Olá, caríssimos poetas e leitores! Amanhã, dia 24 de setembro de 2014, é
dia de descobrimos quais serão os poetas classificados para a próxima etapa do
III Concurso de Poesia Autores S/A. Este foi só o começo: ainda há muita água
para rolar!
Os jurados, os quais nós ainda não
podemos divulgar as identidades, tiveram um trabalho árduo para selecionar, de
562 inscritos, os 40 poemas. O nível estava muito alto. Sendo assim, temos uma
boa novidade para todos os inscritos: ao invés de 40 classificados, decidimos
dobrar essa quantidade; ou seja: revelaremos, nesta postagem, 80 poetas
classificados!
As chances de cada um de vocês,
poetas participantes, dobraram. Agora, é fazer figa e ficar grudadinho aqui no
Autores S/A. Como nós adoramos um suspense, vamos divulgar os resultados ao longo do dia, aos poucos, a partir da meia-noite até as
21:00 horas! Neste horário, já saberemos quem são os 80 grandes poetas
classificados e, ao final deste post, iremos divulgar os ditames para a próxima
etapa. Portanto, amanhã mesmo, os poetas classificados saberão como será o
próximo desafio deste concurso.
Começaremos
a divulgar os resultados pelos mais bem votados, em ordem decrescente. Atenção:
A posição dos poetas, nesta triagem,
servirá, na próxima etapa, como critério de desempate. Portanto, mais um
motivo para ficarem ligados neste post!
Como todos sabem, o número de poemas
inscritos foi recorde. Além disso, o número de classificados também foi
elevado. Considerando isso, não foi possível para os jurados, nesta triagem,
traçar comentários a respeito dos poemas. A decisão da banca foi consensual. No
entanto, no decorrer do concurso, os poetas que forem avançando receberão
feedbacks de jurados do mais alto gabarito.
A seguir, a numeração oficial da
lista. Aos poucos, esse ranking será ocupado. Boa sorte a todos os envolvidos
e... até qualquer hora!
1º De Brasília, DF: “Sobre
Tempo e Memória” (Urbanóide Cáustico)
“As peras, no prato,
apodrecem.
O relógio, sobre elas,
mede
a sua morte?”
(Ferreira
Gular)
A maçã
apodrece
sobre a
mesa.
A comida
posta à
mesa
(que
apodrece).
Tal qual
um homem
apodrece.
(Seu olho
de vidro.)
A mesa
apodrece
sob a maçã
(aquela),
sob o
prato
de comida,
que
também.
A madeira
apodrece
o interior
da mesa,
antes.
E o homem
(o mesmo)
tem tremor
nas mãos.
A fórmica,
revestindo
a madeira,
solta-se
em lascas.
(Como a
pele
do homem.)
A comida
apodrece
na
escuridão
no
estômago.
(E o homem
regurgita
pássaros
calcinados.)
A memória
da maçã
já não
traz
a mesa,
que não
traz
a madeira,
que não
mais
a árvore.
Esta
já não (se) lembra
(d)a floresta.
(Envelhecer
é só –
e
sozinho.)
O homem
e seu
dente de ouro,
sem o
sorriso.
A mulher
e seu
colar de pérolas,
sem a festa.
Um e outro
e sempre sem
(e só).
Na memória
de ambos,
um que se
foi
e outro
nunca.
A mulher
reluta
em ser a
maçã
(que
apodrece).
E o homem,
a mesa
(que
também).
(A madeira
corroendo(-se)
por
dentro.)
A memória
– dela –
seca-se,
como a
carne
da maçã.
Seca-se,
como os
olhos
(de
vidro?)
filtram
a desluz.
A memória
– dele –
sobe na
mesa,
pula da
árvore,
cai no
rio.
Mas rio
já não há:
vazio
espesso.
E o homem
-árvore
apodrece
longe
da
floresta
de
homens.
(Envelhecer
é só –
e
sozinho.)
Torna-se
refém
da
memória.
Como a árvore,
da terra que
a sustém.
E a maçã,
da espada
que a
corta.
A memória
é frio aço
de dois
cortes.
Tanto fere
quem a
cultiva
quanto
quem a
ignora.
A memória
é lâmina
que divide
as horas.
Como a
espada
trespassa
a maçã
(sua carne
morta).
A memória
é
substância
torta
se
apodrece
dentro
de quem
a gesta.
Tal qual
a comida
(indi-)
gesta
os vermes
que a
devoram.
A memória
(presente)
esconde-se
em
ausências
fortuitas.
Relógio
sem
pêndulo,
marca o
esque-
cimento.
A memória
paralisa
o tempo
(rio de matéria
putrefata).
Tenta
dissolvê-
lo – unir
suas
pontas.
Ou divi-
di-lo:
múltiplos
espelhos.
A memória
quer
fazer-se
mesa
antes
de
fazer-se
árvore,
antes de
floresta.
A memória
quer
lograr
o tempo
no falso
de suas
horas.
Já o
tempo,
por seu turno,
não se dá
por vencido.
E separa:
a madeira
da mesa,
a mesa
da maçã,
a maçã
da mulher,
a mulher
do homem
(em gêneros
e dores),
e o homem
e a mulher
de si mesmos.
O tempo
se-
para,
enquanto
prepara
o bote
no mote
do homem
(ou
mulher)
livre
(como
disse
o gênio
torto)
: ser
livre,
de fato,
é estar
morto.
2º De Cabo Frio, RJ: “memórias
II” (Dersu Uzala)
mergulho de olhos vendados
em valas imundas
a infância reinventada
no
estranhamento das meninas
(sábado
de carnaval na rua de Cavalcante
roupas ao avesso
no
avesso dos significados)
pedaço pequeno
do tempo
retirado sem anestesia
as gargalhadas
durante a
missa
no sermão de São Matheus
a caçada aos sacis
moinhos
de vento
ventania
os
meninos enfileirados em uniforme de gala
prontos
para saudar Hitler
a descoberta da criação do mundo
barro virando vida
a culpa por pecados seculares
sem cura
a observação dos quadros da
via
crucis
as imagens atropelando apelos
as
mãos sujas de sangue
os tremores
o coração
acelerado
na manhã de domingo
medo
temor
terror
ardendo sobre o signo da inquisição
consumindo a alma em ritual pagão
a descoberta do prazer
saboreando cada instante
laceração da carne
oferecida em holocausto.
3º De Cachoeiras de
Macacu, RJ: “Calçada” (Anne Sexton)
,noite alta
av. rio branco
deitados
pequenos pés
descobertos
e a poesia à espreita –
o primeiro a acordar
acende a luz do sol:
av. rio branco
deitados
pequenos pés
descobertos
e a poesia à espreita –
o primeiro a acordar
acende a luz do sol:
4º De Pelotas, RS: “Boa noite” (Barcellos)
Então tá combinado:
um coquetel de cápsulas
meia hora antes de deitar
que é pra não ficar pensando
na morte que nos assombra
nas carnes expostas em açougues
no perfume de teus cabelos
na amante secreta de Bertold Brecht
–
que trabalhava até tarde
numa estação de trem em Hamburgo.
Meia hora antes pra não pensar
nas asas dos abutres
no grito dos soldados
no eco das cordilheiras
no rosado de teus seios
nos camelos do Saara
na corda assassina
em torno de Herzog
no compasso do balé
no cheiro dessas ruas.
Pra não mais pensar
na lira dos anjos
no poema que Ricardo Reis
perdeu para um vento
– que o apanhou de surpresa
e o levou para sempre consigo –
nos santos das igrejas
em barcos à deriva
no piano de Villa-Lobos
nos riscos das florestas e rios.
Pra não mais ficar pensando
na solidão dos astronautas
e dos condutores do metrô
na saga dos cavaleiros
no berro dos torturados
nas flautas andinas
nas cenas de Almodóvar
no porto de Gdansk
no teu ronco surpreendente...
combinado então: boa noite.
5º De Brasília, DF: “Vida” (Maria Lis)
roubou meu calendário
calçou minhas sandálias de caminhar
estradas de sonhos, tomou de mim
minhas pessoas preferidas
os gatos que ronronavam no quintal
as plantas contra mau-olhado
pendurou sinos de cristal no teto
da varanda pra dançar salsa com a brisa
(e chamar felicidade
mudou o quadro de lugar
carregou minha cadeira de pensar pra perto
da janela escancarada do tempo
jogou fora o tapete mágico desfiado
comprado num brechó
e fez amor com o meu amor numa canoa
torta, no meio do rio [como se vê nos filmes]
lavou com xampu de lavanda
os cabelos cor de mate e se deitou
na rede de algodão, esperando o sono
não chegar
pra poder sugar a noite com olhos de estrela
de estreia
rompeu em madrugada
se drogou de orvalho
pulou o portão de trepadeiras
suspirou com jeito de ‘enfim
e desceu a rua assoviando
adeus, vou pra não voltar
6º De Jundiaí, SP: “Pequenas
poesias” (José Matsushita)
uma
folha
brinca
sozinha
dando
cambalhotas
de
outono
um caramujo
deixa um rastro de atrasos
sem se preocupar
com a pressa do mundo
atrás
do
arame farpado
uma
farpada rosa sonha
tornar-se
afago
uma semente de dente-de-leão
plana
paraquedista da vida
sem planos
um
riacho de silêncios
murmura
respostas
para
perguntas
não
feitas
o reflexo
da lua
em uma poça d’água
sonho de marés
uma
gaiola
vazia
guarda
voos
e o breve poeta abandona
as eternidades para a posteridade do
depois
e vive, antes do fenecer de sua hora,
a pequena poesia... do imenso agora
7º De Recife, PE:“Elegíaca” (Lúcio Beringer)
A palavra é a minha quarta dimensão. Clarice
Lispector
Segui os passos
da menina de
Tchetchelnik
Dez luas passaram
flechadas por Sagitário
Maçãs no claro
ofertam-se de tanta maturação:
ensanguentadas, reluzem.
Balançam lustres
em din-dlens de poeira
suja
Aqui
a Praça Maciel Pinheiro
circunda o Tempo
O casarão 387
é agora insípido e
laranja
(mas vi entre uma e
outra janela
a menina sorrir para
mundos distantes)
Longe
as esquinas de Nápoles
Berna Torquay Washington
(As esquinas do mundo
são iguais
quando punge à solidão
a lembrança de tudo que
fomos)
Corro pelos caminhos de
mais um solstício
a cidade ergue-se em
dóricas faiscantes
escaravelhos brotam da
terra
e no rosto eslavo
pupilas pulsam quasars
É por ti:
elevo-me à tua memória
Candelabros iluminando a
noite
o Kaddish arrebanhando
os perdidos como nós
– percorro os caminhos
da mulher de Tchetchelnik
O olhar oblíquo
A boca rubra
A safira no dedo
A Estrela de Mil Pontas
rompendo gargantas. É
Palavra
Aponta Sagitário mais
uma seta em riste
Agora, sabeis: no
coração selvagemente livre
Salve 9 de dezembro
8º Do Rio de Janeiro, RJ:
“Construção” (Henry James)
a palavra é adaga
a cortar os pulsos
contra ela
milícias bombas
são inúteis
canhões não têm vez
sequer mordaças
a palavra não se cala
grita ejacula goza
a palavra é adaga
fere, mata
mas também é espera:
seu tempo é todo o tempo
9º De Petrópolis, RJ: “(hall)” (Le Chat Rouge)
Entra, Magda, e olha por
onde anda, que o chão está
cheio de ossos
A festa está começando,
Magda,
e você já está entediada
Não repara no teto, que sofre de esquizofrenia
Nem no banheiro, que tem Alzheimer
e já não lembra
o que fizeram
nele
Não tem ninguém
Mas não estamos sozinhos
Aquele que pica pão na pia
veio só por você
Trouxe vinho e dividiu as compras
Ele se chama Thiago
Acho que se conhecem, Magda,
tenho certeza que se conhecem,
mesmo que você não reconheça
Aquela que chora enquanto rega
uma planta
não sabe meu nome
nem eu o dela
mas me perguntou no corredor
do açougue se eu podia ajudá-la
eu disse que sim
ela chora desde então
e inunda meus vasos de planta
Já é tarde, Magda
mas é sempre tarde
Usei os vinis como ralos de chuveiro
ou bandejas em que
vou servindo meu corpo retalhado aos
convidados que nunca convidei
Prova um pouco
Você sempre foi boa nisso
Eu sempre fui bom nisso
É por isso que estamos aqui
como navios que naufragam
Vi num documentário enquanto
você não chegava:
os navios não naufragam com pompa
ou rapidez, formando redemoinhos,
engolindo baleias
Naufragam devagar
Ficam horas
talvez dias
inclinados
caindo pouco a pouco caindo
sumindo como um sol
que se põe e é noite
sem nem que notemos
Me dá tua bolsa, Magda
Vou guardar no quarto
em cima da cama
Você conhece o quarto
você só não conhece quem dorme no quarto
Lembra de pegar a bolsa
quando for embora
Até lá
senta na única cadeira da casa
aquela encostada à parede
e
cuidado com a parede
que se recusa a emudecer
Acha que é memória
ou cisma que é esquecimento
mas na maior parte das vezes
se diverte segurando teu retrato, Magda
como um revólver
apontado contra meu coração
10º De Atibaia, SP: “JCMN
Tratado de metalúrgica” (Sub-versivo)
A João Cabral de Melo Neto
João, vivia de pedra,
engolia navalha,
cuspia prego.
