Ela estava olhando para o lado. Aquela pose, esbanjando toda a naturalidade que uma mulher pode ter... Aquele ar de seriedade e ao mesmo tempo, um ar mais leve que uma folha de outono sendo carregada pela brisa vespertina... Foi uma foto relâmpago; como ela ficara brava com aquela atitude! O jovem precisou se desculpar umas duzentas vezes. E a enganou, dizendo que havia apagado a foto do arquivo de sua câmera digital. Ora, aquela raridade... Aquela fotografia era mais preciosa do que o mais consagrado quadro do museu do Louvre, seria um pecado capital riscar aquele momento único dos anais da história daquele jovem. Ficava a observando durante horas... Imaginando uma nova maneira de se aproximar, de criar um subterfúgio para um encontro, de “criar uma coincidência” – um esbarrão no calçadão de Copacabana, um encontro fortuito na mesma sala de cinema. Mil possibilidades invadiam sua mente séquida de idéias, projetos, contos, crônicas, personagens, letras de música, melodias... Uma mente repleta de lâmpadas incandescentes, que nunca se apagavam.
Mas aquela luz, que já tanto ofuscou o brilho dos sóis de verão que circulam pelos universos de seu mundo particular, agora se apagava, lentamente. Os lugares escuros continuavam escuros, não enxergava saída para nada. Antes, o fim do túnel sempre estava iluminado. Hoje, nem tanto. Não sabia o que acontecia consigo...
-Ariano? – Chamou Arlete, adentrando em seu quarto.
Ariano fecha rapidamente o ícone da foto de Lia Neide em seu computador.
-Oi mãe. Eu estou bem, ok?
-Hum... Mas o que é isso agora, está me expulsando, é danadinho? – Riu a mãe, indo abraçá-lo.
-Não, né mãe... É que eu posso prever certas perguntas.
-Bobinho! E então, não vai vir jantar com a gente?
-Não, obrigado. To sem fome.
-Não tem essa! Precisa se alimentar direito. Se quiser, eu trago seu prato aqui.
-Não precisa, mãe. Eu já vou, está bem assim?
-A Julia ligou enquanto você dormia. Ela mandou um beijo pra você. E disse que precisava te contar uma coisa...
-Me contar uma coisa? Estranho... Ah, deve ser sobre o texto do Euclides. Ela deve ter odiado. – Sorriu – Sabe, a Julia não vai muito com a cara dele.
-É... Esse seu amigo...
-O que foi, hein mãe? Até você?! – Reclamou.
-Não disse nada, ora! Bem, eu vou indo. Não vai demorar, hein. E nada de ficar horas a fio diante da tela desse computador, o médico...
-Ok mãe, sem sermão! Já basta o do médico.
-Você nem precisa de sermão, Ariano. Já é bem grandinho para ter consciência das coisas. Aliás... Sábado alguém faz aniversário...
-Ih mãe, nem me lembra disso. Eu não gosto de fazer aniversário
-Ei, o que e isso agora? Você sempre gostou!
-Os tempos são outros. Além do mais, nem tem clima para isso. Olha como estou! Todo ferrado aqui, a base de remédios.
-Não exagere. Você sabe que poderia ter sido bem pior. Essa sorte que você teve é mais um motivo para comemorar. Está aí, saudável, graças a Deus, filho! Olha, pode ir esquecendo essa história de aniversário sem comemoração.
-Até sábado a gente resolve isso, mãe. Agora deixa eu terminar minha pesquisa aqui.
-Pesquisa... Sei... Eu percebi que você estava vendo a foto de uma menina.
-Você viu??
-Ah, tenho olhos de águia, Ariano! Não conhece sua mãe? – Sorriu.
Ariano enrubesceu.
-Não precisa ficar com vergonha da sua mãe. Eu e seu pai já notamos que o senhor está apaixonado. É visível.
-Nossa, dou tanta bandeira assim é?
-É, pra você ver... Aposto que é aquela secretária nova do jornal. A tal da... Lia... Não é esse o nome que você disse uma vez?
-Poxa, você é mesmo curiosa, hein. É ela mesma... – Disse, em tom melancólico.
-E por que essa tristeza toda?
-Ela não quer nada comigo. Já tentei duas vezes. Levei quase um dia inteiro para tomar coragem e... Chegar nela, sabe... E no fim das contas, levo um fora.
-Ela te deu um fora? Mas ela foi gros1’sa com você?
-Não, não! Até o fora dela é apaixonante, mãe. – Riu-se, abobalhado - Acho que é a voz dela. Sempre que a ouço meu coração parece que vai explodir. Uma sensação que nunca senti, nunca mesmo.
-Meu Deus, Ariano... Você está mesmo com os quatro pneus arriados por essa moça. Bem... Ela deve ter os motivos dela para ter feito isso com você. Tenha calma, tudo há seu tempo. Vai ver, não é essa a hora de vocês ficarem juntos. Não é você mesmo que costuma repetir aquela frase do Fernando Sabino, seu cronista favorito?
-No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim. – Disseram em coro, a um sorriso.
-Mas é isso, filho. Olha, você que escreve tão bem, nunca pensou em escrever uma poesia de amor para ela? Por que não arrisca? Não há mulher que não ame uma poesia escrita exclusivamente para ela. Rosas e poesia, a combinação perfeita. Quando seu pai me conheceu, ele enviou um cartão lindo para mim.
-Sério? Poxa, vocês nunca me falaram que ele escrevia bem!
-Haha – Gargalhou – Você na sabe da maior! Só depois - uns cinco anos depois - quando já estávamos até casados, é que fui descobrir a tramóia daquele danado. Você acredita que a poesia do cartão, que estava como sendo de sua autoria, era do Carlos Drummond de Andrade?
Os dois caíram na risada.
-Mas funcionou, filho. E sei que você não precisa copiar poesia de autor nenhum. Tem plena capacidade de fazer uma.
