencer o oceano

O poeta é o analfabeto dos túmulos
Para albergar  a sua alma.

64ºDe Acaraú, CE: “Nossos anzóis não servem para pescar no mar” (Godofredo Nascimento)

Os pingos da chuva não evaporam,
Moram nos colchões dos destelhados.
As borboletas são flores vivas, não borboletas.
O café não é preto, nem pode ser, a culpa é nossa.

Nunca lemos algum livro, conversamos – verdade.
A moça da biblioteca não possui vagina, nem poderia.
Alcides Pinto é Gabriel García Márquez.
Eu não existo, nem você, não somos assim em nossa verdadeira forma.
O sono é uma interrupção de nossas dores, a natureza é compadecida.
Os lados do quadrado dependem da vista dos outros.

Quem escreve se engana.
Os pensamentos são inimigos da verdade.
A maldade é um teste.
Traições não existem, são provas de amor.

O passarinho não morre com um tiro,
Ele sempre te engana.
Amor de mãe é igual a qualquer amor.
Não é a água que nos molha, é nossa imaginação.
As grandes obras literárias são histórias contadas por
Crianças, às vezes, por insetos presos nas vidraças.

Os filhos não dependem da relação sexual,
Dependem das cegonhas.
O pão de cada dia é o mesmo pão de sempre.
O mundo sempre existiu.
 Se quiser beijar alguém, chupe uma laranja.

Deus é um velho que não consegue pensar.
Todos nós fechamos os olhos para a maldade.
Todos nós somos maus, por isso ajudamos os outros.
Uma galinha possui mais carne que uma vaca.
Gostamos do gosto ruim da nossa boca.
Murilo Rubião é Godofredo.

A castanha é mais gostosa que o caju.
O ovo é melhor de que quem o pôs.

Você é louco, assim como o suicida.
Todo adolescente é sacana.

A cadeira não possui braço, nem o piano calda.
Todo urubu é branco quando é criança.

Nossas mães também pensaram como nós.
Os professores quase nunca sabem o conteúdo.

Todas nossas ideias são ressentimentos empedernidos.
A professora sempre fuma depois das aulas.
Nossos heróis nem são tão fortes.
Os torneios de futebol não se preocupam com os jogadores.

O presidente não manda no país.
Todos os papas foram ateus.
Só existe uma verdade, a sua.
Os garimpeiros são homens que não comem.
A floresta conversa sobre seus infortúnios.
O mundo só é um porque nós queremos.

As mesas e cadeiras da sala sempre ficam arrumadas.
Os óculos nunca nos deixam confortáveis.
A comida sempre nos obriga a beber alguma coisa.
A cachaça é ruim, mas é compatível com nossas entranhas.

Nunca tome um chá se não for de cogumelo.
As meninas não são como pensamos.
Os homens são cachorros distraídos.
A letra “A” é um “V” disfarçado.
Não se escreve “nescessário” não é necessário por o “s”.
Na verdade você não vê a lua nova, mas sim uma fruta.

As maçãs verdes são envenenadas como as outras.
O carteiro nunca escreve cartas pra ninguém.
Os poetas gostam do glamour, são pervertidos.
Todas as coisas do mundo ainda são inominadas.

Os livros são os verdadeiros amigos da poeira.
Os cabarés sempre são lugares de lazer.
O pouco que possuímos devemos dividir.
A nossa vizinha sempre espera um cumprimento
Para poder nos dar um beijo.
Todos os homens se sentem assim.

Quando você se apaixona, sofre como as outras pessoas.
Os elogios sempre amenizam a má impressão.
Dizer a uma mulher que ela é um paraíso, é provar que você está sonhando.
Se você quiser se lembrar de qualquer coisa, vá ao bar.

Nunca olhe demais se não tiver um bom motivo.
Rasgue todos os seus poemas e jogue dentro da panela.
Não se sinta desprezado por quem você gosta.
Todo mundo se acha o protagonista de um filme.
Quem disse que os mortos não contam histórias?
A cabeça é uma bola.

Quando choramos sozinhos é mais gostoso.
Nunca vamos saber o que a moça do ônibus pensa de nós.
Errar é legal, perder é melhor ainda.
O cheiro é um vento roubado.
Quando coçamos os olhos estamos cansados de ver a mesma coisa.
O nariz foi feito para colocar o dedo.
As dançarinas só dançam porque possuem coração.

Os peixes são filhos de outros peixes imortais.
Os nossos anzóis não servem para pescar no mar.
Nossos dias são algumas moedas
Que um usurário vai gastando aos poucos.

65º De Salvador, BA: “Solipso” (Maxell Rocha)

a solidão é um bicho
tenebroso como o diabo
caçando almas pagãs

solidão: insônia dilatada
que me enche de agonia
e alucinações espinhentas,
substantivo nebuloso emoldurado
em fotografias embriagadas no asfalto

não me curo! não me guardo!

a dor da solidão nasce na alma,
cresce na carne inflamada
e padece no poema.

66ºDe São Pedro da Aldeia, RJ: “O efeito” (Flora M.)

Estou com o corpo ainda embriagado,
carregando o hálito de teu corpo,
o efeito do sexo, antes cume, parcamente desmancha.
Inquietamente, em meu quarto,
esqueço as horas de antes
e aquele instante agora gasto.
Minha cama, vazia, não dorme
e retomo a tarefa de procurar a mim mesma dentro deste corpo,

que perde o teu cheiro e o resquícios do teu gozo
em mais demorado tempo do que as horas se vão.
Por descontinuidade,
 o tempo-espaço não ocupa o mesmo lugar do agora:
amanhece,
 e a cama-carma ainda ama.

