Tininha era sonhadora. Adorava ler e acreditava em príncipe encantado. Não só acreditava, como defendia ferrenhamente suas ideias a respeito. Achava que um grande amor não vinha de maneira natural, tinha de haver algo mágico envolvido, como num conto de fadas.
Um dia bolou um plano, segundo ela infalível, para encontrar seu príncipe. Contou seu plano às amigas. “Louca!” Disse uma delas. “Você vai morrer, sua maluca!” Disse outra. “Eu acho romântico.” Disse a terceira. A quarta só balançou a cabeça, em sinal de reprovação.
Tininha não tinha queda por sangue, hospital, nada disso. Mal podia suportar uma injeção. Mas ela acreditava que se atravessasse uma rua sem olhar para os lados, poderia ser atingida por um veículo e que o motorista pararia para lhe prestar socorro, ganhando assim, ares de príncipe encantado.
Tininha não era suicida, então escolheu uma rua pouco movimentada. Queria estar na rua certa, na hora certa, para que o carro certo lhe atropelasse e dele descesse, como que de um cavalo branco, o homem que a resgataria.
Sua imaginação era fértil, e ela ia além nos detalhes do plano. Imaginava que o homem seria médico e lhe prestaria ali mesmo os primeiros socorros. Caso não fosse, deveria tomá-la nos braços até o carro, preocupadíssimo com sua integridade física. “E se isso não acontecesse? Se ele largasse você ali, estirada no chão?” Perguntou uma amiga mais sã. “Então, se não há um príncipe para mim, de que vale continuar a viver?” Rebateu Tininha.
No dia seguinte, seguiu até a rua escolhida e colocou sua ideia em ação. Carros buzinaram, desviaram, xingaram Tininha e nada além disso aconteceu. E assim foi por mais alguns dias.
Do lado oposto da rua, todos os dias um rapaz assistia assustado às investidas de Tininha contra os carros. Não entendia porque aquela moça atravessava a rua direto, num só embalo, sem olhar para os lados. Por que uma moça tão bela seria suicida? E por que escolheu aquela maneira de morrer? Isso o deixava profundamente intrigado.
Um dia, sem que Tininha sequer suspeitasse da sua existência, o rapaz decidiu chegar mais cedo àquele cruzamento. Quando ela aproximou-se da rua, o rapaz imediatamente entrou na frente dos carros, fazendo malabarismos bisonhos. Tininha, como sempre, atravessou direto, sem olhar para os carros. Depois que ela alcançou a outra calçada, o rapaz saiu da frente dos carros, que já buzinavam , por pressa ou numa forma de crítica à sua má atuação como malabarista.
Em uma dessas vezes, o barulho das buzinas chamou a atenção de Tininha, que após concluir sua investida, resolveu olhar para trás e viu que o rapaz olhava em sua direção, enquanto fazia malabares. Tininha era pirada, mas não era sonsa. Percebeu imediatamente o que aquele rapaz estava fazendo. Ficou indignada. “Quem esse sujeitinho pensa que é, para interferir no meu destino?” Perguntava a si mesma. Decidiu que no dia seguinte daria o troco. Não daria chance dele se meter no seu plano.
Assim o fez. Caminhou devagar pela calçada, bem lentamente. Avistou o rapaz na calçada oposta. Estava parado, esperando por ela. Um pouco antes do fim da calçada, apertou consideravelmente o passo, para que o rapaz não tivesse tempo de chegar ao centro da rua. O rapaz, que tinha uma visão mais ampla do ponto onde estava, viu um carro se aproximando em alta velocidade, jogou no chão os pinos de malabares e correu para o meio da rua. Tininha ouviu a freada e chegou a tempo de ver o carro acertar em cheio o rapaz e lança-lo para o alto.
Sentiu tudo. Compaixão, raiva, medo, culpa, arrependimento, amor. Se aproximou mais do rapaz e viu as escoriações nos braços e joelhos. Um dos punhos estava visivelmente deslocado e o rapaz, inconsciente. Ela se imaginou no lugar dele, estatelada no asfalto quente, sangrando por vários pontos do corpo.
Ajoelhada ao lado do rapaz, ouviu o motorista do carro dizer: “Não sei o que aconteceu, o cara é louco, entrou na frente do meu carro. Eu não pude frear a tempo.” Tininha ficou aborrecida por terem chamado o rapaz de louco. “Ele é seu amigo?” Perguntou o motorista. “Sim, é meu amigo.” Respondeu Tininha.
Os três entraram no carro. Tininha deitou a cabeça do rapaz no seu colo e viu que de sua nuca escorria sangue. Afagou-lhe os cabelos, rezando para que ficasse bem. Uma lágrima rolou dos olhos dela e caiu sobre os lábios do rapaz que acordou lentamente. Ainda com a cabeça apoiada nos braços dela e com dificuldade, o rapaz perguntou: “Eu morri e estou no céu? Você é um anjo?” Tininha abriu um enorme sorriso e respondeu: “Não sou anjo, não. Me chamo Ana Cristina, mas pode me chamar de Tininha.”
