"Para cada central nuclear é preciso uma porção de poetas e artistas, do caso contrário estamos fudidos antes mesmo da bomba explodir."
(Rubem Fonseca)
- Homicídio.
- Todo mundo aqui é assassino. Todo mundo aqui matou algum filho-da-puta, assaltou alguma birosca de merda ou passou fogo em algum ricaço metido. Eu quero saber porque que tu despachou a alma do cara pro inferno, isso que eu to perguntando.
- Sou assassino, não senhor.
- Ah, nénão? Então que que tu é, ô playboy?
- Sou playboy também não. Sou escritor.
- É mermo? Então me explica aí, Machado de Assis, cumé que tu comete um homicídio se tu não é assassino, porque essa eu num entendi não.
- Na verdade eu nasci escritor, mas tive que trabalhar, como qualquer um, pra sustentar a família.
- Quantos livros tu já publicou?
- Um só.
- Porra! Então tu é um escritor de merda?
- Não. Eu sou dos bons. Meu livro vende pra caralho. Você ainda vai ouvir falar de mim, vai pedir até autógrafo.
- Não, porque isso é coisa de viado. Autógrafo eu só peço pro Rei Roberto. Mas, conta aí, como é que se deu a merda?
- Eu trabalhava numa gráfica que era também uma editora. Meu patrão era um filho-da-puta, desses que descontam do salário da gente se um panfleto sair errado. A editora não era lá grande coisa, mas poderia ser um pontapé inicial pro meu sonho de publicar um livro.
- Já sei. Teu patrão roubou o livro de você, publicou e você ficou na merda. Aí você passou um estilete na garganta dele...
- Não. Eu conversei com ele sobre o livro e ele disse que ia publicar, contanto que eu mudasse completamente a história.
- Por que?
- Ele achava que minha idéia não vendia. Eu queria publicar uma tragédia, algo inspirado em Sófocles, mas com um aspecto moderno, que ao mesmo tempo fosse um brado de revolta contra a iniquidade do terceiro mundo, algo que refletisse os pequenos enigmas da vida e ao mesmo tempo redimisse a alma humana, tão passível de erros, sabe?
- Sei que porra é essa não, mas vai falando...
- Então... Aí ele pediu pra eu escrever sobre crime, sexo, traição, putaria, essas coisas. Disse que o povo gosta mesmo é de safadeza.
- E o que que tu respondeu?
- Que ia pensar. Mas eu não curto saturação erótica barata, sabe? O erro é a pressuposição de que a sordidez seja necessária ao entretenimento. Apelação não é comigo. Tem que ter literatura, arte. O escritor tem que ser um artesão, esculpir a história. E além do mais eu não sabia nem como começar a escrever outro livro, me faltava inspiração. Mas aí as contas lá em casa foram se apertando, a coisa foi ficando feia e não deu mais pra esperar...
- Aí tu decidiu deixar essa parada de livro pra depois, assaltou um banco e na tentativa de fuga matou um policial, por isso que tu tá aqui?
- Cara, você é criativo, poderia até ser escritor.
- Sei nem assinar meu nome, Machadão, sou é bandido mermo.
- Pois então, eu estava tão puto porque meu patrão podia me ajudar e ficou fazendo cu doce, que pra me vingar eu decidi virar amante da mulher dele, uma vagabunda interesseira, vinte anos mais nova que ele.
Ele descobriu, seguiu a gente até o motel, mas se deu mal. Eu, que não sou besta nem nada, coloquei o revolver na testa dele antes mesmo que ele pudesse pensar no que fazer. Fiz ele assinar um documento que havia preparado, no qual ele dizia que a editora publicaria qualquer livro meu. Com o silenciador encaixado no cano da arma foi só atirar. Mas eu não sou assassino, sou escritor. Então antes de atirar, agradeci muito pela oportunidade de publicar meu livro e mais ainda, pela inspiração que me deu.
- E aí, publicaram teu livro?
- Teve até briga entre as editoras mais fodas. Tá em todas as livrarias, vende que nem água.
- E a mulher dele?
- A piranha deu com a língua nos dentes, mas foda-se, eu tô rico.
- Você vai se vingar dela?
- Isso é assunto para o segundo livro...
- Você vai se vingar dela?
- Isso é assunto para o segundo livro...
5 comentários:
Olá,
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É... Acho que chegou o momento do nosso livro, galera.
Caramba, ele pegou a amante do chefe e ainda o matou, rsrs. É um escritor foda mesmo, esse cara, rs.
Camila, seus diálogos fluem que é uma beleza... Tem momento que vc sente que não, ele não dirá isso; e cria uma expectativa, e quando vc menos espera, pow! O tiro, rs.
Bjão!
Camila, vc é espetacular. Sua mente é tão fértil. Adoraria assistir uma de suas histórias prontas pra se tornarem um roteiro cinematográfico. Dez, mais uma vez.
Oi Camila, é Elis, lembra?
O insólito encontro dos fragmentos literários que nos compõem, dentro do ônibus, adiante uma estrada longuíssima que só deixava ver-se até o ponto da ansiedade enorme de se poder voltar ao próprio universo, para se conectar consigo e com todas as possibilidades existentes?
Então, sou eu!:D
Sobre o seu texto, é excelente! Estou muito feliz de te conhecer melhor.
Beijo,
Elis
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