67ºDo Rio de Janeiro, RJ:Mão à pata” (Vô Cosmos)

Não matar um leão por dia:
domá-lo sem chicotes,
sem provocação do medo
no arremedo do poder.

Encará-lo e ver lindos seus dentes,
sentir seu bafo de fera,
seu sangue de raça
e sua alma de terra.

Ver Deus acenando em sua goela -
prova viva do respeito mútuo.
Tocar sua juba deserta, seca, vistosa,
acariciá-lo com mãos de uma árvore dura.
Fazer dos olhos um espelho
e mostrar seu dentro -
que lá há um leão também brincando savanas,
há bestas sonolentas e outras panteras
roendo a carne do seu pensamento vivo.

Deitar ao seu lado
dando mão à pata
narinas ao focinho,
reconhecendo,
se apresentando à força
no brilho
ponderável
da presença.

Forte selvageria atávica,
virar bicho,
virar sereno,
veneno,
mato,
flor,
trigo.

Não matar um leão por dia, nunca.
Amá-lo na rigidez dum rugido.

68ºDe Riachão do Jacuípe, BA: “Batalha” (Vaqueiro das Nuvens)

No campo aberto do meu sono
Uma batalha e pequenas guerras

O soar de clarins distantes
O tropel de cavalos, asas e fogo
No vale dos ossos secos

Nesta guerra de rotos estandartes
A movimentação ordeira das tropas
E a inquietação orgânica dos sonhos

Sob o som das lanças frementes
A lustre inquietação das luzes acesas
Do vale das sombras da morte

Não me atormenta a batalha
Nem me amedrontam as ânsias

Caminho pelo código secreto
Levo a espada aberta das coisas que sei
O escudo das que presumo
E o capacete das que desconheço
Mais um passo rumo ao seio da tropa

69ºDe Belém, PA: “Confissão para a fuga” (Benny Franklin)

"O poeta é como o príncipe das nuvens.
As suas asas de gigante não o deixam caminhar."
( Charles Baudelaire )

I

Sei dos sucessivos sangues masturbados,
das insaciabilidades das manhãs vagabundas
que não tem paradeiros,
não tem utopias
nem retropassos.

Sei das fatídicas cumeeiras dos abismos,
das confissões de fugas azulejadas,
das ausências aciduladas
que simulam renúncias.

Sei que não importa
o tesão bulido a touch screen.
Sei que não importa
os âmagos das penetrações dissimuladas
nem os gôzos macerados
dos germes das metáforas.

II

Lá fora poetas se mastigam
capazes de longos
silêncios.

Mas [ oh, altar langoroso das torturas migrantes! ]:
A ti, o meu grito simétrico.
A ti, lastimosa agonia desenredada,
a minha força intemporal de comunicar-se
com chãos de vertigens proibidas.

A ti, espaço para tanta inexistência,
o frêmito do Sol longitudinal
que orvalha lagrimoso
como sexo gasto do espinho virulento
e sobretudo graceja
em longos delírios carnais
como pão subtraído
que reverbera nos estômagos perecidos.

III

Não é um espinho a primeira irrequieta ereção
nem um sol multifacetado
a ilusão que patina no querer
quando se esquiva dos medos negados.

Âncora que se sabe
sondada por olhares doidivanos:
sou o que dilacera os sorrisos disfarçados,
o que colhe as Orquídeas mais caras
sem temer as campinas proibidas;
sou& sou
alguém que já nasceu predestinado
a se acorrentar e se amordaçar
no estriduloso orgasmo
da revolta.

70ºDe João Pessoa, PB: “Rebentação” (Justine Montecchio)

Uma pancada de animal cornífero em meus quadris
O rapto das endorfinas, a ira,
o esporão na língua: Amor

Bebo as vozes noturnas que se debatem no seio pálido
da Grande Mãe

Levanto-me
Possuída pela Sabedoria
impura aos olhos de deus, do diabo, dos homens

Meu sexo brilha, vertendo o sangue dos homicidas
A pureza dos gloriosos anjos assassinos
Sujei-me com a Eternidade
Escura, sagrada, bestial, carnívora

E danço,
rasgando as vestes, as entranhas, o coração
Poesia arremetida contra a Morte:
canina iluminação

71ºDe Recife, PE:Poeta pérola” (Januário Sertão)

Até hoje não entendo!
Esses poetas que "sabem recitar",
vivem indo a festas
fazendo graça, uma careta aqui
outra acolá.
Tudo reis e rainhas do encanto
quando rimam um verso,
sempre recitando
como cordelista
rimando no interiorano
tudo que termine com ‘a’, ‘ar’ et cetera...

E o sotaque?!
Tem que ser bem pesado,
arrastado como vaca com fome no pasto
pra dizer que veio da terra
onde nasceu o carcará...

Sei que tudo veio da Grécia
não sou bicho besta a teimar,
mas pra mim, poeta,
é como ostra do mar.

Vive calada, resignada, fechada em si

sem respirar

até o dia que resolve soltar
o verbo doce nas ondas do mar...

72º De Saitama, Japão: “Terremoto” (John Keating)

Furiosa,
Ó Terra,
Tremes.

(Temo!)

Faminta,
Devoras.

Forte,
Ignoras.

