Entrei no recinto. Havia várias macas ocupadas por pessoas que pareciam estar doentes. Mas ali não era um hospital, o lugar era imundo e cheirava como um abatedouro, um cheiro forte, ferruginoso, de sangue e carne podre. Em uma das macas pelas quais passei, havia um menino negro deitado, imóvel, que tinha um risco na testa que ia de uma orelha à outra. Impressionado com aquela visão desagradável, resolvi continuar a caminhar pelo local.
Observei que havia também jaulas ocupadas por cachorros. Mas algo estava errado, os cachorros pareciam ter corpo de uma raça, cabeça de outra, patas de uma terceira raça, todas as partes do corpo de cores diferentes. Ao me aproximar mais, percebi que os eles tinham costuras em suas juntas, o pelo ora era liso, ora crespo, e eles espumavam muito pela boca. Perturbados com a minha presença, eles começaram a latir muito alto. Achei melhor não continuar naquela direção.
Voltei na direção das macas. O menino negro virou-se para o lado pelo qual eu me aproximava, porém, a parte de cima de sua cabeça ficou no travesseiro, como se fosse a tampa de um pote, deixando seu cérebro à mostra. O risco em sua testa era na verdade um corte. Então, o menino olhou dentro dos meus olhos, abriu a boca já pálida e sussurrou bem baixinho, sem força nenhuma em sua voz quase inaudível, enquanto apontava para seu cérebro: “– Tá vendo meu cérebro? Eu tô morrendo. A sensação é horrível.”
3 comentários:
Taí o 1º post referente a um pesadelo meu. Algumas lacunas consegui preencher, mas o final deixei da mesma forma como o pesadelo acabou porque não consegui escrever um final que combinasse ou que me agradasse.
Adorei.
Assustador... Cérebro, morte cerebral... Alguma coisa muito forte vem te perturbando.
Abs
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