-É, eu... Inclusive tenho uma aqui, que fiz quando estava no hospital. Fala de amor...
-Pois então. O que está esperando para enviar a ela?
Ariano mordiscou a ponta do dedo indicador, risonho. Começara a gostar daquela idéia da mãe.
Neste momento, seu celular toca. Ariano estica o braço e o apanha sobre o móvel, ao lado do computador. Ele confere o visor.
-É o Euclides... –Disse Ariano, atendendo em seguida – Alô, Euclides?
Euclides perambulava pelo calçadão de Copacabana, feito um moribundo.
-Ariano, meu irmão! – Cumprimentou, com a voz cortante de desespero.
-O que foi, parece nervoso...
-É, estou passando por uma barra pesada. Tive uma discussão séria com meus pais. Eles praticamente me expulsaram de casa, amigo. To muito mal, perdido pelas ruas aqui... – Muito lamurioso.
-Caramba, fique calmo. Não vai fazer nenhuma besteira, você está de cabeça quente. Para onde está pensando em ir?
-O que houve, filho? – Indagou Arlete, quase afônica.
-Ariano, eu estou sem rumo. A última coisa que quero é voltar para casa. Não tem condições.
-Venha para minha casa! Você tem o meu endereço, não tem?
-Sim, sim, eu sei de cor... – Disse, prendendo um riso dentre os lábios.
-Então, não perca tempo. Venha, sem problemas. Aqui nós conversamos, você pode passar a noite aqui, e amanhã, de cabeça fria, você resolve sua vida.
-Eu não quero incomodar você, amigo. De maneira alguma. Nunca nem fui a sua casa, e logo nessas condições eu irei!
-Se você não vier, ficarei preocupado. Não vai incomodar em nada, deixa de tolice. Você será sempre bem vindo... Aliás, eu to precisando mesmo de uma companhia mais próxima. Será boa a sua presença aqui em casa.
Euclides regozijou-se de alegria.
-Ariano... Você é mesmo excepcional. Te agradeço de coração. Pensei que estivesse chateado comigo, devido aquela discussão que tivemos por telefone...
-E eu pensei o mesmo! – Sorriu – Já esqueci, isso acontece. Não demore chegar, vou esperá-lo para o jantar.
Euclides sorri, cessando os passos.
-Me espere, amigo. Me espere...
Desligaram.
-O Euclides, aqui em casa? – Espantou-se Arlete.
-Qual o problema, mãe? Você ainda alimenta algo contra o meu amigo?
-Nunca alimentei nada contra ele. Eu só acho que vocês ficaram amigos rápido demais. Só isso.
-Não consigo te entender... Prefere me ver sem amigos, é? Ele está passando por um momento difícil, brigou com os pais. Preciso ajudá-lo. Tenho certeza que ele faria o mesmo por mim.
-Está bem, meu filho... Me desculpe. Ele será bem quisto aqui. – Disse, um pouco contrariada - Como você mesmo disse, lhe fará companhia na hora certa. Agora eu vou lá esquentar a janta. Fique bem, querido.
Arlete beija a testa de Ariano, e se retira do quarto. Ariano reflete durante alguns instantes sobre a vinda de Euclides a sua casa. Mas não demorou muito para Lia Neide tomar conta dos seus pensamentos. Ele se direciona novamente para a tela do computador, e abre a imagem dela. Seu rosto se ilumina. Em seguida, abre sua caixa de e-mails.
-Euclides... Graças a você eu salvei essa poesia.
Ariano abre a caixa de e-mails enviados, e lá procura pelo ultimo e-mail que enviou a Euclides. Finalmente, o encontra.
-Eis a poesia que deletei. Esta ressurgirá das cinzas, e vai tocar o coração dela. – Disse, confiante.
Copiou a poesia e a colou em um arquivo de seu computador; logo depois a enviou para Lia Neide.
-Pronto. Agora só faltam as rosas.
Vinte minutos antes...
Euclides escreve um bilhete enquanto sua avó jaz ao pé da escada.
- “Mãe, pai – Não agüento mais. Cansei disso tudo, dessa indiferença, esse menosprezo comigo. Hoje vou dormir fora, pensar muito na minha vida, e tentar encontrar uma solução para todos esses problemas. Quem sabe assim, na minha ausência, vocês não pensem mais em mim?”.
Euclides dos Santos
Euclides deixa o pedaço de papel e a caneta sobre a mesa de centro da sala. Ele relanceia o olhar para a avó morta, e respira fundo. Vai até a escada, desvencilha-se do corpo da avó, sobe a escada e se dirige até o quarto da falecida. Lá, ele abre a ultima gaveta da sua cômoda de mogno dos anos cinqüenta, e retira algumas peças de roupa que ali havia arrumado. Euclides pressiona um dos extremos do fundo da gaveta, e o desencaixa. Já tinha conhecimento daquele fundo falso. Certa vez, bisbilhotando a avó, ele a viu esconder um montante de dinheiro naquele local secreto. Sempre esperou o momento certo para por as mãos naquelas economias tão inocentemente escondidas. Ao se deparar com a quantidade de dinheiro, se surpreende. Havia, ali, mais de trinta montantes de cem reais.
-Nossa... Velha burra. Podia ter depositado tudo numa conta, mas não... Medo de ser assaltada quando sacasse o dinheiro. Medo do banco roubá-la. – Ri, extasiado com toda aquela grana diante de seus olhos epiléticos - Mentalidade de velho é um problema sério.
Euclides apanha uns quatro montantes daqueles, e encaixa o fundo falso da gaveta, deixando o restante lá.
-Não posso deixar vestígio de roubo, nada disso. Se ninguém descobrir esse esconderijo, depois dou cabo do resto. – Pensou em voz alta.
Euclides guarda o dinheiro em um envelope pardo, o dobra e o coloca debaixo do braço. Ele desce a escada, olha a avó por uma última vez, e assopra um beijo para ela.
E deixa a casa.