Fatal,
Apavoras.

Até que te acalmas.
E, em meio a gritos,
Vultos e lutos,
Leva almas
Para teu seio.

(Receio!)

Pois sei
Que, uma vez mais,
Despertarás.

E presentearás ao Mar
O que restou de meu lar.

73º Do Rio de Janeiro, RJ: “Bonança” (poema árcade) (Babi Victer)


Me encanta o veludo da relva,
O esplendor do sol e a canção da água.
Estando eu, preso em minha própria selva,
Fugi da massa de ódio e vim à calma.


A vida na cidade é uma luta no tatame
Luta injusta e desproporcional.
Prefiro o campo, não há quem não ame!
A calmaria e a qualidade; não há igual.


Beleza simples e inesgotável,
Pureza inspiradora.
Capaz de amolecer
O coração mais inexorável.


Magnitude reveladora!
A calmaria e a beleza me encantam intensamente.
A magia com toda certeza,
Faz minha visão transcendente.



74ºDo Rio de Janeiro, RJ: “Filme B” (Taurus)

Ao sair
não me acorde,
não se despeça.

Pise macio
no tapete luzidio
da manhã que mal começa.

O silêncio sorrateiro
dispensa olhar derradeiro,
vá sem perda de tempo
e sem pressa.

Ao despertar e não mais vê-la
eu dou meu jeito.

Vou eternizar no peito
o sonho – agora desfeito –
que foi no passado tê-la
inteira só para mim.

Caso de amor démodé,
nossa história acaba assim, 
mocinho de um filme B,
sozinho, morro no fim.

Não é um final perfeito
mas é o que nos cabe, enfim.

7De São Paulo, SP: “Frustração” (Mainá)

E eu que não sei
fazer tankas ou hai-kais...

Eu, que queria
a poesia mais precisa:

surpreendente
como a chuva na vidraça,
o sorriso largo
e instantâneo
do menino,
o beija-flor descoberto
entre ramos.

Cortante
como a rigidez
do cão morto na sarjeta,
o vizinho que
se suicidou.

Exata
como olhares que se encontram.

Sim, eu que queria
a agudeza
da mais extrema  brevidade,
sei somente
a longa e desajeitada
poesia dos desassossegados.

76ºDe Crato, CE: “Nossos Litígios” (André Anlub)

Pelos próprios litígios
Tentei organizar nossas vidas,
Apagando insensatos vestígios
E acendendo e excedendo as saída;

No doce ninho que mesmo em sonho,
Onde criamos rebanhos, rebentos,
Em águas límpidas que fazem o banho...
Depurando em epítome nossos momentos.

Amontoando em vocábulos certos
Vejo e escrevo em linhas tortas (na alma).
Optando por esse amor na justa calma,
Nas brigas que expulsam demônios e espectros.

Na sensatez do amor verdadeiro
Vi-me lisonjeado por ser o primeiro...
O real – o fiel – o ardente;
Sou o qual lhe agarra a unhas e dentes,
Sendo o mais perfeito da paixão mensageiro.

O ardor do âmago do seu ser
Acabou apagando minhas rinhas,
Nesse bem querer de minhas linhas,
Só, e mesmo cego, posso lhe ver.

77º De Capivari, SP: “Hemorrágica” (Aeon)

I
proponho-te
devassar o além
tencionado sob a fundição
dos nossos sexos
eriçados

rosá-la
no explícito orgasmo
do irrefutável sacrilégio
apiedando-te de quatro

- sacrificar o fôlego
no desterro dos vaivéns -

desenfreio-me à entrega
do análgico gemicar
na homogeneização
das delícias

- escopo arejado do delírio –

comungá-la abrigo
na impossibilidade esboçada
da catártica combustão

II

aquém
há somente vandalismo
transpirando
cerimoniais vigílias
para incendiar
a congênita essência
nas labaredas
do seu grelo

- enluarar-te o bojo
enraizando gorjeios -

pelas intermitentes renovações
de cada solilóquio
mantenho a ideia fixa
de que há mais
de você em mim
do que qualquer outro
esplendor cósmico

- decifrá-la em melodia -

perfaço-me anjo caído
além da substancialidade
adornando-te em aromas
na permanência serena
com que decruo a boceta
na sacra depravação

- reverenciar-te o riso -

pândego por subjetivá-la
em néctar pagão
endiabro a onírica trepada
no abundante estímulo

roço o caralho
na via indômita
das suas fixações

III

- ardência inaclimável -

faço do seu suor
o perfume que aprisiona
onde deslizo pelas curvas
Sátiro aturdido

desmembro-te a pose
no agudo abocanhamento
em contínuo alvoroço
num mantra circunstante

- libação às meiguices de Áine -

do enflorado arrebol
nas fibras cardíacas
entalho-me íncubo
até que a submissão
seja uma dádiva indômita

deparo-me
fértil regalo deflagrado
orvalhando os sentidos
dentro dos inebriados
instantes
que te volvem meu sigilo

- goto hemático -

violento o pudor
jorrando-te o sêmen
da solicitude impalpável
antes mefítica
pelo desarrimo

- utopia esganiçada -

carregá-la pelas asas
mendigando a cruz
que lhe cobre o antro
no voejar dos gestos