Apertava parafuso com a caneta, e
esmerilhava o papel com borracha,
datilografava o pó da estrada, experimentava o poema-
marmita,
fazia virgula com vergalhão de aço,
e ponto final à marteladas.
Carregava a história na ponta da baio(ca)neta,
riscava delicadamente a pele dos outros, eriçava os pelos do
nunca nas terras da nuca.
Mantinha firmemente preso na morsa o verso de aço,
e no torno mecânico esculpia inescrupulosamente a culpa,
media o espaço vazio
-utilizando parquímetro- milímetro a milímetro.
No sindicato dos insatisfeitos fazia coro
ao defeito dos outros,
na defesa de
pequenas reformas
ortográficas, solicitava plus value e
apontava seu lápis como cúmplice.
Era um simplório operário
de letras, e com caneta em riste bradava ao patrão:
– Sou poeta.
11º De Campina Grande, PB: “Preto e Branco” (Josué
do Carmo)
Molhado,
nas minhas mãos, em prantos
lavando
silêncio e telhando
nascia
setembro – chuvoso –,
no beco de
casa; na rua vazia
nos
quartos de muro
com os
olhos pintados
de agosto.
(...)
12º Do Rio de Janeiro, RJ: “Censura” (Anderson
Council)
sobrou até
para os vaga-lumes
não pode
a bunda acesa
é contra
os bons costumes
13º De Florianópolis, SC:
“Embolia” (Morena do Espelho)
ela comia
dos pássaros a cabeça
:
asfixiada castrava
os próprios voos
...
cresceu com medo das aves
operava a vida em modo avião
:
costurava o amor
pelos moldes de revista
desaguava mágoas nos soluços
dos choros que engolia
...
na trama do vento
traçava poesia
e trançava os cabelos
a espera de um cometa
14º Do Rio de Janeiro, RJ: “Pré-Operatório” (C. Vasconcellos)
No preparo para a cirurgia paro e
penso na liturgia do ato,
nas rezas conhecidas, nos santinhos
de apoio,
para o fato de mãos alheias invadirem
meu ventre.
Por mais que eu me concentre em N.
Sra. Desatadora dos Nós,
Santo Antonio, Santo Expedito,
certamente
são os nós do endométrio em útero
miomático,
o cálculo matemático, simétrico que
faz seu próprio rito.
E me levam a carregar na maleta
hospitalar
os livros de Adélia, Elisa Lucinda,
Quintana,
suas sacanagens, lembranças, imagens,
além de minhas havaianas.
Deito na maca, por debaixo daquele
pano, nuinha
e a guriazinha que mora em mim há tanto tempo
ora pra que não tenha chegado a hora
definitiva de partir,
há tanto verso em sua conversa, tanto
poema por nascer,
que este útero indo embora não pode
interromper.
“Mãe Litinha, grita para a rapaziada
aí do céu
pra dar mais um tempo, que o advérbio
não é agora.
Tô ficando íntima do verbo, a rima já
virou
companheira, o poema é como coceira:
quando começa não há nada que o
impeça”.
15º De Uberlândia, MG: “Arte e vida severina” (à maneira de João Cabral) (Buriti)
Maneira de escrever que
eu pretendi:
não a escrita frondosa,
cheia de si.
Antes a escrita baldia,
reles, miúda,
que se aninha nas leiras
da lauda.
No papel (entre uma linha
e outra) disponho
– cão vadio,
vira-letras – o que apanho
no chão da minha vida
severina:
cacos, ciscos,
ninharias – o que de mim mina.
O lápis na mão, a mão no
papel,
traço o círculo de giz
que me contém.
De tão mínimo, nele, além
de mim, cabem
ruídos poucos do que vai
no carrossel
do vasto mundo. Só o que
escrituro:
palavras ao redor do
umbigo. E se
não posso outra dicção,
não me esconjure!
É a maneira de escrever
que consegui.
16º Do Rio de Janeiro, RJ:
“Guerra” (Alice Condor)
Ainda que
meu rosto
pólvora se desfaça ao lançar-se do corpo
e meus olhos se
desfaçam ao saltarem do rosto
e meu corpo se
desfaça ao mover-me sem porto
Ainda que
tantos gestos se
façam como pólvora em meu corpo
e tanta pólvora
se ache na mão morta do meu corpo
e tanto corpo
se mate frente a pólvora do rosto
Ainda que
seja de carne o
corpo
e a pólvora aço
e de areia o
rosto
me ergo pra além da matéria objetiva do morto
e lanço do alto
grave corpo absorto
17º De Varre-Sai, RJ: “Duas mulheres que temperavam” (Marcopolo)
I
Minha mãe proseava com as lagartixas.
Passei a entender certas linguagens esticadas.
Dizia, vem canário, e o amarelinho das penas se arrepiava.
O pé de chuchu só dava chuchu do lado de cá, era o olho dela orientando.
Daí eu caí doente, fui curado com beijos.
Tudo se curou assim, exceto as lombrigas,
Dizia, vem canário, e o amarelinho das penas se arrepiava.
O pé de chuchu só dava chuchu do lado de cá, era o olho dela orientando.
Daí eu caí doente, fui curado com beijos.
Tudo se curou assim, exceto as lombrigas,
quando sentei na cadeira de Padre Anchieta e ele me abençoou,
eu soube,
até vi seu retratinho com uma onça.
Quando minha mãe se foi, da roseira que plantou, nasceram
dezenas de rosas.
O vento soprou forte, o quintal se encheu das flores
despetaladas.
O jardineiro, pasmo, não conseguia jogar aquelas plantas no
lixo.
Como jogar fora uma saudade?
Do que guardou para si, em vida, encheu uma caixa de sapatos:
Do que guardou para si, em vida, encheu uma caixa de sapatos:
lembrancinhas de gente, mais nada.
A lagartixa sumiu, o canário sumiu, as rosas voltaram a ser raras.
Tantos queridos que se foram... As pessoas têm a mania de ir embora.
A lagartixa sumiu, o canário sumiu, as rosas voltaram a ser raras.
Tantos queridos que se foram... As pessoas têm a mania de ir embora.
II
Na panela de minha tia cabia a fome do mundo.
A vizinhança dizia: hum, que cheirinho bom!
Visitas não saíam de barriga vazia. E eu ganhava a rapa do angu.
Como o flautista de Hamelin, das panelas emergiam braços de aromas que nos agarravam pelo nariz. E no mês de maio – ah o mês de maio! – ela exorbitava:
A vizinhança dizia: hum, que cheirinho bom!
Visitas não saíam de barriga vazia. E eu ganhava a rapa do angu.
Como o flautista de Hamelin, das panelas emergiam braços de aromas que nos agarravam pelo nariz. E no mês de maio – ah o mês de maio! – ela exorbitava:
os melhores doces, porque era o mês da santinha dela.
E os potes se arrebentavam de cheios.
E não havia jeito, a gente, se pudesse, surrupiava algum no
meio da noite.
Mas, tão altos, em torres de marfim, o sonho não escalava as
escadas invisíveis.
Foi ficando velha, o tacho secou, o fogão apagou as brasas.
Foi ficando velha, o tacho secou, o fogão apagou as brasas.
E a gente disparou a crescer que não teve ninguém que
impedisse.
Mudamos de cidade, viramos gente de negócios, mercadores,
doutores.
Gente sem tempo. Não havia mais espaço para rapas de angu
e queijo assado na trempe.
E ela, ela mesma, foi se apagando, de tantas horas.
III
Um dia, e tinha que haver este dia, quando todos os
barquinhos que lancei nos rios voltaram, voltaram também boiando nas águas os
tabuleiros de quindins.
E vozes ao longe me chamando, José, vem beber o leite com
erva-doce pra gripe!
Acudi ao chamado, levantei-me da cama, abri a porta e nada.
Acudi ao chamado, levantei-me da cama, abri a porta e nada.
Quem?
Mas não obtive respostas.
Desde esse dia suponho que, no silêncio, nos cantos da casa...
Desde esse dia suponho que, no silêncio, nos cantos da casa...
Onde nunca vejo, nem sei onde fica...
Um rio leva e traz esses barquinhos de papel...
Transportando reis, rainhas, lagartixas e guerreiros de
chumbo.
E bolinhos de chuva, que eu não falei, com uma camada de
açúcar.
Deixo que trafeguem. E eles me lembram do que fui feito.
18º De Três Lagoas, MS: “Céu de concreto” (D. Fernandes)
"Mortos ao ar-livre, que eram,
hoje à terra-livre estão.
São tão da terra que a terra
nem sente sua intrusão".
(João Cabral de Melo Neto)
Para alcançares o céu de concreto sejas bruto
Sem distrações que te levem a amar
O sentimento sublime que te amansa
Joga-o aos lobos e o deixe sangrar
Para alcançares o céu de concreto, sejas mecânico
Feito de pura engrenagem e óleo
Não tenhas delicadezas, sejas profano
O mundo de osso não salva quem tem pacto com o azul
O mundo de cascalho não perdoa quem não sonha preto e branco
Se queres mesmo outro céu, sejas poeta
Mas saibas que o teu sangue vai virar tinta
Que o teu corpo será combustível da fumaça
Teu verso zombaria na praça
O teu intestino vítima de um cimento
A tua lírica te salvará por um tempo
E só nesse tempo não estarás enlouquecendo
Vais olhar pelo vidro sujo de uma ave morta
e verás lá fora uma marca destoante
Até no que concreto rachadura pare poesia
19º De Santos, SP: “Hereditária” (Natasha F.)
Luci quando criança
aprendeu a deitar no branco
dos versinhos e do olho
Ainda criança
trepidava com os sons
formava frases como:
a lua comeu o dia e ficou cheia.
o mar lambe os peixes e cospe ondulado.
o cego tem os olhos de todos.
tomei banho de chuva e gotejei o riso.
Mãe Vera, aflita dos fios aos ossos
levou Luci, já beirando a mocidade,
ao doutor Raul.
“Minha filha é torta” diz-lhe, vaga
“Coxa?” pergunta, entendido
“Entortada pro quando”
Exames realizados
O rosto grave do doutor
estampa em mãe Vera o medo
(Algumas coisas precisam ser jogadas na cara para serem
digeridas)
Diagnóstico: inclinação pros pormenores;
Sobressaltos com palavras novas;
Sensibilidade em altas doses –
Minha senhora, serei breve
Sua filha nasceu virada pra poesia
Mãe Vera desiludida, cospe dor
entre lágrimas salgadas.
Sai do consultório e no pé da orelha
da poetiza, põe um adendo:
“Promete-me que teu verso será mais belo do que o meu?”
20º De Curitiba, PR: “Travessia de Van
Gogh” (Chatecutle)
Quebrada a realidade do mundo,
inicia a travessia nos braços da loucura.
Seu hálito criativo, sem fragilidades,
imprevisível,
súbito,
rasga padrões e, longe das fórmulas da simetria,
estende cores sobre a tela desafiando regras.
Em Arles,
recursos de luz e sombra nutrem seu instinto
mas, longe da razão e da ternura, deprime-se.
(Ao anoitecer o amarelo envelhece,
as pétalas
declinam,
as farpas da solidão murcham os girassóis cortados).
21º De Riachão do Jacuípe,
BA: “Chamado” (Tom Ruiz)
Em Tóquio, um homem
escreve um poema:
Fantasmas transitam
na calçada da fama.
Todas as luzes se
acendem em Paris.
O universo conspira
contra os Vikings.
A mulher tem
orgasmos múltiplos.
O disco voador pousa
em Londres.
Três mariachis
cantam em Florianópolis.
Crianças morrem no
oriente médio.
O robô japonês salva
a humanidade.
O presidente do
Chile envia um SMS.
Duas mulheres se
beijam em Chernobyl.
O vampiro ataca a
mocinha indefesa.
Moisés divide o mar
vermelho em dois.
Elvis canta Love me Tender na rádio AM.
O cowboy mata mil e
oitocentos índios.
Romeiros escalam
milhares de degraus.
Em Tóquio, o poeta
para de escrever:
O mundo inteiro para
junto.
22º De Salvador, BA:
“Lírica Berreta”(Augusto da Maia)
nem rima rica nem prima pobre
move o poema
sem tema ou bula
retira a burca
mais vale a trama
tabuleiro de dama e drama
apesar da fome ou forma
que consome
obra e homem
segue sóbrio e sombrio
assombrado com a própria
sombra
das fontes: o dado ou dadá
bebe
não se embebeda
rio contra-corrente o leva
navega
sem bote salva-vidas ou vela
sabe que não basta forma
ou fôrma
poema não é questão
de transe, mas de transa,
transito tenso e babélico
entre o belo e o bélico
23º De Taguatinga, DF: “O
homem por dentro” (E. Antunes)
Conhecer as encostas
neste mar de cascalho
onde proliferam lágrimas
e risos de condição humana
nesta pequena aventura
que recomeça a cada dia.