Passa pela portaria as sete horas e dois minutos. O porteiro, um senhor de idade, chamado Vilela, o cumprimenta, interrompendo sua novela, a qual assistia pela sua tv de quatorze polegadas.
-Bom estudo, Euclides! Não está saindo tarde hoje?
Euclides se deteve, já à saída, e pensou: “Esse porteiro, sempre intrometido”...
-Não, hoje não vou a faculdade.
-Parece nervoso. Aconteceu alguma coisa?
-Sim, aconteceu. Briguei com meus pais, vou dormir fora hoje. Adeus, Sr. Vilela.
-Ariano? – Chamou Arlete, adentrando em seu quarto.
Ariano fecha rapidamente o ícone da foto de Lia Neide em seu computador.
-Oi mãe. Eu estou bem, ok?
-Hum... Mas o que é isso agora, está me expulsando, é danadinho? – Riu a mãe, indo abraçá-lo.
-Não, né mãe... É que eu posso prever certas perguntas.
-Bobinho! E então, não vai vir jantar com a gente?
-Não, obrigado. To sem fome.
-Não tem essa! Precisa se alimentar direito. Se quiser, eu trago seu prato aqui.
-Não precisa, mãe. Eu já vou, está bem assim?
-A Julia ligou enquanto você dormia. Ela mandou um beijo pra você. E disse que precisava te contar uma coisa...
-Me contar uma coisa? Estranho... Ah, deve ser sobre o texto do Euclides. Ela deve ter odiado. – Sorriu – Sabe, a Julia não vai muito com a cara dele.
-É... Esse seu amigo...
-O que foi, hein mãe? Até você?! – Reclamou.
-Não disse nada, ora! Bem, eu vou indo. Não vai demorar, hein. E nada de ficar horas a fio diante da tela desse computador, o médico...
-Ok mãe, sem sermão! Já basta o do médico.
-Você nem precisa de sermão, Ariano. Já é bem grandinho para ter consciência das coisas. Aliás... Sábado alguém faz aniversário...
-Ih mãe, nem me lembra disso. Eu não gosto de fazer aniversário
-Ei, o que e isso agora? Você sempre gostou!
-Os tempos são outros. Além do mais, nem tem clima para isso. Olha como estou! Todo ferrado aqui, a base de remédios.
-Não exagere. Você sabe que poderia ter sido bem pior. Essa sorte que você teve é mais um motivo para comemorar. Está aí, saudável, graças a Deus, filho! Olha, pode ir esquecendo essa história de aniversário sem comemoração.
-Até sábado a gente resolve isso, mãe. Agora deixa eu terminar minha pesquisa aqui.
-Pesquisa... Sei... Eu percebi que você estava vendo a foto de uma menina.
-Você viu??
-Ah, tenho olhos de águia, Ariano! Não conhece sua mãe? – Sorriu.
Ariano enrubesceu.
-Não precisa ficar com vergonha da sua mãe. Eu e seu pai já notamos que o senhor está apaixonado. É visível.
-Nossa, dou tanta bandeira assim é?
-É, pra você ver... Aposto que é aquela secretária nova do jornal. A tal da... Lia... Não é esse o nome que você disse uma vez?
-Poxa, você é mesmo curiosa, hein. É ela mesma... – Disse, em tom melancólico.
-E por que essa tristeza toda?
-Ela não quer nada comigo. Já tentei duas vezes. Levei quase um dia inteiro para tomar coragem e... Chegar nela, sabe... E no fim das contas, levo um fora.
-Ela te deu um fora? Mas ela foi gros1’sa com você?
-Não, não! Até o fora dela é apaixonante, mãe. – Riu-se, abobalhado - Acho que é a voz dela. Sempre que a ouço meu coração parece que vai explodir. Uma sensação que nunca senti, nunca mesmo.
-Meu Deus, Ariano... Você está mesmo com os quatro pneus arriados por essa moça. Bem... Ela deve ter os motivos dela para ter feito isso com você. Tenha calma, tudo há seu tempo. Vai ver, não é essa a hora de vocês ficarem juntos. Não é você mesmo que costuma repetir aquela frase do Fernando Sabino, seu cronista favorito?
-No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim. – Disseram em coro, a um sorriso.
-Mas é isso, filho. Olha, você que escreve tão bem, nunca pensou em escrever uma poesia de amor para ela? Por que não arrisca? Não há mulher que não ame uma poesia escrita exclusivamente para ela. Rosas e poesia, a combinação perfeita. Quando seu pai me conheceu, ele enviou um cartão lindo para mim.
-Sério? Poxa, vocês nunca me falaram que ele escrevia bem!
-Haha – Gargalhou – Você na sabe da maior! Só depois - uns cinco anos depois - quando já estávamos até casados, é que fui descobrir a tramóia daquele danado. Você acredita que a poesia do cartão, que estava como sendo de sua autoria, era do Carlos Drummond de Andrade?
Os dois caíram na risada.
-Mas funcionou, filho. E sei que você não precisa copiar poesia de autor nenhum. Tem plena capacidade de fazer uma.
-É, eu... Inclusive tenho uma aqui, que fiz quando estava no hospital. Fala de amor...
-Pois então. O que está esperando para enviar a ela?
Ariano mordiscou a ponta do dedo indicador, risonho. Começara a gostar daquela idéia da mãe.
Neste momento, seu celular toca. Ariano estica o braço e o apanha sobre o móvel, ao lado do computador. Ele confere o visor.
-É o Euclides... –Disse Ariano, atendendo em seguida – Alô, Euclides?
Euclides perambulava pelo calçadão de Copacabana, feito um moribundo.
-Ariano, meu irmão! – Cumprimentou, com a voz cortante de desespero.
-O que foi, parece nervoso...
-É, estou passando por uma barra pesada. Tive uma discussão séria com meus pais. Eles praticamente me expulsaram de casa, amigo. To muito mal, perdido pelas ruas aqui... – Muito lamurioso.