IV

persigo sua inquietação
- Afrodite remendada -
contorcendo-me
para arrancar a baba
dos delicados lábios
com o tesão hermético
enquanto me lavra o falo
para lhe devorar o íntimo

submergir na senda
das suas coxas
é o subterfúgio ao santuário
na onde se prostram
minhas vulcânicas ferroadas

no sinóptico embaraço
ofereço o espírito
que é fiel à pureza
em receber o seu desgarro
- incorporo Pã -

desfiro o apego
com a impudica língua
lambuzando-te
a fonte do recato

ceifo os peitos
com os dedos canastras
e derramo sobre ti
- Ninfa infatigável -
o indulgente plasma
da balsâmica saliva

deliciando-te no ritual
da frenética repetição
embriago-me
no empoçado
jardim bendito
arrebatando os pecados reprimidos

- esfomeado me assevero
antecipando o bote
na lúbrica veleidade -

desabrocho-te inundação
na conduta polimórfica
de bruxo-caipira-errante

- Logos implodido
em enfurecida incisão -

vergo-te num brando murmúrio
para cravar no sacrário
o tácito batismo
da frutígera nudez
escorraçada do paraíso
- ternura -

unificando-nos
na ambígua arrebentação
de entrega prolixa
- ameno sortilégio -
fluo no seu ventre
infinitando-a
cerúleo arrebate

- Vontade em deleite
firmada pela completude -

estronda-nos por zelo
na dicotomia do regaço
a tecedura das preces
em incólume inerência

- Lux et Nox -

V

- arbítrio esquizofrênico -

sorvo
devorá-la em devoção
à animalesca reminiscência
enquanto incitamos
o crepúsculo entoado
nas paragens epidérmicas

cercam-nos
os tangíveis espantos
vociferando imantações
no fulgor da trepada
em grácil acuidade

a proximidade corrosiva
dos olhos nos olhos
ascende-nos
um mitigativo beijo
anárquico

- relampeia o júbilo
no colapso diagnosticado -

os cuidados
da minha heresia
revelam o alvorecer
no áureo abrigo
onde te nino
em profundíssimo apego
encarniçada cadela

VI

- pandêmico tônus -

subsidiando-me
influxo perturbado
rogo-te o verdejante
alento argiloso
no pedestal das adorações

- pesteio-te súplicas -
nas alucinações coreografadas
pela temporalidade do martírio
expilo as cismas contritas
umedecendo-a
em firmamento

- não me basto
nas colorações do brio –

inquieta-me o átimo
na síntese
do que permeia
dentando a fluidez

- ebulição figurativa -

em indulgência cristalina
crepito os desvarios
acometendo-me
salutares tormentos

debulho-te
precipício
feito uma estrela
pungente
confinada na polpa

- avigorada fonte
de escândalos -

concedo-me o tesão
de surrá-la em fulgência
pelos ecos da luxúria.

78º De Santo André, SP: “Ex-tenso” (A. Carmo)

Um poema curto
mantêm o pulso por mais tempo tenso
que um poema extenso.

79ºDe Porto Alegre, RS: “No varal, cristais...” (Cassiopeia)

Por que choram as roupas do varal?
Por quê?
Alvas, pranteiam desesperadas
num silêncio endoidecido.

Mas por que chorar?
Choram de dor?
Da dor que sentiram
ao serem batidas
na grande pedra do arroio,
em que, em movimentos sincronizados,
a lavadeira jovem
- feito um padre a exorcizar
o “grande mal” de um corpo cristão -
buscava com severidade a brancura?

Ou talvez, choram
enternecidas com o cansaço da lavadeira…
Da moça exausta de tantos sonhos
que foram desfeitos, qual sabão que
se desfaz dos tecidos pra tornar-se espuma…

Por que choram as roupas,
recém postas no varal?
Será saudade?
A saudade de fazer parte
daqueles corpos quentes
suando a coragem e a força
na indomável aventura do viver?!

Sim, as roupas choram no varal,
incontestavelmente, choram!
Choram feito criança ferida
pela rispidez de uma negação.

As roupas gotejam cristais
que estilhaçam no chão,
na manhã morna e lívida.
E a tardinha, quando menos se espera…
Talvez, consoladas pelo calor solar,
cessam as lágrimas.
De cara lavada,
leves, talvez adormecidas;
Prontas, esperam cálidas:
depois do amanhã, chorar outra vez.

80º De Curitiba, PR: “Ramadã” (Eterna Estrangeira)


Não tinham como se entender.
O encontro veio por acaso,
Cada um chegando do seu ponto cardinal
ao centro da praça, onde os turistas desciam
das charretes para fotografar serpentes mansas,
cegos e domadores de camelo,
numa febre só.
Por filosofia entendiam palavras diferentes,
e a cada coisa a imagem que havia por trás
ou por dentro
se pintava em tons distintos,
como “quarto”, “cortina” ou “venha comigo”.
Foi apenas um momento que suspendeu os rumos:
Cruzar juntos uma antiga ponte de pedra e
ouvir o mesmo som do rio balançando embaixo,
esperar o sol
quente ceder ao momento da noite,
ao banquete e um lugar onde os corpos
virassem água. De onde viria o desfile
dos cavalos de todas as cores, e um
vento do deserto ou
melhor dito, uma brisa leve
com a qual seria possível
conviver. A mesquita no alto não destoava:
era puro encanto, como uma diferença a mais,
algo talvez para diminuir a sua, embora
decifrar-se em alguma noção comum
do humano
nunca fora suficiente.

 POESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIA

PARABÉNS A TODOS 80 POETAS OS CLASSIFICADOS!