Homem: por dentro a
prisão da carne
ou a liberdade do grito?
E ressurge como os capins
o impacto da pedra
na
fronte.
Quisera ser os pastos
de bois e pássaros
e pragas e conhecer
cada pequeno existir
cada fuga de carne mínima,
cada centímetro
de ruptura e colisão,
como numa caçada
de
falcões.
O homem por dentro:
ser posto no mundo,
largado no mundo feito coisa,
painel de guerra
e
fúria.
Como ouvir este silêncio
escondido sob
os ventos do turbilhão?
Homem: coração
de
pedra e carne. Homem: leão, rato,
palavra.
Desígnios do mundo
de terno e gravata.
Conhecer tantas faces
dentro da face, qual trama de
mar e tinta abjeta, escrevendo as memórias
do porão.
Uma concepção de paraíso
debaixo das pernas
do tempo.
Bandeiras de derrotas
e vitórias
crescendo como
pendões de milho
nos campos minados da solidão. E a palavra homem
criando personalidade própria como mosca nascendo
do barro:
criação!
Mas não é só isso: há
também a foice recurva,
que reclama o pescoço,
as notícias de amor
e morte
vindas de longe,
muito longe,
pelos fios de cobre,
ondas do ar.
Receio de dizer
quanto ainda resta
de homem no dicionário e no zoológico,
quanto resta de homem
na memória dos bichos,
nas pegadas da lama,
nos dentes da lua,
nos ossos da solidão?
24º De Curitiba, PR:
“Barbitúricos”(Perez)
Sobre o prato talheres,
Movem-se como ponteiros,
Ervilhas marcam minutos inteiros,
Sem fome o que resta são desprazeres.
Copo cheio de sangue – sede,
Cada gole esconde medo e rancor,
Mesa ex-posta, olhar de torpor,
Dionísio se ausenta do quadro na parede.
Não há banquete na sala morta,
Ruídos somente de pratos e facas,
Copos se esvaziam e nada conforta.
Vida rasa evoca anorexia,
Punhos abertos – apatia sádica,
Em transe, Cassandra anuncia.
25º De Vancouver, Canadá:
“Azulejos no Céu” (Carla Soares)
Os brincos na orelha pesam
Como papel de parede ondulado.
Quer construir uma casa nas nuvens
Onde o azul caiba em caixas redondas.
O marido se cansa ao reclamar da vida.
E acha incrível que possam estar juntos até hoje.
A parede da cozinha está desbotada
E a alça da mala, quebrada.
Juntas, fazem um par.
Pontiagudos, deitados na areia salgada,
seus pés caminham de sapatos pretos
Numa outra direção.
O marido passa pela cozinha, sai,
E por um instante ela acredita ver azulejos
Lapidando as falhas do céu.
26º De Carapicuíba, SP: “Rua México” (L. M. Brancuci)
Lola e Bel lambem-se
lambiam-se
e jogava-se futebol no campo minado de cocô
de Lola e Bel com cheiro de bafo de
pedro que gritava.
A rua vazia
e parada
feita de pedra
pedindo brigadeiro de mãe de gabi –
que pulou nove meses atrás da janela.
pedindo pedra que viraria erva
Inverno –
Verão
O sol carnudo e o campo de futebol durando até mais
tarde
Aberto
não triangular: não apontando um caminho
apontando o azul e de repente
tarde
mesmo que mudou
não é azul tudo
menos azul
(mais virginiana)
mais e mais virginiana
como Lola e Bel nas tardes de domingo
vivendo à toa suas vida já ganhas e já perdidas
pelo tempo feito de rua méxico
– empedrado
Titia licinha vai morrendo sentada, amarela
na varanda toma uma bolada na cara e diz –
as mãos estão sujas de carvão
De novo o futebol fodendo as vidas sofridas
com dor física de corpo encarnado
Lola e Bel brincavam-se
e brincavam como os carinhos de gabi
os socos de gabi
as mãos
os dentes os passos
pezinhos nus sujos de terra
indo embora
Pensava que era pede
e não pé de moleque (e duvidava) talvez não soubesse ler
ainda.
27º Do Rio de Janeiro, RJ:
“Cama, mesa e poesia” (Flora)
Misturar massas
é misturar corpos
Primeiro vem a farinha
Alquimia
de olhar que cruza
chamando para dançar
Adiciona-se manteiga e açúcar
Docemente batendo
como mãos que se encontram
nas preliminares rítmicas
O fermento no ponto certo
Cuidado com o clima
com a rima
com o movimento
A liga final
fica por conta dos ovos
Luminosos
e quase voláteis
quando ainda quietos
A massa se apura
quando o morno leite
se mistura
como a rasgar o ventre
jorrando magma corpóreo
Lava que fertiliza e reanima
Alimenta!
Depois de pronto
a calda quente
é beijos que tingem
o tecido da pele
Doce sabor que amarra
explode e desamarra
Liberta!
28º De Santos, SP: “Guardanapo” (Granville)
Guarda-roupa, guarda a roupa.
Guardanapo não guarda
lugar
Não monta guarda
Mas que diabo ele
guarda?
Guarda-roupa, guarda a roupa.
Fim.
Guarda-sol guarda o
sol
Guarda-chuva guarda a
chuva.
Não! Espera aí...
Como assim?
O guarda da rua guarda
o trânsito
Monta guarda parado,
Não em trânsito.
Mas, de nada guarda o
guardanapo.
Nem monta guarda
Nem guarda lugar
Muito menos guarda o
napo
Mas, que diabo é napo?
Guardanapo limpa a
boca,
Limpe a sua
E fim de papo!
29º De Brasília, DF:
“Trinta e cinco” (Palavra Grávida)
É
sempre este medo amargo
de
morrer sem filhos
e
esta culpa infinda
de
não querer tê-los.
Decreto
uma pausa
–
menor, de mais 30
entre
esta idade e a menopausa
Empatam
o instinto da maternidade
e
o egoísmo estéril que se sustenta
Talvez
a morte, grande parteira,
me
caduque o ventre antes do grito.
Ou
o choro ardido de um grão-rebento
estanque
ainda tal meu impasse.
Será
que há tempo?
30º De Belo Horizonte,
MG: “Faça amor nu” (Zack Magieizi)
Quando for fazer amor
Faça nu
Tire os diplomas
O status
O sucesso profissional
As suas etiquetas de grife
Tire as chaves do seu carro
Os cartões de crédito
Tire tudo
Até sobrar
A deliciosa
E apimentada humanidade.
31º De Valencia, Espanha: “Carajás” (Carita Burana)
Em Carajás não se ouviram os tiros
que cantaram na rodovia de um só
destino...
sonhando com as terras roubadas
estavam as foices dormindo
sonhando com as terras roubadas
estavam as foices dormindo
encapuzado chegou o vento
disparando a queima-roupa
deixou dezenove tumbas
e a certeza de quem sempre
apanha
em Carajás a injustiça abriu
os seus braços
quando o sonho da foice foi
enterrado
por leis que condenam os já
condenados
e purificam os verdadeiros
culpados.
32º De Franca, SP: “Patchwork” (Peramorim)
Cá com os meus botões
Alinhavo sentimentos rotos
Num emaranhado de cores
Desafiando o tempo e as diretrizes
Abarrotadas de promessas descumpridas
Cinzas de um carnaval vencido
Sem data
Sem valia
Com linha de cor forte
Cirzo as emendas do ontem
Num tecido fino de espera.
Desenho arabescos
E sigo o ponto atrás das correntes
Sem nó
Sem dó
Cá com as minha dúvidas
Teço os dias e desfaço as noites
Com agulhas impiedosamente cegas
A rotina sangra-me as mãos
Sangrando continuo
Sem prumo
Sem rumo
33º De São Paulo, SP: “Ex(Comunhão) (Bianca Velázquez)
Partilha abrupta de um juntar
de nadas
cada qual com seu punhado
de sons mudos
(e roupas ao vento)
inventário triste de um amor
no sereno
Partilha abrupta entre o
abrir e fechar de gavetas
roupas rasgadas, bocas secas
Caminhos estreitos em sol
profano
muros altos, jardins
arrancados
― outros planos
Partilha de medos e
desenganos
Partilha abrupta de um
juntar de nadas
chaves entregues, portas
fechadas
e janelas abertas
34º De Trofa, Portugal: “Face Escura” (Beijamin Sano)
A noite não estava
fria
no entanto tudo tremia
em teu corpo onde já
nenhum medo existia
não havia dores ou
erros
só as nuvens e as
pontas
dos teus dedos em
baixo
das minhas pálpebras
teus dedos a
tamborilar
desgraças em meu
coração
a fazer-me cócegas
a puxar-me os cabelos
a noite gritava nas
cavidades
nas dobras da cortina
do chuveiro
a noite não estava
adormecida
na epiderme da lua
sólida
a noite apenas doía
seca
nos dentes sensíveis
a noite brincava
distraída
com as tuas gengivas
como se fossem bonecos
vodu
a noite deseja a tua
língua
em todos os orifícios
da superfície da lua
úmida.
35º Do
Rio de Janeiro, RJ: “Rotina” (H.G)
um
gordo mastiga de boca aberta um pacote de batata Ruffles
um americano
pergunta pra um brasileiro
que não entende inglês
se falta muito pra chegar
na Siqueira Campos
uma adolescente
ouve um rock meloso
com headphone
no último volume aos prantos
um velho tosse e engole o catarro
enquanto lê os classificados
da semana passada
venda e compra de carros
uma criança chata
faz pirraça por um motivo qualquer
uma moça ridícula
fala mal do marido da irmã em voz alta
e repete o tempo todo que em briga de casal não se mete a colher
dois caras falam sobre futebol
um rapaz do interior
que nunca tinha andado de metrô
sonha com um lugar ao sol
um bebê tão lindo
dorme no colo da avó
uma voz pede desculpas
pelas freadas bruscas
e eu fico com dó
dessa vez que antes
de ser desculpada
é mal paga pra pedir desculpas por mais uma freada
uma dona de casa
pensa no preço da carne
uma atriz conhecida
causa espanto por usar um transporte tão popular
o resto do vagão
segue vidrado nos seus smartphones
e a rotina se encarrega de continuar
sozinha
sigo meu rumo
com inveja de todos os passageiros
amanhã Alonso
faz aniversário
e não sou eu quem vai levá-lo
pra jantar
amanhã a vida será igual a hoje
sem graça
sem cor
onde minha tristeza
causaria piedade
até na pessoa mais fria desse metrô.
um americano
pergunta pra um brasileiro
que não entende inglês
se falta muito pra chegar
na Siqueira Campos
uma adolescente
ouve um rock meloso
com headphone
no último volume aos prantos
um velho tosse e engole o catarro
enquanto lê os classificados
da semana passada
venda e compra de carros
uma criança chata
faz pirraça por um motivo qualquer
uma moça ridícula
fala mal do marido da irmã em voz alta
e repete o tempo todo que em briga de casal não se mete a colher
dois caras falam sobre futebol
um rapaz do interior
que nunca tinha andado de metrô
sonha com um lugar ao sol
um bebê tão lindo
dorme no colo da avó
uma voz pede desculpas
pelas freadas bruscas
e eu fico com dó
dessa vez que antes
de ser desculpada
é mal paga pra pedir desculpas por mais uma freada
uma dona de casa
pensa no preço da carne
uma atriz conhecida
causa espanto por usar um transporte tão popular
o resto do vagão
segue vidrado nos seus smartphones
e a rotina se encarrega de continuar
sozinha
sigo meu rumo
com inveja de todos os passageiros
amanhã Alonso
faz aniversário
e não sou eu quem vai levá-lo
pra jantar
amanhã a vida será igual a hoje
sem graça
sem cor
onde minha tristeza
causaria piedade
até na pessoa mais fria desse metrô.
...
Em
que estação vou permitir que minha vida
perca
o metrô?