-Caramba, fique calmo. Não vai fazer nenhuma besteira, você está de cabeça quente. Para onde está pensando em ir?
-O que houve, filho? – Indagou Arlete, quase afônica.
-Ariano, eu estou sem rumo. A última coisa que quero é voltar para casa. Não tem condições.
-Venha para minha casa! Você tem o meu endereço, não tem?
-Sim, sim, eu sei de cor... – Disse, prendendo um riso dentre os lábios.
-Então, não perca tempo. Venha, sem problemas. Aqui nós conversamos, você pode passar a noite aqui, e amanhã, de cabeça fria, você resolve sua vida.
-Eu não quero incomodar você, amigo. De maneira alguma. Nunca nem fui a sua casa, e logo nessas condições eu irei!
-Se você não vier, ficarei preocupado. Não vai incomodar em nada, deixa de tolice. Você será sempre bem vindo... Aliás, eu to precisando mesmo de uma companhia mais próxima. Será boa a sua presença aqui em casa.
Euclides regozijou-se de alegria.
-Ariano... Você é mesmo excepcional. Te agradeço de coração. Pensei que estivesse chateado comigo, devido aquela discussão que tivemos por telefone...
-E eu pensei o mesmo! – Sorriu – Já esqueci, isso acontece. Não demore chegar, vou esperá-lo para o jantar.
Euclides sorri, cessando os passos.
-Me espere, amigo. Me espere...
Desligaram.
-O Euclides, aqui em casa? – Espantou-se Arlete.
-Qual o problema, mãe? Você ainda alimenta algo contra o meu amigo?
-Nunca alimentei nada contra ele. Eu só acho que vocês ficaram amigos rápido demais. Só isso.
-Não consigo te entender... Prefere me ver sem amigos, é? Ele está passando por um momento difícil, brigou com os pais. Preciso ajudá-lo. Tenho certeza que ele faria o mesmo por mim.
-Está bem, meu filho... Me desculpe. Ele será bem quisto aqui. – Disse, um pouco contrariada - Como você mesmo disse, lhe fará companhia na hora certa. Agora eu vou lá esquentar a janta. Fique bem, querido.
Arlete beija a testa de Ariano, e se retira do quarto. Ariano reflete durante alguns instantes sobre a vinda de Euclides a sua casa. Mas não demorou muito para Lia Neide tomar conta dos seus pensamentos. Ele se direciona novamente para a tela do computador, e abre a imagem dela. Seu rosto se ilumina. Em seguida, abre sua caixa de e-mails.
-Euclides... Graças a você eu salvei essa poesia.
Ariano abre a caixa de e-mails enviados, e lá procura pelo ultimo e-mail que enviou a Euclides. Finalmente, o encontra.
-Eis a poesia que deletei. Esta ressurgirá das cinzas, e vai tocar o coração dela. – Disse, confiante.
Copiou a poesia e a colou em um arquivo de seu computador; logo depois a enviou para Lia Neide.
-Pronto. Agora só faltam as rosas.
Vinte minutos antes...
Euclides escreve um bilhete enquanto sua avó jaz ao pé da escada.
- “Mãe, pai – Não agüento mais. Cansei disso tudo, dessa indiferença, esse menosprezo comigo. Hoje vou dormir fora, pensar muito na minha vida, e tentar encontrar uma solução para todos esses problemas. Quem sabe assim, na minha ausência, vocês não pensem mais em mim?”.
Euclides dos Santos
Euclides deixa o pedaço de papel e a caneta sobre a mesa de centro da sala. Ele relanceia o olhar para a avó morta, e respira fundo. Vai até a escada, desvencilha-se do corpo da avó, sobe a escada e se dirige até o quarto da falecida. Lá, ele abre a ultima gaveta da sua cômoda de mogno dos anos cinqüenta, e retira algumas peças de roupa que ali havia arrumado. Euclides pressiona um dos extremos do fundo da gaveta, e o desencaixa. Já tinha conhecimento daquele fundo falso. Certa vez, bisbilhotando a avó, ele a viu esconder um montante de dinheiro naquele local secreto. Sempre esperou o momento certo para por as mãos naquelas economias tão inocentemente escondidas. Ao se deparar com a quantidade de dinheiro, se surpreende. Havia, ali, mais de trinta montantes de cem reais.
-Nossa... Velha burra. Podia ter depositado tudo numa conta, mas não... Medo de ser assaltada quando sacasse o dinheiro. Medo do banco roubá-la. – Ri, extasiado com toda aquela grana diante de seus olhos epiléticos - Mentalidade de velho é um problema sério.
Euclides apanha uns quatro montantes daqueles, e encaixa o fundo falso da gaveta, deixando o restante lá.
-Não posso deixar vestígio de roubo, nada disso. Se ninguém descobrir esse esconderijo, depois dou cabo do resto. – Pensou em voz alta.
Euclides guarda o dinheiro em um envelope pardo, o dobra e o coloca debaixo do braço. Ele desce a escada, olha a avó por uma última vez, e assopra um beijo para ela.
E deixa a casa.
Passa pela portaria as sete horas e dois minutos. O porteiro, um senhor de idade, chamado Vilela, o cumprimenta, interrompendo sua novela, a qual assistia pela sua tv de quatorze polegadas.
-Bom estudo, Euclides! Não está saindo tarde hoje?
Euclides se deteve, já à saída, e pensou: “Esse porteiro, sempre intrometido”...
-Não, hoje não vou a faculdade.
-Parece nervoso. Aconteceu alguma coisa?
-Sim, aconteceu. Briguei com meus pais, vou dormir fora hoje. Adeus, Sr. Vilela.
Euclides segue seu rumo, deixando o Sr. Vilela “a ver navios”. Ele vai até o banco e deposita todo o dinheiro em sua conta. Depois vai direto para o calçadão de Copacabana, e por lá fica vagando, buscando idéias enquanto ouvia o marulho, observava os casais de namorados... Decide ligar para Ariano.