         AGRADECEMOS, DE CORAÇÃO, PELA PARTICIPAÇÃO DE TODOS. PARA QUEM NÃO AVANÇOU DESTA VEZ, ENTENDAM QUE SE TRATA APENAS DE UM CONCURSO, O QUAL DEPENDE MUITO DO GOSTO E REPERTÓRIO DE CADA JURADO. NADA ACABA AQUI.

         A SEGUIR: DESAFIO DA PRÓXIMA ETAPA!

         Aos poetas classificados, atenção:

         1º - Para a terceira fase do III Concurso de Poesia Autores S/A, serão classificados, sem qualquer chance de alteração no número estipulado, 32 (trinta e dois) poetas. Ou seja, 48 poetas se despedirão do concurso nesta segunda etapa.
         2º - A ordem válida dos classificados na primeira fase está expressa do primeiro ao octogésimo colocado. Logo, a vantagem compete aos primeiros colocados na segunda etapa do concurso, em caso de empate.
         3º - Aos poetas classificados, é obrigatória a entrada no grupo do III Concurso de Poesia Autores S/A no Facebook. Caso queiram convidar amigos e/ou parentes que estejam acompanhando o concurso, fiquem a vontade. Aos poetas que não se classificaram, vossas adesões também serão muito bem-vindas, porém, não obrigatórias. Neste grupo, é permitida a divulgação da identidade dos poetas e se expressar abertamente, uma vez que não será permitida a entrada de qualquer jurado neste grupo.
         4º - Pedimos, aos poetas classificados, atenção aos e-mails. O envio dos poemas continuará sendo através do e-mail poesiaautoressa@gmail.com e qualquer comunicado será feito via e-mail e pelo grupo do Facebook.
         Agora, vamos aos ditames para o “segundo round”:

A PROVA DOS SEIS TEMAS



Será proposto, agora, 06 (seis) temas diferentes. Cada poeta deverá escolher 01 (um) TEMA e desenvolver um poema acerca deste tema escolhido.
Os temas propostos são:
1 – Casa



2 – Suicídio



3 – Simbiose



4 – Falta de educação



5 – O que é o outro?



6 – A mulher em todos os seus aspectos e representações



PRAZO DE ENVIO: até o dia 28/09/2014, domingo, às 18 horas, para o e-mail poesiaautoressa@gmail.com . Por favor, enviem, juntamente com o poema, o tema escolhido. Poemas enviados além do prazo estarão automaticamente desclassificados. Não vale envio de imagem junto com o poema. Também não há limite de linhas/caracteres/páginas.

Boa sorte a todos!
AUTORES S/A:
Uma sociedade diferente das outras.

PARCEIROS:







258 comentários:

«Mais antigas   ‹Antigas   201 – 258 de 258
Anônimo disse...

NOME DOS JURADOS

FELIPÃO
MANO MENEZES
DUNGA
MURICI RAMALHO
LUXEMBURGO

Rafael Castellar das Neves disse...

Que pena....não foi desta vez...

Parabéns ao colocados e boa-sorte na próxima fase...estarei acompanhando...

abraços!

Anônimo disse...

Não ser escolhido me dá um certo alívio, pois não vejo o meu trabalho dentre os escolhidos, vamos por caminhos bem diferentes. O meu conceito de poesia passa pelo outro lado da rua.

Pedro disse...

Meus parabéns aos poetas participantes! Mas deixo expressa aqui minha preocupação! Os poemas estão muito monótonos e semelhantes e longos. Até parece que estão medindo a grandeza do poema pela extensão. Cuidado para não fazer do poema prolixo e chato! Vejo muita semelhança com os poemas parnasianos (mesmo que não vejo sua qualidade técnica). Mas mesmo assim tem coisas muito boas! Mas cuidado com os poemas longos, eles sufocam a poesia!!!

Anônimo disse...

Havia no meio do caminho um concurso mal concluso
havia um concurso mal concluso no meio do caminho
que confuso.

Psicanalista, Professora, Poeta Jussára C Godinho disse...

Parabéns a todos os classificados! Sucesso ao certame, pois a maior vencedora será a LITERATURA.

Anônimo disse...

Quais sao os critérios que foram avaliados?

Anônimo disse...

Caríssimos! Entendo que a principal função de um concurso de arte é juntar gente em torno dessa arte, resultando numa expansão de sua produção e público. Dessa forma, gostaria de parabenizar a todos: organização, concorrentes, classificados, não classificados! Não tem arte boa ou ruim; cada um a percebe de forma única. Mas se é possível aprimorar-se o processo, sugiro divisão por categorias. A inter-textualidade; o concretismo; poesias já premiadas, muitas das vezes agridem o leitor pouco habitual e o poeta iniciante.

Gustavo Terra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Teve duas obras que foram classificadas, mas elas sao curtas. Uma delas pode ser classificada como um poema, mas a outra nao. Um poema nao é um conjunto de versos? Por que uma estrofe foi considerada? 4 linhas? Isso é realmente bom? O que foi avaliado? Como foi? Alguém, por favor, poderia me ajudar.

Anônimo disse...

DIVISÃO DE CATEGORIAS.. CONCORDO ;;; NO PRÓXIMO ESPERO QUE SEJA MAIS ORGANIZADO. E DAR O RESULTADO EM ETAPAS PRO POETA FICAR GRUDADO NA TELA ESPERANDO O RESULTADO, RIDICULO. SÓ ACHO

Anônimo disse...