36º De Belo Horizonte, MG: “dessas noites em que estava lavando pratos”
(Godoy)
o detergente faz espuma na pia
os pratos ficando limpos no escorredor
os pensamentos sujos quero um cigarro
uma música um blues o céu escuro
meus gatos escondidos em silêncio
duas taças de vinho quase cheias
os pés no chão e pálidos
uma janela uma luz acesa do outro lado
as garrafas de vinho abertas e vazias
leio os rótulos e penso num poema
um inseto esquisito vindo de outro lugar
voa em torno das garrafas vai até a luz e volta
o tempo não tem pressa meus olhos o seguem
os pratos vão ficando limpos
os pratos ficando limpos no escorredor
os pensamentos sujos quero um cigarro
uma música um blues o céu escuro
meus gatos escondidos em silêncio
duas taças de vinho quase cheias
os pés no chão e pálidos
uma janela uma luz acesa do outro lado
as garrafas de vinho abertas e vazias
leio os rótulos e penso num poema
um inseto esquisito vindo de outro lugar
voa em torno das garrafas vai até a luz e volta
o tempo não tem pressa meus olhos o seguem
os pratos vão ficando limpos
e paro meus olhos na água que escorre
pego uma taça e dou um gole
acompanho o blues num inglês ruim
o inseto se vai e bebo mais
olho a noite escura os pratos brancos
alguém me espera no sofá
"estranho pensar no abandono de toda ambição"
acompanho o blues num inglês ruim
o inseto se vai e bebo mais
olho a noite escura os pratos brancos
alguém me espera no sofá
"estranho pensar no abandono de toda ambição"
37º Do Rio de Janeiro, RJ:
“Brinde (ao soneto...)” (Passos)
Aos que, em transe extremo ou rarefeito,
Análogo aos pudores dos demônios,
Miram, com aguilhões débeis e errôneos,
O talismã que trago sobre o peito,
Oferto, num festim de ébria ambrosia,
Um verso liquefeito em faux
perfume
Cujo tom nacarado que então assume,
Numa densa cadência, escoa e extasia;
E ao incitar-lhes um refluxo amargo,
Cujo aroma guarnece meu acre encargo,
Saciando-me de insípida altivez,
Hei de fixar-lhes tão enrugada tez,
Que brindarei silente – assim prometo –
À frígida doçura de um soneto.
38º De Goiânia, GO: “Vida” (Flor
de Lisbela)
Na hora que você menos espera
aparece
Aparece a vida que te resta
O pensamento contido
O inconsciente
O indivíduo
O passado
O presente
O intermitente
O inerente, o contínuo
Aparece e depois desaparece
A areia, a ampulheta, a sua pequena vida.
Aparece a vida que te resta
O pensamento contido
O inconsciente
O indivíduo
O passado
O presente
O intermitente
O inerente, o contínuo
Aparece e depois desaparece
A areia, a ampulheta, a sua pequena vida.
39º De Conceição do Mato
Dentro, MG: “Alicerces Suspeitos” (Neneco de Bintim)
De pisar o absurdo
meus pés andam calados
preso às alpercatas
rotas, arrochadas do destino.
Errático por caminhos
que outras línguas palmilharam
vou desbravando rochas em rotas
trespassadas de antigos sangues.
Orbitados ainda, meus dias iguais,
de palavras vis que em vão
alcei à lua num canto-uivo
de último cão danado.
Serão delas a matéria pútrida
com que calcarei meus alicerces
mais suspeitos,
tão movediços os caminhos.
Sólidas somente as culpas
em trilhá-los nu à luz da vida.
40º De Osasco, SP: “uma
serenata” (Luiza Caetano)
Dou-te
a tarde e a noitinha
A noitinha do interior
da casinha de chácara
que se acende em lampiões
quando deus apaga o dia
e pendura no céu
o tapete aveludado das estrelas
onde meus olhos dançam
em sonhos etéreos de liberdade
daquela liberdade
que o amor antigo
aviva na vida comezinha:
A noitinha do interior
da casinha de chácara
que se acende em lampiões
quando deus apaga o dia
e pendura no céu
o tapete aveludado das estrelas
onde meus olhos dançam
em sonhos etéreos de liberdade
daquela liberdade
que o amor antigo
aviva na vida comezinha:
Eu
te amo,
costuro as palavras
você cozinha a sopa de letras
costuro as palavras
você cozinha a sopa de letras
e
respiramos versos.
41º De Belo Horizonte, MG:
“O Culpado” (Renard Diniz)
Relâmpagos berram trovões tenebrosos;
do céu, saraivadas despejam-se brutas;
à rua, enxurradas carregam gomosos
detritos de noites drogadas e putas.
Na trilha que leva ao covil dos gulosos
festins genitais e corpóreas permutas,
embatem-se olhares mordazes, fogosos
vendendo barato seus picos e grutas.
Enquanto a voraz tempestade castiga,
o moço atolado na culpa inimiga
procura outro réu que o conceda prazer.
Cansou-se,
afinal, de sentir-se bandido
por
ter diferenças na própria libido;
agora
é gozar e gozar e morrer.
42º De Vinhedo, SP: “A musa
de Caetano” (João Gilda)
E abriu o carnaval
E a coca
E as pernas
Tudo ao mesmo tempo, tempo, tempo,
tempo
Arregalada e crua como se fosse de
mais ninguém
Gengivas nossas, amor sem par
E fechou a geladeira
E a cara depois do tapa
E os ralos depois de mim
(– Aceita um café?)
Por hora mais nada
Só sorrisos de nanquim
E, por fim
Laiá laiá
(- Aceita um café?)
(- Aceita um café?)
43º De Americana, SP: “Poema-labor”(Onaira)
Gosto de poema-pimenta,
Aquele que a língua esquenta,
A víscera arde em prece
E nunca mais se esquece.
Gosto de poema-tormenta,
Aquele que ondeia, mareia
E, no viés do meu convés,
Não se sabe se é sorte ou revés.
Gosto de poema-bala,
Aquele que é tiro e queda
– abala, vara, queima –,
Ou lambuza como deliciosa guloseima.
Gosto de poema-labor,
Aquele em que se trabalha,
Batalha, risca, passa a navalha,
Independente do prazer ou da dor.
44º De Jundiái, SP: “Paisagem” (Teixeira Neto)
A avó cega balança
Na cadeira
Ruminando rezas
O gato ronrona, as moscas voam, e a
panela
Parece Maria fumaça.
Da menina brotam formas vivas
Enquanto a pera agoniza na cesta.
As flores cantam.
Até mesmo a chuva
Ameaça a vida
Tamborilando nas folhas de bananeira.
A luz úmida vem da janela
Para machucar a carne
Da mesa
Os pães frescos
A fumaça lenta do café.
E eu escrevo versos
Buscando conter as águas
Ai, as águas que movem
moinhos
Enquanto a pera ri de tudo e de todos
45º De Aracaju, SE:
“Ouvindo vozes e estrelas”(Kay)
Decerto, perdi o senso!
E perdi o incenso
E a roupa
Perdi o cigarro
O celular
Agora não quero mais fumar
Nem amar para entendê-las
46º De Ipatinga, MG: “Riqueza
de memória” (Tatu triste)
Não lembro o que comi
no almoço ontem.
Lembro-me perfeitamente
do livro que li.
Viagem benfazeja...
Alumbramento...
Reverberação...
Nas páginas do tablet.
Não sei o número do CPF, RG e PIS.
Recordo-me bem do beija-flor
que visitou a minha sala
e do riso encantador
da criança desconhecida,
querendo colher a rosa
estampada em minha blusa.
Não consigo me lembrar
quanto recebi por um trabalho,
na semana passada.
Sei que fiz bem feito,
com esmero e prazer.
Esqueci
quanto paguei de telefone,
mês passado.
Consegui cantar “Travessia” inteirinha
sem errar a letra,
sem desafinar!
Não sei que dia vence
a prestação do microondas,
mês que vem.
Sei que haverá uma superlua,
será primavera, vou à praia
e vou de trem,
mês que vem.
No porta-joias da memória
guardo o aroma do café fumegante,
transbordando reminiscências...
Mimos maternos, alianças eternas.
O doce dos lábios extasiantes.
O afago dos abraços.
Histórias de vidas entrelaçadas
em colares cintilantes.
Quanto às coisas práticas,
têm os blocos de notas,
as agendas eletrônicas.
Para isso servem os computa(dores).
47º De São Gonçalo do Piauí, PI: “Toalha
de mesa”(Robert Leza)
puxou a ponta do fio
e retomou o fôlego
para reconstruir o novelo
(a dor e o calo já estavam refeitos)
a agulha, levemente torta,
por vezes parecia um dedo gasto,
camuflado
fosse o que fosse, tudo se deu
por um gancho a mais
um gancho a menos só exigiria arte.
48º De Caxias, MA: Poema em maranhês (Carvalho Jr.)
Para José Neres
a língua do maranhense,
em Jesus abençoada,
banhada em guaraná,
é cheia de hem-hens!
língua que faz
cosquinha nas costas
de paquinhas,
tem um gostinho
de gongo assado,
de peixe no cofo
pescado,
de manga de vez
com sal e pimenta
(do reino),
de arroz cangulado,
no quibane/quibano
(que bando de gente!),
com algumas escolhas
no meio do prato...
língua que cata feijão,
degusta toda sorte
(de fruta),
ranga Maria Isabel,
improvisa um café
com leite e cuzcuz
numa espécie
de almoço jantarado,
puxa pro bucho
um belo cuxá,
abocanha até capitão!
esbarra ainda,
seu Zé Ruela,
deixa de fazer fuá,
deixa de a vida
(alheia)
tanto curiar...
sabes tu me responder:
quantos abalroamentos
em uma barruada há?
enquanto vais pensando,
vou bater uma bola
no campinho e
ganhar muitas barreiras...
éguas, égua-te!
ele errou um horror
de passes e chutes,
mas viu o gol do Juninho,
o magrelo perna de sibite?
vai ter sorte assim
lá na Chechênia!
49º De Dois Córregos, SP: “A
captura no mangue” (Ed Lamas)
Os dedos que tateiam a lama
Os dedos que tateiam a lama
às
vezes se confundem
com
o próprio caranguejo
Andam
de lado ou param
negaceando a caça
e
nesse instante seria natural
um
caranguejo imaginar-se
ao
lado de outro caranguejo
e não
de
dedos prontos para puxá-lo
ao seu limite de dor e medo
O
odor humano
é
mais intenso
/ íntimo
ao mangue
do
que o odor de caranguejo
E
nem o ocaso desse molusco
levará
consigo
o
esquadrinhar incessante no mangue
- o coar o barro
que
há de persistir
até os últimos pés
mãos
até os últimos dedos
50º De Bauru, SP: “Se eu
fosse um poema” (P. Celan)
Se eu fosse um poema,
deixar-me-ia sucumbir à liberdade dos versos
ou à tentadora armadilha das rimas.
Enxertos de prosa seriam bem vindos
sintaxes distorcidas, talvez.
Seria assindético ou polissindético
e nadaria de braçada no caos das conjunções.
Se eu fosse um poema,
seria uma medusa a ostentar
versos e serpentes
e petrificaria
os leitores mais desavisados.
Se eu fosse um poema,
gostaria de caber na ponta de um alfinete
ao mesmo tempo em que, sentado na lua,
eu pudesse balançar os pés no universo.
Se eu fosse um poema,
seria concreto
sonoro
pulsante.
Seria calmo,
seria inquieto,
como um paradoxo no espelho.
Se eu fosse um poema,
seria uma ode de Píndaro,
um soneto de Petrarca
ou um haicai de Bashô.
Seria todo o consolo metalinguístico
infinito,
silencioso,
que abre fissuras nas horas.
Simulacro de sentido.
Se eu fosse um poema,
seria desembaraço,
seria coloquial.
Seria pintado,
mimeografado,
fotocopiado
articulado e reticente.
Se eu fosse um poema,
abusaria das anáforas
verteria aliteração.
Seria cratílico,
idílico,
itálico, etílico,
hiperbólico.
Se eu fosse um poema,
não me importaria em ser jogado ao muro
estampado em faixas de tecido ralo,
tapumes disformes
ou impresso na terceira margem do tempo.
Se eu fosse um poema,
esfregar-me-ia nas folhas em branco
até que o sêmen do lirismo penetrasse
o invólucro do vazio.
Se eu fosse um poema,
sobreviveria aos que ignoram poesia.
51º De Porto Alegre, RS: “Sussurros”(Valente)
Há uma voz infinita
em toda palavra morta
busco nas vertentes
na galharia torta
nas sementes
o eco
quem sabe encontre nos charcos
nas tumbas ou nas taperas
no começo de outro mundo
vagando
no vazio imenso
o verso
52º De São Paulo, SP:
“Bicho Sem Duas Cabeças” (Heccos)
A fome na boca do lobo...
assim que a baba escorre pelos dentes
o carneiro se infiltra sorrateiro
nessa simbiose se notava
a boca murcha a fome censurada
a baba a ressecar na língua pensa
o pelo arredonda o cio
a fome toda engarrafada a vácuo
dividida por sonhos e talheres
a fúria no sangue virtual
coagulando fundo o olhar castanho
e a pena de um gemido intermitente
53º De São Paulo, SP: “presa” (Ovideo)
só possuímos
o que parte
não somos
foz de nada
e as coisas
não têm
ouvidos
por isso
não ouvem
ao serem
chamadas
tudo
apenas passa
logo após
ter dado
o ar da graça
e sempre
nos resta
este apego
pelo que a vida
finge que dá
mas só empresta
se hoje
não abro
as mãos
é por medo
de perder
os dedos.
não somos
foz de nada
e as coisas
não têm
ouvidos
por isso
não ouvem
ao serem
chamadas
tudo
apenas passa
logo após
ter dado
o ar da graça
e sempre
nos resta
este apego
pelo que a vida
finge que dá
mas só empresta
se hoje
não abro
as mãos
é por medo
de perder
os dedos.