Euclides e Ariano jantavam à mesa da cozinha, sozinhos. Ambos terminavam seus pratos.
-Sua casa é linda, Ariano. Nem tão grande, nem tão pequena. É perfeita.
-Ah, que nada... Nada nem ninguém são perfeitos. Mas uma coisa eu tenho que dar graças a Deus: ao menos nesta casa, não há escada. – Sorriu.
Euclides quase engasgou. Tomou um gole do seu suco.
-Como assim... Impressão minha ou insinuou algo? – Perguntou, sempre desconfiado.
-Como? – Indagou Ariano, aturdido.
-Não sei, você disse que não tem escada... Não entendi.
-Por que eu insinuaria algo com isso, Euclides? Não tem escada! Se liga. Se esqueceu que eu cai de uma escada?
Euclides sente-se aliviado, bebe o restante do suco numa virada só.
-Ah... É verdade, “viajei” agora. – Sorri Euclides, sem graça.
A imagem de sua avó desabando da escada tomou conta de sua mente. Para riscá-la, ele logo puxa outro assunto:
-Ariano, sua mãe cozinha muito bem, cara. Nunca comi uma macarronada tão deliciosa.
-Cozinha mesmo. - Sorri Ariano, enquanto apeava os talheres, o prato vazio.
-Minha mãe não sabe nem fritar um ovo direito.
-Falando nisso, Euclides... O que houve afinal entre você e seus pais?
-Nós discutimos... Eles não se importam comigo. Minha mãe fica mais tempo dentro do closet dela escolhendo o vestido para a festa do que comigo. Meu pai, quando não está no trabalho, está malhando, ou vendo filme... Não existe diálogo, não existe afeto naquela casa. Sempre foi assim. Só que hoje eu resolvi falar.
-Já devia ter feito isso há muito tempo. Você tem 25 anos, cara. Eu, no seu lugar, já teria dado o fora. Nem que seja para casa de um amigo. Me acertava financeiramente, e encaminhava minha vida.
-Mas eu sempre vivi na esperança de ser... De ser notado por eles, sabe? De ser admirado, como um filho exemplar. Esperei vinte e cinco anos por esse dia.
-Chega de se iludir, Euclides. Busque seu espaço, de o seu melhor, e note-se a si mesmo. Só assim, o sucesso virá e, conseqüentemente, todos terão olhos para você.
-Como é com você, não é Ariano?
-Como?
-Todos têm olhos para você.
Ariano fica embaraçado, remexe nos talheres.
-Nem adianta vir com falsa modéstia. Eu sei disso. Inclusive eu te admiro muito.
-Eu agradeço, amigo. Mas nem todos tem olhos para mim...
Ariano faz uma expressão carregada de tristeza.
-Já sei. A Lia Neide...
-Ela mesma.
-Ela também admira você.
-Ela já te disse isso?
-Não, pô. Mas quem não admira?
-Admiração, somente admiração... ! Isso não é suficiente para alimentar a alma, Euclides. A alma...Ah, a alma necessita de amor! – Diz, com convicção – A minha alma está passando por um período de inanição, de sede, de calor. Eu sinto frio, Euclides.
-Eu te entendo. Mas não fica assim. Olha, mulher é que não falta nesse mundo. Por que não tenta esquecer a Lia?
-Esquecer a Lia?!
-Isso já está virando uma obsessão.
-Não, não é uma obsessão! – Alterou-se, contrariado.
-A Lia é muito cheia de coisa, esnobe. É o que eu acho. E quer saber... Ela nem é tão bonita como você diz...
-Pirou, Euclides? Você está falando da mesma mulher que eu?
-Estou sendo sincero, é a minha opinião.
Ariano balança a cabeça, indignado.
-Ok... Seja ela como for, eu a amo, e isso que importa. Ah, deixa eu te falar... Não sabe aquela poesia que enviei pra você aquela vez?
Euclides, que tinha os olhos fitos na mesa, os arregala, mirando Ariano a um sobressalto.
-Aquela... “Donde”?? O que tem ela? – Nervoso.
-Exatamente. Eu enviei a ela hoje.
-Espera... Você disse que enviou a Lia?? Mas, mas... Você não tinha...?
-Sim, eu a deletei. Mas a sorte é que havia enviado a você. Fui em meus e-mails enviados, e a salvei. Na verdade, ela ficou boa. É que naquele dia não estava atinando direito. Estava meio inconformado com a situação ainda, sabe como? Agora é torcer para ela aprovar, reparar meu lado poético. Pode ser um bom meio para conquistá-la.
As mãos de Euclides ficaram tremulas. Ele as ocultou sob a mesa. Não se sentiu assim nem quando assassinou a avó, há menos de duas horas.
-Não vai me dizer nada, Euclides? Nem que foi uma boa idéia? Você leu a poesia, está boa, não esta?
-Ta, ta, claro que sim! Desculpa, mas é que... É que hoje eu to meio exausto também.
-Vamos para o quarto. Arrumamos sua cama, e você descansa.
-É, vamos. – Assentiu ele, com os pensamentos em turbulência.
“Céus... E agora, o que faço? Ela vai ler, vai questionar o Ariano sobre isso! Tudo virá à tona. Maldição!” – Pensava, enquanto lavava a louça.
Ariano, sentado a mesa, disse:
-Euclides, eu disse para não se incomodar!
-Já disse, eu quero fazer isso, cara. É uma distração.
Arlete aparece na cozinha, e logo adverte Ariano.
-Filho! Você deixou ele lavar as louças?
-Ele é teimoso, mãe. Deixa ele...
-Fique tranqüila, dona Arlete. É o mínimo que posso fazer para a agradecer todo esse carinho de vocês, essa acolhida.
-Que nada. E aí, o que achou da nossa casa?