O rapaz estava feliz por ter conseguido chamar a atenção de Tininha. Ela, estava feliz por ter encontrado seu príncipe encantado, que de quebra era um super-herói.
Um dia bolou um plano, segundo ela infalível, para encontrar seu príncipe. Contou seu plano às amigas. “Louca!” Disse uma delas. “Você vai morrer, sua maluca!” Disse outra. “Eu acho romântico.” Disse a terceira. A quarta só balançou a cabeça, em sinal de reprovação.
Tininha não tinha queda por sangue, hospital, nada disso. Mal podia suportar uma injeção. Mas ela acreditava que se atravessasse uma rua sem olhar para os lados, poderia ser atingida por um veículo e que o motorista pararia para lhe prestar socorro, ganhando assim, ares de príncipe encantado.
Tininha não era suicida, então escolheu uma rua pouco movimentada. Queria estar na rua certa, na hora certa, para que o carro certo lhe atropelasse e dele descesse, como que de um cavalo branco, o homem que a resgataria.
Sua imaginação era fértil, e ela ia além nos detalhes do plano. Imaginava que o homem seria médico e lhe prestaria ali mesmo os primeiros socorros. Caso não fosse, deveria tomá-la nos braços até o carro, preocupadíssimo com sua integridade física. “E se isso não acontecesse? Se ele largasse você ali, estirada no chão?” Perguntou uma amiga mais sã. “Então, se não há um príncipe para mim, de que vale continuar a viver?” Rebateu Tininha.
No dia seguinte, seguiu até a rua escolhida e colocou sua ideia em ação. Carros buzinaram, desviaram, xingaram Tininha e nada além disso aconteceu. E assim foi por mais alguns dias.
Do lado oposto da rua, todos os dias um rapaz assistia assustado às investidas de Tininha contra os carros. Não entendia porque aquela moça atravessava a rua direto, num só embalo, sem olhar para os lados. Por que uma moça tão bela seria suicida? E por que escolheu aquela maneira de morrer? Isso o deixava profundamente intrigado.
Um dia, sem que Tininha sequer suspeitasse da sua existência, o rapaz decidiu chegar mais cedo àquele cruzamento. Quando ela aproximou-se da rua, o rapaz imediatamente entrou na frente dos carros, fazendo malabarismos bisonhos. Tininha, como sempre, atravessou direto, sem olhar para os carros. Depois que ela alcançou a outra calçada, o rapaz saiu da frente dos carros, que já buzinavam , por pressa ou numa forma de crítica à sua má atuação como malabarista.
Em uma dessas vezes, o barulho das buzinas chamou a atenção de Tininha, que após concluir sua investida, resolveu olhar para trás e viu que o rapaz olhava em sua direção, enquanto fazia malabares. Tininha era pirada, mas não era sonsa. Percebeu imediatamente o que aquele rapaz estava fazendo. Ficou indignada. “Quem esse sujeitinho pensa que é, para interferir no meu destino?” Perguntava a si mesma. Decidiu que no dia seguinte daria o troco. Não daria chance dele se meter no seu plano.
Assim o fez. Caminhou devagar pela calçada, bem lentamente. Avistou o rapaz na calçada oposta. Estava parado, esperando por ela. Um pouco antes do fim da calçada, apertou consideravelmente o passo, para que o rapaz não tivesse tempo de chegar ao centro da rua. O rapaz, que tinha uma visão mais ampla do ponto onde estava, viu um carro se aproximando em alta velocidade, jogou no chão os pinos de malabares e correu para o meio da rua. Tininha ouviu a freada e chegou a tempo de ver o carro acertar em cheio o rapaz e lança-lo para o alto.
Sentiu tudo. Compaixão, raiva, medo, culpa, arrependimento, amor. Se aproximou mais do rapaz e viu as escoriações nos braços e joelhos. Um dos punhos estava visivelmente deslocado e o rapaz, inconsciente. Ela se imaginou no lugar dele, estatelada no asfalto quente, sangrando por vários pontos do corpo.
Ajoelhada ao lado do rapaz, ouviu o motorista do carro dizer: “Não sei o que aconteceu, o cara é louco, entrou na frente do meu carro. Eu não pude frear a tempo.” Tininha ficou aborrecida por terem chamado o rapaz de louco. “Ele é seu amigo?” Perguntou o motorista. “Sim, é meu amigo.” Respondeu Tininha.
Os três entraram no carro. Tininha deitou a cabeça do rapaz no seu colo e viu que de sua nuca escorria sangue. Afagou-lhe os cabelos, rezando para que ficasse bem. Uma lágrima rolou dos olhos dela e caiu sobre os lábios do rapaz que acordou lentamente. Ainda com a cabeça apoiada nos braços dela e com dificuldade, o rapaz perguntou: “Eu morri e estou no céu? Você é um anjo?” Tininha abriu um enorme sorriso e respondeu: “Não sou anjo, não. Me chamo Ana Cristina, mas pode me chamar de Tininha.”