54º De Porto Algre, RS: “Valsinha da beira do cais” (Andrea Stoppa)
Eu não te
amo, covarde,
mas dentro de
meu peito arde
a paixão que
em mim quiseres.
Sou bem mais
que mil mulheres
sem fazer
nenhum alarde
— a não ser
aos que me pedem
por gritos no
meio da tarde —
e sei fazer
como poucas
a cara
estranha das loucas
e a voz rouca
das devassas
— sem que
para isso faças
mais que
pagar meus serviços.
Guardo mais
de mil feitiços
neste meu
corpo esgarçado:
esquecerás
teu pecado
quando disser
que sou tua
na eternidade
de um dia,
no calor da
noite fria,
no império de
uma rua...
E enquanto
brincas de dono
em minha
carcaça nua,
eu brinco de
virar lua
para
disfarçar meu sono,
sonhando que
sou inverno
para esquecer
o inferno
de ser este
triste outono.
55º
Hoje descobri apavorado
Que meu carro não era mais de
plástico
Minha casa na árvore, um quarto e
sala espremido e sombrio
Meu trenzinho de madeira, um de
alumínio, enorme, sob a grande cidade
Meu avô, uma lápide
Minha conga, um sapato italiano,
encerado
E minha capa de herói, uma forca
gravata
Descobri meus amigos de bairro,
países distantes
Os meus pais, solteiros
Minha cabana no quintal, um
escritório sufocante
E os domingos feitos de parque, um
sofá oco de gente
Hoje descobri que o menino se foi
Despedi-me dele mirando o espelho
Foram-se todos e tudo tão rápido
Como se o tempo houvesse brigado
comigo
56º De Pelotas, RS: “rebenque” (Dani Mo.)
um certo Caboclo DaMatta me disse
que um tal de Simões Lopes Neto
deixou escrito numa nota promissória
que o rebenqueador
"O rebenqueador..., eram os olhos!"
então me pus a pensar
ainda arrepiado
arredio a qualquer chibatada
que se o rebenqueador eram mesmo os olhos
meu amigo Caboclo
a lágrima era a pele marcada
deixou escrito numa nota promissória
que o rebenqueador
"O rebenqueador..., eram os olhos!"
então me pus a pensar
ainda arrepiado
arredio a qualquer chibatada
que se o rebenqueador eram mesmo os olhos
meu amigo Caboclo
a lágrima era a pele marcada
57º De São Paulo, SP: “sobre volta ou um breve poema de recordação de encontro com a cidade de
trás” (Antônio Pina)
depois
de cinco meses
retorno
à terra dos velhos equilibristas
onde
não se deve estar
sozinho
à noite quando começa
a
esfriar pois somos lentos demais
para
fugir
inumeráveis
possibilidades de energia
quem
pode saber como será
realmente
o que está
por
vir andamos por aqui a
moer
cães e na calada da noite
construímos
paisagens à revelia da chuva
que
insiste em tingir de céu todo o azul
nós
não estamos preparados para tamanho erro
de
cálculo geográfico
quando
há no mundo inteiro uma, quando muito
rua
difícil de encontrar.
58º
Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam.
(epígrafe de “A Viagem do Elefante”,
de Saramago).
não é o peso de minhas pernas
que determinam a viagem,
: mas o peso de minhas pegadas
impressas no chão
desmanchadas
o chão imprime nos meus pés o peso dessas marcas
dessas marchas
é esse chão que piso e peso
,dentro,
e guardo.
desse chão que vivo
nesse chão permaneço
e esvaneço.
à partida,
entregar-se
com todo o fôlego vindo
do medo e da vontade
(o medo sempre anterior às vontades
ou tão perto delas
a confundir-se)
indo
o caminho
é o cansaço
na andança
(e existem outros caminhos?
a que levariam outros caminhos?
os caminhos são só um
aquele percorrido
e aquele a percorrer-se)
e a distância entre cada passo
um infinito não-ter-chão
até o próximo passo
até o próximo infinito
até o próximo pedaço de chão.
à chegada,
o estar
− e onde é que se chega? −
e o não mais estar.
(tenho os pés todo machucados
de tanto mantê-los no chão.)
e sempre um passo além de onde se é chegado
espera a esperança
a utopia:
em cada passo
desloucar-se
ou ter-se desloucado.
59º
Comprei um amor
manequim
Tinha teu corpo, eram as tuas costas
pernas milimetricamente as tuas;
finas e compridas
Os cabelos, eu juro:
Bem postos ao gosto dos teus
Terno e gravata
Eram o furo;
O rosto plástico dos olhos musgo
Que vidravam os meus
Hoje não acordei nos meus melhores dias...
Tudo dói, até os ossos
E então chovia.
Vento. Calçada.
Tanta pressa, tanta saudade
E de repente o manequim,
Ali, sem urgência nem maldade
Sem carne para rasgar
nem osso para doer.
Saudade: Osso duro de roer.
Eu, roendo ossos,
corroendo chuvas,
correndo calçadas...
E de repente o manequim, entende?
Parado no tempo
Todo vontades...
Mas ainda assim, detrás do vidro
Sem arara cupido, não havia outras verdades:
era tão somente você dentro
e eu fora. E eu fora.
60º
qualquer coisa assim que nos
permita
viver como quem vive
apenas
isso não nos basta
talvez nem nos distinga de
abstrações
perdemo-nos do embaraço da
origem
pela a aparência que deveras
temos
aqui estamos
e ouvimo-nos sem ar à volta
presas de algo que nos une
incomunicáveis
mas ouvindo
quem nos trabalha não sabe
que estamos
sobretudo
sobre todos
até que outra forma devida
nos suceda
61º De Pavia, Itália: “Não quero mais” (Longobardo)
Não quero mais
ver crianças vendidas
No mercado da
guerra,
Não quero sentir
o gosto acre do sangue
Entre meus lábios
apertados.
Não quero
sumir-se
Da tua casa na
noite
Sem saber si
amanhã
Ainda hei-de
ver-te.
Vamos um dia nos
dar a mão
E irmos juntos a
Samarkand,
A cidade com as
cúpulas douradas,
Rica de panos, de
ouro e camelos.
Nada poderá nos
parar,
Nem o engano das
reflexões
Sobre as caudas
dos pavões,
Nem o trovão,
distante no horizonte.
Quero caminhar de
frente alta
Numa praia a
beira-mar,
Ou nas dunas do
deserto,
Com o sol
deslumbrante
E crianças em
redor de mim,
Brincando e rindo
felizes.
Será uma longa
caminhada
Sob um céu de
turquesa e lápis-lazúli,
Na brisa quente
que vem para baixo
Das montanhas do
norte.
Caminhe entre os
córregos alegres
Do Jardim do
Éden.
Só deixa-me pegar
um pêssego
Da árvore do bem
e do mal.
Na margem do
grande rio,
Contra a luz do
horizonte
Vermelho no pôr
do sol,
Quero ver airões
pescando
E não ouvir mais
o sibilo
Das balas
traçadoras.
Samarkand no
final da viagem,
Já não é a
lendária cidade.
O ouro apagado, o
mercado calado,
As casas sentindo
o peso dos anos.
Vamos fazer brilhar
o ouro,
Acordar as fontes
de leite e de mel
E plantar flores
coloridas
Nas rachaduras das paredes brancas.62º
[ 1 ]
A festa não tinha
hora para acabar.
Estávamos com tanta sede
que tomamos
direto na veia
a substância da nossa
liberdade.
E como estivéssemos
apaixonados
dançamos o ritmo
da nossa geração
tão distraídos...
E como estivéssemos
embriagados
lançamos facas
uns nos outros
sem medo algum
de nos cortar...
[ 2 ]
Mas muito tarde
os cães da noite
anunciaram
a tempestade
e não deu tempo
de retirar
todos os corpos
da varanda.
— Como explicar
os corpos
na varanda?
— E todo aquele
tédio
nos casacos?
nos perguntávamos
como estranhos
de uma mesma
festa.
[ 3 ]
Arranhei tuas portas
na tempestade
desesperado
mas você não tinha
nenhum adágio
ensolarado
o bastante.
— A tempestade
tanto acaba esta noite
como acaba
nunca, baby, disse
um penetra na
festa.
E isto, por enquanto,
é tudo o que temos
de mais bonito.
63º De Luanda, Angola: “O
poeta” (Quimbungo)
O poeta é o anexo das árvores
Que solta o seu latir a favor da camisinha da água de todos os peixes
Sem fotografar a epiderme dos oceanos
Há uma coerência crônica
Entre o homem e o poeta
No imo dos homens
O poeta constrói o motor das imaginações
O poeta desmancha no arco-íris do seu cérebro
As cores diversas para notificar os estados das almas
O poeta profetiza a ideologia de Tomé
No universo do seu pensamento
E já mais dispunibilizara o seu balaio para sufluir das trintas moedas de prata
O poeta é o agricultor da crise das lágrimas
No palco dos pássaros
Ser poeta é submeter o ventre do
crânio ao exercício cumprido para vencer o oceano
O poeta é o analfabeto dos túmulos
Sem fotografar a epiderme dos oceanos
Há uma coerência crônica
Entre o homem e o poeta
No imo dos homens
O poeta constrói o motor das imaginações
O poeta desmancha no arco-íris do seu cérebro
As cores diversas para notificar os estados das almas
O poeta profetiza a ideologia de Tomé
No universo do seu pensamento
E já mais dispunibilizara o seu balaio para sufluir das trintas moedas de prata
O poeta é o agricultor da crise das lágrimas
No palco dos pássaros
Ser poeta é submeter o ventre do
crânio ao exercício cumprido para vencer o oceano
O poeta é o analfabeto dos túmulos
Para albergar a sua alma.
64º De
Acaraú, CE: “Nossos anzóis não servem para pescar
no mar” (Godofredo Nascimento)
Os pingos da chuva não evaporam,
Moram nos colchões dos destelhados.
As borboletas são flores vivas, não borboletas.
O café não é preto, nem pode ser, a culpa é nossa.
Nunca lemos algum livro, conversamos – verdade.
A moça da biblioteca não possui vagina, nem poderia.
Alcides Pinto é Gabriel García Márquez.
Eu não existo, nem você, não somos assim em nossa verdadeira
forma.
O sono é uma interrupção de nossas dores, a natureza é
compadecida.
Os lados do quadrado dependem da vista dos outros.
Quem escreve se engana.
Os pensamentos são inimigos da verdade.
A maldade é um teste.
Traições não existem, são provas de amor.
O passarinho não morre com um tiro,
Ele sempre te engana.
Amor de mãe é igual a qualquer amor.
Não é a água que nos molha, é nossa imaginação.
As grandes obras literárias são histórias contadas por
Crianças, às vezes, por insetos presos nas vidraças.
Os filhos não dependem da relação sexual,
Dependem das cegonhas.
O pão de cada dia é o mesmo pão de sempre.
O mundo sempre existiu.
Se quiser beijar
alguém, chupe uma laranja.
Deus é um velho que não consegue pensar.
Todos nós fechamos os olhos para a maldade.
Todos nós somos maus, por isso ajudamos os outros.
Uma galinha possui mais carne que uma vaca.
Gostamos do gosto ruim da nossa boca.
Murilo Rubião é Godofredo.
A castanha é mais gostosa que o caju.
O ovo é melhor de que quem o pôs.
Você é louco, assim como o suicida.
Todo adolescente é sacana.
A cadeira não possui braço, nem o piano calda.
Todo urubu é branco quando é criança.
Nossas mães também pensaram como nós.
Os professores quase nunca sabem o conteúdo.
Todas nossas ideias são ressentimentos empedernidos.
A professora sempre fuma depois das aulas.
Nossos heróis nem são tão fortes.
Os torneios de futebol não se preocupam com os jogadores.
O presidente não manda no país.
Todos os papas foram ateus.
Só existe uma verdade, a sua.
Os garimpeiros são homens que não comem.
A floresta conversa sobre seus infortúnios.
O mundo só é um porque nós queremos.
As mesas e cadeiras da sala sempre ficam arrumadas.
Os óculos nunca nos deixam confortáveis.
A comida sempre nos obriga a beber alguma coisa.
A cachaça é ruim, mas é compatível com nossas entranhas.
Nunca tome um chá se não for de cogumelo.
As meninas não são como pensamos.
Os homens são cachorros distraídos.
A letra “A” é um “V” disfarçado.
Não se escreve “nescessário” não é necessário por o “s”.
Na verdade você não vê a lua nova, mas sim uma fruta.
As maçãs verdes são envenenadas como as outras.
O carteiro nunca escreve cartas pra ninguém.
Os poetas gostam do glamour, são pervertidos.
Todas as coisas do mundo ainda são inominadas.
Os livros são os verdadeiros amigos da poeira.
Os cabarés sempre são lugares de lazer.
O pouco que possuímos devemos dividir.