Delicia poder ler os comentários e saber o IP do autor. Vocês não sabem como é bom ter certos conhecimentos de informática e poder separar o joio do trigo. Ah se eu conto quem é quem.

Anônimo disse...

A grande revelação do concurso foi a descoberta do "poema de fórmula", ou fórmula para disputar concurso, ou poema de fôrma,ou poema robô, ou...

Henrique Santos Pakkatto disse...

Parabéns aos classificados!
Parabéns a Autores S/A pelo cuidado, transparência e condução do processo.

Infelizmente não entrei nesse time desta vez.

Quero deixar claro aos que questionaram os critérios da seleção que concursos literários dependem fortemente da vivência literária e gosto pessoal da banca. Como leitor de poesia sei bem do que gosto, aprendi a identificar estilos e separo o que faço do que acho bom pois não trilhamos todos o mesmo caminho. O poema, para mim, vem da caminhada. E quão difícil é julgar uma poesia, elencá-la em ordinais, atribuir aritmeticamente uma nota. Fazê-lo, mesmo como um convite ao encontro, tem como consequência esse afloramento de nervos observado nos comentários. Todos querendo ser o empregado do mês em seu ofício.

Meu critério de avaliação é o seguinte: os melhores poemas se comunicam e não dependem de uma boa vontade do leitor para com ele. Despertam o riso, a reflexão ou o alumbramento com musicalidade e arquitetura inteligente.

Quem me dera escrever assim (sic)!

Convido-os a conhecer meu trabalho na página http://pakkatto.blogspot.com.br/

e me despeço com um poema para acalmar os corações mimimistas.

Os melhores poetas batalham
Como nas empresas
Ganham troféus, medalhas, canudos
Concursados, julgados, performáticos
Como se aritmética medisse o sentimento
Atiram ao vento pérolas e causos
Que irão ter notas como num desfile

Mas agindo na surdina, os sorumbáticos
Os outros, menores, ficam mudos
Sua empreitada é como a de matemáticos
A poesia destilada das esquinas
Querem que o verso livre
Querem mais livros
Querem irmãos e não adversários

Vão bater palmas para os bons poemas
Vão sempre bater palmas para os bons poemas
E juntos baterão palmas pelo encontro
Pelo amor a vida
Pela superação do ego
Pela busca de fraternidade
Pela música
Pela beleza da compreensão
Pela perda dos sentidos
Pela lista obrigatória de movimentos do kata


Obrigado e até a próxima edição.

Anônimo disse...

Por fim, entrar neste concurso foi uma das maiores besteiras que fiz, decepção galopante... Com esses mais de 200 comentários poderiam ser feitos algumas dezenas de poemas mais encantadores que muitos classificados. Fim.

Gustavo Terra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Chorei com isso... Mas creio que com o Mano ia dar empate entre todo mundo...

Gustavo Terra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Gostei de alguns poemas. Estou ansiosa para ver os que não foram classificados.

Bruno Bossolan disse...

Por que é 'obrigatório' ter um perfil no Facebook e entrar no grupo se as poesias julgadas são enviadas por e-mail? Não gostei disso. Lohan, poderia esclarecer?

Anônimo disse...

Engraçado. Tantos poemas-Emas! A leitura fica desgastada e desinteressante.
4 Pedras preciosas, NADA MAIS QUE ISSO. O resto foi ista grossa e simpatia sublime de quem se sente atraído por ago BONITINHO e ENFEITADO assim como uma árvore de natal em pleno outono. Sem folhas, sem presentes e com pedras repletas de discursos alheios apenas. Festival de paráfrases....Nada mais. Achei que seria mais sério. Jurados JURINHOS. Jura que é verdade? Ok! Juro que faço se contas que acredito.

Trip no trem p/ aeroporto TYO disse...

Estou muito feliz com minha classificação e louca para saber o próximos passos. Obrigada!

Anônimo disse...

Prezado Emerson, acabo de ler seu poema. Com todo o respeito do mundo: tente outra arte. Não poderia nunca se classificar MESMO. Desculpe-me.

Anônimo disse...

Pra mim, o mais bonito foi " Adeus, meninos..."

Anônimo disse...

Quero deixar registrado que achei algumas escolhas um tanto quanto decepcionantes, pois caem no senso comum. Vamos aguardar as próximas peneiras e ver quem sairá vencedor. Uma mensagem aos não escolhidos: continuem e perseverem em sua arte, pois às vezes seus poemas não integraram essa lista por serem por demais originais e/ou transgressivos.

Anônimo disse...

Pra mim, o mais bonito poema foi:"Adeus, meninos..." Lindo demais da conta...

Anônimo disse...

Emocionado por saber que os anônimos de 23:39 e 23:44 gostaram de meu pequeno poema!! Super feliz! Grato!!!

Anônimo disse...

Concurso de merda, foi o pior que participei na minha jurados sabe de porra nenhuma....

Anônimo disse...

VC queria se classificar com isso aí? Fala sério! Qtos anos VC tem? 12?

Anônimo disse...

Nossa! Já fiz terapia, muitas. Meu ego está super tranquilo. Lendo os comentários, percebi que a maioria estende um concurso literário como um campeonato de futebol. Uma pena!

Anônimo disse...

Rapaz é verdade

"Começaremos a divulgar os resultados pelos mais bem votados, em ordem decrescente."

Os últimos serão os primeiro...hahah

Anônimo disse...