-Maravilhosa. Não tem um terço do tamanho da minha, mas é a casa dos meus sonhos. Pra que casa grande, nunca gostei. O legal é assim... Um canto acolhedor, poucos cômodos... – Dizia, interrompendo o serviço - Os contatos são mais íntimos, tem mais cara de lar, de família. Uma família feliz. – Completou, em tom quase melancólico.
Arlete e Ariano se entreolharam, compadecidos pelo rapaz.
-Até piano vocês têm! – Sorriu Euclides, para logo disfarçar a tristeza que o abatera.
-É, riu Arlete, aquele “monstro” lá na sala pertence ao meu marido. Ele o tem desde jovem. O pai dele era músico.
-E ele toca com freqüência?
-Não, não! Se acomodou, há séculos que não toca! Mas o Ariano...
Euclides interrompe a lavagem novamente, e olha para Ariano.
-Ah, mãe... – Ri Ariano, modesto.
-O Ariano sabe tocar, e toca como ninguém. É o Mozart da família!
Euclides deixa escapulir um copo, que se quebra dentro da pia, e corta sua mão.
-Droga! Me desculpem, me desculpem!
Rapidamente ele começa a recolher os cacos na pia.
-Não, deixa que eu vejo isso, Euclides! Não se preocupe, isso acontece sempre!
-Viu, fui querer me intrometer em serviço domestico... Isso que dá.
Arlete tomou o lugar de Euclides. Ela repara algumas gotas de sangue na pia.
-Você cortou a mão. Deixa eu ver.
-Não foi nada...
-Claro que foi, deixa eu ver.
Euclides mostra a palma da mão a Arlete. Um filete de sangue escorria do pequeno talho.
-Leve o seu amigo até o banheiro, Ariano. E faça um curativo para ele.
-Não é...
-Vamos, Euclides. – Cortou Ariano – Siga-me.
No banheiro, Euclides pediu a Ariano que o deixasse sozinho.
-O material para o curativo está no armário. – Avisou Ariano, que se retirou em seguida.
Euclides trancou a porta. Olhou-se no espelho, que quase trincou com aquele olhar epilético poderoso. Pegou seu celular no bolso da calça e acionou sua caixa de mensagens. Lá, começou a digitar uma mensagem de texto:
-“Olá, Lia, como vc ta? Nem nos vimos hj, pq faltou o trabalho? Aconteceu alguma csa? Leu o txto que escrevi, substituindo o Ariano? Dessa vez não foi relacionado a esporte, rsrs. Espero que tenha gstado. Ah, mandei aquela minha poesia para o Ariano. Ele ficou de revisá-la para mim, estou com vontade de publicá-la no jornal. Vc permite isso? Afinal, ela agora é sua, rs. Bjs, Euclides.”
Euclides envia a mensagem.
-Mensagem enviada... Ah... – Suspira, aliviado – Por enquanto é o máximo que posso fazer.
Ele desliga o celular.
-Pronto. Agora não há como atrapalharem minha noite com noticias fúnebres...
Euclides lava a mão ferida, e enrola nela uma gaze. Sai do banheiro.
A noite ia alta, e os dois rapazes já estavam deitados, cada um em sua cama, sendo que Euclides estava deitado em um colchão, no chão. Logo acima dele estava Ariano. Sem sono, os dois conversavam de luzes apagadas.
-Obrigado, meu amigo... Depois daquela discussão que tivemos no telefone, pensei que não fosse mais falar comigo. – Disse Euclides.
-Imagina... Isso acontece. Além do mais, nem foi tão grave assim, existem coisas piores.
-Acha que foi bem substituído? – Graceja Euclides.
-Oh, claro que fui... Você escreve bem. Mas precisa melhorar em alguns detalhes, como atualização vocabular. Precisa ser mais despojado, menos “quadrado” na escrita.
-Cara, eu fiz Letras, e entendo disso melhor que você.
-Pra escrever bem, não é de praxe ser graduado em Letras. A escrita vai alem de qualquer ciência, qualquer curso. A magia da escrita... Quem escreve, é mágico. E para que ninguém descubra seu truque... É preciso fazê-la com maestria.
-Acho que a Julia não curte muito a minha escrita... Ela age muito estranha comigo. Ela nunca me criticou com você? Diga a verdade.
-Ora... De onde tirou isso, Euclides? Ela te tratou mal? – Disfarçou.
-Não... Bem, eu sinto que ela fala comigo quase que por uma obrigação. Não sei porque, nunca fiz nada contra ela.
-E nem haveria porque fazer, né. Ela é uma ótima pessoa. Na verdade, ela só comentou uma vez comigo que o santo dela não batia muito com o seu, que era para eu ficar atento... Bobeira dela. Não esquenta, ela é assim com várias pessoas. Muito intuitiva. Não sou muito ligado a intuições. Confio mais no meu poder racional.
-Bom saber disso. Então ela não te disse mais nada? Não me esconda, Ariano... Se não vou achar que não confia mais em mim.
-Não, não disse. Fique tranqüilo. Agora vamos dormir. Amanhã preciso acordar cedo para tomar meu remédio, esse que está sobre a escrivaninha. Odeio esse remédio, quase um mata-leão. Um comprimido que dissolvo num copo d’água já me deixa grogue durante um bom tempo.
-É, mas é preciso se cuidar. Vamos dormir... Boa noite.
-Boa noite.
-Obrigado, meu amigo... Depois daquela discussão que tivemos no telefone, pensei que não fosse mais falar comigo. – Disse Euclides.
-Imagina... Isso acontece. Além do mais, nem foi tão grave assim, existem coisas piores.
-Acha que foi bem substituído? – Graceja Euclides.
-Oh, claro que fui... Você escreve bem. Mas precisa melhorar em alguns detalhes, como atualização vocabular. Precisa ser mais despojado, menos “quadrado” na escrita.
-Cara, eu fiz Letras, e entendo disso melhor que você.