A nossa vizinha sempre espera um cumprimento
Para poder nos dar um beijo.
Todos os homens se sentem assim.
Quando você se apaixona, sofre como as outras pessoas.
Os elogios sempre amenizam a má impressão.
Dizer a uma mulher que ela é um paraíso, é provar que você
está sonhando.
Se você quiser se lembrar de qualquer coisa, vá ao bar.
Nunca olhe demais se não tiver um bom motivo.
Rasgue todos os seus poemas e jogue dentro da panela.
Não se sinta desprezado por quem você gosta.
Todo mundo se acha o protagonista de um filme.
Quem disse que os mortos não contam histórias?
A cabeça é uma bola.
Quando choramos sozinhos é mais gostoso.
Nunca vamos saber o que a moça do ônibus pensa de nós.
Errar é legal, perder é melhor ainda.
O cheiro é um vento roubado.
Quando coçamos os olhos estamos cansados de ver a mesma
coisa.
O nariz foi feito para colocar o dedo.
As dançarinas só dançam porque possuem coração.
Os peixes são filhos de outros peixes imortais.
Os nossos anzóis não servem para pescar no mar.
Nossos dias são algumas moedas
Que um usurário vai gastando aos poucos.
65º De Salvador, BA: “Solipso” (Maxell Rocha)
a solidão é um bicho
tenebroso como o diabo
caçando almas pagãs
solidão: insônia dilatada
que me enche de agonia
e alucinações espinhentas,
substantivo nebuloso emoldurado
em fotografias embriagadas no asfalto
não me curo! não me guardo!
a dor da solidão nasce na alma,
cresce na carne inflamada
e padece no poema.
66º
Estou com o corpo ainda embriagado,
carregando o hálito de teu corpo,
o efeito do sexo, antes cume, parcamente desmancha.
Inquietamente, em meu quarto,
esqueço as horas de antes
e aquele instante agora gasto.
Minha cama, vazia, não dorme
e retomo a tarefa de procurar a mim mesma dentro deste corpo,
que perde o teu cheiro e o resquícios do teu gozo
que perde o teu cheiro e o resquícios do teu gozo
em mais demorado tempo do que as horas se vão.
Por descontinuidade,
o tempo-espaço não
ocupa o mesmo lugar do agora:
amanhece,
e a cama-carma ainda ama.
e a cama-carma ainda ama.
67º
Não matar um leão por dia:
domá-lo sem chicotes,
sem provocação do medo
no arremedo do poder.
Encará-lo e ver lindos seus dentes,
sentir seu bafo de fera,
seu sangue de raça
e sua alma de terra.
Ver Deus acenando em sua goela -
prova viva do respeito mútuo.
Tocar sua juba deserta, seca,
vistosa,
acariciá-lo com mãos de uma
árvore dura.
Fazer dos olhos um espelho
e mostrar seu dentro -
que lá há um leão também brincando
savanas,
há bestas sonolentas e outras
panteras
roendo a carne do seu pensamento
vivo.
Deitar ao seu lado
dando mão à pata
narinas ao focinho,
reconhecendo,
se apresentando à força
no brilho
ponderável
da presença.
Forte selvageria atávica,
virar bicho,
virar sereno,
veneno,
mato,
flor,
trigo.
Não matar um leão por dia, nunca.
Amá-lo na rigidez dum rugido.
68º
No campo aberto do meu sono
Uma batalha e pequenas guerras
O soar de clarins distantes
O tropel de cavalos, asas e fogo
No vale dos ossos secos
Nesta guerra de rotos estandartes
A movimentação ordeira das tropas
E a inquietação orgânica dos sonhos
Sob o som das lanças frementes
A lustre inquietação das luzes acesas
Do vale das sombras da morte
Não me atormenta a batalha
Nem me amedrontam as ânsias
Caminho pelo código secreto
Levo a espada aberta das coisas que sei
O escudo das que presumo
E o capacete das que desconheço
Mais um passo rumo ao seio da tropa
69º
"O poeta é como o
príncipe das nuvens.
As suas asas de gigante
não o deixam caminhar."
( Charles Baudelaire )
I
Sei dos sucessivos
sangues masturbados,
das insaciabilidades das
manhãs vagabundas
que não tem paradeiros,
não tem utopias
nem retropassos.
Sei das fatídicas
cumeeiras dos abismos,
das confissões de fugas
azulejadas,
das ausências aciduladas
que simulam renúncias.
Sei que não importa
o tesão bulido a touch screen.
Sei que não importa
os âmagos das penetrações
dissimuladas
nem os gôzos macerados
dos germes das metáforas.
II
Lá fora poetas se
mastigam
capazes de longos
silêncios.
Mas [ oh, altar langoroso
das torturas migrantes! ]:
A ti, o meu grito
simétrico.
A ti, lastimosa agonia
desenredada,
a minha força intemporal
de comunicar-se
com chãos de vertigens
proibidas.
A ti, espaço para tanta
inexistência,
o frêmito do Sol
longitudinal
que orvalha lagrimoso
como sexo gasto do
espinho virulento
e sobretudo graceja
em longos delírios
carnais
como pão subtraído
que reverbera nos
estômagos perecidos.
III
Não é um espinho a
primeira irrequieta ereção
nem um sol multifacetado
a ilusão que patina no
querer
quando se esquiva dos
medos negados.
Âncora que se sabe
sondada por olhares
doidivanos:
sou o que dilacera os
sorrisos disfarçados,
o que colhe as Orquídeas
mais caras
sem temer as campinas
proibidas;
sou& sou
alguém que já nasceu
predestinado
a se acorrentar e se
amordaçar
no estriduloso orgasmo
da revolta.
70º
Uma pancada de animal cornífero em meus quadris
O rapto das endorfinas, a ira,
o esporão na língua: Amor
Bebo as vozes noturnas que se debatem no seio pálido
da Grande Mãe
Levanto-me
Possuída pela Sabedoria
impura aos olhos de deus, do diabo, dos homens
Meu sexo brilha, vertendo o sangue dos homicidas
A pureza dos gloriosos anjos assassinos
Sujei-me com a Eternidade
Escura, sagrada, bestial, carnívora
E danço,
rasgando as vestes, as entranhas, o coração
Poesia arremetida contra a Morte:
canina iluminação
71º
Até hoje não entendo!
Esses poetas que "sabem recitar",
vivem indo a festas
fazendo graça, uma careta aqui
Esses poetas que "sabem recitar",
vivem indo a festas
fazendo graça, uma careta aqui
outra acolá.
Tudo reis e rainhas do encanto
quando rimam um verso,
sempre recitando
Tudo reis e rainhas do encanto
quando rimam um verso,
sempre recitando
como cordelista
rimando no interiorano
tudo que termine com ‘a’, ‘ar’ et cetera...
rimando no interiorano
tudo que termine com ‘a’, ‘ar’ et cetera...
E o sotaque?!
Tem que ser bem pesado,
arrastado como vaca com fome no pasto
pra dizer que veio da terra
onde nasceu o carcará...
Tem que ser bem pesado,
arrastado como vaca com fome no pasto
pra dizer que veio da terra
onde nasceu o carcará...
Sei que tudo veio da Grécia
não sou bicho besta a teimar,
mas pra mim, poeta,
é como ostra do mar.
Vive calada, resignada, fechada em si
sem respirar
até o dia que resolve soltar
o verbo doce nas ondas do mar...
72º
Furiosa,
Ó Terra,
Tremes.
(Temo!)
Faminta,
Devoras.
Forte,
Ignoras.
Fatal,
Apavoras.
Até que te acalmas.
E, em meio a gritos,
Vultos e lutos,
Leva almas
Para teu seio.
(Receio!)
Pois sei
Que, uma vez mais,
Despertarás.
E presentearás ao Mar
O que restou de meu lar.
73º
Me encanta o veludo da relva,
O esplendor do sol e a canção da água.
Estando eu, preso em minha própria selva,
Fugi da massa de ódio e vim
à calma.
A vida na cidade é uma luta no tatame
Luta injusta e desproporcional.
Prefiro o campo, não há quem não ame!
A calmaria e a qualidade; não
há igual.
Beleza simples e inesgotável,
Pureza inspiradora.
Capaz de amolecer
O coração mais inexorável.
Magnitude reveladora!
A calmaria e a beleza me encantam intensamente.
A magia com toda certeza,
Faz minha visão transcendente.
74º Do Rio de Janeiro, RJ: “Filme B”
(Taurus)
Ao sair
não me
acorde,
não se
despeça.
Pise macio
no tapete
luzidio
da manhã que
mal começa.
O silêncio
sorrateiro
dispensa
olhar derradeiro,
vá sem perda
de tempo
e sem pressa.
Ao despertar
e não mais vê-la
eu dou meu
jeito.
Vou
eternizar no peito
o sonho –
agora desfeito –
que foi no
passado tê-la
inteira só
para mim.
Caso de amor
démodé,
nossa
história acaba assim,
mocinho de
um filme B,
sozinho,
morro no fim.
Não é um
final perfeito
mas é o que
nos cabe, enfim.
75ºDe São Paulo, SP: “Frustração” (Mainá)
E eu que não sei
fazer tankas ou hai-kais...
Eu, que queria
a poesia mais precisa:
surpreendente
como a chuva na vidraça,
o sorriso largo
e instantâneo
do menino,
o beija-flor descoberto
entre ramos.
Cortante
como a rigidez
do cão morto na sarjeta,
o vizinho que
se suicidou.
Exata
como olhares que se encontram.
Sim, eu que queria
a agudeza
da mais extrema brevidade,
sei somente
a longa e desajeitada
poesia dos desassossegados.
76º
Pelos próprios litígios
Tentei organizar nossas vidas,
Apagando insensatos vestígios
E acendendo e excedendo as saída;
No doce ninho que mesmo em sonho,
Onde criamos rebanhos, rebentos,
Em águas límpidas que fazem o banho...
Depurando em epítome nossos momentos.
Amontoando em vocábulos certos
Vejo e escrevo em linhas tortas (na alma).
Optando por esse amor na justa calma,
Nas brigas que expulsam demônios e espectros.
Na sensatez do amor verdadeiro
Vi-me lisonjeado por ser o primeiro...
O real – o fiel – o ardente;
Sou o qual lhe agarra a unhas e dentes,
Sendo o mais perfeito da paixão mensageiro.
O ardor do âmago do seu ser
Acabou apagando minhas rinhas,
Nesse bem querer de minhas linhas,
Só, e mesmo cego, posso lhe ver.
77º De Capivari, SP: “Hemorrágica” (Aeon)
em indulgência cristalina
I
proponho-te
devassar o além
tencionado sob a fundição
dos nossos sexos
eriçados
rosá-la
no explícito orgasmo
do irrefutável sacrilégio
apiedando-te de quatro
- sacrificar o fôlego
no desterro dos vaivéns -
desenfreio-me à entrega
do análgico gemicar
na homogeneização
das delícias
- escopo arejado do delírio –
comungá-la abrigo
na impossibilidade esboçada
da catártica combustão
II
aquém
há somente vandalismo
transpirando
cerimoniais vigílias
para incendiar
a congênita essência
nas labaredas
do seu grelo
- enluarar-te o bojo
enraizando gorjeios -
pelas intermitentes renovações
de cada solilóquio
mantenho a ideia fixa
de que há mais
de você em mim
do que qualquer outro
esplendor cósmico
- decifrá-la em melodia -
perfaço-me anjo caído
além da substancialidade
adornando-te em aromas
na permanência serena
com que decruo a boceta
na sacra depravação
- reverenciar-te o riso -
pândego por subjetivá-la
em néctar pagão
endiabro a onírica trepada
no abundante estímulo
roço o caralho
na via indômita
das suas fixações
III
- ardência inaclimável -
faço do seu suor
o perfume que aprisiona
onde deslizo pelas curvas
Sátiro aturdido
desmembro-te a pose
no agudo abocanhamento
em contínuo alvoroço
num mantra circunstante
- libação às meiguices de Áine -
do enflorado arrebol
nas fibras cardíacas
entalho-me íncubo
até que a submissão
seja uma dádiva indômita
deparo-me
fértil regalo deflagrado
orvalhando os sentidos
dentro dos inebriados
instantes
que te volvem meu sigilo
- goto hemático -
violento o pudor
jorrando-te o sêmen
da solicitude impalpável
antes mefítica
pelo desarrimo
- utopia esganiçada -
carregá-la pelas asas
mendigando a cruz
que lhe cobre o antro
no voejar dos gestos
IV
persigo sua inquietação
- Afrodite remendada -
contorcendo-me
para arrancar a baba
dos delicados lábios
com o tesão hermético
enquanto me lavra o falo
para lhe devorar o íntimo
submergir na senda
das suas coxas
é o subterfúgio ao santuário
na onde se prostram
minhas vulcânicas ferroadas
no sinóptico embaraço
ofereço o espírito
que é fiel à pureza
em receber o seu desgarro
- incorporo Pã -
desfiro o apego
com a impudica língua
lambuzando-te
a fonte do recato
ceifo os peitos
com os dedos canastras
e derramo sobre ti
- Ninfa infatigável -
o indulgente plasma
da balsâmica saliva
deliciando-te no ritual
da frenética repetição
embriago-me
no empoçado
jardim bendito
arrebatando os pecados reprimidos
- esfomeado me assevero
antecipando o bote
na lúbrica veleidade -
desabrocho-te inundação
na conduta polimórfica
de bruxo-caipira-errante
- Logos implodido
em enfurecida incisão -
vergo-te num brando murmúrio
para cravar no sacrário
o tácito batismo
da frutígera nudez
escorraçada do paraíso
- ternura -
unificando-nos
na ambígua arrebentação
de entrega prolixa
- ameno sortilégio -
fluo no seu ventre
infinitando-a
cerúleo arrebate
- Vontade em deleite
firmada pela completude -
estronda-nos por zelo
na dicotomia do regaço
a tecedura das preces
em incólume inerência
- Lux et Nox -
V
- arbítrio esquizofrênico -
sorvo
devorá-la em devoção
à animalesca reminiscência
enquanto incitamos
o crepúsculo entoado
nas paragens epidérmicas
cercam-nos
os tangíveis espantos
vociferando imantações
no fulgor da trepada
em grácil acuidade
a proximidade corrosiva
dos olhos nos olhos
ascende-nos
um mitigativo beijo
anárquico
- relampeia o júbilo
no colapso diagnosticado -
os cuidados
da minha heresia
revelam o alvorecer
no áureo abrigo
onde te nino
em profundíssimo apego
encarniçada cadela
VI
- pandêmico tônus -
subsidiando-me
influxo perturbado
rogo-te o verdejante
alento argiloso
no pedestal das adorações
- pesteio-te súplicas -
nas alucinações coreografadas
pela temporalidade do martírio
expilo as cismas contritas
umedecendo-a
em firmamento
- não me basto
nas colorações do brio –
inquieta-me o átimo
na síntese
do que permeia
dentando a fluidez
- ebulição figurativa -
em indulgência cristalina
crepito os desvarios
acometendo-me
salutares tormentos
debulho-te
precipício
feito uma estrela
pungente
confinada na polpa
- avigorada fonte
de escândalos -
concedo-me o tesão
de surrá-la em fulgência
pelos ecos da luxúria.
