Quem terá sido ela?
Minha mãe?
Minha irmã?
Minha tia?
Minha avó?
Quem será que ela eu fui?
Numa terça, numa quarta?
Numa quinta, numa estância?
Quem me mediu a cabeça e seus trajes?
Quem me determinou esta coragem?
Quem se avolumou em mera imagem?
Quem se incandesceu e se firmou?
Quem se me enalteceu e me encantou?
Quem eu fui e sou do que sobrou?
O chapéu que não retiro?
O escuro onde me dispo?
O tiro que não ecoou?
O vazio dos olhos que fitam a vida?
A vida por detrás das abas e das plumas e dos fios?
Cabelos tecidos por Penélope no seu tear
tecia e desfazia, sendo a noite o seu altar.
De onde vim?
Quem é ela sou eu?
Que sou eu sem ela?
Eu sem ela é que sou?
Talvez o chapéu traga a resposta.
Basta posar para o lambe-lambe
E se deixar mirar sem véus
Sem escolhas, sem fugas, sem itinerário na alma descoberta...
E só o chapéu nos identifica.
Feito Panamá .
2 comentários:
Somos imagens. Às vezes idealizadas, às vezes reais. Às vezes menos do que somos, às vezes mais.Depende do dia.
Andrea, eu já tinha lido esse seu belo poema no Indagadores, e fiquei muito feliz de vê-lo brilhar aqui no Autores. Sempre que vejo essa imagem, a do seu texto, sinto que... É como se fosse algo de outra vida, sabe, como se fosse você, e que eu a conheci nessa outra vida. Eu tenho uma identificação com essa imagem que não sei explicar; quem sabe Freud saiba?
Adorei, tiro o meu chapéu Panamá para vc mais uma vez!
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