quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Dama de Chapéu.




Quem terá sido ela?
Minha mãe?
Minha irmã?
Minha tia?
Minha avó?
Quem será que ela eu fui?
Numa terça, numa quarta?
Numa quinta, numa estância?
Quem me mediu a cabeça e seus trajes?
Quem me determinou esta coragem?
Quem se avolumou em mera imagem?
Quem se incandesceu e se firmou?
Quem se me enalteceu e me encantou?
Quem eu fui e sou do que sobrou?
O chapéu que não retiro?
O escuro onde me dispo?
O tiro que não ecoou?
O vazio dos olhos que fitam a vida?
A vida por detrás das abas e das plumas e dos fios?
Cabelos tecidos por Penélope no seu tear
tecia e desfazia, sendo a noite o seu altar.
De onde vim?
Quem é ela sou eu?
Que sou eu sem ela?
Eu sem ela é que sou?
Talvez o chapéu traga a resposta.
Basta posar para o lambe-lambe
E se deixar mirar sem véus
Sem escolhas, sem fugas, sem itinerário na alma descoberta...
E só o chapéu nos identifica.
Feito Panamá .

2 comentários:

Ana Beatriz Manier disse...

Somos imagens. Às vezes idealizadas, às vezes reais. Às vezes menos do que somos, às vezes mais.Depende do dia.

Lohan Lage Pignone disse...

Andrea, eu já tinha lido esse seu belo poema no Indagadores, e fiquei muito feliz de vê-lo brilhar aqui no Autores. Sempre que vejo essa imagem, a do seu texto, sinto que... É como se fosse algo de outra vida, sabe, como se fosse você, e que eu a conheci nessa outra vida. Eu tenho uma identificação com essa imagem que não sei explicar; quem sabe Freud saiba?

Adorei, tiro o meu chapéu Panamá para vc mais uma vez!