O rapaz estava feliz por ter conseguido chamar a atenção de Tininha. Ela, estava feliz por ter encontrado seu príncipe encantado, que de quebra era um super-herói.
17 comentários:
Lindo! Sem palavras, Camila...
Essa última frase foi demais. Um conto romantico que, em certo ponto, me pareceu ter um desfecho no estilo Romeu e Julieta, mas que acabou me surpreendo. Vindo de vc, uma assassina nata em seus textos, rs, achei que derramou pouco sangue. Só umas escoriaçoes, um sangue na nuca kk.
Mas isso decerto mostrou uma nova faceta de Camila: A mulher que pode ter infintas facetas.
Bjão!
Ai, que coisinha "maisi" fofa...conto de cinderela do asfalto.Muito original e sempre surpreendente.Mais um parabéns.Estou ficando sem repertório para elogios.bjs.
Outra coisa: amei o título!
É verdade Andrea,a Camilíssima esgota nossas possibilidades de elogio,pois ela se enquadra em tudo de bom,seu talento é impressionante.
Como já disse o Lohan:"Camila : A mulher que pode ter infintas facetas."
Parabéns!!!
Que lindo, Camila!
Um conto que encanta.
Nossa, gente, que elogios mais fofos! Obrigada Lohan, Andréa e João, o carinho de vocês é muito importante para mim. Piedade, que bom ter sua visita em um texto meu! Seja sempre bem vinda e obrigada pelo elogio.
Amei essa tragicomédia romântica! Você é mesmo versátil, escreve bem qualquer tipo de texto; provoca variadas sensações em que lê. Ótimo, como se espera que seja!
Historinha pra boi dormir...
Anônimo: "Qual é o mais duro dos críticos? O amador malogrado." (Goethe)
Obrigada pela visita e pelo comentário. Quando estiver com soninho, venha ler meus textos!
kkkk gostei Camila, rs. Primeira crítica do Autores S/A, galera! Viva! rsrs Olha Camila, não q vc tenha merecido, mas isso pode se considerar uma honra, ora! No entanto, aquele que critica, precisa saber fazê-lo tbm. Precisa argumentar o pq da crítica. ''Historinha pra boi dormir'' até mesmo uma criancinha de seis anos digita aí. O negócio é justificar a crítica. Aí é que são elas.
E pra finalizar: Pq não deixar o nome? Isso demonstra que foi alguém conhecido que postou esta crítica. E mesmo que fosse, pq não deixar o nome? Tenho certeza que Camila possui um bom senso suficiente pra não derrocar uma amizade devido uma crítica infantil dessas. É isso. Não estou aqui como advogado dela, até pq ela não necessita de um. É uma grande autora. Estou apenas expondo minha opinião em relação a crítica sem nexo, sem fundamento, enfim, que surgiu no blog. Até a próxima, Camilíssima!
Achei uma graça essa crítica! Tão madura e bem argumentada, que me impressionou, rsrs. Infelizmente, não sei quem é o covardão, ops, anônimo que a postou, mas fico agradecida, pois se deu ao trabalho de deixar um comentário, coisa que muitos não fazem. Críticas são sempre bem vindas e se eu não estivesse pronta para elas, guardaria para mim os meus escritos. Lohan, obrigada pelas belas palavras.
Frase de parachoque de caminhão: "A inveja é a arma dos incompetentes". E são tantos por aí, que só rindo mesmo de tanto despeito.Talvez o "anônimo" só tenha escrito uma frase porque não saiba usar regras de ortografia, pontuação e quiçá, gramaticais, ou seja: mais um analfabeto funcional que sonha em escrever historinhas pra boi dormir, mas nem pra isso deve ter capacidade.
Serais ce possible? É o fim! Se este conto é historinha pra boi dormir, então muito do que se lê por aqui (felizmente não tudo) é historinha pra boi ruminar. Só tenho a dizer que adoro tudo o que a Camila escreve e ahhhh, quer saber? Palhaçada isso... Essa gente precisa ir à "igreja Universal do reino do dízimo", pagar seus pecados em moeda corrente.
Oi Camila! Acompanho sempre o blog e adoro os textos! Parabéns! Beijos, Thais (prima do Leo caso tenham varias Thais haha)
É, Camila, o destino não é nada do que a gente pensa ser. A gente tenta planejar nosso destino, mas ele é que acaba nos orientando. Acho que seu texto nos fala sobre isso. A gente só lê os "fatos" pelas aparências. Porém há muito mais por trás das cortinas do que imagina nossa fã filosofia... Beijos!
Mamãe,amei!!! Essa história é muito bonita e interessante! Pode ser que um dia ela seja real!
Beijos da sua filha Laís!!!
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