Sim, Emerson, estou enxergando muito bem. Releia as postagens aqui e vc verá que não há apenas questionamento quanto aos critérios não. Leia direito, vcs estão falando mal dos poemas classificados. E não estão fazendo crítica, estão apenas falando mal.

Anônimo disse...

parabéns aos vencedores. abraços fraternos a todos.

segue meu poema.

[amores de viagem]

amores de viagem
são das viagens

é complicado levá-los para o desembarque
não raro, isso ocorre em cidades diferentes

uma amiga vai se casar agora em dezembro
com um irlandês que conheceu em são francisco

não será o caso aqui
mas acho justo celebrar
minha modesta conquista
na comemoração deles

quando separar a cobertura
de açúcar do bolo
ou arroz for pelos ares
talvez me lembre de você

não pense que celebrar desta forma
não é uma maneira de encerrar
eu romanceio tudo
eu romanceei o fim

então deixa para a viagem, deixa
coloca junto do mapa de são joão del-rei
do folheto do museu da liturgia
guarda no armário, torce para as gavetas falarem

claro que seria ótimo rachar o aluguel
de um sobradinho aprovado pelo iphan,
penso, nas últimas horas da noite

mas a ideia de dividir o primeiro iptu
resta absolutamente improvável
nas primeiras horas da manhã

como preencheríamos o ano-calendário
sem o itinerário turístico que nos acomoda,
as preocupações rondantes?

funcionamos na estrada
nos dias-ampulheta
na jornada-bússola

*

rodei a cidade toda à procura de um souvenir
um oratório para o escritório
uma noiva de jequitinhonha

nada me cativou
e entendi por quê

uma nova fitinha colorida para diferenciar
minha mala das outras na esteira rolante –

você veio aqui para casa
e nem desconfia

Emerson disse...

O que dizer de voceis donos da razão? Pros senhores anônimos que dizem que meu poema jamais poderia ser escolhido digo sem temor.. Jamais trocaria qualquer poema meu por qualquer um dos que foram classificados.. Jamais. E tem mais... Quem critica nao precisa se esconder atras do anonimato. Mostre e seu poema e não se julgue melhor, deixe que julguemos. Vi muita "ARTE" ultrapassada, parecia mais que estava lendo uma carta sendo enviada a Carlota Joaquina.

Anônimo disse...

Porque não tenho memória e preciso
Que as naturezas se incorporem, crispadas
No meu íntimo – tomo nota de tudo que me lembro:

das ruas claudicantes onde atentas caminham as buscas
por esperanças desconhecidas sujas de têmpera
do som que emite a epiderme quando
diante de um desejo agudo se intumesce

Até da incógnita flor de cassis que nunca vi e sei
Que não a reconheceria até que alguém
Dissesse: eis tua flor preferida
Amor nunca foi mesmo uma questão
de saber das coisas

Anônimo disse...

Vamos aos números-

1
5
29
42

Parabéns a todos.

Anônimo disse...

Realmente não sou poeta, nem sei o que é poesia mais! Não gostei da maioria dos poemas, falta alma, lirismo! Mas quem sou eu para julgar? O que eu escrevo nada tem a ver com a maioria dos poemas selecionados. Como alguém mencionou aí em cima, também é difícil eu gostar de alguma coisa que escrevo, mania de perfeição. Mas, enfim, não escrevo para ganhar concursos, escrevo porque gosto, porque a inspiração não me deixa em paz se eu não pô-la em um "papel"! Bem, não mais participarei desse concurso, pois meus poemas não condizem com o gosto da banca, meus poemas passam distante... Quanto aos "vencedores"... Parabéns!

Anônimo disse...

Meu amigo anônimo acima.. poste ai o poema que vc mandou para o concurso pq eu sou totalmente leal ao seu comentário e concordo com tudo que vc disse.

Anônimo disse...

chorões! menos, tá!
Na verdade só tem um Chorão que eu aplaudo de pé, mas esse já se foi! Vocês já estão dando no saco! Não é pra menos que ficaram de fora!Muita bobagem e pouco conteúdo: só conseguem falar mal. Não sabem nem criticar PORQUE NÃO SABEM. só chorar BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁAAAAÁ´!!!

Anônimo disse...

Desta vez deu trabalho para entender tudo que se passou aqui e avaliar os poemas. Em primeiro lugar, gostaria de registrar o que vi como injustiça. Nem tudo li, até pq uma passadela de olhos já cansava, mas constatei que de fato registraram-se como classificadas diversas histórias, diversos contos bem distantes do que caracteriza a poesia.Não me pareceu justo. O povo que realmente se classificou com poesias vai ficar no prejuízo com essa história de desempate? Creio que sim, haja vista que muitos desses contos estão em primeiras posições. Deixo a crítica ao cubo. Poesia é poesia, senhores. Todos sabemos do que se trata.

Anônimo disse...

Leram Blake avessando peras por maçãs. Leram Nietzsche no andejo niilista do apelo... Plato, vemos sombras em redor... Não estou entre os 80! rsrs Enfim, fica para outra vez. Boa sorte a todos os coleguinhas que escrevem tão bem e parabéns aos avaliadores tão imparciais e profissionais! LOL

Anônimo disse...

Poxa, que mar de dor-de-cotovelo mal disfarçado em formas de “críticas construtivas”, querendo impor como deve ser um poema! O poema por definição é algo livre!!!
Só eu que gostei da maioria dos poemas classificados?

Anônimo disse...