-Pra escrever bem, não é de praxe ser graduado em Letras. A escrita vai alem de qualquer ciência, qualquer curso. A magia da escrita... Quem escreve, é mágico. E para que ninguém descubra seu truque... É preciso fazê-la com maestria.
-Acho que a Julia não curte muito a minha escrita... Ela age muito estranha comigo. Ela nunca me criticou com você? Diga a verdade.
-Ora... De onde tirou isso, Euclides? Ela te tratou mal? – Disfarçou.
-Não... Bem, eu sinto que ela fala comigo quase que por uma obrigação. Não sei porque, nunca fiz nada contra ela.
-E nem haveria porque fazer, né. Ela é uma ótima pessoa. Na verdade, ela só comentou uma vez comigo que o santo dela não batia muito com o seu, que era para eu ficar atento... Bobeira dela. Não esquenta, ela é assim com várias pessoas. Muito intuitiva. Não sou muito ligado a intuições. Confio mais no meu poder racional.
-Bom saber disso. Então ela não te disse mais nada? Não me esconda, Ariano... Se não vou achar que não confia mais em mim.
-Não, não disse. Fique tranqüilo. Agora vamos dormir. Amanhã preciso acordar cedo para tomar meu remédio, esse que está sobre a escrivaninha. Odeio esse remédio, quase um mata-leão. Um comprimido que dissolvo num copo d’água já me deixa grogue durante um bom tempo.
-É, mas é preciso se cuidar. Vamos dormir... Boa noite.
-Boa noite.
Cada um virou para o seu canto. Ariano logo pegou no sono. Euclides permaneceu acordado por um bom tempo, de olhos bem abertos. Seu olhar epilético parecia reluzir no escuro de tão vivo. Uma vida que inspirava a morte. Pensou em muitas coisas... Principalmente no longo dia que estava por vir...
Na manhã seguinte, Arlete entra no quarto do filho. Ariano ainda dorme. A cama de Euclides está feita, e ele, já não estava mais na casa. Provavelmente saiu cedo.
Arlete balança o ombro de Ariano, que não desperta.
-Tadinho... Esse remédio acaba com ele... – Murmura ela, alisando a cabeça de Ariano.
Ela sai do quarto, e encosta a porta.
Eram onze da manhã quando Euclides chegava na entrada do prédio do jornal. Ele cumprimenta o porteiro e vê, a poucos metros, um casal discutindo, próximo ao elevador. Era Lia Neide e um outro rapaz musculoso.
-Quem é aquele que está com ela, Seu Romeu? – Pergunta Euclides ao porteiro.
-Não sei... Estão ali já faz uns dez minutos... E não parecem muito amigáveis não.
Arlete balança o ombro de Ariano, que não desperta.
-Tadinho... Esse remédio acaba com ele... – Murmura ela, alisando a cabeça de Ariano.
Ela sai do quarto, e encosta a porta.
Eram onze da manhã quando Euclides chegava na entrada do prédio do jornal. Ele cumprimenta o porteiro e vê, a poucos metros, um casal discutindo, próximo ao elevador. Era Lia Neide e um outro rapaz musculoso.
-Quem é aquele que está com ela, Seu Romeu? – Pergunta Euclides ao porteiro.
-Não sei... Estão ali já faz uns dez minutos... E não parecem muito amigáveis não.
Euclides fica ali, a observá-los. Não dava para ouvir muito bem o que eles diziam, pois o tom vocálico de Lia era moderado. Ela odiava escândalos.
-Adalberto, eu já disse, me deixa subir para o meu trabalho. Não gosto de escândalo, de discussão em locais públicos. Você sabe disso.
-Eu não vim aqui pra discutir, Lia. Eu só queria te ver, te abraçar...
-Por favor... Nós terminamos, nós, nós... Não temos mais nada.
-Você ainda me ama, eu sinto isso.
-Sente! Ah, sente! Você não sabe o que é sentimento.
-Ao contrário do que você pensa, eu sei muito bem. Eu sinto, muito vivo dentro de mim, o amor. Não consigo pensar em mais ninguém. Só você. Volta pra mim.
-Olha, depois conversamos isso, agora preciso ir...
Lia ameaçou acionar o elevador. Adalberto segura em seu braço e lhe rouba um beijo na boca.
Euclides estremece ao presenciar aquela cena.
-Ih... Pelo visto os pombinhos se entenderam. – Sorri o porteiro.
Lia empurra Adalberto após trinta segundos de um ardente beijo, lhe desferindo um leve tapa na face esquerda.
-Você foi longe demais! – Grita, desta vez.
Ela força a passagem. Aciona o elevador, e logo entra.
-Nunca mais apareça na minha frente. – Ordena ela, já no interior do elevador.
Adalberto, estático, a olha partir. Ela sobe. Ele, com um sorriso malicioso, passa a mão suavemente sobre os lábios e a coloca no bolso da calça, como quem pega o beijo e guarda, para não mais perdê-lo.
Ele sai do prédio, eufórico, sem nem reparar em Euclides.
-Quem não gostaria de beijar aquela moça, han? – Brinca o simpático porteiro.
Euclides não lhe dá ouvidos, e sobe.
Chegando na redação, ele logo é abordado por Haroldo.
-Bom dia, Euclides. – Disse o editor, assombroso. – Chegando mais cedo?
-Sim, sim... Eu não tinha nada a fazer, resolvi vir mais cedo para ajudar. O que houve, parece estranho.
-Bem... Não tenho boas notícias, rapaz. Não quer se sentar?
-Não, não, estou bem assim. Agüento o tranco. Conte. Já sei. Vai me dispensar do novo cargo. Não gostou do que escrevi.
-Não, não... Nada a ver com trabalho. Sua mãe ligou para cá. Ela tentou desesperadamente te ligar ontem e hoje, mas não conseguiu.
-Meu celular está descarregado. Dormi fora. O que aconteceu? – Indagou, fingindo desespero.