78º De Santo André, SP:
“Ex-tenso” (A. Carmo)
Um poema curto
mantêm o pulso por mais tempo tenso
que um poema extenso.
79º De Porto Alegre, RS: “No
varal, cristais...” (Cassiopeia)
Por que choram as roupas do varal?
Por quê?
Alvas, pranteiam desesperadas
num silêncio endoidecido.
Mas por que chorar?
Choram de dor?
Da dor que sentiram
ao serem batidas
na grande pedra do arroio,
em que, em movimentos sincronizados,
a lavadeira jovem
- feito um padre a exorcizar
o “grande mal” de um corpo cristão -
buscava com severidade a brancura?
Ou talvez, choram
enternecidas com o cansaço da lavadeira…
Da moça exausta de tantos sonhos
que foram desfeitos, qual sabão que
se desfaz dos tecidos pra tornar-se espuma…
Por que choram as roupas,
recém postas no varal?
Será saudade?
A saudade de fazer parte
daqueles corpos quentes
suando a coragem e a força
na indomável aventura do viver?!
Sim, as roupas choram no varal,
incontestavelmente, choram!
Choram feito criança ferida
pela rispidez de uma negação.
As roupas gotejam cristais
que estilhaçam no chão,
na manhã morna e lívida.
E a tardinha, quando menos se espera…
Talvez, consoladas pelo calor solar,
cessam as lágrimas.
De cara lavada,
leves, talvez adormecidas;
Prontas, esperam cálidas:
depois do amanhã, chorar outra vez.
80º De Curitiba, PR: “Ramadã” (Eterna
Estrangeira)
Não tinham como se entender.
O encontro veio por acaso,
Cada um chegando do seu ponto cardinal
ao centro da praça, onde os turistas desciam
das charretes para fotografar serpentes mansas,
cegos e domadores de camelo,
numa febre só.
Por filosofia entendiam palavras diferentes,
e a cada coisa a imagem que havia por trás
ou por dentro
se pintava em tons distintos,
como “quarto”, “cortina” ou “venha comigo”.
Foi apenas um momento que suspendeu os rumos:
Cruzar juntos uma antiga ponte de pedra e
ouvir o mesmo som do rio balançando embaixo,
esperar o sol
quente ceder ao momento da noite,
ao banquete e um lugar onde os corpos
virassem água. De onde viria o desfile
dos cavalos de todas as cores, e um
vento do deserto ou
melhor dito, uma brisa leve
com a qual seria possível
conviver. A mesquita no alto não destoava:
era puro encanto, como uma diferença a mais,
algo talvez para diminuir a sua, embora
decifrar-se em alguma noção comum
do humano
nunca fora suficiente.
O encontro veio por acaso,
Cada um chegando do seu ponto cardinal
ao centro da praça, onde os turistas desciam
das charretes para fotografar serpentes mansas,
cegos e domadores de camelo,
numa febre só.
Por filosofia entendiam palavras diferentes,
e a cada coisa a imagem que havia por trás
ou por dentro
se pintava em tons distintos,
como “quarto”, “cortina” ou “venha comigo”.
Foi apenas um momento que suspendeu os rumos:
Cruzar juntos uma antiga ponte de pedra e
ouvir o mesmo som do rio balançando embaixo,
esperar o sol
quente ceder ao momento da noite,
ao banquete e um lugar onde os corpos
virassem água. De onde viria o desfile
dos cavalos de todas as cores, e um
vento do deserto ou
melhor dito, uma brisa leve
com a qual seria possível
conviver. A mesquita no alto não destoava:
era puro encanto, como uma diferença a mais,
algo talvez para diminuir a sua, embora
decifrar-se em alguma noção comum
do humano
nunca fora suficiente.
POESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIAPOESIA
PARABÉNS A TODOS 80 POETAS OS CLASSIFICADOS!
AGRADECEMOS, DE
CORAÇÃO, PELA PARTICIPAÇÃO DE TODOS. PARA QUEM NÃO AVANÇOU DESTA VEZ, ENTENDAM
QUE SE TRATA APENAS DE UM CONCURSO, O QUAL DEPENDE MUITO DO GOSTO E REPERTÓRIO
DE CADA JURADO. NADA ACABA AQUI.
A SEGUIR: DESAFIO DA
PRÓXIMA ETAPA!
Aos poetas classificados,
atenção:
1º - Para a terceira fase
do III Concurso de Poesia Autores S/A, serão classificados, sem qualquer chance
de alteração no número estipulado, 32 (trinta e dois) poetas. Ou seja, 48
poetas se despedirão do concurso nesta segunda etapa.
2º - A ordem válida dos
classificados na primeira fase está expressa do primeiro ao octogésimo
colocado. Logo, a vantagem compete aos primeiros colocados na segunda etapa do
concurso, em caso de empate.
3º - Aos poetas
classificados, é obrigatória a entrada no grupo do III Concurso de Poesia
Autores S/A no Facebook. Caso queiram convidar amigos e/ou parentes que estejam
acompanhando o concurso, fiquem a vontade. Aos poetas que não se classificaram,
vossas adesões também serão muito bem-vindas, porém, não obrigatórias. Neste
grupo, é permitida a divulgação da identidade dos poetas e se expressar
abertamente, uma vez que não será permitida a entrada de qualquer jurado neste
grupo.
4º - Pedimos, aos poetas
classificados, atenção aos e-mails. O envio dos poemas continuará sendo através
do e-mail poesiaautoressa@gmail.com
e qualquer comunicado será feito via e-mail e pelo grupo do Facebook.
Agora, vamos aos ditames
para o “segundo round”:
A PROVA DOS SEIS TEMAS
Será proposto, agora, 06 (seis) temas diferentes. Cada poeta
deverá escolher 01 (um) TEMA e desenvolver um poema acerca deste tema
escolhido.
Os temas propostos são:
1 – Casa
2 – Suicídio
3 – Simbiose
4 – Falta de educação
5 – O que é o outro?
6 – A mulher em todos os seus aspectos e representações
PRAZO DE ENVIO: até o dia 28/09/2014, domingo, às 18 horas,
para o e-mail poesiaautoressa@gmail.com
. Por favor, enviem, juntamente com o poema, o tema escolhido. Poemas enviados
além do prazo estarão automaticamente desclassificados. Não vale envio de
imagem junto com o poema. Também não há limite de linhas/caracteres/páginas.
Boa sorte a todos!
AUTORES S/A:
Uma sociedade diferente das outras.
PARCEIROS:
258 comentários:
«Mais antigas ‹Antigas 201 – 258 de 258NOME DOS JURADOS
FELIPÃO
MANO MENEZES
DUNGA
MURICI RAMALHO
LUXEMBURGO
Que pena....não foi desta vez...
Parabéns ao colocados e boa-sorte na próxima fase...estarei acompanhando...
abraços!
Não ser escolhido me dá um certo alívio, pois não vejo o meu trabalho dentre os escolhidos, vamos por caminhos bem diferentes. O meu conceito de poesia passa pelo outro lado da rua.
Meus parabéns aos poetas participantes! Mas deixo expressa aqui minha preocupação! Os poemas estão muito monótonos e semelhantes e longos. Até parece que estão medindo a grandeza do poema pela extensão. Cuidado para não fazer do poema prolixo e chato! Vejo muita semelhança com os poemas parnasianos (mesmo que não vejo sua qualidade técnica). Mas mesmo assim tem coisas muito boas! Mas cuidado com os poemas longos, eles sufocam a poesia!!!
Havia no meio do caminho um concurso mal concluso
havia um concurso mal concluso no meio do caminho
que confuso.
Parabéns a todos os classificados! Sucesso ao certame, pois a maior vencedora será a LITERATURA.
Quais sao os critérios que foram avaliados?
Caríssimos! Entendo que a principal função de um concurso de arte é juntar gente em torno dessa arte, resultando numa expansão de sua produção e público. Dessa forma, gostaria de parabenizar a todos: organização, concorrentes, classificados, não classificados! Não tem arte boa ou ruim; cada um a percebe de forma única. Mas se é possível aprimorar-se o processo, sugiro divisão por categorias. A inter-textualidade; o concretismo; poesias já premiadas, muitas das vezes agridem o leitor pouco habitual e o poeta iniciante.
Teve duas obras que foram classificadas, mas elas sao curtas. Uma delas pode ser classificada como um poema, mas a outra nao. Um poema nao é um conjunto de versos? Por que uma estrofe foi considerada? 4 linhas? Isso é realmente bom? O que foi avaliado? Como foi? Alguém, por favor, poderia me ajudar.
DIVISÃO DE CATEGORIAS.. CONCORDO ;;; NO PRÓXIMO ESPERO QUE SEJA MAIS ORGANIZADO. E DAR O RESULTADO EM ETAPAS PRO POETA FICAR GRUDADO NA TELA ESPERANDO O RESULTADO, RIDICULO. SÓ ACHO
Delicia poder ler os comentários e saber o IP do autor. Vocês não sabem como é bom ter certos conhecimentos de informática e poder separar o joio do trigo. Ah se eu conto quem é quem.
A grande revelação do concurso foi a descoberta do "poema de fórmula", ou fórmula para disputar concurso, ou poema de fôrma,ou poema robô, ou...
Parabéns aos classificados!
Parabéns a Autores S/A pelo cuidado, transparência e condução do processo.
Infelizmente não entrei nesse time desta vez.
Quero deixar claro aos que questionaram os critérios da seleção que concursos literários dependem fortemente da vivência literária e gosto pessoal da banca. Como leitor de poesia sei bem do que gosto, aprendi a identificar estilos e separo o que faço do que acho bom pois não trilhamos todos o mesmo caminho. O poema, para mim, vem da caminhada. E quão difícil é julgar uma poesia, elencá-la em ordinais, atribuir aritmeticamente uma nota. Fazê-lo, mesmo como um convite ao encontro, tem como consequência esse afloramento de nervos observado nos comentários. Todos querendo ser o empregado do mês em seu ofício.
Meu critério de avaliação é o seguinte: os melhores poemas se comunicam e não dependem de uma boa vontade do leitor para com ele. Despertam o riso, a reflexão ou o alumbramento com musicalidade e arquitetura inteligente.
Quem me dera escrever assim (sic)!
Convido-os a conhecer meu trabalho na página http://pakkatto.blogspot.com.br/
e me despeço com um poema para acalmar os corações mimimistas.
Os melhores poetas batalham
Como nas empresas
Ganham troféus, medalhas, canudos
Concursados, julgados, performáticos
Como se aritmética medisse o sentimento
Atiram ao vento pérolas e causos
Que irão ter notas como num desfile
Mas agindo na surdina, os sorumbáticos
Os outros, menores, ficam mudos
Sua empreitada é como a de matemáticos
A poesia destilada das esquinas
Querem que o verso livre
Querem mais livros
Querem irmãos e não adversários
Vão bater palmas para os bons poemas
Vão sempre bater palmas para os bons poemas
E juntos baterão palmas pelo encontro
Pelo amor a vida
Pela superação do ego
Pela busca de fraternidade
Pela música
Pela beleza da compreensão
Pela perda dos sentidos
Pela lista obrigatória de movimentos do kata
Obrigado e até a próxima edição.