Sem querer ser metido e pedante, mas um pouco mais de cuidado para não deixar passar erros ortográficos e gramaticais não fariam mal a ninguém, não é?
(Com medo de imaginar como foram os poemas rejeitados)

Mitocôndria disse...

Não me classifiquei no concurso e não estou nem aí.
Minhas palavras estão em meu blog e esse concurso não vai mudar em nada.
Beijinho no ombro para os chorões e choronas e tchauzinho, até o ano que vem se eu tiver vontade de participar de novo.

Anônimo disse...

Ao anônimo de 20:59, fica a dica:


PRONOMINAIS

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.

*Ops!! Que erro grosseiro! A gramática foi assassinada nessa poesia, SENHORES da FORMA, da norma CULTA!!. Onde já se viu uma próclise maldita antes do verbo sem que nada a justifique, conhecedores como vocês são!? Oswald de Andrade deveria ser banido da Literatura Brasileira. Quem são os mestres, os acadêmicos que deixaram passar tamanha insensatez gramatical, não é verdade, SENHORES DA NORMA, DA GRAMÁTICA!?

Anônimo disse...

Caríssimo, senhor anônimo que disse: com medo de imaginar os erros ortográficos dos que não foram desclassificados. Ora, faça-me o favor! No poema Calçada, além da paráfrase, para não dizer plágio de um outro poema, a poetisa cita a Av. Rio Branco com letra minúscula. Conseguiu passar por um juri tão cauteloso e criterioso como esse? Eu lhe garanto, sr. anônimo, que em meus poemas você não encontrará tal aberração, pois isso até uma pessoa que só tenha o ensino fundamental sabe, nomes próprios se escrevem com letra maiúscula! E eu não estou chorando porque não fui classificado, essa foi a minha primeira participação em concursos, e continuarei escrevendo, não pararei por isso! Agora dizer que os que foram desclassificados foram por causa de erros ortográficos ou coisa que valha, é dose!

Gerci Godoy disse...

Feliz por estar participando, li alguns poemas e sei que o páreo será duro, sigamos com força e fé e esforço

Anônimo disse...

Gente, alguns erros realmente são de doer os olhos, mas outros? É um concurso de poesia ou um concurso público? Se for a última opção, não estudei.

LC disse...

Olha, dos que foram classificados, somente gostei de um. O décimo, foi o que mais falou comigo.
Nem estou falando isso porque não fui classificada, até não escrevo para os outros, mas para mim mesma. Foi chato não ter sido classificada, mas mais chato ainda só achar um que gostei, dos 80 poemas escolhidos.
Qual o problema, não sei. Pode ser a interpretação dos jurados , ou a minha, mas sabemos que quando passamos por julgamento alheio existe o risco da pessoa gostar ou não.
Mas confesso, fiquei interessada em ler as poesias não classificadas!

Abraços à todos,
Lucy.

Anônimo disse...

Uma pergunta, se é que já podem responder. Seria João Gilda Anna Lisboa, ou há outro concorrente da cidade de Vinhedo? Seja como for, folgo em saber de mais um talentoso "poetante" em nossa cidade. Apreciei muito tal poesia, bem como a 77.

Anônimo disse...

Gostei das 5 e 35, muito!rosana banharoli

Fausto Zanini disse...

Boa noite a todos.Felicito o blog e os bravos poetas.

Em primeiro lugar, gostaria de saber quando vão postar as novas poesias. Essa leitura causará imenso prazer. Não menos importante, aqui vão minhas preferências.

Frustração- É uma pena ter ficado tão atrás. Excelente.

Ouvindo vozes e estrelas- Rápida e sorrateira mensagem bem passada. Excelente.

Calçada- Imagem inteligente. Excelente.

A musa de Caetano- Não gostei do título, mas fui arrebatado. Excelente.

Anônimo disse...

Obrigado pela leitura ecppr sua análise de meu poema, Priscila. Fico feliz por saber que vc gostou. Grande abraço. Urbanóide

Anônimo disse...

Obrigado, Fernando. Que bom que mais alguém além dos jurados (e da Priscila) entendeu meu poema. Abraço. Urbanóide

Anônimo disse...

Olá, não era hoje que sairiam as postagens dos novos poemas? Achei que entraria aqui agora e já estaria bombando.

Anônimo disse...

E aí? Tudo parado por aqui? Organizadores, se me permitem uma modestíssima opinião, acho que a criação do grupo no face apagou completamente o holofote para o blog. Poderia ter sido criado tal grupo após o término do concurso. Todos querem comentar e postar coisas apenas lá.

Suely Andrade de Oliveira - Su disse...

Concordo com você, Emerson, para mim Guardanapo é o poema da vez. Leve e bem-humorado, o poema tem também excelente ritmo, além de recursos estilísticos que o revestem de originalidade.

simone de antonio disse...

Sinceramente, quem fez a seleção parou no tempo. Os poemas são datados e posso dizer que achei alguns bem ruins.Outros, nem consegui ler até o fim. A tentativa de alguns versos beira até o ridículo(nao vou citar um aqui que foi horroroso pra não ofender a pessoa que o fez) e a maioria sofre da "modernice" de fazer diálogos com poemas já feitos e utilizar formas ultrapassadas...
Realmente a poesia está sofrendo de mesmice. Vai ser difícil o Brasil ter poetas fortes no futuro com amostras assim.
Pra não dizer que não gostei de nada, gostei de um do Rio de Janeiro bem curtinho e outro de São Paulo...

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