Haroldo hesitou, pensando na melhor maneira para noticiar aquele falecimento. Detestava esses tipos de situação, no entanto, costumava ser direto.
-Parece que a sua avó sofreu um acidente. Caiu da escada.
-E?? Ela está bem, em que hospital ela está?
Ele vacila, e diz de uma só vez:
-Ela está morta.
-Adalberto, eu já disse, me deixa subir para o meu trabalho. Não gosto de escândalo, de discussão em locais públicos. Você sabe disso.
-Eu não vim aqui pra discutir, Lia. Eu só queria te ver, te abraçar...
-Por favor... Nós terminamos, nós, nós... Não temos mais nada.
-Você ainda me ama, eu sinto isso.
-Sente! Ah, sente! Você não sabe o que é sentimento.
-Ao contrário do que você pensa, eu sei muito bem. Eu sinto, muito vivo dentro de mim, o amor. Não consigo pensar em mais ninguém. Só você. Volta pra mim.
-Olha, depois conversamos isso, agora preciso ir...
Lia ameaçou acionar o elevador. Adalberto segura em seu braço e lhe rouba um beijo na boca.
Euclides estremece ao presenciar aquela cena.
-Ih... Pelo visto os pombinhos se entenderam. – Sorri o porteiro.
Lia empurra Adalberto após trinta segundos de um ardente beijo, lhe desferindo um leve tapa na face esquerda.
-Você foi longe demais! – Grita, desta vez.
Ela força a passagem. Aciona o elevador, e logo entra.
-Nunca mais apareça na minha frente. – Ordena ela, já no interior do elevador.
Adalberto, estático, a olha partir. Ela sobe. Ele, com um sorriso malicioso, passa a mão suavemente sobre os lábios e a coloca no bolso da calça, como quem pega o beijo e guarda, para não mais perdê-lo.
Ele sai do prédio, eufórico, sem nem reparar em Euclides.
-Quem não gostaria de beijar aquela moça, han? – Brinca o simpático porteiro.
Euclides não lhe dá ouvidos, e sobe.
Chegando na redação, ele logo é abordado por Haroldo.
-Bom dia, Euclides. – Disse o editor, assombroso. – Chegando mais cedo?
-Sim, sim... Eu não tinha nada a fazer, resolvi vir mais cedo para ajudar. O que houve, parece estranho.
-Bem... Não tenho boas notícias, rapaz. Não quer se sentar?
-Não, não, estou bem assim. Agüento o tranco. Conte. Já sei. Vai me dispensar do novo cargo. Não gostou do que escrevi.
-Não, não... Nada a ver com trabalho. Sua mãe ligou para cá. Ela tentou desesperadamente te ligar ontem e hoje, mas não conseguiu.
-Meu celular está descarregado. Dormi fora. O que aconteceu? – Indagou, fingindo desespero.
Haroldo hesitou, pensando na melhor maneira para noticiar aquele falecimento. Detestava esses tipos de situação, no entanto, costumava ser direto.
-Parece que a sua avó sofreu um acidente. Caiu da escada.
-E?? Ela está bem, em que hospital ela está?
Ele vacila, e diz de uma só vez:
-Ela está morta.
Euclides finge uma vertigem. Haroldo segura em seu braço, e pede que tragam um copo d’água.
De longe, Julia Medeiros observa a tudo, tomando uma xícara de café. Ela não se comove nem um pouco.
-Quanta encenação. E quanta sorte ele tem. Estava preste a ser demitido. E agora...
Sentado em uma cadeira, dentre a multidão, Euclides avista Julia de longe a observá-lo friamente, como uma águia mirando sua presa, preste a atacá-la. Os olhares se cruzam... Se fixam... “Preciso dar um jeito nessa mulher”, ele pensa... “Ele precisa ser desmascarado o quanto antes...”, ela pensa.
O olhar epilético. O olhar arguto. Um confronto.
CONTINUA NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA...
De longe, Julia Medeiros observa a tudo, tomando uma xícara de café. Ela não se comove nem um pouco.
-Quanta encenação. E quanta sorte ele tem. Estava preste a ser demitido. E agora...
Sentado em uma cadeira, dentre a multidão, Euclides avista Julia de longe a observá-lo friamente, como uma águia mirando sua presa, preste a atacá-la. Os olhares se cruzam... Se fixam... “Preciso dar um jeito nessa mulher”, ele pensa... “Ele precisa ser desmascarado o quanto antes...”, ela pensa.
O olhar epilético. O olhar arguto. Um confronto.
CONTINUA NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA...
5 comentários:
Ariano, Euclides, Júlia, "Lady Neide".....onde irão parar todos? Quais serão os seus "dharmas"? Não posso e nem quero perder os próximos capítulos. Tá ficando demais!! Salve Lohan.
OLA LOHAN!!!Esse Euclides está a cada semana pior e pior.....INSUPORTAVELMENTE INTOLERÁVEL!!!! hehehe Será que só a Júlia dentre todos os outros personagens é que percebeu o TRASTE que ele é??? Alem de cometer inúmeras fraudes até agora, ele matou a avó e tudo indica que matou o Ariano tbm....Eu particularmente gostaria que ele tivesse um final tào trágico e sádico como ele está sendo.....Aceite meu elogio a voce pela sua bela estória/sua mente fértil e criativa!!!! abs!!!
Obrigado, minhas queridas amigas!
Ivelise, com certeza eu aceito seu elogio!
Andrea, o Dharma dessa galera será longo, rs.
Bjao, até a proxima, que vai pegar fogo kk
Finalmente hoje consegui ler Lohan!
Esta novela está fantástica!
Me impressiona seu poder de articulação com as palavras e as descrições que faz.
Você é um grande exemplo para mim.
Abraços e mais uma vez Parabéns!!!
Obrigado João, vc tbm é grande exemplo para mim, em vários outros quesitos, que não caberia numerá-los agora aqui, em uma pequena janela de comentários. Grande amigo!
Abraços!
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