Por fim, entrar neste concurso foi uma das maiores besteiras que fiz, decepção galopante... Com esses mais de 200 comentários poderiam ser feitos algumas dezenas de poemas mais encantadores que muitos classificados. Fim.
Chorei com isso... Mas creio que com o Mano ia dar empate entre todo mundo...
Gostei de alguns poemas. Estou ansiosa para ver os que não foram classificados.
Por que é 'obrigatório' ter um perfil no Facebook e entrar no grupo se as poesias julgadas são enviadas por e-mail? Não gostei disso. Lohan, poderia esclarecer?
Engraçado. Tantos poemas-Emas! A leitura fica desgastada e desinteressante.
4 Pedras preciosas, NADA MAIS QUE ISSO. O resto foi ista grossa e simpatia sublime de quem se sente atraído por ago BONITINHO e ENFEITADO assim como uma árvore de natal em pleno outono. Sem folhas, sem presentes e com pedras repletas de discursos alheios apenas. Festival de paráfrases....Nada mais. Achei que seria mais sério. Jurados JURINHOS. Jura que é verdade? Ok! Juro que faço se contas que acredito.
Estou muito feliz com minha classificação e louca para saber o próximos passos. Obrigada!
Prezado Emerson, acabo de ler seu poema. Com todo o respeito do mundo: tente outra arte. Não poderia nunca se classificar MESMO. Desculpe-me.
Pra mim, o mais bonito foi " Adeus, meninos..."
Quero deixar registrado que achei algumas escolhas um tanto quanto decepcionantes, pois caem no senso comum. Vamos aguardar as próximas peneiras e ver quem sairá vencedor. Uma mensagem aos não escolhidos: continuem e perseverem em sua arte, pois às vezes seus poemas não integraram essa lista por serem por demais originais e/ou transgressivos.
Pra mim, o mais bonito poema foi:"Adeus, meninos..." Lindo demais da conta...
Emocionado por saber que os anônimos de 23:39 e 23:44 gostaram de meu pequeno poema!! Super feliz! Grato!!!
Concurso de merda, foi o pior que participei na minha jurados sabe de porra nenhuma....
VC queria se classificar com isso aí? Fala sério! Qtos anos VC tem? 12?
Nossa! Já fiz terapia, muitas. Meu ego está super tranquilo. Lendo os comentários, percebi que a maioria estende um concurso literário como um campeonato de futebol. Uma pena!
Rapaz é verdade
"Começaremos a divulgar os resultados pelos mais bem votados, em ordem decrescente."
Os últimos serão os primeiro...hahah
Sim, Emerson, estou enxergando muito bem. Releia as postagens aqui e vc verá que não há apenas questionamento quanto aos critérios não. Leia direito, vcs estão falando mal dos poemas classificados. E não estão fazendo crítica, estão apenas falando mal.
parabéns aos vencedores. abraços fraternos a todos.
segue meu poema.
[amores de viagem]
amores de viagem
são das viagens
é complicado levá-los para o desembarque
não raro, isso ocorre em cidades diferentes
uma amiga vai se casar agora em dezembro
com um irlandês que conheceu em são francisco
não será o caso aqui
mas acho justo celebrar
minha modesta conquista
na comemoração deles
quando separar a cobertura
de açúcar do bolo
ou arroz for pelos ares
talvez me lembre de você
não pense que celebrar desta forma
não é uma maneira de encerrar
eu romanceio tudo
eu romanceei o fim
então deixa para a viagem, deixa
coloca junto do mapa de são joão del-rei
do folheto do museu da liturgia
guarda no armário, torce para as gavetas falarem
claro que seria ótimo rachar o aluguel
de um sobradinho aprovado pelo iphan,
penso, nas últimas horas da noite
mas a ideia de dividir o primeiro iptu
resta absolutamente improvável
nas primeiras horas da manhã
como preencheríamos o ano-calendário
sem o itinerário turístico que nos acomoda,
as preocupações rondantes?
funcionamos na estrada
nos dias-ampulheta
na jornada-bússola
*
rodei a cidade toda à procura de um souvenir
um oratório para o escritório
uma noiva de jequitinhonha
nada me cativou
e entendi por quê
uma nova fitinha colorida para diferenciar
minha mala das outras na esteira rolante –
você veio aqui para casa
e nem desconfia
O que dizer de voceis donos da razão? Pros senhores anônimos que dizem que meu poema jamais poderia ser escolhido digo sem temor.. Jamais trocaria qualquer poema meu por qualquer um dos que foram classificados.. Jamais. E tem mais... Quem critica nao precisa se esconder atras do anonimato. Mostre e seu poema e não se julgue melhor, deixe que julguemos. Vi muita "ARTE" ultrapassada, parecia mais que estava lendo uma carta sendo enviada a Carlota Joaquina.
Porque não tenho memória e preciso
Que as naturezas se incorporem, crispadas
No meu íntimo – tomo nota de tudo que me lembro:
das ruas claudicantes onde atentas caminham as buscas
por esperanças desconhecidas sujas de têmpera
do som que emite a epiderme quando
diante de um desejo agudo se intumesce
Até da incógnita flor de cassis que nunca vi e sei
Que não a reconheceria até que alguém
Dissesse: eis tua flor preferida
Amor nunca foi mesmo uma questão
de saber das coisas
Vamos aos números-
1
5
29
42
Parabéns a todos.
Realmente não sou poeta, nem sei o que é poesia mais! Não gostei da maioria dos poemas, falta alma, lirismo! Mas quem sou eu para julgar? O que eu escrevo nada tem a ver com a maioria dos poemas selecionados. Como alguém mencionou aí em cima, também é difícil eu gostar de alguma coisa que escrevo, mania de perfeição. Mas, enfim, não escrevo para ganhar concursos, escrevo porque gosto, porque a inspiração não me deixa em paz se eu não pô-la em um "papel"! Bem, não mais participarei desse concurso, pois meus poemas não condizem com o gosto da banca, meus poemas passam distante... Quanto aos "vencedores"... Parabéns!
Meu amigo anônimo acima.. poste ai o poema que vc mandou para o concurso pq eu sou totalmente leal ao seu comentário e concordo com tudo que vc disse.
chorões! menos, tá!
Na verdade só tem um Chorão que eu aplaudo de pé, mas esse já se foi! Vocês já estão dando no saco! Não é pra menos que ficaram de fora!Muita bobagem e pouco conteúdo: só conseguem falar mal. Não sabem nem criticar PORQUE NÃO SABEM. só chorar BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁAAAAÁ´!!!
Desta vez deu trabalho para entender tudo que se passou aqui e avaliar os poemas. Em primeiro lugar, gostaria de registrar o que vi como injustiça. Nem tudo li, até pq uma passadela de olhos já cansava, mas constatei que de fato registraram-se como classificadas diversas histórias, diversos contos bem distantes do que caracteriza a poesia.Não me pareceu justo. O povo que realmente se classificou com poesias vai ficar no prejuízo com essa história de desempate? Creio que sim, haja vista que muitos desses contos estão em primeiras posições. Deixo a crítica ao cubo. Poesia é poesia, senhores. Todos sabemos do que se trata.
Leram Blake avessando peras por maçãs. Leram Nietzsche no andejo niilista do apelo... Plato, vemos sombras em redor... Não estou entre os 80! rsrs Enfim, fica para outra vez. Boa sorte a todos os coleguinhas que escrevem tão bem e parabéns aos avaliadores tão imparciais e profissionais! LOL
Poxa, que mar de dor-de-cotovelo mal disfarçado em formas de “críticas construtivas”, querendo impor como deve ser um poema! O poema por definição é algo livre!!!
Só eu que gostei da maioria dos poemas classificados?
Sem querer ser metido e pedante, mas um pouco mais de cuidado para não deixar passar erros ortográficos e gramaticais não fariam mal a ninguém, não é?
(Com medo de imaginar como foram os poemas rejeitados)
Não me classifiquei no concurso e não estou nem aí.
Minhas palavras estão em meu blog e esse concurso não vai mudar em nada.
Beijinho no ombro para os chorões e choronas e tchauzinho, até o ano que vem se eu tiver vontade de participar de novo.
Ao anônimo de 20:59, fica a dica:
PRONOMINAIS
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
*Ops!! Que erro grosseiro! A gramática foi assassinada nessa poesia, SENHORES da FORMA, da norma CULTA!!. Onde já se viu uma próclise maldita antes do verbo sem que nada a justifique, conhecedores como vocês são!? Oswald de Andrade deveria ser banido da Literatura Brasileira. Quem são os mestres, os acadêmicos que deixaram passar tamanha insensatez gramatical, não é verdade, SENHORES DA NORMA, DA GRAMÁTICA!?
Caríssimo, senhor anônimo que disse: com medo de imaginar os erros ortográficos dos que não foram desclassificados. Ora, faça-me o favor! No poema Calçada, além da paráfrase, para não dizer plágio de um outro poema, a poetisa cita a Av. Rio Branco com letra minúscula. Conseguiu passar por um juri tão cauteloso e criterioso como esse? Eu lhe garanto, sr. anônimo, que em meus poemas você não encontrará tal aberração, pois isso até uma pessoa que só tenha o ensino fundamental sabe, nomes próprios se escrevem com letra maiúscula! E eu não estou chorando porque não fui classificado, essa foi a minha primeira participação em concursos, e continuarei escrevendo, não pararei por isso! Agora dizer que os que foram desclassificados foram por causa de erros ortográficos ou coisa que valha, é dose!
Feliz por estar participando, li alguns poemas e sei que o páreo será duro, sigamos com força e fé e esforço
Gente, alguns erros realmente são de doer os olhos, mas outros? É um concurso de poesia ou um concurso público? Se for a última opção, não estudei.
Olha, dos que foram classificados, somente gostei de um. O décimo, foi o que mais falou comigo.
Nem estou falando isso porque não fui classificada, até não escrevo para os outros, mas para mim mesma. Foi chato não ter sido classificada, mas mais chato ainda só achar um que gostei, dos 80 poemas escolhidos.
Qual o problema, não sei. Pode ser a interpretação dos jurados , ou a minha, mas sabemos que quando passamos por julgamento alheio existe o risco da pessoa gostar ou não.
Mas confesso, fiquei interessada em ler as poesias não classificadas!
Abraços à todos,
Lucy.
Uma pergunta, se é que já podem responder. Seria João Gilda Anna Lisboa, ou há outro concorrente da cidade de Vinhedo? Seja como for, folgo em saber de mais um talentoso "poetante" em nossa cidade. Apreciei muito tal poesia, bem como a 77.
Gostei das 5 e 35, muito!rosana banharoli
Boa noite a todos.Felicito o blog e os bravos poetas.
Em primeiro lugar, gostaria de saber quando vão postar as novas poesias. Essa leitura causará imenso prazer. Não menos importante, aqui vão minhas preferências.
Frustração- É uma pena ter ficado tão atrás. Excelente.
Ouvindo vozes e estrelas- Rápida e sorrateira mensagem bem passada. Excelente.
Calçada- Imagem inteligente. Excelente.
A musa de Caetano- Não gostei do título, mas fui arrebatado. Excelente.
Obrigado pela leitura ecppr sua análise de meu poema, Priscila. Fico feliz por saber que vc gostou. Grande abraço. Urbanóide
Obrigado, Fernando. Que bom que mais alguém além dos jurados (e da Priscila) entendeu meu poema. Abraço. Urbanóide
Olá, não era hoje que sairiam as postagens dos novos poemas? Achei que entraria aqui agora e já estaria bombando.
E aí? Tudo parado por aqui? Organizadores, se me permitem uma modestíssima opinião, acho que a criação do grupo no face apagou completamente o holofote para o blog. Poderia ter sido criado tal grupo após o término do concurso. Todos querem comentar e postar coisas apenas lá.
Concordo com você, Emerson, para mim Guardanapo é o poema da vez. Leve e bem-humorado, o poema tem também excelente ritmo, além de recursos estilísticos que o revestem de originalidade.
Sinceramente, quem fez a seleção parou no tempo. Os poemas são datados e posso dizer que achei alguns bem ruins.Outros, nem consegui ler até o fim. A tentativa de alguns versos beira até o ridículo(nao vou citar um aqui que foi horroroso pra não ofender a pessoa que o fez) e a maioria sofre da "modernice" de fazer diálogos com poemas já feitos e utilizar formas ultrapassadas...
Realmente a poesia está sofrendo de mesmice. Vai ser difícil o Brasil ter poetas fortes no futuro com amostras assim.
Pra não dizer que não gostei de nada, gostei de um do Rio de Janeiro bem curtinho e outro de São Paulo...
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